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A percepção da imagem corporal: algumas 

representações de corpo na juventude

La percepción de la imagen corporal: algunas representaciones del cuerpo en la juventud

 

*Licenciada em Educação Física/UFS

Especialização em Educação Física Escolar/Faculdade Atlântico

**Mestre em Educação Física/UFSC

Professor Departamento de Educação Física/CCBS/UFS

Labomídia/UFS/UFSC

Verônica Moura Santos*

Cristiano Mezzaroba**

cristiano_mezzaroba@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo aborda uma temática que vem sendo muito discutida tanto nos meios de comunicação como na escola, que é a percepção da imagem corporal e a busca incessante pelo corpo “perfeito” entre os jovens. O objetivo deste trabalho foi entender o conceito de imagem corporal e qual a representação de corpo que os jovens têm e a partir disso discutir a influência da indústria midiática sobre esta concepção e também sobre a busca por este modelo corporal. Este trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica, em que selecionamos alguns livros e artigos de revistas eletrônicas que são tradicionais na área de Educação Física como Revista Pensar a Prática, Revista Movimento, Revista de Educação Física da Unioeste/PR, a Revista de Educação Física da UEM, o periódico EFDeportes.com e a Revista Praxia/UEG. Percebemos através desse trabalho bibliográfico que a influencia midiática pode “impor” padrões corporais que interferem, negativamente, na imagem corporal do jovem. Este corpo construído no inconsciente das pessoas pelo poder midiático, está influenciando de maneira perversa a auto-estima e autoimagem dos jovens, principalmente do sexo feminino.

          Unitermos: Imagem corporal. Mídia. Juventude.

 

Abstract

          This article covers a topic that has been much discussed both in the media and in school, which is the perception of body image and the relentless quest for "perfect" body among youth. The objective of this study was to understand the concept of body image and how the representation of the body that young people have and from that discuss the influence of the media industry about this concept and also about the search for this model body. This work consists of a literature review, in which selected some books and electronic journals that are traditional in the area of Physical Education as the Practice Thinking Magazine, Movement Magazine, Journal of Physical Education Unioeste / PR, the Journal of Physical Education EMU, the periodic EFDeportes.com and Praxis Magazine / UEG). We realized through this work that the bibliographic media influences can "impose" standards body that interfere negatively in the body image of young. This built on the unconscious body of people by media power is influencing the perversely self-esteem and self-image of young, mostly female.

          Keywords: Body image. Media. Youth.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Apresentando o tema

    Essa pesquisa surgiu a partir da disciplina Tópicos Especiais em Educação Física I, que abordava a temática: Saúde, Sociedade e Educação Física, temática esta que julgamos muito importante no âmbito da Educação Física Escolar, já que esta é a disciplina que trabalha com as questões corporais, que também estão intrinsecamente ligados às questões da saúde no âmbito da sociedade, em especial, àquelas que a Educação Física pode trabalhar pedagogicamente.

    Vivemos em uma sociedade em que valorizamos o corpo perfeito, a magreza, as curvas torneadas e sem gordura, numa época em que muitas jovens atribuem a sua felicidade a um corpo “sem defeitos” e esculpido. Para estas moças, o conceito ideal de felicidade está no próprio corpo. Esta busca incessante pelo corpo “perfeito” na maioria das vezes vem deixando os jovens obcecados, transformando-os em reféns da “ditadura da beleza”.

    Um dos fatores que reforçam essa ditadura da beleza é a indústria da mídia, em que muitos jovens são influenciados e querem ir à busca do corpo “perfeito”, exposto na mídia. Essa busca ocorre com maior incidência no público feminino, porém os homens também fazem parte deste assunto, pois muitos querem ficar com os músculos bem definidos, fortes e muitas vezes acabam utilizando substâncias que são prejudiciais à saúde, a exemplo dos anabolizantes.

    Outro fator que influencia essa valorização exacerbada do corpo “perfeito” é a questão do bullying no ambiente escolar, pois é nesse ambiente, principalmente, que começam os apelidos como “bolinha”, “bola-fofa”, “Free Willy” (a baleia orca que dá o nome a este filme), entre outros, em que os alunos por sofrerem o bullying, ficam infelizes com sua aparência, e essas agressões psicológicas fazem com que muitos fiquem obcecados pelo corpo magro.

