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Práticas de aventura: uma subcultura de risco?

Las prácticas de aventura: ¿una subcultura de riesgo?

 

*Doutorado em Ciências da Educação e professor catedrático da Universidade de Coimbra 

(Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física), onde coordena os cursos de mestrado em 

Ensino da Educação Física e de doutoramento em Turismo, Lazer e Cultura

**Mestre em Lazer e Desenvolvimento Local e doutorando em Turismo, Lazer e Cultura, na 

Universidade de Coimbra. Professor de Educação Física e do Curso Profissional de Técnico

de Apoio à Gestão Desportiva, no Instituto Educativo do Juncal

Prof. Dr. Rui Adelino Machado Gomes

MS. Ricardo Miguel Raimundo Riachos

rriachos@gmail.com

(Portugal)

 

 

 

 

Resumo

          Esta investigação, de carácter exploratório, tem como objetivo identificar e analisar a existência de uma potencial subcultura de risco associada às novas culturas performativas e espetaculares que têm vindo a surgir nas últimas décadas em contexto desportivo. Estas práticas assumem-se como um cenário alternativo a outros lugares amplamente explorados pelo Homem, permitindo-lhe descobrir um estilo de vida descontraído, funcionando como uma alternativa à monotonia diária à qual está sujeito. Nesse sentido, definimos como amostra um conjunto de atores sociais, que desenvolvem práticas de lazer, desportivas e/ou profissionais, no domínio do conjunto de desportos emergentes em contexto natural e urbano. Esta amostra é constituída por dez sujeitos, tendo em comum o facto de serem praticantes de alto nível de um ou de vários desportos aventura/risco. Todos os envolvidos foram submetidos a entrevistas semiestruturadas, com o objetivo de descortinar opiniões e interesses, dentro das dimensões definidas para a realização desta investigação. Em termos conclusivos, é de salientar que estas práticas apresentam-se como variações viáveis a desportos culturalmente massificados, onde valores como liberdade, ecologia e disciplina, marcam estilos de vida à margem das tendências sociais hegemónicas. Salientamos ainda que a maioria dos sujeitos não tem noção de pertencer, ou nega categoricamente pertencer, a qualquer tipo de nicho ou subcultura desportiva.

          Unitermos: Desporto. Risco. Subculturas. Práticas de aventura.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Nos anos mais recentes a esfera pública configurou-se a partir da dialéctica entre risco e segurança. A segurança é um sintoma do biopoder que nos acompanha desde o séc. XVIII. Fazendo da morte um objecto de apreensão, o poder disciplinar preocupou-se com a sobrevivência, com o prolongamento da vida e com a protecção da higiene pública. Filiado em novas tecnologias políticas do corpo, o biopoder estendeu a sua actuação ao conjunto da população em questões como a natalidade, a fecundidade, a velhice e o controlo das endemias. Hoje em dia o tema da segurança percorre transversalmente esferas muito diversas da vida, mas todas elas remetendo para a antecipação, para a prevenção e para a auto-responsabilização do que nos acontece na vida de todos os dias. O lazer está também cada vez mais exposto a esta ambivalência entre a segurança e o risco. Do lado da segurança apresentam-se soluções que prometem a saúde física e psicológica: revistas, programas, jornais, publicidade e debates médicos públicos com informações mais ou menos especializadas sobre o modo de reduzir os riscos corporais. Do lado do risco são cada vez maiores as ofertas de estilos de vida que promovem o álcool, os estimulantes, as drogas de lazer e a vida sedentária. Muitas vezes o risco é procurado deliberadamente: actividades de aventura na natureza selvagem; recurso às tecnologias motorizadas; actividades físicas intensas e radicais ou concursos de sobrevivência em condições extremas.

    A par da segurança criada pelas novas tecnologias, que reduzem os medos que até há alguns anos caracterizavam a existência corporal, exacerbaram-se também as incertezas quanto aos riscos que o futuro anuncia. O risco apresenta-se em versões bastante contraditórias e paradoxais. Por um lado, procura-se minimizar o risco em todas as áreas. Consequência da reflexividade social crescente, as práticas sociais de tipo prudencial são constantemente examinadas e alteradas à luz da informação obtida sobre as suas próprias consequências, de tal modo que o «pensamento e a acção são constantemente refractados um sobre o outro» (Giddens, 1990). É neste contexto profundamente racionalizador que os corpos são sujeitos a um grau sem precedentes de monitorização dos riscos. Companhias de seguros, especialistas e políticos introduzem o tema securitário em domínios cada vez mais vastos da vida: medidas da pressão arterial, do colesterol, dos índices de massa corporal, das doenças geneticamente transmissíveis, dos hábitos tabágicos, das doenças familiares e de outro conjunto de parâmetros de avaliação dos riscos potenciais são usados como formas de controlo atuarial ou, simplesmente, como indicadores que devem orientar as políticas de prevenção e de educação. As estatísticas encarregam-se de alargar os efeitos destas políticas de controlo. Riscos rodoviários, acidentes de trabalho, riscos domésticos, acidentes infantis, incidência dos acidentes vasculares cerebrais ou do cancro são sujeitos a estudos estatísticos que fixam limiares e populações em risco de modo a antecipar e identificar os «locais» mais perigosos tendo em conta valores médios e normas. As populações no seu conjunto são sujeitas a um controlo administrativo, mas, simultaneamente, as estatísticas introduzem na reflexividade social um pensamento individualizado sobre o risco e a responsabilidade individual no seu controlo. A prevenção e a redução dos riscos passa a ser da responsabilidade individual.

