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Educação Física escolar: sugestões de apoio ao educador

Educación Física escolar: sugerencias de apoyo al educador

 

*Graduada em Educação Física pela Faculdade Adventista de Hortolândia

**Doutora em Educação Física pela Unicamp

**Professora Titular na Faculdade Adventista de Hortolândia

(Brasil)

Ana Maria de Souza*

Helena Brandão Viana**

hbviana2@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A Educação Física transcende ao ensino do esporte. Ela é capaz de desenvolver na criança uma sensibilização à cultura corporal do movimento para que se tenha no futuro um adulto com qualidade de vida, sendo o professor um mediador fundamental para esta concretização. Para entender como é possível este processo de sensibilização, foi apresentado neste trabalho informações e idéias de alguns autores conceituados na Educação e Educação Física, pela revisão de literatura. Para viabilizar esta metodologia, sugeriram-se algumas atividades, desde a construção de brinquedos alternativos com os alunos a mobilizações de ações sociais, relacionadas com alguns temas. Desta forma, será apresentado um caderno didático, onde o professor de Educação Física possa realizar de forma simplificada pesquisas de referências bibliográficas relacionadas à Educação, Educação Física e Qualidade de vida, planejamento de aulas através da integração de brincadeiras e jogos com os conteúdos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e elaboração de atividades e materiais alternativos em modalidades pouco exploradas nas aulas de Educação Física. As atividades aqui descritas foram desenvolvidas e aplicadas durante o período de estágio (horas complementares, práticas profissionais e estágio obrigatório), todas com a supervisão de um profissional competente no intuito de proporcionar ao educador um caderno contendo atividades complementares, que estimulem a construção de aspectos motivacionais desde os desenvolvimentos físicos, cognitivos e sociais dos alunos à reflexão de suas atitudes e ações no meio em que vivem.

          Unitermos: Educação. Educação Física. Caderno didático.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Segundo Darido (2001) a Educação Física Escolar teve uma preocupação com a centralização de desenvolver conteúdos procedimentais dentro de seu contexto histórico e tradicional, estava fundamentada em desenvolvimentos técnicos, mas não se mostrou muito eficaz abordando com ênfase estes conteúdos procedimentais, visto que, dentro deste contexto surgem algumas questões:

    Obviamente, é preciso evoluir, ensinando também as dimensões conceitual, procedimental e atitudinal, como cita João Batista Freire (2008, p. 90):

    O conhecimento não pára de ser produzido e transformado. Vivemos uma época de globalização, quando todos os grandes problemas deixaram de ser particulares desta ou daquela cultura, para se tornarem mundiais. Deveríamos, portanto, ser incentivados por princípios e pensamentos que nos permitissem ligar as coisas que nos parecem separadas. No entanto, nosso sistema educativo privilegia a separação. A organização do conhecimento sob a forma de disciplinas seria útil apenas se elas não estivessem fechadas em si mesmas.

    Durante o período de Estágio ao observar diferentes aulas, para diversas faixas etárias, foi detectado que alguns professores mostraram-se envolvidos em suas aulas, interessados no aprendizado dos alunos contextualizando as aulas a uma temática, apresentaram planejamento de seu trabalho, enfim, preocuparam-se em desenvolver junto aos seus alunos capacidades e habilidades físicas e também a percepção do seu próprio Ser e suas atitudes para com os outros e o mundo, através das aulas de Educação Física. Outros pareciam estar vivendo, embora muito jovens, na época antiga, presos a preconceitos, divisão de gênero, desenvolvendo técnicas, mas ainda apresentando planejamento de suas aulas. Outros, nem sequer planejavam, apenas inventavam uma “brincadeira ou um torneio de futebol” e assim a “bola rolava” a aula inteira.

    Pensando em contribuir com sugestões, tanto de referências bibliográficas como de aulas práticas, que possam ser utilizadas nas fases de iniciação, principalmente, de alunos do Ensino Fundamental I e II, objetivou-se nesse trabalho criar um caderno didático.

    As discussões sobre a Educação e Educação Física surgiram em conseqüência das pesquisas realizadas na década de 80, onde se constatou uma necessidade de reestruturação da estrutura social frente à crise de identidade ao que se refere o objeto de ensino (CORREIA, 1996).

