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Lactato e dor muscular de inicio tardio (DMIT): 

um estudo sobre conceitos e diferenças

Lactato y dolor muscular de inicio tardío (DMIT): un estudio sobre conceptos y diferencias

 

Graduado em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará (Campus VII)

Conceição do Araguaia, PA

(Brasil)

Francisco Flávio Sales Galdino

fsales18@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Embora superada a teoria que apontava o Lactato como principal causador da Dor Muscular de Inicio Tardio (DMIT), muitas pessoas, dentre elas colegas do curso de Educação Física, ainda hoje confundem esses dois componentes, taxando o Lactato como principal determinante para o aparecimento dessa dor. Assim, a pesquisa é uma breve revisão de literatura, que tem como objetivo esclarecer as pessoas sobre as causas, conceitos e diferenças entre esses dois termos. Para tanto, utilizamos obras de autores como Mcardle (1998); Neto et al. (2006); Tricoli (2001) e outros que possuem significativa relevância na discussão sobre o tema. Ao final, conclui-se que o Lactato não pode responder ao processo que origina a DMIT, uma vez que esse tipo de dor muscular encontra seu ápice quando a presença de Lactato no músculo é relativamente baixa, sendo portanto, causada por microlesões que rompem a fibra muscular, e por diversos processos inflamatórios causados por essas lesões.

          Unitermos: Lactato. Dor muscular. Exercício físico.

 

Abstract

          Although superseded theory that pointed as the main cause of Lactate Muscle Pain Front Tardio (DOMS), many people, including colleagues from the Physical Education course, still confuse the relation stablished between these two components, taxing lactate as the main determinant for the appearance of this pain. Considering this fact, the aim of this paper is to make a brief literature review on the theme, enlighten people about the causes, concepts and differences between these two terms. At this point, we make references to authors such as Mcardle (1998); Neto et al. (2006); Tricoli (2001) and others that have significant relevance in the discussion on the topic. At the end of the article, it is concluded that the lactate can not respond to the process originating the DOMS, since this type of pain has its peak when the presence of lactate in the muscle is relatively low, and therefore, caused by microlesions that disrupt the muscle fiber, and various inflammatory processes caused by these injuries.

          Keywords: Lactate. Muscle pain. Exercise.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Apesar de atualmente haver um vasto acervo referente ao fato de que o Lactato não é responsável pelo surgimento da Dor Muscular de Inicio Tardio (DMIT), muitas pessoas, dentre elas, colegas do curso de Educação Física, ainda hoje atribuem a ele a causa dessa dor. Desse modo, a pesquisa é uma breve revisão de literatura, que tem como objetivo esclarecer as pessoas sobre as causas, conceitos e diferenças entre esses componentes. Para tanto, utilizamos obras de autores como Mcardle (1998); Neto et al. (2006); Tricoli (2001), e outros que possuem significativa relevância na discussão sobre o tema.

    Muitas pessoas já foram vitimas de uma dor que se instala principalmente no dia seguinte após a prática de um exercício físico do qual não estão acostumadas. Essa forte dor acaba por impossibilitar a realização de movimentos simples como abaixar, pegar um objeto, até mesmo vestir uma camiseta. Esse processo é conhecido como Dor Muscular de Inicio Tardio (DMIT), e é decorrente de uma série de fatores mecânicos e fisiológicos.

    Por muito tempo acreditou-se que o Lactato seria o principal causador da Dor Muscular de Inicio Tardio, fato verificado em algumas academias onde é comum instrutores acreditarem na possibilidade dessa substância ser o principal agente causador desse processo. Porem, com o passar dos anos descobriu-se que o Lactato não possui relação com este tipo de dor, pois sua ação responde apenas a dor que se instala logo após á pratica da atividade física, e que horas depois desaparece. Por outro lado, a DMIT aparece apenas alguns dias após a prática do exercício físico.

