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O estudo de caso e seu uso na Educação Física

El estudio de caso y su uso en la Educación Física

The case studies and its application in the Physical Education

 

*Bacharel em Educação Física (Universidade Federal de Santa Maria). Especializando

em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde (Universidade Federal de Santa Maria)

Mestrando em Educação Física (Universidade Federal de Santa Maria)

**Licenciado em Educação Física (Universidade Federal de Santa Maria)

Mestrando em Educação Física (Universidade Federal de Santa Maria)

***Bacharel em Educação Física (Faculdade Metodista de Santa Maria). Especialista

em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde (Universidade Federal de Santa Maria)

Mestranda em Educação Física (Universidade Federal de Santa Maria)

****Licenciada em Educação Física (Universidade Federal de Santa Maria). Especializanda

em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde (Universidade Federal de Santa Maria)

Mestranda em Educação Física (Universidade Federal de Santa Maria)

*****Graduação em Educação Física (Universidade Federal de Pelotas). Mestre em Ciência

do Movimento Humano (Universidade Federal de Santa Maria)

Doutora em Ciência do Movimento Humano (Universidade Federal de Santa Maria)

Juliano Boufleur Farinha*

Diego Rodrigo Both**

Ellen dos Santos Soares***

Marta Cristina Rodrigues da Silva****

Silvana Corrêa Matheus*****

jbfarinha@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo objetivou caracterizar o uso de estudos de caso na Educação Física. Foi realizada uma busca de artigos e resumos na página virtual da LILACS através de termos específicos. Dos 259 estudos recuperados, apenas 46 foram analisados. Constatou-se que a publicação de estudos de caso na área é baixa e que a maioria dos artigos científicos tem se voltado a: 1) avaliações ou intervenções objetivando a qualidade de vida e/ou saúde de indivíduos com ou sem deficiências físicas e/ou mentais; 2) treinamentos visando uma melhor performance; 3) relatos de situações vivenciadas na escola. Acredita-se que o uso deste tipo de investigação, com competência, pode ser útil na melhoria da atuação dos educadores físicos.

          Unitermos: Estudos de casos. Educação Física. Treinamento. Exercício. Saúde.

 

Abstract

          This study aimed to characterize the application of case studies in the Physical Education. We seek articles and abstracts in the site of LILACS with the term case study, combined with: physical education, physical activity, sport, physical training and physical exercise. Of 259 studies retrieved, only 46 were analyzed. We checked a low production in this field and that the majority of papers focus the: 1) assessments or interventions aiming the quality of life and/or health of individuals with or without physical/mentally disables; 2) trainings focusing a better performance; 3) reports of situations experienced in the school. It is concluded that this type of investigation can be useful to a better practical performance of the physical educators.

          Keywords: Case studies. Physical Education. Training. Exercise. Health.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A investigação científica é definida como um conjunto de ações baseadas em procedimentos racionais e sistemáticos que usa métodos e instrumentos apropriados com o objetivo de solucionar um problema (1). Uma das modalidades de pesquisa que pode ser utilizada em abordagens quantitativas e qualitativas é o estudo de caso (EC), o qual busca apreender a totalidade de uma situação através da interpretação da complexidade de um caso concreto contextualizado em tempo e lugar, mediante um profundo e exaustivo mergulho em um objeto delimitado (2-4). Essa estratégia metodológica é dividida em estudos de caso único e estudos de casos múltiplos. Além disso, o EC tem sido bastante utilizado em ciências como enfermagem, administração, educação, direito e principalmente, medicina e psicologia. Entretanto, percebe-se que essa estratégia metodológica tem sido muito pouco utilizada na Educação Física (EF) e não foram encontrados estudos que fizessem o levantamento do uso do EC nessa área do conhecimento. Dessa forma, o objetivo desse trabalho é caracterizar a utilização dos estudos de caso em artigos científicos relacionados com a área da EF.