    Porém, a regulamentação crescente de certas actividades sociais que envolvem riscos anda a par dos processos de individualização. Assim, o Estado e outras autoridades, agindo sobre a sociedade, tipificaram e distribuíram espacialmente as actividades humanas entre o que é permitido e o que é ilícito, o que é público e o que é privado, o que é individual e o que é colectivo, o que é trabalho e o que é lazer produzindo um poder simultaneamente individualizante e totalizante. No entanto, as sociedades de controlo actuais abalaram as próprias fronteiras disciplinares baseadas na diferenciação entre público e privado, entre lícito e ilícito, entre contextos seguros e arriscados tornando-as permeáveis e sujeitas à contaminação simultânea. Entre o risco máximo, que pretende dar significado e valor à existência, e as medidas de controlo do risco que mantêm as figuras de protecção, embora deslocadas cada vez mais para a auto-gestão da sociedade, joga-se uma nova relação de gestão da coisa pública.

    Ao lado da prudência cresce, por conseguinte, a paixão crescente pelo risco (Le Breton, 1991). Em muitos casos este é procurado deliberadamente como forma de busca do sentido da acção e da vida perdidos. A vertigem das racing street com automóveis e motociclos, o desafio da resistência física em travessias marítimas ou em rafting nos rios, os concursos de sobrevivência em ilhas isoladas ou na alta montanha expressam bem esta nova mitologia radical de busca do extremo ou de sensações fortes. Segundo Balandier (1988), a democratização do risco resulta da perda de sentido das sociedades contemporâneas e da necessidade de denegação metódica da morte. A busca de restauração do sentido consequente a este sentimento de perda teria dois percursos distintos. Por um lado, uma espécie de errância que conduziria a um jogo de dados com a vida: busca da novidade e do efémero, valorização da futilidade sem objectivos bem definidos e hedonismo imediatista seriam formas de atribuir significado às experiências em si mesmas. E daí a multiplicação de experiências que envolvam dispêndio de vida, exposição ao risco e nomadismo. Algum do lazer desviante, na perspetiva de Rojek (1995), estaria nesta categoria. Sendo o corpo apresentado como propriedade de cada um, a opção pela tomada de riscos e, eventualmente, pela morte passou a ser uma entre outras opções possíveis.

    Busca e esgueire da morte são as faces de uma sociedade confrontada com a crise das grandes narrativas e com a perda de sentido. O outro lado do risco é o enraizamento, a protecção das referências culturais tradicionais, a luta contra a precariedade social e individual. É este confronto que se revela neste estudo exploratório.

    Esta investigação encontra-se organizada em torno de diferentes práticas desportivas e de lazer que têm em comum o facto de se desenvolverem em locais de prática normalmente não estandardizados, onde a imprevisibilidade das suas condições ditam a existência de um maior ou menor grau de incerteza. A questão de partida para esta investigação prende-se com o desejo de perceber se as práticas de aventura, historicamente classificadas como actividades ou desportos radicais, evidenciam uma subcultura de risco, transversal às práticas em análise. A partir desta questão foi possível definir como objetivo geral a identificação, caracterização e interpretação da existência de uma subcultura de risco, associada à produção de práticas de aventura em diferentes contextos. Foram selecionados dez sujeitos, todos eles praticantes de alto nível e produtores das suas práticas de aventura, em diferentes contextos de prática, como o ar, a terra e a água.

2.     Problema

Contexto contemporâneo e risco

    O contexto social tem demonstrado um conjunto de valores que evidenciam estarmos perante um momento de profundas alterações correspondentes ao fim da “sociedade moderna” e à transição para um outro paradigma marcado por um sentimento de incerteza e de risco, bem como por um declínio dos fundamentos da “era moderna”. A modernidade marca um período histórico de grande autoconfiança social, produto de um progresso exponencial, ética e liberdade. Este ímpeto teve como consequência um aumento significativo da produtividade, melhorias ao nível da ciência, com reflexos ao nível das oportunidades pessoais e sociais (Rojek, 1995).

    Vivemos numa sociedade onde, em alguns quadrantes, se identifica uma tendência para uma estandardização de comportamentos, o que condiciona aspetos como o tempo de trabalho, tempo livre e o próprio lazer. O efémero tem ganho argumentos, valorizando o presente e o imediato e desvalorizando conceções segundo uma lógica de longo prazo, tendo por base princípios de estabilidade e durabilidade (Soto, 2007).

