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Perfil alimentar, nível de atividade física e antropometria em escolares do ensino médio de uma escola privada de Campo Mourão, PR

Perfil de alimentación, nivel de actividad física y antropometría en escolares
de escuela media de una escuela privada de Campo Mourao, PR

 

*Pós-graduando do programa de Pós-graduação em Educação Física Escolar

da Faculdade Integrado de Campo Mourão, PR

**Professor Mestrando da Faculdade Integrado de Campo Mourão, PR

e orientador do artigo

(Brasil)

Paulo César Zuffa*

cehzar.edf@gmail.com

Renato Castro da Silva**

ren.nutri@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O organismo só se mantém sadio com a aquisição e manutenção de hábitos saudáveis de vida que incluem alimentação equilibrada e prática de atividades físicas. Sendo assim, a educação física ganha uma vasta gama de conteúdos que podem ser trabalhados no contexto escolar em relação à saúde. Porem, esta pesquisa teve como foco analisar o perfil alimentar, nível de atividade física e antropometria de escolares do ensino médio de um colégio particular de Campo Mourão – Pr. A metodologia utilizada para o desenvolvimento dessa pesquisa foi descritiva com caráter quantitativo. A amostra da pesquisa constituiu em 46 escolares do gênero masculino e feminino devidamente matriculados no ensino médio de uma escola particular. Para obtenção dos dados utilizou-se do questionário padronizado pelo Ministério da Saúde “Como está a sua alimentação”, que engloba questionamentos a cerca do perfil alimentar e nível de atividade física. Para a coleta das variáveis antropométricas peso e estatura, utilizou-se balança mecânica e estadiômetro adulto valendo-se de técnicas padrões validadas para as aferições. A análise dos resultados com relação à alimentação desses escolares mostra que há uma inadequação parcial na ingestão alimentar quanto ao grupo dos reguladores da pirâmide alimentar, representado pelas frutas, legumes e verduras, assim como do terceiro nível desta guia alimentar, que consiste no grupo dos construtores e cujos alimentos componentes são carne leite e seus derivados. Relacionando as práticas de atividade física, observou-se que os participantes do gênero masculino possuem uma maior freqüência de realização comparando-se ao gênero feminino. Na variável índice de massa corporal, constatou-se que a maior parte da amostra estudada foi diagnosticada como eutróficos, não podendo descartar uma outra parcela que encontra-se em estado de sobrepeso e obesidade, que exige especial atenção. Dessa forma os dados obtidos consistem em importante instrumento para elaboração de programas de intervenção e educação em saúde para mudanças dos fatores deletérios identificados.

          Unitermos: Adolescência. Consumo alimentar. Índice de massa corporal.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A presente pesquisa traça o perfil alimentar, nível de atividade física e antropometria dos escolares do Ensino Médio de ambos os sexos de uma escola privada da região Centro Ocidental do Paraná. Para melhor compreensão o trabalho foi capitulado em elementos distintos.

    Os adolescentes tendem a viver o momento atual, não dando importância às conseqüências de seus hábitos alimentares, que podem ser prejudiciais. Sabe-se que hábitos alimentares inadequados na infância e adolescência podem ser fatores de risco para doenças crônicas e obesidade. (GAMBARDELLA et al, 1999)

    A obesidade é uma doença caracterizada pelo excesso de acúmulo de gordura corporal. A gravidade da doença pode ser medida por suas complicações como entidade mórbida assim como associações com muitas outras doenças e agravos a saúde, tais como doenças cardiovasculares, dislipidemia, diabetes melito tipo 2, certos tipos de câncer, dificuldades respiratórias, problemas dermatológicos e distúrbios do aparelho locomotor. (VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ et al, 2004)

    Conforme Gonzaga et al. (2008), a prevalência mundial de obesidade vem apresentando um acelerado aumento nas últimas décadas, tornando-se assim um fato bastante preocupante.