Materiais e métodos

    A pesquisa foi realizada em abril do ano de 2012, caracteriza-se como descritiva e apresenta um levantamento quantitativo. Para traçar o perfil dos artigos científicos completos ou resumos de artigos publicados entre 1997 e 2011, utilizou-se a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) (5). Na página virtual inicial de busca da LILACS, foi digitado o termo “estudo de caso” combinado com cinco expressões: “educação física”, “atividade física”, “esporte”, “treinamento físico” e “exercício físico”. Apesar de diversas discussões conceituais pertinentes apresentadas na literatura, utilizou-se a corrente que considera a EF como uma área onde se faz ciência, pois ela faz inquisições, questionamentos e observações através de estudos e fatos do movimento humano, como as reações ocorrem e analisa seus efeitos, causas e conseqüências (6). Partindo-se deste conceito, a classificação dos artigos quanto à relação com a área da EF foi discutida entre os autores deste estudo e a classificação dos artigos de estudo de caso(s) deu-se pela presença das expressões “estudo de caso(s)” e “relato de caso(s)” ao longo do texto dos artigos ou resumos.

Resultados e discussão

    Dos 259 artigos recuperados na busca, apenas 46 artigos (17,76%) preencheram os critérios de inclusão e apresentaram relação direta com a área da EF (Tabela 1). Constatou-se uma baixa quantidade de estudos ao digitar os termos “estudo de caso e educação física” (49) quando comparado às combinações com outras ciências da saúde, como: “estudo de caso e psicologia” (211), “estudo de caso e medicina” (449) e “estudo de caso e enfermagem” (598). Além disso, em uma revisão sistemática, apenas 8% dos artigos publicados na Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde entre 2007 e 2009 foram categorizados como estudos de caso (7). Essa pequena quantidade de estudos de caso realizados por investigadores da área de EF deve-se, provavelmente, ao fato de o pesquisador ter pouca influência sobre os acontecimentos, pela dificuldade em generalizar seus resultados e pelo fato de sua correta aplicação ser tão debatida e criticada pelos especialistas (8).

Tabela 1. Distribuição dos artigos relacionados com a Educação Física indexados na LILACS entre 1997 e 2011 e respectivas subdivisões de análise

    Observa-se na Tabela 2, que somente nas combinações “estudo de caso e educação física” e “estudo de caso e esporte” o número de casos múltiplos foi maior que o de casos únicos. Possivelmente a maior quantidade de artigos do tipo caso único (58,69%) deva-se ao interesse em testar uma teoria bem formulada, através da análise de situações incomuns, como alguns tipos de deficiências físicas e/ou mentais, lesões esportivas, e tipos de treinamento. Entretanto, uma possível desvantagem é que a explicação científica pode pecar por fragilidade, devido a possíveis incidências de fenômenos encontrados apenas no universo pesquisado, comprometendo a confiabilidade dos achados (2).

Tabela 2. Distribuição dos artigos indexados na LILACS entre 1997 e 2011, por tipos de estudos de caso relacionados à Educação Física

    Apesar da menor incidência nos artigos analisados, os estudos de casos múltiplos costumam ser mais convincentes, desde que obedeçam a uma lógica de replicação e não a da amostragem (2). Independentemente do tipo de EC e considerando-se comuns falhas na validade externa, os pesquisadores devem aperfeiçoar a compreensão do caso, ao invés de propor uma excessiva generalização dos seus achados, pois conforme o especialista Stake sugere, é o leitor quem deve decidir em que contextos/populações os resultados obtidos podem ser generalizados (9). Com relação aos artigos publicados nos últimos 15 anos (Figura 1), observa-se que vem crescendo a produção de artigos científicos de estudos de caso relacionados com a EF. Além disso, estima-se que a produção intelectual da subárea EF tenha tido um aumento relativo de quase 6% nos anos de 2010 e 2011, quando comparado ao triênio 2007-2009 (10). Entretanto, este aumento na quantidade de estudos de casos pode estar relacionado com a recente maior produção em todos os tipos de pesquisas científicas na área de EF.

Figura 1. Distribuição dos artigos de estudos de caso indexados na LILACS entre 1997 e 2011, conforme triênio de publicação

    Além disso, um melhor entendimento das vantagens deste tipo de estudo, o enfrentamento das críticas e a inserção da EF como uma das áreas líderes no processo que visa atingir o potencial pleno e as condições de saúde humana (8) devem contribuir com uma maior qualidade e quantidade de estudos de caso. Ao analisar a Tabela 3, observa-se que a maioria dos artigos científicos têm se voltado a processos de avaliação ou a intervenções objetivando a melhoria da saúde e da qualidade de vida (QV). Tal fato relaciona-se à preocupação com o aumento da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) relacionado com o envelhecimento da população e os gastos com seguridade social (11), pois o exercício físico age na prevenção e no tratamento de doenças cardiovasculares e seus fatores de risco (12).

