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Perfil dos usuários das academias da saúde 

atendidos no Projeto Univali em Movimento

Perfil de los asistentes de los gimnasios saludables atendidos en el Proyecto Univali en Movimiento

 

Professoras graduadas e Mestres em Educação Física

Professoras envolvidas no Projeto UNIVALI em Movimento

da Universidade do Vale de Itajaí

(Brasil)

Elaine Cristina Rodrigues Farina

Veruska Pires

ec.farina@bol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          As academias da saúde estão em grande expansão no Brasil com objetivo de estimular a prática de atividade física e da qualidade de vida. O objetivo desta pesquisa consistiu em descrever o perfil dos usuários destas academias e apresentar por meio de relatos patologias que envolvem estes freqüentadores. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado questionário simplificado preenchido por meio de entrevista nas doze academias atendidas pelo projeto, situadas em diversas localidades na cidade de Florianópolis. A amostra foi constituída por 92 indivíduos voluntários entre homens (44,5%) e mulheres (55,4%) com média de idade de 56,47 anos. A maioria dos usuários entrevistados mantinha certa freqüência na utilização destes espaços, mais de seis meses (68,5%), prevalecendo como objetivo a busca da qualidade de vida (80%). Entre os que escolheram a qualidade de vida, 33,7% possuíam um problema de saúde associada, como patologias osteomioarticulares, cardiovasculares, metabólicos e até psicológicos. Concluímos que alguns cuidados são necessários acerca da prática corporal nestes espaços, considerando que, estes usuários também podem apresentar alguma patologia associada, intensificando a importância da supervisão de um profissional qualificado para as orientações.

          Unitermos: Perfil. Academia da saúde. Academia da terceira idade. Academia ao ar livre. Academia aberta.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A relação atividade física e saúde é bastante discutida na literatura quanto aos seus benefícios. Devido à preocupação com a saúde pública, o Ministério da Saúde implementou em 2011 o Programa Academias da Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011) instalando em diversas localidades equipamentos que permite a mobilização do corpo em vários segmentos. As Academias da Saúde são locais públicos sem fins lucrativos para usufruto da comunidade. Espaços públicos refere-se o que é do uso de todos, ou que está aberto ou acessível a qualquer pessoa (DICIONÁRIO MINI AURÉLIO, 2008), e isso pode implicar também na situação e condição de saúde destes usuários.

    Partindo deste princípio, o curso de Educação Física Universidade do Vale do Itajaí, campus Biguaçu/SC por meio da extensão universitária viabilizou orientações de saúde e de movimento em doze Academias da saúde da cidade de Florianópolis/SC em convênio com a Fundação Municipal de Esportes em 2011/12.

    O objetivo desta pesquisa consistiu em descrever o perfil dos usuários das Academias da Saúde de Florianópolis atendidos no projeto UNIVALI em Movimento e apresentar por meio de relatos patologias que envolvem estes freqüentadores.

Metodologia

    Como instrumento de pesquisa foi aplicado um questionário simplificado aos voluntários, com questões de escopo quantitativo, classificando alguns dados pessoais (idade, gênero e origem), dados em relação à condição de saúde com o relato das patologias instaladas e dados relacionados ao motivo da utilização destes espaços, bem como, da participação e freqüência, sempre com a preocupação de manter em sigilo a identidade dos mesmos. A coleta de dados foi realizada no período matutino, no mês de outubro de 2011 em 12 Academias da Saúde em atendimento do projeto, por meio de entrevista. Os dados foram transferidos para a planilha do Excel da Microsoft Office (2007) para a análise de dados de forma descritiva por porcentagem (%), média (Me), desvio padrão (DP) e Moda (M), um resumo para a descrição das características importantes de um conjunto de dados populacionais. A amostra da pesquisa foi constituída por 92 indivíduos que freqüentaram as Academias da Saúde em Florianópolis aquelas inseridas no projeto de extensão do curso de Educação Física de Biguaçu.