    Sendo a obesidade um problema de saúde pública, relatos da Organização Mundial da Saúde (OMS), ressalta que a prevalência de obesidade infantil tem crescido em torno de 10 a 40% na maioria dos países europeus nos últimos 10 anos. A obesidade ocorre mais freqüentemente no primeiro ano de vida, entre 5 e 6 anos e na adolescência. (MELLO; LUFT e MEYER. 2004)

    Segundo Rössner (2002 apud SANTOS et al, 2005), a obesidade vem sendo caracterizada como uma epidemia do século XXI, e tem sido considerada como um grande problema, contudo estudos sugerem que a obesidade é devida sobre tudo a um baixo dispêndio energético em vez de um consumo exagerado de alimentos. O estilo de vida sedentário e uma dieta hipercalórica caracterizam o desenvolvimento da obesidade.

    A prática regular de atividade física torna-se um hábito saudável no controle e tratamento da obesidade. Embora já sejam conhecidos alguns dos benefícios da atividade física regular na prevenção e controle de certas doenças na idade adulta, a atividade física afeta fatores de riscos para doenças cardíacas em crianças e adolescentes. Além disso a atividade física é importante para a melhora da aptidão física, o desempenho, otimizar o crescimento e estimular a participação futura em programas de atividades físicas. (BRACCO et al, 2002)

    De acordo com Giugliano e Carneiro (2004), nas ultimas décadas, as crianças estão cada vez mais inativas, incentivadas pelos avanços tecnológicos.

    Nos últimos anos o Brasil vem passando por um período de transição nutricional, caracterizado pela queda nos índices de desnutrição e aumento das taxas de sobrepeso e obesidade. Este quadro reflete a influência da industrialização e da importação de hábitos alimentares ocidentais, que são marcados pelo alto consumo de alimentos processados, de baixo teor nutricional e alto valor energético em detrimento da ingestão de frutas, verduras, legumes e cereais integrais. (FEITOSA et al, 2010)

    Pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) durante a década de 70, revelam um aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade em jovens e adolescentes. Em contrapartida, pesquisas mais recentes demonstram que o excesso de peso teve um aumento significante. (YOKOO et al, 2008)

    Nesse contexto a antropometria é um dos instrumentos para predição da composição corpórea que permite acompanhar essas modificações, planejar intervenções e periodização de atividade física com intuito de coibir o fenômeno da transição nutricional e epidemiológica.

    A antropometria é definida como a técnica de expressão quantitativa da forma do corpo e durante a adolescência é o método mais acessível e universalmente aplicado por ser de baixo custo, simples e não invasivo. (SANCHES, 2008)

    Sendo assim a metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa foi descritiva, que segundo Thomas, Nelson e Silverman (2007), apresenta a descrição detalhada dos fenômenos, preocupando-se com status. A natureza da pesquisa foi de caráter quantitativo, pois Codato e Nakama (2006), afirmam que a pesquisa quantitativa permite avaliar a importância, riscos, e tendências de agravos e ameaças, tratando de probabilidades, associações estatisticamente significantes para se conhecer a realidade.

    Parindo desse pressuposto a pesquisa objetivou analisar o perfil alimentar, nível de atividade física e antropometria de escolares do ensino médio de um colégio particular de Campo Mourão – PR.

    A população dessa pesquisa foi composta pelos escolares do Ensino Médio do Colégio Sigma de Campo Mourão – PR, como amostra utilizou-se 46 alunos do1º, 2º e 3 º anos do Ensino Médio de ambos os gêneros, que para participar devolveram o TCLE assinado pelos pais e/ou responsáveis.

    Para a identificação do perfil alimentar e dos níveis de atividade física foi utilizado o questionário já validado pelo Ministério da Saúde (2007), “Como Está sua Alimentação”. Este instrumento contempla questões a cerca do consumo alimentar de cada grupo da pirâmide alimentar, da qualidade do consumo de leite e derivados e gorduras, além do consumo de sódio e número de refeições diárias, assim como a respeito da prática de atividade física. O questionário foi preenchido pelos próprios sujeitos da pesquisa após instruções prévias do pesquisador e foi aplicado nas dependências físicas da escola objeto da pesquisa.