    O assunto discutido em nossa pesquisa vem sendo bastante contemplado na escola e pelos meios de comunicação, pois aparecem em vários noticiários jovens que morrem por se utilizarem de substâncias ilícitas, ou por ingerirem remédios sem receita médica, em busca do corpo belo.

    O objetivo geral de nosso trabalho, então, foi entender o conceito de imagem corporal, ou seja, qual a representação de corpo que os jovens têm e a partir disso discutir a influência da indústria midiática sobre esta percepção da imagem corporal.

    Podemos afirmar que as publicações e pesquisas na área da Educação Física em relação ao cuidado com o corpo têm avançado bastante, porém se faz necessário ainda refletir a forma como a representação de corpo está sendo inserida em nossa cultura, principalmente entre os jovens, com a preocupação pela aparência, por serem as principais vítimas influenciadas por uma sociedade que exige deles uma procura incessante pelo corpo perfeito, levando-os a prática de determinadas ações que, ao invés de promover benefícios, causa malefícios à própria saúde.

    Nesse sentido a pesquisa se faz relevante por alertar aos educadores, principalmente os professores de Educação Física, em relação a tal temática tão inserida em nosso cotidiano e também presente nas aulas deste componente curricular na escola.

    Os jovens muitas vezes confundem a disciplina Educação Física com a prática da atividade física, e com isso surge a necessidade de querer perder peso, para obter um corpo aparentemente saudável. Neste sentido, como vivemos em uma sociedade consumista é importante pensar no papel da escola, sobretudo nas aulas de Educação Física, no que se refere às questões corpo/saúde/sociedade, principalmente entre os jovens, que são os principais sujeitos acometidos pela cultura do corpo perfeito, cultura esta que é reforçada pela indústria midiática.

    Esse texto se caracteriza, em seus aspectos metodológicos, como sendo um estudo do tipo bibliográfico (TRIVIÑOS, 1995), o qual busca fazer uma abordagem exploratória da temática referente à imagem corporal e aos padrões corporais dos jovens.

    Diante do contexto apresentado acerca desta temática, surge a problemática: Qual a representação de corpo e a percepção da imagem corporal que os jovens possuem diante do discurso midiático de exacerbação do corpo perfeito? Essa problemática, portanto, irá nortear nosso estudo bibliográfico.

Contextualização e problematização

    Este estudo aborda o corpo, juventude e mídia. Para tanto se faz necessário contextualizar o público ao qual estamos nos referindo, que são os jovens.

    O termo juventude/adolescência tem um conceito pluralizado, pois engloba não somente os aspectos físicos, como os aspectos socioculturais, emocionais, econômicos e políticos.

    Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a adolescência é o período entre 10 e 19 anos de idade (CONTI et al, 2005), o qual é marcado pelo crescimento e desenvolvimento acelerado, as transformações biológicas e as alterações na personalidade ocorrem, e assim como o corpo vai adquirindo uma nova forma modifica-se também a imagem mental, que o jovem passa a acreditar que sua imagem corporal está desproporcional à imagem idealizada. Esta é a fase de transição em que ocorrem várias mudanças, construção da identidade, envolvendo a satisfação com a sua autoimagem corporal.

    A juventude é uma época de grandes transformações desde o aspecto biológico até seu relacionamento social. É uma etapa de muita insegurança e de constante indefinição, e por isso há uma procura da identidade e da aceitação social. Em relação a isso, Zagury (2002, p. 27) comenta que “a sociabilidade também é maior, embora a insegurança seja muito grande. Há uma busca de identidade, para qual o jovem precisa de um tempo, pois acarreta angústia, dificuldades de relacionamento, confusão e medo”.

    O corpo como lócus da construção de identidade, aponta o sujeito contemporâneo como um ser em constante modificação de identidade, comportando-se de diferentes formas nos mais variados contextos. Considerando por fim a formação da identidade como um processo de relacionamento social, em que o indivíduo possuirá muitas identidades e também formará esta através do consumo de bens.

    Já que o corpo é um meio de aceitação social, percebemos a necessidade de abordar no tópico a seguir, o corpo na dimensão cultural, fazendo um breve histórico do corpo e sua construção social.

O corpo: uma dimensão cultural

    O controle da sociedade sobre os indivíduos não se faz apenas através da consciência ou da ideologia, mas também no corpo e com o corpo. (Michael Foucault)

    O corpo é o resultado do fator biológico e o fator cultural, portanto, podemos afirmar que o corpo é cultural. Mas, o que é cultura?