    Impelida por esta sombra de incerteza, a sociedade intensificou a procura de situações intensas de prazer e de felicidade, muitas das vezes, através da adoção de condutas de risco, associadas ao consumo de substância ilícitas e/ou através da ostentação de comportamentos marginais ou de risco. É a cultura do excesso, sustentada pela lógica hedonista e emotiva, capaz de engendrar em cada sujeito o desejo de consumo evidenciado na busca de emoção e de prazer, na superficialidade e frivolidade da expressão de afetos (Souza, 2009).

    O Homem reinventou a sua forma de estar e reorientou-a em função de uma ótica de consumo orientada pelo desejo e pelo prazer (Araújo, 1988). Numa sociedade de consumo, os atores são clientes, caçadores de emoções e colecionadores de experiências, onde muitas vezes o risco está presente. Este é um conceito tentacular. Incerteza, fobia, emoção e perigo comungam este princípio, nos diferentes domínios das nossas vidas (Seigneur, 2006).

Subculturas

    O conceito de cultura pode ser definido como um conjunto diversificado de subculturas. Este é um conceito muitas vezes descrito como alterações a uma entidade que ela modifica, subterrânea (Amaral, 2005). Inicialmente, esta noção representava um instrumento social concetualizado segundo uma ótica de resistência e de insulto perante uma cultura dominante, entendida como castradora e sem soluções. Atualmente estas representam formas reinventadas das subculturas de resistência originais (Amaral, 2005). Segundo Carvalho et al. (2008), este tipo de manifestações caracteriza um grupo de pessoas com interesses comuns entre si. Através destes interesses estes destacam-se dos restantes grupos sociais. As subculturas representam formas distintas de manifestações culturais, inseridas numa cultura dominante, com a qual estabelecem uma relação de cumplicidade, através de laços vinculativos (Coêlho, 2009). Nem sempre facilmente identificáveis, uma vez que algumas ostentam inspirações em diferentes formas de estar, poderemos reconhecer uma subcultura através da existência de um conjunto de códigos e de um estilo de vida muito característico. O vestuário, as performances e os sons fazem parte das características deste movimento social.

    No cenário das diferentes subculturas existentes, são os jovens aqueles que procuram deliberadamente a sua identidade, num universo de referenciais alternativos, reivindicando outros espaços de destaque e de reconhecimento (Pais, 1998). Este desejo de identidade e de identificação precipita a sua ambição de inclusão nas diferentes manifestações culturais atuais. Neste conjunto de diferentes núcleos são negociadas posições de poder entre membros, através de exteriorizações identitárias (Amaral, 2005).

    Nos últimos anos temos assistido a uma proliferação de clãs e/ou tribos, motivada por esta crise de referências simbólicas e institucionais. As novas referências, tribais, demonstram as suas diferenças, essencialmente, através de fatores de ordem estética (Coutinho, 1998).

O desporto moderno e as novas práticas desportivas

    O momento pós-revolução industrial caracteriza-se por representar um período de rápidas e profundas alterações, com implicações na organização da sociedade da época, marcando a génese da modernidade. Este é um instante marcado pela evolução tecnológica, o tempo de trabalho tem diminuído gradualmente e, teoricamente, o tempo livre tem aumentado. Esta realidade permitiu o acesso a um vasto leque de ofertas de atividades praticáveis durante o tempo livre do Homem. Estas transformações traduziram-se numa nova organização das relações interpessoais, numa reestruturação do tempo de trabalho, com implicações no modo de vida da sociedade ocidental (Almada, 1994).

    O século XIX vê surgir os primeiros órgãos reguladores e, por sua iniciativa, surgem as primeiras competições de caráter internacional, bem como toda uma organização nacional em torno das práticas desportivas. Este momento foi evoluindo até aos dias de hoje, através do aparecimento de novas práticas desportivas, difundidas a nível global, após triagem do crivo civilizacional (Marques, 2006). O processo de desportivização representa um reflexo da sociedade moderna. Este fenómeno é um dos responsáveis pela criação e imposição de normas de conduta desportiva, por influência indireta da dinâmica social contemporânea. A disciplina imposta pela regulamentação das práticas favorece a aceitação de novas práticas desportivas, incutindo-lhe viabilidade necessária para mover adeptos em torno das mesmas.

    Podemos afirmar que estamos perante um universo que ultrapassou barreiras, afirmando-se como fenómeno de caráter global, quebrando fundamentos nacionalistas de outros tempos. Este é um fenómeno que tem vindo a evidenciar uma rede de interdependências políticas, económicas e sociais, responsável por alterações espaciais e temporais.

Razões para a prática

    A sociedade contemporânea tem-se revelado altamente disciplinadora pela existência de um grande número de eventos e fenómenos enormemente estandardizados, que impossibilitam o Homem de realizar, a seu belo prazer, aquilo que deseja realmente. Para Elias e Dunning (1995), os constrangimentos atuais têm vindo a revelar-se como um dos principais responsáveis pela procura de situações de risco ou extremas.