    Para mensurar o peso corporal e estatura, utilizou-se respectivamente uma balança antropométrica FILIZOLLA e um estadiômetro. Os dados antropométricos peso e estatura foram utilizados para o cálculo do Índice de Massa Corporal. (PETROSKI, 2003).

    Na análise de dados considerou-se como ponto de corte para a avaliação do questionário “Como esta a sua alimentação”, baseado nos parâmetros de ingestão alimentar da pirâmide alimentar brasileira. Os critérios adotados para adequação porção/dia dos seguintes grupos são: frutas: 3-5; verduras e legumes: 4-5; Leguminosas:1-2; Carnes e ovos:1-2; Energéticos e extras: 1-2. (PHILIPP et al., 1999).

    Para classificação do IMC empregou-se os pontos de corte de Fernandes Filho (2003), para os diagnósticos de eutrofia, sobrepeso e desnutrição e para a mensuração de obesidade adotou-se o padrão da (OMS) – Organização Mundial de Saúde (1997).

    Nos últimos anos, a nutrição tem sido alvo de crescente interesse por grande parte de pessoas que praticam atividade física, cada vez mais conscientes de seus benefícios. Portanto, uma alimentação adequada visa manter a saúde preservando a composição corporal. Diante disso surgiu o interesse na realização dessa pesquisa, para fins de aumentar o conhecimento, auxiliando em novas pesquisas para a área, melhorando assim a qualidade de vida dos sujeitos da pesquisa. (TAHARA e SILVA, 2003)

    Como professores de educação física podemos trabalhar indiretamente ou diretamente as três principais variáveis estudadas no decorrer deste trabalho. Pois como educadores físicos temos como objeto de estudo o corpo humano em movimento, portanto é crucial uma intervenção com esse grupo estudando pois estão em plena fase de mudanças anatomofisiológicas.

    As três variáveis fazem parte de um vasto conhecimento dos conteúdos da educação física, desse modo é imprescindível que sejam trabalhados durante as aulas de educação física do ensino médio.

    Segundo o artigo 13 da resolução de número 090/2004, em que o CONFEF (2004) dispõe sobre o Estatuto do Conselho Federal de Educação Física, são definidos os campos de atuação e as competências do profissional de Educação Física:

    “O Profissional de Educação Física é especialista em atividades físicas, nas suas diversas manifestações - ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas corporais, sendo da sua competência prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capacitação e/ou restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal dos seus beneficiários, visando à consecução do bem-estar e da qualidade de vida, da consciência, da expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças, de acidentes, de problemas posturais, da compensação de distúrbios funcionais, contribuindo ainda, para consecução da autonomia, da auto-estima, da cooperação, da solidariedade, da integração, da cidadania, das relações sociais e a preservação do meio ambiente, observados os preceitos de responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética no atendimento individual e coletivo.”

    Desta maneira, é possível constatar que o professor de Educação Física possui atribuições que o qualificam para atuar como um agente difusor de princípios da educação em saúde. Além disso, estudantes demonstram interesse em receber, durante as aulas de Educação Física, informações relativas a fatores que influenciam a saúde, incluindo qualidade de vida, atividade física (BIANCHETTI, 2005).

2.     Referencial teórico

    O consumo de alimentos é uma necessidade fisiológica do ser humano e expressa o seu estilo de vida, contribuindo para o seu estado de saúde ou doença. A melhora de hábitos alimentares na adolescência vem sendo apontada como uma estratégia global de promoção da saúde e prevenção de doenças crônicas. A adoção desses hábitos saudáveis na adolescência favorecerá o crescimento e desenvolvimento físico e o desempenho nas atividades diárias além de moldarem o padrão de comportamento na fase adulta. (GONÇALVES, 2009).

    A nutrição adequada é essencial nesse período, pois auxilia no alcance do potencial biológico esperado para o crescimento e desenvolvimento do organismo. Nesse sentido, a detecção de adolescentes com riscos nutricionais passa a ser uma importante tarefa para os profissionais de saúde. (COELHO e NASCIMENTO, 2011).