    Para compreendermos o corpo na perspectiva da cultura se faz necessário entendermos o que é cultura, porém essa é uma tarefa muito complexa, então colocamos a seguinte questão a qual intentaremos responder: De qual conceito de cultura nos apropriamos?

    São várias as definições que se tem de cultura, porém nos apropriamos do conceito de cultura definido por Geertz de que a cultura é “a vida total de um povo, a herança social que o indivíduo adquire de seu grupo. Ou pode ser considerada a parte do ambiente que o próprio homem criou” (GEERTZ apud CAETANO, 2006, p.215).

    Cultura é entendida aqui como o conjunto de normas, costumes, valores e hábitos de uma determinada sociedade e que são passados de geração a geração. Não existe um único conceito de cultura, assim como também não existe uma só cultura e sim “culturas”. Voltamos nossos olhares para cultura como sendo um conceito da antropologia.

    Outro autor com o qual compartilhamos das ideias é Marcel Mauss, que concebe o corpo como objeto de estudo da antropologia, afirmando que “a sociedade escreve no corpo seus costumes sociais” (MAUSS apud NEIRA & NUNES, 2008, p. 37).

    E dessa forma, o corpo é um meio de interação com a cultura, portanto afirmamos mais uma vez que o corpo é cultural, pois este “sofre influência e modificações constantes; o corpo social é produto das regras as quais foi submetido, das determinações do meio social no qual está inserido” (CAETANO, 2006, p. 215).

    O corpo é o meio pelo qual nos expressamos e essa expressão está atrelada às vivências pessoais e o ambiente no qual este corpo está inserido.

    Nesse sentido, o corpo é o reflexo da sociedade na qual está inserida e sendo assim deve ser compreendido numa dimensão social na perspectiva da cultura.

    É através do corpo que o indivíduo se insere no contexto social, interagindo e conhecendo seu eu e consequentemente o seu mundo, “é o corpo que garante uma afirmação social, funcionando não como coadjuvante de processos de transformação, mas como elemento fundamental para que ocorra esse processo” (CAETANO, 2006, p. 214).

    Sendo assim, o corpo é uma construção cultural e não algo somente natural (perspectiva biológica). Um exemplo para ratificar o corpo como sendo uma dimensão cultural é que aqui no Brasil, o trato com o corpo se dá de maneira “livre”, o corpo aqui é exposto, está à mostra, corpo bronzeado, já em países do Oriente o corpo é algo “sagrado”, é coberto. Esses diferentes valores que são atribuídos ao corpo é determinante e determinado pela cultura, ou seja, os costumes, tradição, hábitos de diferentes grupos, diferentes países.

    Por tudo que já foi colocado aqui, confirmamos e corroboramos com Daólio (1994) quando afirma que o corpo é uma dimensão da cultura “já que cada sociedade se expressa diferentemente por meio de corpos diferentes” (DAÓLIO, 1994, p.36). Não existe corpo (homem) sem cultura sendo assim, “todo e qualquer homem que possa considerar será sempre influenciado pelos costumes de lugares particulares, não existindo um homem sem cultura” (DAÓLIO, 1994, p.34).

    Portanto,

    Ao se pensar o corpo, pode-se incorrer no erro de encará-lo como puramente biológico, um patrimônio universal sobre o qual a cultura escreveria histórias diferentes. Afinal, homens de nacionalidades diferentes apresentam semelhanças físicas. Entretanto, para além das semelhanças ou diferenças físicas, existe um conjunto de significados que cada sociedade escreve nos corpos dos seus membros ao longo do tempo, significados estes que definam o que é o corpo de maneiras variadas (DAÓLIO, 1994, p. 37).

    Os corpos, embora com base biológica semelhante, foram e continuam a ser construídos diferentemente em cada sociedade.

    O corpo é tratado em diferentes momentos históricos de modo peculiar, com diferentes conceitos e valores. Em Platão, na antiguidade o corpo era visto como subordinado à mente, para os gregos o corpo era o local que servia para abrigar a alma (que era mais importante). Já na Idade Média, a igreja católica associou o corpo à ideia de pecado, e o corpo foi reprimido, negado. Com Descartes ocorreu a racionalização do corpo, seguindo o pensamento de Platão, o corpo para Descartes era apenas uma matéria, sendo assim o homem não compreende o mundo sem a mente, exaltando assim a razão humana, percebe-se aqui a visão do corpo matéria, uma visão reducionista desse corpo (CARVALHO, 2004).