    Assim, Lactato e Dor Muscular de Inicio Tardio, são elementos que apresentam grandes diferenças, sendo o Lactato um resíduo metabólico originado pela quebra da glicose, que causa certo desconforto muscular, mas que é removido rapidamente pelo sangue, já a dor muscular de inicio tardio é um tipo de dor muscular que ocorre devido á prática de exercícios dos quais o individuo não estar habituado, causado por traumas mecânicos na musculatura geradores de inflamações, e que aparecem dias após a realização do exercício físico.

2.     Dor muscular de inicio tardio

    A dor muscular de inicio tardio (DMIT) é constantemente presenciada por praticantes de modalidades esportivas, por pessoas que se submetem á programas de treinamento físico, e por indivíduos sedentários que praticam atividades que estão fora de sua habitualidade. Alguns autores como Bompa (1994), Mcardle (1998), Neto et al (2006), acreditam que seu surgimento nada mais é do que um processo de adaptação do organismo, tornando o músculo mais resistente ao exercício seguinte. Segundo Tricoli (2001) a dor muscular de inicio tardio é caracterizada como a sensação de desconforto muscular originada a partir do término do treinamento, alcançando seu ápice 2 á 3 dias, e desaparecendo cerca 7 dias após a prática do exercício físico.

    A DMIT é causada por vários fatores, sendo os microtraumas mecânicos induzidos pelo exercício físico, com prevalência dos realizados de forma excêntrica, e os fatores fisiológicos os principais deles (NETO et al., 2006). A teoria dos microtraumas mecânicos pressupõe segundo Foschini et al. (2007) que há, devido ao exercício físico, um grande rompimento dos componentes da fibra muscular, sarcolema, túbulos t, e principalmente a linha Z. Enzimas como a creatina quinase (CK), e lactato desidrogenase (LDH), são utilizados para verificar o dano causado por esses traumas. Segundo Foschini et al. (2007) essas moléculas são citoplasmática, e desse modo não conseguem ultrapassar a membrana sarcoplasmática, causando assim a DMIT.

    Os traumas mecânicos aplicados ao músculo induzem á processos inflamatórios que causam dor e sensibilidade ao toque. De acordo com Tricoli (2001), a inflamação é uma resposta dos tecidos do corpo referente á infecção e á lesão. “A inflamação é caracterizada pela movimentação de fluídos, de proteínas plasmáticas e de leucócitos, em direção ao tecido afetado” (TRICOLI, 2001 p. 42).

    Foi verificado que logo após o exercício físico há a presença de agentes responsáveis pela regeneração do tecido, neutrófilos, leucócitos, monócitos convertidos em macrófagos, que liberam substâncias como as prostaglandinas, histaminas, cininas e k+, essas substâncias seriam os possíveis responsáveis por esse tipo de dor muscular (ARMSTRONG apud FOSCHINI et al., 2007 p. 107). Desse modo, a DMIT também estar relacionada ao processo inflamatório encarregado da regeneração do tecido muscular lesionado.

3.     O lactato

    A energia é de fundamental para as nossas vidas, e se tratando de corpo humano essa energia é expressa através da molécula de ATP (adenosina tri fosfato), que é de suma importância para a contração muscular. Segundo Foss (2000), existem três tipos de formação de ATP, a via ATP-CP, a via Anaeróbica Alática, e a via Anaeróbica Lática. Quando a via aeróbica não consegue, devido á alta intensidade, suprir quantidades de ATP necessárias para que o exercício continue sendo realizado, o sistema anaeróbico lático entre em ação produzindo energia, e formando um resíduo metabólico chamado de Lactato.

    A figura apresentado por Neto (2012) demonstra as reações que ocorrem da glicose á formação de Lactato no músculo:

Figura 1. Formação do Lactato

    Em termos aeróbicos, ou seja, quando há presença de oxigênio o piruvato é quebrado gerando grandes quantidades de energia, por outro lado, se há falta de oxigênio, e ainda, se as células musculares não conseguem metabolizar o piruvato, este se transforma em Lactato (FOSS, 2000).