    As crianças e os adolescentes são mais suscetíveis a apresentar desequilíbrios nutricionais, devido ao aumento das suas necessidades energéticas e de nutrientes, em função do seu acentuado desenvolvimento físico e pela sua vulnerabilidade perante as mensagens publicitárias das indústrias de alimentos e modismos alimentares. (CONCEIÇÃO et al, 2010)

    A adolescência corresponde a um período da vida no qual ocorrem profundas modificações no crescimento e maturação do ser humano. Durante esse processo de crescimento e de maturação, as proporções corporais, a massa óssea e a relação entre tecido gorduroso e muscular sofrem variações de diferentes magnitudes. Por anteceder a fase adulta da vida, a adolescência deve ser considerada de grande importância para que se estabeleçam intervenções para que possam modificar riscos futuros (CARNEIRO et al, 2000).

    O período em que se encontra a fase da adolescência corresponde dos 10 a 19 anos, e se divide em duas fases. A primeira fase dos 10 aos 14 anos, onde ocorre o início das mudanças puberais, e a segunda fase dos 15 aos 19 anos ocorre o término de crescimento e desenvolvimento morfológico. (HONORATO et al., 2010)

    A adolescência é a fase caracterizada por alterações morfológicas, fisiológicas, psicológicas e sociais intensas e complexas, onde a nutrição desempenha um papel crucial. É durante essa fase que o indivíduo adquire aproximadamente 25% de sua estrutura final e 50% de sua massa corporal. Alterações importantes ocorrem na composição corporal caracterizando-as por depósito maior de tecido adiposo em meninas e de massa muscular em meninos. (ANJOS; VEIGA e CASTRO, 1998)

    Por ser a fase de maior velocidade no crescimento estatural, o adolescente apresenta uma demanda energética elevada e a alimentação deve ser quanti e qualitativamente adequada para atender às necessidades nutricionais específicas desse período da vida. (BRAGA et. al, 2007)

    A obesidade na adolescência acompanhada de uma baixa aptidão cardiorrespiratória pode alterar o perfil lipídico. A obesidade bem como as dislipidemias é considerada como importante fator de risco para a doença arterial coronariana. (BERTOLETTI, 2005)

    A World Health Organization (WHO) (1995 apud SANCHES, 2008), afirma que a adolescência é um dos períodos mais vulneráveis para o surgimento da obesidade, pois a passagem da infância para a fase adulta apresenta diversas mudanças físicas, psicológicas e sociais. A adolescência é uma das fases mais desafiadoras no desenvolvimento humano, pois neste período o crescimento é inesperadamente alterado por um aumento na sua velocidade de crescimento. Os adolescentes são considerados notadamente vulneráveis em termos nutricionais, por aumentarem sua demanda energética e também pelas freqüentes mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares. (WHO, 1995)

    A saúde é compreendida não apenas como o estado de ausência de doenças, mas em uma perspectiva mais holística, a saúde é considerada como uma condição humana, com dimensões física, psicológica e social e caracterizada num contínuo, com pólos positivos e negativos, onde o pólo positivo estão os comportamentos relacionados à saúde, e no pólo negativo os comportamentos de risco e morte. (PONTE et al. 2005)

    Para que haja intervenções eficazes, torna-se imprescindível o desenvolvimento de avaliações periódicas por intermédio de medidas antropométricas e avaliações nutricionais que procuram fornecer informações quanto aos parâmetros de crescimento de adolescentes. (HONORATO et al. 2010)

    A prática regular de atividade física torna-se um hábito saudável no controle e tratamento da obesidade.