    Esta realidade tem contribuído para a crescente busca de momentos de confrontação com os espaços urbanos e natural, desbravando territórios emocionais que nunca tinham sido explorados segundo uma perspetiva lúdica ou de rendimento. Este desejo levou à prática de atividades com o objetivo de testar limites físicos e psíquicos, através de uma luta simbólica com o contexto de ação, local de incerteza, de abandono, onde o “julgamento divino”, para alguns, tem lugar. Esta procura de práticas dotadas de risco não assume contornos motivacionais estritamente pessoais. Estamos diante de modalidades desportivas altamente prestigiantes ao nível da pertença social, vistas por alguns como uma oportunidade de mobilidade social (Gonçalves, 2009).

    As práticas de aventura em contexto natural, tal como o nome indica, são dotadas de uma dimensão transversal comum a todas elas: a relação com a natureza. Para além deste “relacionamento” está patente um desejo de liberdade, superação e exaltação pessoal (Melo, 2009).

    Pimentel (2008) acredita que o stress ao qual estamos sujeitos diariamente também poderá ser combatido através de uma dose de stress ministrada por este tipo de atividades. Por sua vez, segundo Neto (1994), existem seis grandes fatores motivacionais em torno destas práticas: confronto com o espaço natural, imprevisibilidade do meio, risco e aventura corporal, liberdade de escolha das práticas desportivas de acordo com o tempo individual e as suas próprias regras de ação, cultura específica de grupo de amigos e criação de hábitos quotidianos.

3.     Metodologia

    As novas práticas desportivas, espetaculares e/ performativas, têm permitido explorar limites, não só do próprio praticante, como também dos equipamentos, do contexto e da própria sociedade. Através destas práticas, o Homem tem oportunidade de descobrir um estilo de vida particular, refugiando-se, assim, de todo um conjunto de rotinas aos quais está sujeito, apanágio da sociedade moderna. Conceitos como flexibilidade, adaptabilidade, risco e aventura convergem no sentido de caracterizar estas práticas desportivas dotadas de capacidade de atrair adeptos desde a sua génese.

    Dadas as características deste tipo de atividades considerámos pertinente esclarecer a seguinte questão: será que as práticas desportivas, socialmente enquadradas segundo uma conceção inerente a risco e a aventura, evidenciam características de uma subcultura de risco?

    Do problema inicial surgem os principais objetivos desta investigação: 1) identificar, caracterizar e interpretar uma subcultura de risco, tendo por base as novas práticas desportivas e de lazer contemporâneas; 2) identificar e interpretar os significados atribuídos às diferentes práticas de aventura; 3) identificar e interpretar os motivos para uma constante busca de novas situações/metas de risco; 4) identificar os impactos da realização deste tipo de práticas, no contexto pessoal e profissional dos sujeitos.

Amostra

    Estamos perante uma amostra não probabilística e não representativa, constituída por 10 sujeitos (N=10), produtores das suas práticas de lazer e/ou desportivas. Este tipo de amostra, que resulta da fusão de dois tipos diferentes de amostragem, nomeadamente a “amostragem racional” e a “amostragem de conveniência”, é composto por nove sujeitos (N=9) do género masculino e por um sujeito (N=1) do género feminino. Este conjunto de indivíduos tem em comum a sua larga experiência na prática de modalidades de aventura, em contexto natural/urbano, com uma média de idade de 34 anos. A variável idade não foi considerada, dadas as características desta investigação.

Entrevista

    Para a realização desta investigação optámos pelo recurso à entrevista semi-‑estruturada. A organização das entrevistas não foi realizada tendo somente como base bibliografia específica. Recorremos previamente ao teste de associação livre de palavras, através do recurso a 20 sujeitos (N=20), divididos em dois grupos. Um grupo de 10 sujeitos (N=10) com experiência na prática de atividades de aventura e um outro grupo, igualmente de 10 sujeitos (N=10), sem experiência na realização destas práticas. Toda a informação, produto deste processo, permitiu definir um conjunto de dimensões e subdimensões fundamentais para a estruturação das entrevistas.

    Todo o material recolhido, fruto das entrevistas, representa o corpus do estudo, mais tarde sujeito ao processo de análise de conteúdo. Este procedimento teve como ponto de partida a estruturação de uma análise temática, com o objetivo de esclarecer os temas em estudo, de modo a tornar a análise das entrevistas mais clara. Relativamente à realização das entrevistas, estas foram organizadas tendo em conta dois objetivos. A primeira entrevista tinha como finalidade realizar uma caracterização sociodemográfica da amostra, enquanto a segunda entrevista focava-se essencialmente em torno das práticas desenvolvidas, com o objetivo de caracterizar e interpretar, cada uma delas, tendo em conta a perceção da amostra.