    Para Correia (1996), para consolidar esta sociedade é imprescindível a mudança na Educação, redimensionando as metodologias, conteúdos e valores. Contudo, este desafio torna-se intrincado diante de legislação, realidade das condições escolares e propostas pedagógicas, entre estas, a inserção dos temas e a contextualização das aulas.

Contextualizando a Educação e a Educação Física em seus principais fundamentos, competências e possibilidades para o exercício da cidadania

    A Educação é uma atitude de relacionamento entre pessoas, onde se tem um vínculo de geração para geração. Dentro desta relação é que são transmitidos os valores culturais e sociais que moldam no indivíduo padrões de comportamento e pensamentos influenciando, diretamente, o seu procedimento em toda sua existência. Segundo Aranha (2006), os projetos de mudanças são assimilados pelas gerações de acordo com a herança cultural dos antepassados, assim como, a história da educação é construída pelas interpretações e maneiras pelas quais os povos transmitem sua cultura teórica e prática; o educador, através de sua criticidade e compreensão e suas ações e atitudes, implica na ruptura ou continuidade desta herança cultural.

    Em um relatório enviado à UNESCO, a Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI (1996), afirma que os desafios do futuro da humanidade na sua construção dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social serão supridos pela educação. Não como um “milagre”, mas, como o caminho que “conduza a um desenvolvimento humano mais harmonioso, mais autêntico, de modo a fazer recuar a pobreza, a exclusão social, as incompreensões, as opressões, as guerras [...]” (DELORS et al., 1996, p 11).

    Segundo Balbino e Paes (2007), podemos concluir que a Educação está terminantemente envolvida com fatores que entrelaçam a cultura, conhecimentos e objetivos daqueles que educam com as interferências que sofrem os desenvolvimentos físicos, intelectuais, ambientais, culturais, valores cívicos e éticos do educando.

    Estes conjuntos de fatores expressarão nos indivíduos a cidadania. Dentro do que nos explica Aranha (2006, p. 80):

    Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: em resumo, ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma velhice tranqüila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais. (...)

    Segundo Darido et al. (2001) é importante ressaltar que vários autores e educadores apresentam idéias de Educação voltada para a cidadania, valores éticos, inclusão social, preservação do meio ambiente, trabalho, saúde e lazer, desde a criação das primeiras instituições de ensino. Estes visam um sistema de educação mais filosófico (despertar o senso crítico, ou seja, aprender pensar); eficiente (aprender coisas relevantes e pertinentes à sua realidade de vida) e que desperte nos indivíduos uma consciência de si e de suas ações no mundo (aprender ser e conviver).

    Entre alguns autores que apresentam idéias e sugestões sobre a influência da Educação, citaremos alguns e suas respectivas idéias para que se possa averiguar a importância de fundamentos como o respeito ao ser humano, meio ambiente e amor a Deus.

    Segundo Darido (2003), todas as tendências, ainda hoje, influenciam a formação dos profissionais e o modo como ensinam.

A Educação Física

    Num primeiro momento, a Educação Física estava fundamentada em aprimorar os movimentos do corpo, como: saltar, correr e arremessar a fim de desenvolver habilidades e técnicas para caça, pesca, defesa e conquista de territórios, bem como, sua utilização em transmitir os valores culturais. O conhecimento e a prática de atividades físicas eram fatores determinantes para a sobrevivência humana.

    Aguiar e Frota (2009) relatam que a educação era basicamente natural e prevaleciam às atividades vitais à sobrevivência, tanto no aspecto imitativo e co-participativo quanto o aspecto lúdico. As atividades físicas eram intensas, o que marcou a “vivência de movimentos corporais diversificados e necessários à superação dos obstáculos presentes no cotidiano”. O desenvolvimento destas atividades levou ao surgimento de técnicas de movimentos e estratégias para garantir abrigo e o sustento dos indivíduos. Entre estas estratégias destacam-se aspectos importantes na formação da sociedade e aplicação da Educação Física. Um destes aspectos é o início da agricultura e da pecuária, fator que implicou no surgimento do sedentarismo, ou seja, a colonização nômade deixou de deslocar-se de um lugar para outro, em busca de melhores condições de vida, para estabelecer permanência formando, assim, as primeiras vilas, cidades e outras formas de comunidades. Conseqüentemente, os grupos sedentários eram derrotados pelos nômades, pois estes possuíam maior resistência física e força, percebemos aí outro aspecto importante que é o surgimento das atividades físicas organizadas e constantes, caracterizando treinamento de guerras.