    Embora já sejam conhecidos alguns dos efeitos benéficos da atividade física regular na prevenção e controle de certas doenças na idade adulta por meio do controle da pressão arterial, diminuição da resistência à insulina e dos níveis de colesterol lipoproteína de baixa densidade (LDL). A atividade física afeta os fatores de risco para doenças cardíacas em crianças e adolescentes devido à relação inversa que existe entre gordura corporal, lipídeos séricos e pressão arterial. Além disso, a atividade física é importante para a criança melhorar a aptidão física e o desempenho, otimizar o crescimento e estimular a participação futura em programas de atividade física. (BRACCO et al, 2002)

    A prática de atividade física é um dos poucos fatores que podem prevenir o ganho de peso. Adicionalmente, o condicionamento físico obtido através do exercício, reduz a mortalidade e a morbidade, mesmo em indivíduos que se mantêm obesos. (GOMES, SIQUEIRA e SICHIERI, 2001)

    A atividade física diminui o risco da obesidade, atuando na regulação do balanço energético, preservando a massa magra, em detrimento da massa de gordura. A prática regular de exercício físico, apesar de não obter uma perda de peso corporal tão intensa quanto à dieta hipocalórica, preserva a massa magra e evita que o indivíduo ganhe o peso novamente. (NEGRÃO et al. 2000)

    O estilo de vida de um indivíduo é definido como um conjunto de decisões individuais que afetam a saúde e sobre as quais se podem exercer certo grau de controle. As decisões e hábitos pessoais que são impróprios para a saúde, criam riscos originados pelo próprio indivíduo. E quando esses riscos resultam em enfermidade ou até mesmo a morte, pode afirmar com clareza que o estilo de vida contribuiu diretamente para a causa. (GUEDES et al. 2009)

    Benefícios biológicos ou fisiológicos para Vouri (2001) e Strong et al (2005 apud CESCHINI, 2007) destaca-se controle do peso corporal, melhora do perfil lipídico, controle da pressão arterial, controle da concentração de glicose, melhora da capacidade cardiorrespiratória, melhora da saúde óssea, força e resistência muscular.

    Os benefícios psicológicos considerados por Schnohr et al (2005) é a melhora do auto-estima, auto-imagem, redução da depressão, estresse, insônia e ainda possibilita uma interação social.

    Lugaski (1987), Heyward e Storlarczyk (2000 apud ROMANHOLO, 2007), dizem que a antropometria vem sendo usada há mais de um século, na avaliação nutricional e física do ser humano, consistindo na avaliação das dimensões físicas e da composição do corpo humano, sem a necessidade de usar exames laboratoriais, é utilizada na avaliação de crianças e adolescentes pelo fato de ter um baixo custo e pela facilidade da execução.

    De acordo com Gibson (1990 apud FERREIRA, 2007), a antropometria em estudos populacionais é um importante método diagnóstico, estimando prevalência e agravos de alterações nutricionais, é sempre utilizada para diagnosticar a obesidade infantil, por ser um procedimento simples, não invasivo, rápido e barato.

    Sorbello et al (2006 apud IGLÉSIAS e NAVARRO, 2008), diz que para diagnosticar e avaliar os riscos relacionados à obesidade é preciso determinar primeiramente sua classificação.

    A Organização Mundial de Saúde (1998 apud IGLÉSIAS e NAVARRO, 2008), define a classificação da obesidade, segundo o Índice de Massa Corporal (IMC): obesidade considerada grau I, 30,0 a 34,9 (Kg/m²); obesidade de grau II 35,0 a 39,9 (Kg/m²) e obesidade de grau III considerado acima de 40 (Kg/m²).

3.     Análise e discussão dos dados

    O estado nutricional exerce influência decisiva nos riscos de mortalidade e no crescimento e desenvolvimento, o que torna importante uma avaliação nutricional mediante procedimentos diagnósticos que possibilitem precisar a magnitude, o comportamento e os determinantes dos agravos nutricionais, assim como identificar os grupos de risco e as intervenções adequadas. (MACHADO et al., 2011)

    A tabela 1 reúne dados do consumo alimentar dos sujeitos da pesquisa de acordo com os grupos da pirâmide alimentar adaptada a realidade brasileira.