    Estas entrevistas foram preparadas de acordo com as seguintes dimensões e subdimensões:

Tabela 1. Dimensões e subdimensões em análise na entrevista 1

 

Tabela 2. Dimensões e subdimensões em análise na entrevista 2

4.     Resultados

    A análise de conteúdo permitiu identificar quatro eixos, aos quais estão associados diferentes temas e subtemas. Um primeiro eixo, designado “prática”, encontra-se organizado em volta de questões relacionadas com as práticas de aventura, constituído por dois temas: “prática de aventura” e “contexto da prática de aventura”. Um segundo bloco, denominado “praticante”, cujas questões se centram principalmente nos sujeitos e nas implicações da produção das suas práticas de aventura, organizado em três temas: “hábitos desportivos precedentes”, “desenvolvimento como praticante” e “desenvolvimento da prática”. O terceiro bloco, designado de “risco”, pretende identificar aspetos relacionados com o risco segundo a perspetiva da prática de aventura e a perspetiva do praticante. O último bloco, “representações sociais”, tem como objetivo interpretar questões relacionadas com aspetos de ordem sociocultural inerentes a este tipo de atividades.

Tabela 3. Eixos de investigação e respetivos temas em discussão

    Relativamente ao primeiro eixo de investigação, dois temas enquadram o conjunto de questões relacionadas com a prática desenvolvida, “prática de aventura” e “contexto da prática de aventura”. Para além disso, dentro dos dois temas referidos, existiu a necessidade de definir subtemáticas e categorias com o objetivo de organizar toda a informação de um modo mais coerente.

    Em virtude do elevado número de referências, considerámos importante salientar apenas algumas das categorias tratadas, nomeadamente aquelas que demonstraram maior intensidade.

    Estamos perante um tipo de práticas que exige um grande conhecimento e domínio técnico, tal como os entrevistados referem em testemunhos como o que se segue.

    A técnica é realmente importante, claro que sim, mas acho que sim. Costuma dizer-se que o que faz um bom kitesurfista não é o material que tu levas, mas o macaco que leva aquele material […] Tu até podes ser…ter o material de há três anos e seres um excelente kitesurfista e metes os outros gajos no bolso, os gajos que andam lá com o xpto, estás a perceber? A técnica neste caso é primordial! (TL)

    A regulação e controlo do risco são possíveis graças a questões em torno do domínio técnico. Para os sujeitos, a importância técnica é fundamental para a rentabilização e controlo de todo um conjunto de variáveis existentes.

    Estas características terão certamente uma relação com o facto de estarmos perante uma atividade considerada de risco por 7 dos 10 sujeitos (N=7). Desta forma, verificámos a existência de um parâmetro transversal a todas as práticas em análise, o fator risco. Esta associação ao conceito de risco está intimamente relacionada com o contexto de prática no qual estas modalidades se desenrolam. Falamos de um espaço mutável, tendo em conta um conjunto de fatores de ordem climática, cuja influência afeta diretamente as condições de prática. Para além deste fator, de acordo com a amostra do estudo, o próprio praticante, bem como o desgaste do material utilizado, contribuem para o aumento do potencial de risco durante a prática:

    […] uma atividade de risco, na medida em que estamos sozinhos. Em primeiro lugar estamos a trabalhar com dois fluídos que são a água e o vento. Estamos a trabalhar na água e porque é arriscado? É arriscado porque não temos “pé”, pela profundidade da água. É arriscado pela distância, porque no Windsurf, facilmente deslizamos uma distância considerável. (RM)

    Não deixa de ser interessante o facto de o risco, apesar de presente, não ser determinante para a “não prática”, daí que a maioria acabe por relativizar a presença deste agente:

    […] modalidade de risco, mas não perigosa, desde que sejam cumpridas as normas de segurança. Portanto, tem normas de segurança específicas, como qualquer outra modalidade de uma forma geral, diria eu. Portanto, tem algum risco, mas cumprindo as normas de segurança o risco fica minimizado. (RM)

    Estas são práticas que sofreram ao longo dos anos evoluções, nas mais diversas formas. Foi referido por 10 sujeitos (N=10) que as práticas desenvolvidas sofreram, desde a sua génese, uma importante evolução relativamente a questões de ordem material, não só em termos dos equipamentos, como também em termos dos materiais utilizados na conceção desses equipamentos. Associada às práticas de aventura, emergiu uma série de valores, que, de certa forma, poderemos caracterizar como próprios destas atividades. Valores de ordem ecológica foram mencionados por 6 sujeitos (N=6), enquanto outro, a “solidariedade”, foi referido por 4 sujeitos (N=4).

    As novas práticas desportivas, desde a sua origem, estão associadas a valores de diversa ordem. No século XIX, por intermédio do “movimento naturalista de Hébert e escutista de Baden-Powell”, existe uma tentativa de incutir hábitos saudáveis através de práticas desportivas e de lazer em contexto natural (Moreira, 2007). Os valores em torno destas atividades continuam atuais, 6 dos sujeitos (N=6) fazem referência a valores de ordem ecológica, como se vê no exemplo seguinte.

    […] maior respeito pela natureza e pelos outros, portanto há muita gente que não…tem atitudes menos parecidas com estas que estou a dizer, mas à partida, poderia e deveria ter uma atitude mais ecológica. (TL)

    O desejo de não profanação do contexto natural tem na década de 60 o seu momento mais forte. As modalidades de aventura da época tinham como objetivo extrair da natureza toda a energia necessária ao desenvolvimento da prática com o menor impacto possível.