    Segundo Mcardle et al. (1998) o Lactato é uma substância presente a todo momento em nosso organismo, sua concentração em níveis normais é de 1 mmol/Kg/hora, sua produção no músculo permanece em equilíbrio com sua remoção pelo sangue, processo conhecido como homeostase. Porém, quando há alteração no processo produção-remoção, como em corridas de 400 e de 100 metros, que demandam grande esforço muscular, a quantidade de Lactato aumenta bruscamente, rompendo a homeostase (MCARDLE, 1998).

    A concentração de grandes quantidades de Lactato juntamente com íons de hidrogênio no músculo promove um processo chamado de acidose metabólica (FOSS, 2000). Este processo gera um tipo de queimação, dor muscular, provocando assim, redução no desempenho do exercício. Esse tipo de queimação perdura por algum tempo, isso talvez seja o motivo que leva as pessoas á acreditarem no Lactato como principal causador da DMIT.

4.     Lactato e dor muscular de inicio tardio

    Segundo Mcardle et al. (1998) a pequena queimação que surge durante a realização do exercício de alta intensidade possui grande ligação com á falta de oxigênio, com a queda do pH, o acumulo de Lactato, e íons de hidrogênios que estimulam os receptores da dor. No entanto, essa dor desaparece poucas horas depois da prática do exercício físico, uma vez que a acidose metabólica provocada por esse processo, rapidamente é controlado por um sistema de tamponamento que é estimulado para manter pH em níveis normais (MCARDLE et al. 1998).

    Um estudo realizado por Neto et al. (2006), que contou com a participação de 3 homens e 2 mulheres, com idade de 21 á 22 anos, verificou que após os indivíduos realizarem 3 corridas intensas de 250 metros, e como meio de recuperação, caminhadas de 150 metros, houve um aumento na concentração de Lactato muscular, mas após 4 horas da realização do exercício os níveis de lactato foram normalizados.

    Diferente do Lactato, a DMIT é uma sensação de rigidez muscular que surge quando o individuo se submete á atividades não habituais, sua formação se dá principalmente a partir de 24 horas após a atividade realizada (NETO et al. 2006). Para Mcardle et al. (1998) a DMIT aparece com maior freqüência em contrações excêntricas do que em contrações concêntricas e isométricas, tendo a enzima creatina-cinase (CK) como a principal marcadora da lesão muscular. Em exercícios com prevalências de contrações concêntricas foi verificado segundo alguns estudos citados por Mcardle et al. (1998), que não eram produzidos danos ao músculo, mesmo havendo grandes concentrações de Lactato. Já em exercícios como a corrida em declive (contrações principalmente excêntricas) a DMIT se instala com alta em intensidade, sem com isso aumentar significativamente os níveis de Lactato. Desse modo, esse fato desmistifica a ação do Lactato no processo de formação da DMIT, pois mesmo havendo altas concentrações dessa substância no músculo, foi constatado que os indivíduos não sofreram com DMIT no dia seguinte.

5.     Considerações finais

    Portanto o Lactato não é responsável pelo surgimento da DMIT, uma vez que este tipo de dor possui sua formação em períodos que supera o tempo em que o mesmo se faz presente no músculo. O Lactato responde apenas a pequena dor que se instala logo após a realização do exercício, sendo a principal causa da dor muscular que surge dias após o exercício físico (DMIT), as microlesões musculares, e os efeitos inflamatórios causados por essas lesões. Assim, é de fundamental importância tanto graduandos de educação física, quanto demais profissionais do âmbito da atividade física, conhecerem as diferenças entre esses dois componentes, atentando-se para não os confundirem, e dessa forma, esclarecerem as pessoas sobre sua formação, o modo como agem, o que causam, e suas demais implicações no organismo.

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