Tabela 1. Porcentagem de adequação e inadequação do consumo dos grupos alimentares em estudantes segundo o gênero

    Na tabela 1 é possível visualizar que os participantes da pesquisa encontram-se com inadequação parcial em sua ingestão alimentar. Observa-se que ambos os gêneros apresentaram um consumo inadequado para o grupo de frutas, verduras e legumes sendo os percentuais de inadequação respectivamente de 86,37% e 83,34%, para o sexo masculino e feminino. Outro ponto crítico identificado quanto à alimentação dos sujeitos da pesquisa foi o grupo de carnes e derivados que demonstrou-se inadequado para o sexo masculino (63,64%) e feminino (58,34%). Outro grupo alimentar cujo consumo foi insuficiente foi o de leite e derivados onde respectivamente a inadequação foi de 68,18% e 83,33% para o gênero masculino e feminino. No tocante ao número de refeições diárias observou-se um consumo abaixo do recomendado para os escolares do sexo feminino, onde metade dos avaliados tiveram um consumo insatisfatório.

    Amorim (2000), Carvalho et al (2001), Kazapi et al (2001), Garcia et al (2003), Caramelli e Giuliano (2005 apud SANCHES, 2008), dizem que diversos estudos epidemiológicos tem se direcionado a população do sub-grupo dos adolescentes, devido às mudanças dos hábitos alimentares no decorrer das últimas décadas, caracterizando por dietas nutricionalmente inadequadas, contendo baixa ingestão de produtos lácteos, frutas, hortaliças e proteínas, dando preferência principalmente aos (fast food), carentes em nutrientes como ferro, cálcio, zinco, Vitaminas A e C e fibras, sendo ricas em gorduras saturadas, colesterol e sal.

    Almeida e Soares (2003), em seus achados demonstram que adolescentes com idade semelhante à amostra da pesquisa principalmente do sexo feminino, apresentam consumo nutricional inadequado para o gasto energético, conseqüentemente essa inadequação irá refletir-se negativamente.

    Os dados quanto ao consumo alimentar levantados na presente pesquisa guardam relação de proximidade com uma pesquisa realizada por Feitosa et al. (2010), no nordeste do país. O principal achado da pesquisa foi a inadequação dos hábitos alimentares dos participantes com relação ao consumo de frutas (67,7%), verduras e legumes (84,4%), independente do gênero. Similarmente outros estudos encontraram baixa freqüência de consumo de frutas e vegetais em universitários.

    A tabela 2 agrupa dados sobre o gênero dos participantes, se os mesmos retiram a gordura aparente, o tipo de leite e derivados que consomem e se adicionam sal à alimentação.

Tabela 2. Aspectos qualitativos do plano alimentar dos sujeitos da pesquisa segundo ao gênero

    Na tabela 2 é possível observar que quanto aos aspectos qualitativos do consumo dietético dos sujeitos da pesquisa a maior parte dos escolares do sexo feminino retiram as gorduras aparentes das carnes (66,66%), enquanto que no gênero masculino apenas 54,54% tem o hábito retirar. No que se refere ao consumo de alimentos do grupo de leite e derivados dos escolares pesquisados 9,09% dos pertencentes ao sexo masculino não consomem alimentes deste grupo da pirâmide alimentar, sendo que os alunos pertencentes a este gênero têm preferência pelos integrais (59,09%) e as escolares optam por consumir alimentos deste grupo, porém com baixo teor de gorduras (50,0%). Quanto ao consumo de sal de adição (sódio extrínseco) os escolares de ambos os sexos na sua maioria não fazem a adição habitualmente aos alimentos que consomem.

    Analisando o perfil qualitativo da alimentação dos escolares objeto da pesquisa sob a luz de Brasil (2005), segundo as diretrizes dispostas no Guia Alimentar para a População Brasileira e também de acordo com Godoy et al. (2006); Conceição et al. (2010), descrevem que o consumo de carnes e derivados deve ser pautado em carnes magras e as gorduras aparentes deve ser retirada antes do preparo. Outra recomendação dessas pesquisas é com relação ao grupo de leite e derivados que para crianças e adolescentes deve ser pautado preferencialmente naqueles integrais em virtude de uma maior necessidade energética, salvo não haja contra-indicações para esse consumo. A redução do consumo de alimentos ricos em sal, gorduras e açucares reduzem os riscos de hipertensão, obesidade e doenças secundárias associadas a esses processos crônico não transmissíveis. O consumo de sal segundo as diretrizes brasileiras para um alimentação saudável deve ficar em torno de 5g/dia (1 colher rasa de chá) por pessoa, devendo-se ainda evitar alimentos ricos em sódio como os industrializados, enlatado e embutidos, dando preferência para adicionar sal às preparações após o preparo dos alimentos para um melhor controle.