    Uma das particularidades das práticas de lazer em contexto natural é o facto de possibilitar ao seu praticante perder a ligação umbilical que estabelece com a sociedade:

    É relaxar e estar só a pensar naquilo. Deixa-me completamente…hã…despreocupada de tudo o que é o meu dia-a-dia. Eu vou para dentro de água e vou mesmo relaxar. (MM).

    Este tipo de práticas tem a particularidade de permitir aos sujeitos experienciar um conjunto de situações com impactos positivos no seu dia-a-dia. Os sujeitos fizeram referência ao facto de que são evidentes os impactos a nível pessoal, nomeadamente ao nível do autoconhecimento, com implicações na forma de encarar as rotinas diárias:

    Todas as situações ajudam-me, por vezes, a ultrapassar da melhor maneira algumas das coisas menos agradáveis que tenho de enfrentar na minha vida…mas a minha própria filosofia de vida ajuda-me nesse processo. (LB)

    Existe uma noção pré-concetual de que o praticante deste tipo de atividades tem como principal objetivo enfrentar a natureza, provando a si e aos seus pares que tem capacidade para derrotar este gigante. Apenas um sujeito fez referência a este confronto encenado, embora tenha frisado que esta situação se tenha devido a um conjunto de fatores muito particulares.

    O confronto pode dar-se em situações de sobrevivência. Prefiro ver uma relação de harmonia e complementaridade nessa dialética. (JT)

    Brymer (2008) compara a relação com o meio envolvente a uma dança entre o Homem e a Natureza. Ambos cooperam de forma harmoniosa, fundindo-se num só, com um único propósito, o da satisfação pessoal. Também os sujeitos em análise corroboram esta conceção:

    “Eu, aquilo que eu vejo quando vou para dentro de água, é que eu quero estar a usufruir, eu quero estar a….quero estar mesmo a usufruir daquilo que estou a viver naquele momento e não vejo aquilo como um confronto, até pelo contrário. Pelo contrário…mesmo como uma fusão, uma simbiose, de aquilo que nós somos e daquilo que a natureza nos oferece, neste caso o mar”. (HF)

    Essa satisfação pessoal advém da transposição das barreiras naturais, impostas pelo contexto de prática. Estas variáveis representam um dos fatores de sedução inerentes a este tipo de práticas, transportando consigo toda uma lógica de desafio que as caracterizam (Melo, 2009).

    Ainda longe dos requisitos das atuais práticas, era já evidente a existência de uma associação entre práticas em contexto natural e a necessidade de desenvolver paralelamente uma preparação específica. Estas são atividades que envolvem elevados índices físicos e psicológicos (Moreira, 2007 citando Vanloubbeeck, 2000). Quando questionados acerca da importância do desenvolvimento de competências para a prática das suas atividades, 7 sujeitos (N=7) fazem referência à importância das competências físicas e 9 sujeitos (N=9) evidenciam a importância do desenvolvimento de competências específicas, sem contudo salientar nenhuma em especial.

    Segundo RM, para práticas específicas os efeitos são igualmente específicos, logo, o processo de preparação deverá ser realizado no seu todo, resultando daí todo um conjunto de competências que permitem ao praticante enfrentar inúmeras variáveis, tendo em conta o contexto e a prática em questão.

    O windsurf é uma prática muito específica e, portanto, as práticas são específicas, os efeitos são específicos e, portanto, deve ser treinada tanto quanto possível na sua…como um todo, a prática em si mesma. (RM)

    Uma das grandes questões desta investigação prendia-se com o desejo de identificar as motivações dos sujeitos para o desenvolvimento das suas práticas. Esta temática foi organizada em três categorias: motivações intrínsecas, motivações relacionadas com o conteúdo da prática e, por fim, foram levantadas questões de ordem extrínseca. Em termos intrínsecos, 7 sujeitos (N=7) realçaram uma grande vontade de evoluir pessoalmente, aliada ao desejo de explorar coisas novas e diferentes, segundo MP.

    Por fim, tendo em conta a análise do fator risco, terceiro eixo de investigação, este foi organizado segundo a orientação de três subtemas: relação com a prática, ansiedade e acidentes. Esta análise justifica-se na medida em que existe uma estreita ligação entre este tipo de práticas e toda uma pré-conceptualização associada ao risco. Como tal, foram identificadas duas variáveis que, de alguma forma, têm influência neste fator: aspetos técnicos e questões de caráter contextual. A conjugação destes dois aspetos potencia ou diminui o grau de risco existente durante o desenrolar das atividades.