    Com o advento da modernidade, o conceito de corpo passou a ser visto sobre os aspectos estéticos, abrindo espaço para o que chamamos de ditadura da beleza. Os modelos sociais de corpos forçam o indivíduo a estar dentro dos padrões de beleza e estética (CARVALHO, 2004).

    O culto ao corpo está cada vez mais crescente, divulgando fórmulas para conseguir os corpos perfeitos, campanhas em prol desse corpo ideal, e que é bem aceito socialmente. Nesse sentido a forma corporal é um dos aspectos centrais das interações sociais, ou seja, através do corpo o homem busca se inserir no meio social e tudo isso está atrelado à cultura.

    Na cultura brasileira o corpo é um meio de aceitação social, o padrão de corpo estabelecido pela sociedade está atrelado à corpolatria, ou seja, o culto ao corpo. E em busca dessa aceitação social, cada vez mais as jovens recorrem a mecanismos estéticos, formulas milagrosas, dietas “malucas”, para ficarem mais magras e “saradas”. Os investimentos na aparência tem sido crescente na sociedade contemporânea (CODO; SENNE, 2004).

    O que vem acontecendo é uma transformação do corpo em objeto, ou seja, está ocorrendo um processo de reificação do corpo, em que este deve se adequar aos padrões estéticos preestabelecidos pela sociedade.

    Essa preocupação do homem com o corpo ocorre desde Platão, em que para os gregos o físico era tão importante quanto o intelecto.

    Já que o corpo é tão importante para a sociedade que é capaz de produzir cultura, então não podemos imaginar o corpo sem estar inserido em uma cultura e aí surge o questionamento: Qual papel o corpo assume perante a sociedade?

    O corpo é instrumento de afirmação da cultura, logo, “é no e pelo corpo que se inscrevem os símbolos culturais” (SANTOS; KUHN, 2009, p. 208). Neste sentido, corroborando com Santos e Kuhn (2009), Mattos (2007) ratifica que “o corpo é então uma produção social, e isso fica claro ao observarmos que as sociedades são compostas por códigos culturais distintos que prescrevem diferentes tratamentos e usos dos corpos” (MATTOS, 2007, p. 158).

    Então, podemos inferir que o corpo na contemporaneidade, transformou-se num referencial para construção da identidade e aceitação social (MATTOS, 2007).

    A valorização do corpo perfeito tornou-se uma obsessão, diante das pressões da indústria de beleza, indústria da moda, indústria midiática,ou seja, “com a pressão dos ideais de beleza impostos pela indústria da moda e alimentados pela mídia, a valorização do corpo perfeito tornou-se uma obsessão global” (FIRACE, s/d, s/p). Nosso julgamento de corpo bonito, feio, magro, sarado é embutido de valores culturais. Hoje as pessoas, sobretudo os jovens, buscam várias formas para transformar o físico, almejando a perfeição corporal de acordo com os padrões impostos pela sociedade. E isso tem trazido à tona doenças, transtornos alimentares cada vez mais alarmantes na sociedade. As pessoas põem suas vidas em risco tudo pela busca exacerbada pela aparência, isso torna o corpo um objeto, algo moldável, modelável que são fomentados pela pressão social, corpo-objeto porque está submetido aos valores preestabelecidos pela sociedade.

    A ditadura do corpo perfeito acarreta problemas de saúde, sobretudo no jovem, como distúrbios alimentares. Porém o foco da nossa pesquisa é entender o conceito de imagem corporal, como os jovens percebem sua imagem corporal, e qual a relação da mídia com essa autoimagem corporal.

Percepção da imagem corporal: a mídia e sua influência na valorização da imagem do corpo na juventude

    A juventude é a fase marcada por intensas modificações físicas, psíquicas, comportamentais e sociais. É a transição entre a infância e a vida adulta, em que muitas das ca­racterísticas ou dos hábitos referentes ao estilo de vida do adulto são adquiridos e/ou consolidados.

    O indivíduo nessa fase tem como característica comportamentos de contestação que o tor­nam vulnerável. Neste contexto começam a desenvolver preocupações ligadas ao corpo e à aparência, como já foi mencionado anteriormente nesse estudo.

    Sendo assim, há uma forte tendência social e cul­tural em considerar a magreza como uma situação ideal de aceitação e êxito (MATTOS et al, 2008), visto que o padrão de corpo que é veiculado pela mídia é o do corpo magro,como já foi colocado antes nesse artigo.