Tabela 3. Tabela referente a pratica de atividade física, local, educação física na escola e pratica de atividade física semanal

    Como é possível observar na tabela 3, o maior índice de prática de atividade física é realizada pelo gênero masculino (63.63%), onde as meninas (37,5%) deixam a desejar no fator estudado, mostrando consequentemente que os meninos são mais funcional que as meninas na realização de atividades físicas.

    Estudo desenvolvido por Gutin et al. (2003), demonstrou que os meninos aparentemente são mais ativos que as meninas, aspectos estes que podem estar associados aos contextos sociais.

    Para Lazolli et al. (1998) o avançar da idade pode ser acompanhado por um declínio da atividade física, conseqüentemente um menor gasto energético, podendo ser influenciado por vários fatores entre eles: comportamentos sociais e compromissos estudantis.

    Gutin et al. (2003), apontam à atividade física como uma pequena parte do gasto energético total, porém de extrema importância no controle do sobrepeso e obesidade, parece claro que em crianças o hábito de praticar atividades físicas pode ser de extrema importância no controle da gordura corporal evitando o sobrepeso, e a obesidade.

    Silva e Molina (2000), em uma pesquisa realizada na cidade de Niterói, também encontraram resultados semelhantes aos dados obtidos na pesquisa, onde os participantes do gênero feminino encontram-se menos ativos que os participantes do gênero masculino.

    Nos achados de Guedes et al (2001), é possível observar a proximidade com o presente estudo. Resultados com relação aos níveis de prática de atividade física habitual revelaram que 54% dos rapazes envolvidos no estudo são classificados como ativos ou moderadamente ativos, e entre as moças, apenas 35% são classificadas como tais.

    A proporção de meninos mais ativos que as meninas é um fenômeno comum encontrado na literatura, esses fenômenos podem ser justificado pelas diferenças no âmbito sócio-cultural e comportamental dos adolescentes. (SOUZA et al, 2005)

Tabela 4. Comparativo e classificação de IMC entre os gêneros.

    Na tabela 4, pode-se visualizar que a grande maioria dos participantes da pesquisa encontram-se diagnosticados em estado de eutrofia (72.72%) do gênero masculino e (62,5%) do gênero feminino. Uma parcela considerável da amostra estudada classificam-se com sobrepeso (22.72% e 20.83%) dos gêneros masculino e feminino.

    Estudos realizados nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro por Garcia, Gambardella e Frutuoso (2003) e por Oliveira e Veiga (2005), corroboram que a maioria da amostra encontrava- se dentro dos padrões de eutrofia segundo o IMC, mostrando uma grande semelhança do com os dados obtidos neste estudo.

    Similarmente, Silva et al. (2009), ao avaliar o IMC de adolescentes regularmente matriculados em escolas públicas, apontaram que 67% dos avaliados estavam dentro dos padrões de normalidade (eutróficos), 23% desses adolescentes eram considerados com sobrepeso, 8% obesos e apenas 2% abaixo do peso esperado.

    Para corroborar com o presente estudo, nos achados de Albano e Souza (2001), ao realizar sua pesquisa em uma escola pública de São Paulo, também encontraram resultados próximos, onde, o IMC médio encontrado para ambos os gêneros encontravam dentro dos padrões de normalidade.

    Honorato (2010), em um estudo antropométrico com crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, não identificou nenhum caso de obesidade na variável IMC, sendo 9,79% dos indivíduos considerados com sobrepeso. Dos 9,79% considerados com sobrepeso, 8,7% compreendiam adolescentes de 15 a 17 anos. Podendo assim confirmar que os dados encontrados na presente pesquisa encontra-se com resultados próximos.