Tabela 3. Distribuição dos artigos analisados indexados na LILACS entre 1997 e 2011, por assuntos de análise na Educação Física

Assunto

Autores

Ano

Revista

Análise ou Intervenção objetivando a Qualidade de Vida e/ou Saúde

Torres et al.†

2011

APE

Costa et al. *

2010

ABC

Silva et al.*

2010

AOB

Cunha et al.*

2009

Pediatria

Lemos e Dullius*

2009

ACS

Bertoldi et al.*

2008

FEM

Pirré et al.*

2008

Acta Fisiatrica

Faé et al.†

2006

REUERJ

Sacco et al.†

2005

RBCM

Bosco et al. *

2004

RBME

Santos et al.*

2004

RBME

Fabiano et al.*

2003

ACSU

Mattiello-Sverzut et al.*

2003

RBF

Silva et al.*

2003

RFUSP

Monteiro e SantAna*

2002

ACSU

Ribeiro et al.†

2000

RSCESP

Análise ou Intervenção com Deficiências Físicas e/ou Mentais ou Patologias Incomuns

Gevaerd et al.*

2010

FEM

Trevisan e Trintinaglia*

2010

Fisioterapia e Pesquisa

Almeida e Formiga*

2010

Motriz

Comim et al.†

2009

Fisioterapia Brasil

Santos et al.*

2009

Fisioterapia Brasil

Santos et al.*

2009

Fisioterapia Brasil

Rosa et al.*

2008

RBEE

Soares*

2006

FEM

Oliveira e Cajueiro*

1999

Temas Desenvolvidos

Análise/Intervenção no Rendimento Esportivo (Deficientes ou Não)

Noce et al.*

2011

RBME

Maroni et al.†

2010

RBEFE

Secchi et al.*

2009

Acta Fisiatrica

Lavoura et al.*

2008

Motriz

Teixeira et al.*

2008

RBME

Arins e Silva

2007

RBCDH

Lavoura e Machado

2007

Motriz

Stafanello*

2007

RBCDH

Petry e Silva

2006

Fisioterapia Brasil

Atuação Profissional na Escola

Folle e Nascimento

2011

RBCE

Mazzarino et al. *

2011

RBCE

Ramos et al.†

2011

Motriz

Falkenbach e Lopes

2010

Pensar a Prática

Folle et al.†

2009

Movimento

Melo e Ferreira

2009

RBEE

Wanderlei Júnior et al.†

2007

Tecnologia & Cultura

Melo e Martins

2007

RBCE

Brandão e Corbucci

2002

RBCM

Ensino de Esportes para Deficientes Físicos e/ou Mentais

Strapasson e Duarte

2006

ACSU

Reflexões sobre Políticas Públicas de Esporte e Lazer

Werle

2010

Motriz

Casos de Racismo no Esporte

Cavalcanti e Capraro*

2009

Motriz

*: Estudos de caso único; : Estudos de Múltiplos Casos. APE: Acta Paulista de Enfermagem; ABC: Arquivos Brasileiros de Cardiologia; AOB: Acta Ortopédica Brasileira; ACS: Arquivos de Ciências da Saúde; FEM: Fisioterapia em Movimento; RBME: Revista Brasileira de Medicina do Esporte; REUERJ: Revista de Enfermagem da Universidade Estadual do Rio de Janeiro; RBCM: Revista Brasileira de Ciência e Movimento. ACSU: Arquivos de Ciências da Saúde da Universidade Paranaense; RBF: Revista Brasileira de Fisioterapia; RFUSP: Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo; RSCESP: Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo; RBEE: Revista Brasileira de Educação Especial; RBCE: Revista Brasileira de Ciências do Esporte; RBEFE: Revista Brasileira de Educação Física e Esporte; RBCDH: Revista Brasileira de Cineantropometria e Desenvolvimento Humano.