    No decorrer do tempo o homem foi descobrindo novas técnicas e estratégias com relação às atividades físicas e passou, então, a manipular estas novas habilidades que foram ganhando características específicas segundo a intenção de quem, para quem ou a quem as aplicasse. Mais adiante, sofre a influência militar e médica; sua prática estava fundamentada em desenvolver técnicas de guerra, conceitos higienistas, padrões de beleza e saúde. No Brasil podemos avaliar esta tendência no texto de Magalhães (2005), onde cita:

    O pensamento eugênico construiu-se a partir de uma hipocrisia da moral burguesa para melhorar e regenerar a raça branca. Afirmava ser necessário [...] restringir a proliferação de infra-homens, de semi-alienados e de dementes, pela higiene do corpo e do espírito [...] (além de) fazer com que as pessoas fortes, equilibradas, inteligentes e bonitas, tenham um maior número de filhos, para que o número médio destas pessoas [...] se eleve progressivamente (KEHL apud SOARES, 1994, p.145).

    O Esporte surge a princípio, no aspecto de desenvolvimento físico, como forma de treinamento do movimento e habilidades específicas e no aspecto social tem a função de divertir e/ou distrair as pessoas. O filósofo Theodor W. Adorno relaciona o esporte com a prática da crueldade corporal, incitação da agressividade e violência, submissão à autoridade através das regras do jogo diz Magalhães (2005), em seu artigo. Este mesmo filósofo admite um lado positivo para a prática esportiva desde que o objetivo principal não seja a competitividade. Surgem novas idéias a respeito do esporte como forma de socialização, respeito às diferenças e metodologia pedagógica.

    Vale ressaltar o que dizem Balbino e Paes (2007) sobre os Jogos Desportivos Coletivos (JDCs), a prática conhecida e vivenciada no esporte são importantes meios de desenvolvimento do homem, numa dimensão preparatória para enfrentar os desafios na vida.

    A Educação Física transcende ao ensino do esporte. Dentro de uma abordagem crítica, onde o objeto de estudo é o ser humano relacionado com a cultura corporal do movimento, é possível despertar na criança, por meio de conteúdos como: Ginástica, Lutas, Danças, Jogos Coletivos e Conhecimento sobre o Corpo, uma sensibilização às práticas de atividades físicas, trabalho, saúde, lazer, valores de excelências éticas, sociais, culturais e ambientais para que se tenha no futuro a integração do aluno para que este possa usufruir deste aprendizado e utilizá-lo em benefício da qualidade de vida (BETTI e ZULIANI, 2002).

    A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo: nele o indivíduo é formado desde o momento da sua concepção; nesses mesmos códigos, durante a sua infância, aprende os valores do grupo; por eles é mais tarde introduzido nas obrigações da vida adulta, da maneira como cada grupo social as concebe [...] (MEC, 2001, p. 26).

    Entendendo este conceito de cultura como produto da sociedade e a Educação Física como o corpo que está inserido num contexto cultural, conclui-se que a Educação Física é uma cultura corporal (MEC, 2001).

    A Educação Física permite que vivenciem diferentes práticas corporais advindas das mais diversas manifestações culturais e se enxergue como essa variada combinação de influências está presente na vida cotidiana. As danças, esportes, lutas, jogos e ginásticas compõem um vasto patrimônio cultural que se deve ser valorizado, conhecido e desfrutado. Além disso, esse conhecimento contribui para a adoção de uma postura não-preconceituosa e não-discriminatória diante das manifestações e expressões dos diferentes grupos étnicos e sociais e às pessoas que dele fazem parte (MEC, 2001, p. 28-29).

    No Brasil, a década de 80 foi marcada por transformações na sociedade. No sentido de promover uma reestruturação social, em bases mais justas e democráticas surgiram novas discussões sobre as diretrizes para a Educação redimensionando metodologias, conteúdos e valores (CORREIA, 1996).