    Confirmando os dados encontrados na presente pesquisa Nunes (2001), em seus achados, encontrou resultados similares, onde a maioria das mulheres da amostra (82%) foi classificada como apresentando IMC normal, sendo que 2% estavam abaixo do peso, e 16% apresentaram IMC de sobrepeso/obesidade.

    Estudos de tendência secular têm apontado que atualmente crianças e adolescentes apresentam maior quantidade de gordura corporal do que seus pares de gerações passadas. Isso pode estar associado a outros fatores, dentre os quais se destaca o aumento do balanço energético positivo, produto da redução acentuada dos níveis de atividade física diária e/ou de hábitos alimentares inadequados (RONQUE et al., 2005).

    Diversos estudos evidenciam de que indivíduos com IMC elevados estão mais suscetíveis a desenvolver doenças cardiovasculares (DCV) e seus fatores de riscos e que tais doenças tem seu surgimento na fase da infância e adolescência. (BERGMANN et al, 2011)

4.     Considerações finais

    Analisando a pesquisa é possível afirmar que as variáveis estudas exerceram interferências importantes na composição corpórea do grupo estudado.

    O perfil alimentar demonstrou-se parcialmente adequado em virtude de um diminuído consumo do grupo alimentar dos reguladores cujos alimentos componentes são frutas, verduras e legumes, o que pode contribuir para um balanço energético positivo levando a superávit nutricional, assim como a ingestão insatisfatória do grupo dos construtores representados pelas carnes e derivados e leite e derivados que podem determinar deficiência protéica e de cálcio, nutrientes essenciais para essa fase de acentuado crescimento e desenvolvimento do ciclo vital.

    Outro fator estudado foi o nível de atividade física, que evidenciou resultados satisfatórios, mas demonstrou uma acentuada discrepância entre os gêneros, classificando os meninos com uma freqüência de pratica maior que as meninas. Um estilo de vida fisicamente ativo proporciona diversos benefícios a saúde, atuando na forma de prevenção, controle, tratamento ou reabilitação.

    Analisando o fator antropométrico, foi possível constatar que uma grande parcela de ambos os gêneros classificam-se diagnosticados nos padrões de normalidades segundo o IMC. Porém vale ressaltar que uma parcela considerável do extrato amostral encontro-se classifica com sobrepeso e obesidade, o que demanda atenção e intervenção precoce em virtude da transição nutricional e epidemiológica.

    Mudanças comportamentais pressupõem ruptura de hábitos familiares com fortes raízes socioculturais e, portanto, requerem políticas de prevenção e promoção de saúde que valorizem e estimulem a alimentação saudável e combatam os padrões alimentares nocivos apontados, uma vez que hábitos alimentares incorporados na infância e acentuados na adolescência propiciam o aparecimento ou agravo de fatores biológicos passíveis de reversão.

    Tornam-se imprescindível a conscientização e o reconhecimento da importância de uma alimentação saudável com a realização de programas de educação alimentar e eventos que valorizem práticas de atividades físicas, propondo-se fomentar uma qualidade de vida futura. A presente pesquisa embora tenha avaliado apenas três variáveis da multifatoriedade dos distúrbios nutricionais poderá auxiliar na elaboração de políticas públicas, programas de intervenção e educação em saúde para mudança dos fatores deletérios identificados.

    O levantamento epidemiológico das variáveis objeto de estudo do grupo participante da pesquisa é uma importante ferramenta para tomada de decisão e planejamento de ações de educação em saúde com intuito de garantir a qualidade de vida e adoção de hábitos mais saudáveis tanto quanto a atividade física quanto a alimentação. A educação em saúde é concernente ao juramento do Licenciado em Educação Física que além de incluir o exercício da regência dentro dos princípios da ética, dignidade e competência nos diferentes níveis de conhecimento prevê a orientação e promoção de ações de educação formal para prevenção, manutenção e promoção da saúde para um estilo de vida ativo e saudável.

Referências

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