Resultados e discussão

    A amostra (92) foi constituída de homens (M) e mulheres (F) apresentando uma média (Me) de idade de 56,47 anos, com o desvio padrão (DP) de ± 14,64 e Moda (Mo) de 55 anos. Com as medidas de tendência central foi observada que a população mais freqüente nestes espaços foram indivíduos de idade adulta entre 21 e 60 anos de idade (56,5%), a terceira idade, classificada a partir dos 60 anos, compôs 43,5% da amostra total.

    Entre os gêneros, as mulheres apresentaram uma tendência na freqüência (51) representando 55,4%, porém, os homens não ficaram muito distantes, representando 44,5% (41). Os homens, no entanto, eram freqüentadores com mais idade, tabela 1.

    A tendência em relação à maior freqüência entre as mulheres e maior idade entre os homens, pode estar relacionada às responsabilidades sociais e familiares. No caso dos homens, pode ser devido ao maior tempo de vida ativa de trabalho, refletindo em sua participação nestes espaços mais tardiamente (idade). Outro fator que pode ter influenciado nas características apresentadas na pesquisa, foi à realização da mesma no período matutino.

Tabela 1. Distribuição das idades em médias (M), idade máxima (Máx.) e Mínima (Min.),

 desvio padrão (DP) e moda (Mo) dos freqüentadores entre as Academias da Saúde

    Para conhecer o nível de tempo de freqüência nas Academias da saúde, mais precisamente, o tempo que estes usuários faziam uso dos aparelhos disponibilizados nestes espaços, foi considerada as seguintes divisões referente ao “tempo”, (A) menos de 1 mês; (B) de 1 mês a 3 meses; (C) de 3 meses a 6 meses; (D) mais de 6 meses.

    A classificação do tempo de freqüência apresentou-se da seguinte forma em ordem decrescente de tempo de utilização, (D) 68,5%; (A)14,1%; (C) 12%; (B) 5,4% conforme o gráfico 1. Com esses resultados observou-se que existe uma boa freqüência de utilização destes espaços entre a maioria dos indivíduos entrevistados.

Gráfico 1. Descrição do tempo de freqüência dos usuários da Academia da Saúde nos 

locais de atendimento do projeto UNIVALI em Movimento na cidade de Florianópolis/SC

    Os exercícios físicos regulares beneficiam o indivíduo de muitas maneiras, quando se mantém ativo favorece também a vida social, psicológica, além da condição física, mas quando orientada adequadamente. A literatura apresenta um grande acervo de estudos entrelaçados ao tema: atividade física e saúde que descreve os benefícios na saúde pela prática de atividades físicas e das práticas corporais em diferentes perspectivas. A partir disso, é fundamental a presença de um profissional de Educação Física para atender e orientar a população nestas práticas.

    Farina e Meller (2010) citam que as orientações começam na postura corporal, na observação da relação corpo/aparelho a ser utilizado e se necessário fazer uma adequação com acessórios (almofadas, colchonetes, etc.), pois estes aparelhos não possuem ajustes para os diversos tipos de antropometria corporal. As autoras citam ainda sobre a importância quanto aos horários para a realização dessas atividades e dos cuidados necessários para os dias muito quentes e ensolarados, lembrando que são espaços ao ar livre.

    Em geral os indivíduos são incentivados a freqüentarem as Academias da Saúde, pois esses locais seriam um estímulo, uma forma de contribuir para a melhora da qualidade de vida, a partir dos benefícios das práticas de atividades físicas.

    Em nossos estudos observou-se que a maioria dos indivíduos teve como motivo em freqüentar as Academias da Saúde, a busca pela qualidade de vida (80%), e que destes 38,7% responderam esta condição (qualidade de vida) associada a outros fatores de participação, por ser perto da residência (30%), para o emagrecimento (8,6%), por ser ao ar livre (5,4%), por motivo financeiro (4,3%) e outros, como por exemplo, por ser um ambiente sem cobrança.