    É cada vez maior a exigência de aparência magra e formas de emagrecimento em detri­mento, muitas vezes, da própria saúde do indivíduo. (VALENÇA; GERMANO, 2009)

    Essa construção social do corpo perfeito a partir da magreza se reflete muito na juventude, principalmente no sexo feminino, por isso se faz necessário atentarmos para essa discussão.

    Todo jovem constrói em sua mente um corpo idealizado e se esse corpo idealizado se distancia do corpo real, isso pode comprometer e interferir negativamente na auto-estima deste jovem. Isso perpassa pela percepção da imagem corporal do jovem e como essa imagem interfere em sua saúde, visto que podem surgir problemas de insatisfação pessoal.

    Para entendermos esse contexto da percepção da imagem corporal entre os jovens, faz-se necessário entender o conceito de imagem corporal. Qual a definição de imagem corporal da qual nos apropriamos?

    Imagem corporal é a maneira pela qual o corpo se apresenta para si próprio. Sendo assim o sujeito cria um referencial do seu próprio corpo (MACIEL; FERREIRA, 2010). Um dos precursores nas pesquisas e estudos em imagem corporal foi Paul Schilder (apud TURTELLI et al, 2002),

    [...] Ele define imagem corporal como uma entidade em constante autoconstrução e autodestruição, em constante mudança, crescimento e desenvolvimento. Fazem parte dessa construção processos conscientes e inconscientes, não é apenas uma construção cognitiva. (SCHILDER apud, TURTELLI et al, 2002, p.153).

    Schilder (apud TURTELLI et al, 2002) deu toda a dimensão à noção de imagem corporal, envolvendo os aspectos sociais, afetivos e mentais.

    A imagem corporal pode ser entendida também como o conjunto de sensações sinestésicas construídas pelos sentidos oriundos de experiências vivenciadas pelo indivíduo (MATURANA, 2004), sendo assim ela pode ser definida como a representação mental do próprio corpo, ou seja, imagem corporal “[...] é uma representação mental que fazemos de nós mesmos, uma experiência do corpo enquanto unidade é mais que uma percepção de nós mesmos e não é apenas um desenho mental de nós mesmos” (TURTELLI et al, 2002, p.154).

    Podemos relacionar também à imagem corporal, as interações externas e internas, as interações com outros indivíduos, consigo mesmo e com seu próprio corpo. São vários os fatores que estão intimamente ligados à imagem corporal, fatores estes que,

    [...] envolvem a satisfação com o próprio corpo, o corpo “real” e o corpo percebido, o corpo considerado ideal, percepção do tamanho e forma do próprio corpo, percepção da própria força, percepção espacial, autoconceito, auto-estima, aparência do corpo, avaliação da própria saúde, satisfação com a própria aptidão física, nível de ansiedade e propensão a desenvolver distúrbios alimentares (TURTELLI et al, 2002, p. 161).

    Esses fatores são de ordem social, cultural, mental, afetiva. Os fatores sociais e culturais estão relacionados ao modelo de corpo ideal, o corpo magro e belo, que nos é imposto pela sociedade (DAMASCENO et al, 2006).

    A formação da imagem corporal, na percepção do jovem se dá a partir dessa visão reducionista, do corpo ideal imposto pela nossa sociedade “em que o corpo passa a ser o principal lugar de identidade, fato associado à força das imagens e do consumo generalizado” (SLOMKA, 2006, p. 6) e que a indústria midiática reforça. Essa construção da imagem corporal se dá de forma subjetiva, porém não é definitiva, é variável, momentânea.

    A formação de uma imagem será diferente a cada vez, pois damos significados e interpretações diferentes a cada instante em que sentimos, pensamos, nos move mos, recordamos ou fazemos projetos para o futuro. Criamos e vivemos as imagens no presente. As imagens de cada indivíduo são exclusivas dele. Cada indivíduo possui uma forma única de ver e representar o mundo. (TURTELLI et al , 2002, p. 163).

    A percepção da imagem corporal é influenciada por componentes físicos, psicológicos, emocionais, sociais, sendo assim, a busca constante por um padrão ideal de corpo, associada à felicidade, são as principais causas de alterações da percepção da imagem corporal (NASCIMENTO et al, 2004), já que “vivemos a cultura da imagem, da pose e da beleza como uma forma de manter saúde, alegria e bem-estar” (SLOMKA, 2006, p. 10). Nesse sentido, os jovens buscam o corpo ideal, atribuindo sua felicidade ao próprio corpo, e correm atrás desse “corpo perfeito”.