    Na década de 90, o Ministério da Educação, designou a um grupo de pesquisadores e professores a missão de elaborar um documento direcionando a Educação dos quatro ciclos escolares, incluindo um documento específico para a Educação Física. São criados então, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Este documento tem a função de auxiliar a preparação curricular dos estados e municípios, considerando as propostas já existentes, incentivando a reflexão e metodologia pedagógica e a elaboração de projetos educativos. Na proposta dos PCNs estão: documento introdutório, temas transversais (Saúde, Meio Ambiente, Ética, Pluralidade Cultural, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo) e documentos que norteiam os diferentes componentes curriculares (DARIDO, et al., 2001).

    Segundo o Ministério da Educação-MEC (2001), a Educação Física na Escola favorece a autonomia, através de suas potencialidades e limitações; socialização, através de sua vivência em atividades lúdicas e um despertar estético no sentido de saúde e qualidade de vida.

Quadro 1. Educação Física Escolar segundo o MEC

Fonte: Adaptado do PCN para Educação Física (MEC, 2001)

Atividades sugeridas

    Serão apresentadas aqui algumas atividades criadas e vivenciadas com alunos pela pesquisadora.

    Segue o exemplo de uma atividade utilizada na iniciação da modalidade Corrida de Orientação (Conteúdo) aplicada em comemoração à Páscoa (Tema).

    Jogo adaptado para alunos do Programa Segundo Tempo de Hortolândia pela pesquisadora.

    Este jogo foi desenvolvido para estimular a participação de todos os alunos, principalmente, os que só assistem os jogos, além de, ocupar o tempo ocioso e ser uma maneira diferente de aprendizagem de jogos de tabuleiro.

    O XADREBOL é uma mistura de jogos coletivos com jogos de tabuleiro (no caso, Xadrez e Futebol). As partidas acontecem simultaneamente e o que ocorre em um jogo interfere no outro (verificar as regras).

Considerações finais

    Atualmente, vivemos num mundo em grandes conflitos como guerras, discriminações e preconceitos, drogas, banalização da família, do amor e de Deus, enfim, sofremos e produzimos violências contra o ambiente e a nós mesmos. Entendemos que toda e qualquer forma de mudança ocorre pela Educação, sendo assim, podemos dizer que depende dos Educadores (entendendo como Educadores, uma equipe formada por Pais e Professores) esta mudança. É coerente, então, afirmar que, precisamos avaliar como estamos educando nossas crianças. Quais valores estamos priorizando no processo educacional?

    O professor de Educação Física tem as melhores e mais atrativas ferramentas de trabalho; o esporte, a recreação, lutas, danças, jogos populares, anatomia e para manuseá-las precisa buscar o conhecimento e sensibilidade para usá-las como meio de sustentabilidade humana.

    Balbino, (2002) cita os Jogos Desportivos Coletivos (JDC), como forma de transformações, necessidades e possibilidades para o desenvolvimento das Múltiplas Inteligências e, conseqüentemente, valorizar no indivíduo seu potencial pela multiplicidade de seus mais variados talentos e habilidades, enxergando-o em sua totalidade. Através das situações problemas causadas nos JDC são despertadas no indivíduo, “múltiplas maneiras de se relacionar com o meio em que está inserido tendo como base de sustentação o pressuposto de que somos responsáveis pelas mudanças provocadas em um sistema” (Balbino, 2002, p. 361).

    Todo educador deve estudar os ensinamentos de Jesus Cristo, independente de religião, como nos cita (Cury, 2003 p. 73):

    Aparentemente, Jesus morreu como o mais derrotado dos homens, pois o mais forte dos seus discípulos o negou e os demais o abandonaram. Mas ninguém é derrotado quando suas sementes são enterradas. As sementes que Ele plantou nos solos da memória dos seus discípulos inspiraram a inteligência, libertaram a emoção, romperam o cárcere do medo, fizeram dos jovens galileus, tão despreparados para a vida uma casta de finos pensadores.

    [...] Jesus Cristo se tornou o mestre inesquecível não por atos sobrenaturais, mas porque arejou o anfiteatro da mente humana com habilidade ímpar. Nunca alguém tão grande se fez tão pequeno para tornar grandes os pequenos.

Referências

Outros artigos em Portugués

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 173 | Buenos Aires, Octubre de 2012
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