    Além disso, merece destaque a crescente preocupação com a análise da QV de deficientes físicos e/ou mentais e pessoas com patologias incomuns através de testes ou intervenções que envolvam o exercício físico (13-15). Isso é muito importante, pois, somado aos benefícios comuns a todas as pessoas, o exercício físico pode melhorar a autoestima, a integração social, a autonomia e a independência funcional de pessoas com deficiências físicas e/ou mentais (16). Também se destacam estudos envolvendo a análise ou intervenções voltadas ao rendimento atlético de elite, a fim de se executar atividades musculares específicas e otimização da performance (17, 18), visando a satisfação pessoal e o reconhecimento esportivo. Uma parte considerável (44,4%) dos estudos de caso que relatam situações vivenciadas na atuação profissional inclui alunos com alguma deficiência física e/ou mental. Dessa forma, os professores demonstram-se preocupados com o dever da escola em impedir que alunos sejam discriminados, em planejar recursos para promoção da acessibilidade, em elaborar um projeto pedagógico inclusivo e atender às necessidades educacionais especiais (19, 20).

Conclusão

    Conclui-se que a maior parte da produção de artigos científicos de EC na EF tem se voltado ao binômio saúde/qualidade de vida de pessoas com ou sem deficiências e que, o crescimento deste tipo de investigação desde que aplicado com competência, poderá ser útil no desenvolvimento de avaliações e intervenções que qualifiquem a atuação prática dos educadores físicos.

Referências

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  2. Yin RK. Estudo de Caso: planejamento e métodos. São Paulo: Bookman; 2001.

  3. Ventura MM. O estudo de caso como modalidade de pesquisa. Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro. 2007;20(5):383-6.

  4. Martins GA. Estudo de caso: uma reflexão sobre a aplicabilidade em pesquisa no Brasil. Revista de Contabilidade e Organizações. 2008;2:9-18.

  5. Pires-Alves F. Informação científica, educação médica e políticas de saúde: a Organização Pan-Americana da Saúde e a criação da Biblioteca Regional de Medicina - Bireme. Ciência & Saúde Coletiva. 2008;13:899-908.

  6. Barbanti V. O que é Educação Física 2009. p. 1-23.

  7. Dumith SC. Physical activity in Brazil: a systematic review. Cadernos de Saúde Pública. 2009;25:S415-S26.

  8. Alves-Mazzotti AJ. Usos e abusos dos estudos de caso. Cadernos de Pesquisa. 2006;36:637-51.

  9. Stake RE. The case study method in social inquiry. Educational Researcher. 1978;7(2):5-8.

  10. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Relatório de Reunião dos Coordenadores. Relatório da Reunião de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação da área de Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Educacional; 2011. Brasília, Brasil2011. p. 1-18.

  11. Achutti A, Azambuja MIR. Doenças crônicas não-transmissíveis no Brasil: repercussões do modelo de atenção à saúde sobre a seguridade social. Ciência & Saúde Coletiva. 2004;9:833-40.

  12. Ciolac EG, Guimarães GV. Exercício físico e síndrome metabólica. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 2004;10:319-24.

  13. Almeida MM, Formiga CKMR. Avaliação da motricidade ampla e fina na Síndrome de Williams: relato de caso. Motriz: Revista de Educação Física. 2010;16:913-9.

  14. Gevaerd MdS, Domenech SC, Borges Júnior NG, Higa DF, Lima-Silva AE. Alterações fisiológicas e metabólicas em indivíduo com distrofia muscular de Duchenne durante tratamento fisioterapêutico: um estudo de caso. Fisioterapia em Movimento. 2010;23:93-103.

  15. Trevisan CM, Trintinaglia V. Efeito das terapias associadas de imagem motora e de movimento induzido por restrição na hemiparesia crônica: estudo de caso. Fisioterapia e Pesquisa. 2010;17:264-9.

  16. Souza PAd. O Esporte na Paraplegia e Tetraplegia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1994.

  17. Paulo AC, Forjaz CLM. Treinamento físico de endurance e de força máxima: adaptações cardiovasculares e relações com a performance esportiva. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. 2001;22(2):99-114.

  18. Noce F, Costa VTd, Simim MAdM, Castro HdO, Samulski DM, Mello MTd. Análise dos sintomas de overtraining durante os períodos de treinamento e recuperação: estudo de caso de uma equipe feminina da Superliga de Voleibol 2003/2004. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 2011;17:397-400.

  19. Dutra CP, Gribosky CM. Educação inclusiva: um projeto coletivo de transformação do sistema educacional. In: MEC/SEESP, editor. Seminário Nacional de Formação de Gestores e Educadores, Brasília Ensaios Pedagógicos; Brasília2006. p. 17-23.

  20. Mazzarino JM, Falkenbach A, Rissi S. Acessibilidade e inclusão de uma aluna com deficiência visual na escola e na educação física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. 2011;33:87-102.

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