    “Esse risco advém de várias coisas. Advém de questões de ordem técnica, da pessoa, hã…advém de questões de ordem material, dos equipamentos utilizados, e advém das questões de ordem contextual, da prática. Portanto, estes três aspetos, na minha opinião, são determinantes. Portanto, o conhecimento técnico, a técnica do executante, as características dos materiais utilizados e as características dos locais de prática”. (HF)

    Curioso foi o facto de a maioria dos praticantes procurar, de certa forma e à sua maneira, relativizar o risco inerente às suas práticas:

    “Eu diria que…aliás, eu diria que, eu diria não, eu digo, eu costumo dizer que o paraquedismo é bastante mais seguro do que andar aí na estrada (…) Na estrada, há sempre o “gajo” que…passa o encarnado, passa o contínuo, ou que trava de repente, ou o óleo na estrada, ou o cão que se atravessa. Portanto há um sem número de imponderáveis, que tu não controlas de maneira nenhuma, e que podem acontecer”. (MP)

    Esta ideia de relativização do risco está intimamente associada a uma crença muito pessoal, de que grande parte das variáveis em jogo é controlável. Estamos perante uma ideia que não deixa de ser paradoxal. O contexto de prática caracteriza-se por possuir um grau de incerteza muito elevado, mesmo quando o praticante tem em conta todo um conjunto de procedimentos preparatórios.

    Por fim, o último bloco de investigação, denominado “representações sociais e culturais da atividade” pretendia descortinar um conjunto de questões associadas às visões pessoais e às suas representações sociais.

    Este tipo de práticas está muitas vezes associado a momentos de abstração total, alienando, por completo, os seus praticantes do mundo que os rodeia. Os seus locais são lugares de satisfação, necessidades sociais, risco, aventura, evasão e identidade (Melo, 2009). De facto, os testemunhos recolhidos confirmam as referências da literatura, tal como se vê no exemplo seguinte.

    “Eu lembro-me de em tempos levar um médico, numa altura em que eu conduzia profissionalmente. Era um médico amigo que, a determinada altura no meio do rio, me disse que aquilo era capaz de ser a solução para muitos dos pacientes deles. Eu até a brincar disse-lhe: «-Então fazemos já aqui um contrato, o doutor prescreve e eu sou a farmácia.» Mas, portanto, isso acontece, quando estamos lá, esquecemos um pouco tudo, vivemos aquele momento”. (MO)

    O praticante tem a capacidade de experimentar um conjunto de sensações únicas impelindo-o para esse tal estado de afastamento e que muitas vezes acaba por infligir alguma dependência naqueles que frequentemente realizam estas atividades.

    Essa busca de sensações representa um dos principais motivos apontados pelos sujeitos para a realização deste tipo de práticas. Estas têm a capacidade de proporcionar uma série de sensações, associadas ao prazer, à liberdade, à superação, funcionando como estímulos distintos daqueles que estamos sujeitos nas nossas rotinas diárias (Le Breton, 1991). Estas sensações, como se vê na afirmação que se segue, permitem ao praticante “desligar a ficha” que o une a uma sociedade cada vez mais insípida e ausente de emoções:

    “É…tem sempre a ver com o prazer e sentir bem, hoje em dia, acho que não há ninguém que não diga que não tenha isto ou aquilo que o afete ou o preocupa. É um trabalho para entregar, é a preocupação dos filhos na escola, é sei lá, pessoas que podem ter a determinada altura um problema de ordem económica ou outros. Quando estamos neste ambiente, isso tudo passa, isso tudo passa, nós esquecemo-nos do dia a dia, a única coisa que conta é cada movimento que fazemos, e o explorar aquele movimento e desfrutar e isto não é um cliché”. (MO)

    Historicamente algumas destas atividades estão associadas, na sua génese, a comportamentos de excesso, frequentemente relacionados com condutas de contra-cultura e/ou de transgressão. A maioria dos sujeitos da amostra rejeitou esta ideia, referindo que este tipo de comportamentos está diretamente associado a desejos e vontades pessoais de cada um e que em nada estão relacionadas com as características deste tipo de práticas:

    […] “não concordo com a associação. Esse tipo de coisas existe no Skate, como existe noutras modalidades quaisquer…tudo depende daquilo que desejas e dos teus objetivos”. (HC)

    O acesso diferenciado às práticas de lazer contribui para que esta seja igualmente um domínio onde a demarcação social ocorre (Terrero, 1999). Estamos perante práticas geralmente associadas a um público-alvo oriundo da recém designada nova classe média ou burguesia cultivada. Este grupo social recorre a instrumentos/aparelhos como forma de rentabilizar o seu corpo, segundo uma ideologia que vai ao encontro de uma exploração ecológica da natureza (Gonçalves, 2009). Segundo este autor, estamos perante um grupo de pessoas que se podem caracterizar da seguinte forma, tendo em conta o testemunho de MO e TL, respetivamente:

    […] são de certeza pessoas que gostam de estar em contacto com a natureza […]

    Olha, eu tinha, tinha no meu carro, na altura quando ainda trabalhava, por conta de outrem e tinha no meu carro…arranjaram-me um autocolante, que eu gostava imenso e que eu espetei no meu carro e que me trouxe alguns problemas, que dizia “god skydivers don’t have a real job”, porque realmente um gajo para poder fazer este tipo de desportos muitas vezes, tens que te baldar ao trabalho, não é muito compatível com aquele trabalho normal das 9:00 às 17:00 […]