    Essa ideia de corpo ideal nos é imposta pela sociedade, em que os indivíduos se sentem “obrigados” a se enquadrar nos padrões corporais colocados pela mesma, como modo de aceitação social, e esse discurso ainda é reforçado pela indústria midiática, que tem um poder de persuasão grande, principalmente entre os jovens.

    Os jovens se constituem em um grupo vulnerável, se tornando principais vítimas da propaganda consumista, de forte apelo ao corpo ideal. Isso se traduz na busca incessante pela perda de peso do jovem em detri­mento de sua saúde, implicando numa insatisfação de sua imagem corporal.

    Dentre as questões psíquicas comuns na juventude e reforçadas pela sociedade e pela mídia, o medo de engordar e o desejo de emagrecer tornam essas jovens, reféns da ditadura da beleza. Muitas jovens se deparam com os pa­drões de beleza e com a grande valorização da aparência pelos meios de comunicação (SILVA; GOMES, 2008).

    É perceptível a intensidade com que os meios de comunicação atingem as culturas, tudo que se vê tende a ser incorporado, ou seja, as pessoas se alimentam da mídia para obter uma imagem de corpo. Em nossa sociedade, há uma supervalorização da imagem, um culto ao corpo considerando-se o padrão de magreza como ideal, ou seja, o baixo peso corporal representa o ideal de beleza feminina, além de ser um fator determinante de aceitação pessoal (PERES, 2011), deste modo, a jovem, que já tem que lidar com suas transformações físicas oriundas dessa fase, sofre em não poder corresponder a esses modelos.

    O excesso de preocupação com a aparência e o au­mento da insatisfação com o corpo, principalmente com o peso, tem sido objeto de muitos estudos científicos na contemporaneidade, “a marca de pertença a um grupo social valorizado localiza-se na forma do corpo, manifestando uma sociedade regulada pelo olhar exterior, conferindo os padrões culturalmente impostos.” (SILVA; GOMES, 2008, p. 203).

    Sendo assim para ser aceito em um determinado grupo social, a jovem se vê obrigada a se adequar aos padrões culturais, padrões corporais que lhe são impostos. Segundo Brandl Neto e Campos (2010), e também corroborando com Silva e Gomes (2008), a adesão do padrão de estética corporal,

    Faz com que se entenda que o adolescente necessita ser desejado, querido e aceito, e manter um corpo bonito, esbelto e esguio, representa a expressão maior do erotismo/desejo, já que vive em busca da aceitação social. (BRANDL NETO; CAMPOS, 2010, p. 91).

    E segue,

    Quando a pessoa se sente com a autoimagem distorcida existe um sentimento de constrangimento que pode ser observado nos alunos como forma de ansiedade social, relacionada à timidez e a vergonha, resultante da preocupação da avaliação dos outros sobre sua forma física real ou imaginária. (BRANDL NETO; CAMPOS, 2010, p. 97).

    Ou seja, as jovens ficam inseguras, preocupadas com sua auto-imagem corporal, que para elas, é meio de aceitação social. As pressões da mídia, a busca desenfreada por um padrão de corpo ideal e a compulsão pelo corpo “sarado”, são fatores que estão entre as causas das alterações da percepção da imagem corporal, gerando insatisfação em especial para indivíduos do gênero feminino.

    Os meios de comunicação são hoje não apenas veículos, mas o local em que suscitam e discutem temas polêmicos que estão contidos na sociedade.

    Nos últimos anos, a busca pelo corpo “perfeito” vêm crescendo, pois cada vez mais os meios de comunicação, como as revistas, a internet e os programas televisivos abordam em suas propagandas, produtos da linha de estética, cirurgias plásticas, entre outros, muitas vezes são famosos de corpo esbelto que fazem a propaganda do produto para dar uma maior credibilidade aos telespectadores que estão em busca de resultados satisfatórios, e como vivemos numa sociedade consumista, acabamos consumindo, para ficar com o mesmo padrão de corpo que nos é veiculado, “os números que qualificam o corpo, a saúde e a beleza invadem as revistas e a televisão” (MATTOS, 2007, p. 159,), verificamos assim que a mídia tem interferido cada vez mais na percepção da jovem em relação ao seu corpo “belo”.