    Uma questão importante a ser levantada e que deve ser observada com certa cautela, é a participação pela busca da qualidade de vida como mostrou a pesquisa, pois esta busca incluía indivíduos que relatavam ter algum problema de saúde e/ou patologia associada, seja de ordem metabólica, ortopédica e/ou até psicológico, em hipótese, estes indivíduos poderiam estar fazendo destes locais um apoio, com a expectativa de melhora da sua condição física e de saúde.

    Atualmente há críticas em relação ao uso destes espaços, alguns profissionais da área da saúde vêm discutindo estes espaços, na tentativa de esclarecer o público dos cuidados que se faz necessário. Segundo o médico, chefe do departamento de medicina do esporte do Hospital das Clínicas de São Paulo, “vê estes espaços como positivo, porém tem a preocupação quanto ao uso, podendo ser um fator de risco”, cita ainda que, “... seria interessante incorporar um educador físico a essas equipes. Eles seriam responsáveis por prestar esse atendimento à população”, e completa, “este programa deveria associar-se ao Programa de Saúde da Família”. (HERNANDES, 2011).

    Entre os que escolheram a qualidade de vida como opção (80%), 33,7% possuíam um problema de saúde associada. Sem relacionar com os motivos da freqüência nestas academias, o número de indivíduos que relatou ter algum problema de saúde sobe para mais da metade do grupo (54,3%). Para melhor organização dos dados, as patologias relatadas estão apresentadas conforme os relatos dos freqüentadores, observe o quadro 1. Salienta-se que vários dos freqüentadores (15%) apresentavam mais de uma patologia associada e 5,25% tinham três patologias associadas.

Quadro 1. Apresentação das patologias conforme relatos dos usuários das Academias da Saúde

    A promoção da saúde consiste num programa expandido que deva atingir o indivíduo nas diferentes perspectivas humanísticas, só a prática corporal nestes espaços não dará conta desta expectativa. Numa visão focada nos exercícios físicos chegará um determinado momento que será necessário um novo estímulo, uma quebra de rotina, um novo ambiente para a evolução dos objetivos, independentemente qual seja, se estética, de condicionamento físico cardiovascular ou de fortalecimento, etc.

    As demandas destes usuários podem estar pautadas na busca da melhora da qualidade de vida, talvez, pelo problema de saúde associada, os relatos demonstraram que os usuários possuíam uma patologia e que podiam estar ali, pela perspectiva ou na busca da "melhora" ou da "cura" destas condições patológicas, e ainda, podem ter aderido à atividade física por recomendação médica, encontrando nestes espaços a oportunidade de realizar estas atividades. Este fato nos faz refletir sobre a direção da utilização destes espaços. São espaços de movimento? Estes espaços estão sendo utilizados como meio de "reabilitação" por estes usuários? Estes questionamentos permite avançar para novas pesquisas.

    Quanto aos riscos, estes aumentariam pela ausência de supervisão e orientação, pois como já citado, muitas Academias da Saúde não possuem um profissional atuante. Esta preocupação deve ser levantada para que se possa se desdobrar esforços para novos estudos neste campo de atuação. Estes relatos fundamentam a presença de um profissional de Educação Física, e quem sabe vinculá-los ao Programa da Saúde da Família, como citado por Hernandes (2011) ou a outro programa do Ministério da Saúde para estas orientações e prescrições.

    Apesar do Ministério da Saúde (Art. 2, 2011) citar como objetivo “contribuir para a promoção da saúde da população a partir da implantação de polos com infraestrutura, equipamentos e quadro de pessoal qualificado para a orientação de práticas corporais e atividade física e de lazer e modos de vida saudáveis”, ainda não se observa a participação de profissionais nestas áreas efetivamente, então, o projeto de extensão UNIVALI em Movimento propôs entre seus objetivos a participação de acadêmicos nestes espaços sob a supervisão de um professor, traçando a aproximação entre a universidade e a comunidade por uma necessidade pública.