    Através da análise das entrevistas foi possível delinear o perfil destes sujeitos. São indivíduos com elevados índices de autoconhecimento, descontraídos, com uma forma de estar na vida bastante tranquila, dotados de interesses diferenciados da maioria da população, pouco materialistas e com disposição para partilhar:

    […] “é alguém descontraído, com a pele morena…chinelos, no verão, calção…mais discreto. É uma onda muito relax” […] (LB)

    […] “são pessoas que têm que ter algum autocontrolo, na minha opinião, isto aqui é uma coisa completamente empírica, mas são pessoas que têm que ter alguma autoconfiança e têm que ser um pouco destemidas para dar um pouco o passo em frente. Não é que tenham que ser malucas, nem doidas, mas tem que ser um pouco destemidas, porque se não, não entram naquele jogo”. (HF)

    A estas práticas está associado um estilo de vida bastante próprio. Contudo, não são consensuais as opiniões acerca de um estilo de vida diferenciado. Alguns dos sujeitos referem que a sua vida se pauta por escolhas e formas de estar divergentes dos demais, enquanto outros elementos da amostra defendem que fora da prática representam somente “mais um” numa sociedade cada vez mais estandardizada.

    Apesar de esta questão não se assumir consensual, tendo em conta o parecer dos entrevistados, somos da opinião de que é possível associar a este grupo de praticantes um estilo de vida descontraído, marcado pela utilização de roupa associada à sua prática de aventura, com repercussões na forma de encarar a vida e os outros que os rodeiam.

5.     Conclusão

    O desporto, universo de estímulos, tem desempenhado um papel muito relevante na nossa sociedade, desde a sua origem. Neste contexto, o Homem tem oportunidade de estimular e de ser estimulado, viver experiências, gozar sensações diferentes e intensas, num momento social marcado pela insipidez, não lugares e relações fugazes.

    O sistema desportivo envolve atualmente um enorme conjunto de ligações a outros sistemas e subsistemas a si associados de forma direta e/ou indireta. Estamos perante uma estrutura complexa, dotada de uma dinâmica muito própria. Podemos caracterizá-la, entre outros aspetos, como um palco de emoções, cada vez mais carregado de simbologias e de performances particulares, numa teia social bem definida, produto de motivações (sub)culturais, específicas deste momento em contínuo processo de transformação.

    As práticas de aventura estão associadas a alguns desses movimentos culturais atuais, classificados, por uns, como tribos e vistos, por outros, como subculturas emergentes. Os desportos ou práticas de aventura estão associados à atual conjuntura social, pelos valores de incerteza, imprevisibilidade e risco que os definem.

    Este tipo de atividades não é inocente, é responsável por fenómenos de demarcação social, através do acesso diferenciado às práticas pertencentes a este nicho, escolhendo o seu público-alvo e condicionando comportamentos sociais. Estamos perante um nicho de praticantes dotados de uma forte consciencialização ecológica. A relação entre os sujeitos e o meio envolvente caracteriza-se por uma dinâmica de complementaridade, de fusão com o próprio meio, procurando captar toda a essência de um contexto com condições ímpares, completamente distintas daquelas que estamos habituados a experimentar vivenciar diariamente.

    Com impactos ao nível da personalidade, este tipo de atividades tem a capacidade de preparar o Homem para o dia a dia, contribuindo para o crescimento pessoal dos indivíduos. Estes aspetos resumem um estilo de vida com maneiras bastante próprias de refletir e de agir, que, por vezes choca quem se encontra fora deste nicho.

    Um dos objetivos desta investigação passava por identificar a existência de uma subcultura de risco, associada às práticas analisadas. Apesar de a maioria dos sujeitos caracterizar a sua prática de aventura como uma prática de risco, não nos parece evidente a real existência de tal subcultura, embora o risco esteja implícito neste tipo de atividades. Algo que também nos pareceu evidente foi o facto de os sujeitos não terem real noção de pertencerem a uma subcultura. Esta situação acabou por condicionar, de certa forma, o produto da investigação. Contudo, podemos considerar que estas práticas fazem parte de uma subcultura desportiva ecológica munida de valores como tranquilidade, solidariedade, competitividade, entre outros. Este “perfil ecológico” tem na sua base o desejo de estar num espaço que, para os sujeitos, assume contornos quase idílicos. Todo este ímpeto acaba por impor uma relação de quase dependência, simbiótica em alguns dos casos, com o seu espaço de ação.

    Em suma, concluímos que, apesar da presença do risco como fonte de emoção, as práticas desportivas analisadas se enquadram, essencialmente, no perfil de uma subcultura de foro ecológico, visto o contacto com o meio natural, a comunhão com a natureza, ser a principal motivação e a verdadeira fonte de prazer para os praticantes destas modalidades.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 173 | Buenos Aires, Octubre de 2012
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