    [...] a TV brasileira tem se constituído em um instrumento político,sua força de persuasão é avassaladora, ela forja os costumes sociais e inculca valores, crenças e códigos éticos com uma eficácia e rapidez absolutamente novas na história brasileira.(SILVA E GOMES, 2008, p. 199).

    O poder de persuasão que a mídia exerce sobre o jovem faz com que este procure um corpo ideal.

    O corpo belo é utilizado na publicidade para que, quem recebe a propaganda, inspire-se em pessoas atraentes, com a intenção de transmitir sentimentos, isso na sociedade pode apresentar-se de forma benéfica ou maléfica, quando esses modelos são vistos como uma forma de padrões a serem seguidos fielmente. Esses seguidores algumas vezes conseguem encontrar uma maneira de ter uma vida saudável e ativa, por exemplo, mas quando esses corpos estereotipados começam a se tornar meios que provoquem problema na autoestima, eles prejudicam a sociedade, sobretudo as jovens, que na sua maioria adota um sentimento de “culpabilidade”, tornando-se um ser sem perspectivas e quase sempre pouco confiante, e sendo assim,“o corpo pode então, construir, ser construído e alterado a partir do contexto sociocultural influenciado também pela mídia.” (COSTA; VENÂNCIO, 2004, p. 65).

    Essa preocupação crescente com a forma física tem sido provocada principalmente pelo padrão de beleza difundido pelos meios de comunicação de massa,ou seja, a mídia utiliza-se deste contexto tornando o corpo produto de consumo e transforma a saúde em sinônimo de beleza.

    Existe uma união entre a mídia com a publicidade e a indústria da corpolatria, propagando a busca pelo “corpo perfeito”, ressaltando a importância da atividade física, atribuindo aos indivíduos que cultuam o corpo, características que os colocam num patamar de conquista do poder como também a responsabilidade com os cuidados ao próprio corpo.

    Essa realidade é reflexo de programas de televisão, internet, revistas masculinas e femininas que criam a cada dia um estereótipo do “corpo em forma”. Corpo que propaga “saúde” e beleza padrão, vende um ideal “atingível” por meio de atividade física, dieta, lipoaspiração, implante de silicone etc. (COSTA; VENÂNCIO, 2004, p.61).

    Neste sentido,

    As características de saúde para mídia é um corpo viril, musculoso, esbelto, sensual, a mídia, de forma massificada, induz muitas vezes a ressaltar a imagem do corpo saudável e belo, como formas de constituir a identidade. (COSTA; VENÂNCIO, 2004, p. 63).

    Uma grande parte das jovens está insatisfeita com o seu corpo e esta obsessão pela estética traz danos notórios na sociedade, em que muitas pessoas colocam sua vida em risco, para obter um corpo que é aceito pela sociedade na qual estamos e a mídia acaba alimentando esta ditadura do corpo perfeito, e sendo assim, a jovem se torna escrava da própria imagem corporal.

    Então, para adequar-se aos padrões estéticos, começa-se a busca pelo corpo perfeito (que muitas vezes não existe – existe, sim, um discurso que procura configurar um suposto corpo ideal, adequado a determinados ditames, que necessita de produtos exclusivos e padronizado sob olhares culturais hegemônicos). É vendida a imagem do corpo belo e perfeito, ou mesmo uma imagem/linguagem ambígua, que associa de maneira direta saúde e beleza. O corpo, dessa maneira, fica preso à cultura, que cria nele necessidades de consumo/mercado.(CORREIA; ZOBOLI e MEZZAROBA, 2013, p.31).

    A imagem corporal da mulher brasileira vem se modificando ao longo dos anos, como comenta Priore (2000):

    Mais do que nunca, a mulher sofre prescrições. Agora, não mais do marido, do padre ou do médico, mas do discurso jornalístico e publicitário que a cerca. No início do século XXI, somos todas obrigadas a nos colocar a serviço de nossos próprios corpos. Isso é, sem dúvida, uma outra forma de subordinação. Subordinação, diga-se, pior do que a que se sofria antes, pois diferentemente do passado, quando quem mandava era o marido, hoje o algoz não tem rosto, é a mídia. São os cartazes da rua. O bombardeio de imagens na televisão. (PRIORE, 2000, p. 15).