    A identificação destes espaços foi fundamental para fomentar as possibilidades de uma formação educativa de saúde pelo movimento, para que esses espaços (de movimento) pudessem ser utilizados além do fazer pelo fazer, do praticar pelo praticar. Ao contrário, salientar a importância do “ser ativo e estar ativo”, educando o movimento, um movimento com qualidade, com consciência para uma vida melhor. Para isso, os discentes que participavam do projeto foram sendo qualificados, receberam orientações de docentes especializados perpassando por outras perspectivas para subsidiar uma orientação diferenciada para o movimento.

Considerações finais

    As mulheres apresentaram uma discreta maioria sobre os homens em relação à utilização das Academias da Saúde no período matutino, no entanto, a média de idade dos homens foram maiores.

    Estas academias parecem ter algum significado para estes indivíduos, pois 68,5% freqüentavam estes espaços mais de seis meses, pela motivação da busca de uma melhor qualidade de vida, baseado talvez, nos benéficos que as atividades físicas (práticas corporais) trazem ao organismo.

    Está bem descrita na literatura o quanto as atividades físicas e os exercícios físicos regulares beneficiam o indivíduo de muitas maneiras, quando orientada adequadamente. E que a partir deste princípio, passa ser fundamental a presença de um professor de educação física para atender e orientar a população nestas práticas, ou mesmo outro profissional da saúde para subsidiar outras perspectivas de orientação e melhora da qualidade de vida, além da condição física.

    É importante ressaltar que para a eficiência e garantia dos objetivos do Programa das Academias da Saúde do Ministério da Saúde, bem como, da utilização destes equipamentos nestes espaços públicos é necessário uma supervisão. Os freqüentadores podem apresentar alguma patologia que foi adquirida no decorrer da vida, buscando nestes espaços a possibilidade de melhora a partir da prática do exercício.

    Os espaços oportunizam o “ser ativo”, porém, deve-se esclarecer que a prática constante destes espaços pelos aparelhos instalados não são suficientes para o condicionamento físico ou de aptidão física. Sabe-se que a prática associada ao tempo de freqüência leva à adaptação orgânica do indivíduo, sendo necessário o aumento e/ou a diferenciação dos estímulos para que haja uma evolução dos sistemas orgânicos e conseqüentemente a melhora das capacidades físicas. Então, fica evidente esclarecer a importância de ampliar a participação dos freqüentadores/usuários em outras práticas corporais, além das Academias da Saúde.

    Tendo em vista a importante participação dos professores de educação física de forma consistente nas Academias da Saúde, atuação que pode ser compreendida como um profissional disseminador de informações (educador em saúde), bem como um promotor de saúde. A supervisão de um profissional qualifica os movimentos, promove a educação e instiga outras possibilidades de intervenção.

    Este fato motiva a continuação e a ampliação das pesquisas neste âmbito em outras cidades, bem como a realização de novas pesquisas.

Agradecimentos

    A todos os acadêmicos bolsistas que participaram do Projeto UNIVALI em Movimento nos anos de 2011/12 no segmento Academias da Saúde.

Referências

  • FARINA, Elaine C. R.; MELLER, Vanderléa Ana. Professoras do Curso de Educação Física explica os benefícios das academias ao ar livre. Jornal do Meio Dia. Emissora RIC Record, 01nov. 2010. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=KURbfdK7F3s. Acessado em 03 ago. 2012. Entrevista cedida ao Jornal do Meio Dia.

  • HERNANES, Antunes. Academias da Terceira Idade: o paliativo perigoso. IG. Bem Estar, São Paulo, ano 2011. Entrevista concedida a Lívia Machado. Disponível em: http://saude.ig.com.br/bemestar/academias+da+terceira+idade+o+paliativo+perigoso/n1596812694746.html. Acessado em: 02 ago. 2012.

  • MINI AURÉLIO. Mini Dicionário da Língua Portuguesa. 7. ed. Editora Positivo, 2008.

  • MINISTÉRIO DA SAÚDE. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/ portal/arquivos/pdf/portaria_academia_saude_719.pdf, 2011. Acessado em: 23 out. 2012.

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