    E segue,

    Tornar-se um saco de ossos parece o ideal da mulher contemporânea, mulher que habita um mundo onde milhares morrem de fome. Regimes obsessivos associados à estética do corpo multiplicam-se nas revistas femininas que consagram ás mulheres números inteiros com terríveis títulos do tipo: “última chance antes do verão!”. O espelho retruca: “nunca bastante magra”. A retórica sobre a magreza não pode ser mais repressiva. O resultado dessa onda é que os casos de bulimia e anorexia nervosa não param de se multiplicar entre jovens européias (Ibid., p. 90).

    Os meios de comunicação ditam que o bonito é o que está na moda, e que não há limites para continuar em busca da magreza.

    A dominação da mídia e da publicidade. É ruim, e até pior, pois diariamente enfrentamos a tarefa de ter que ser eternamente jovens, belas e sadias. Não há prisão mais violenta do que aquela que não nos permite mudar. Que nos bombardeia com imagens de eterna juventude, doutrinando-nos a negar as mudanças (Ibid., p. 99).

    Com isso ficam questionamentos sobre até quando o corpo não é visto como mercadoria e sobre o corpo como algo indissociável da alma, para que se analise a fundo a questão da formação de uma identidade apoiada na construção da moral e da aparência.

    Devemos ter cuidado com o discurso veiculado pela mídia no nosso cotidiano para que não viremos “escravos” destes meios de comunicação que age diretamente no corpo do ser humano e começarmos a ter uma posição crítica em relação a esses discursos, isso não quer dizer que tudo que é apresentado nesses meios comunicativos seja de má qualidade, mas se faz necessário refletir a respeito dos seus efeitos, sobretudo entre os jovens.

    Nesse sentido a pesquisa pode contribuir para alertar aos educadores, principalmente os professores de Educação Física em relação a tal temática tão inserida em nosso cotidiano e também presente nas aulas de Educação Física, em que muitos alunos julgam ser a disciplina que pode promover mudanças na aparência corporal, mudanças estéticas relacionadas à imagem do corpo e também por ser essa uma disciplina em que se trabalha com o corpo (expõem o corpo) durante as aulas. Corroboramos com os argumentos de Correia; Zoboli e Mezzaroba (2013, p. 34):

    Entendemos ser necessário, no âmbito da Educação Física, que o corpo seja analisado sob os mais variados contextos, desde sua estruturação enquanto organismo biológico até suas configurações culturais de cunho psicológico, político, social, econômico e ético.

    Logo, essa pesquisa é relevante para nos levar a refletir e repensar o papel da Educação Física na escola e na sociedade também, em relação a esse assunto, já que esta é a disciplina que trata da corporeidade do sujeito.

Breves considerações finais

    Este estudo bibliográfico teve como meta fazer refletir acerca da influência da mídia sobre sujeito, em relação ao seu corpo, considerando principalmente a imagem corporal de jovens, bem como o que isto pode acarretar na sua imagem corporal.

    Os jovens vivem uma fase de transição na qual apresentam uma série de transformações de ordem biológica, psicoemocional e social que vão refletir na vida adulta.

    Percebemos que a influencia midiática pode “impor” padrões corporais que interferem, negativamente, na imagem corporal do jovem. Este corpo construído no inconsciente das pessoas pelo poder midiático, está influenciando de maneira perversa a auto-estima e autoimagem dos jovens, principalmente do sexo feminino. Conforme vimos em Costa; Venâncio (2004), Silva; Gomes (2008), Correia; Zoboli; Mezzaroba (2013), dentre outros.

    Desta forma, a compreensão acerca dos fatores que interferem na construção da imagem corporal das jovens merece grande atenção, já que se verifica que é nesta fase da vida que o indivíduo é mais influenciado pelos padrões impostos pela sociedade. As fontes pesquisadas,a exemplo dos artigos de revistas eletrônicas tradicionais na Educação Física,como Revista Pensar a Prática, Revista Movimento, Revista de Educação Física da Unioeste/PR, a Revista de Educação Física da UEM, o periódico Efdeportes e a Revista Praxia/UEG, vêm confirmar esta preocupação, já que a distorção da imagem corporal torna-se cada vez mais comum entre as jovens.

    Esta pesquisa contribui para compreender o processo que se estabelece entre as jovens, sua imagem corporal e a mídia, bem como o corpo está sendo pensado sob esse viés consumista que a sociedade estabelece.

    Se faz necessário levar em consideração essa temática na Educação Física escolar para auxiliar na compreensão de corpo na juventude, saúde, estética, padrões corporais, assunto este que é tão difundido na sociedade e que se faz tão presente no cotidiano da escola.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 182 | Buenos Aires, Julio de 2013  
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