efdeportes.com

A motivação para a prática do voleibol
em jogadores da categoria máster

La motivación para la práctica del voleibol en jugadores de categoría máster

 

*Faculdade Sogipa de Educação Física

**Escola de Educação Física da UFRGS

***Escola Superior de Educação Física

da Universidade Federal de Pelotas, UFPel

(Brasil)

Esp. Eduardo Frio Marins*

Dr. Rogério da Cunha Voser**

Dr. Marcelo Cozzensa da Silva***

dudufrio@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo identificar e analisar os motivos para prática de jogadores de voleibol da categoria máster, na cidade de Pelotas-RS. Foi realizado um estudo descritivo-exploratório, contendo uma amostra de 25 indivíduos (16 homens e 9 mulheres), com idades a partir de 35 anos, que praticassem voleibol na categoria máster no ano de 2012. Para identificação dos fatores motivacionais, utilizou-se como instrumento a Escala de Motivos para a Prática Esportiva (EMPE) adaptado por Barroso (2007) para a língua portuguesa do PMQ - Participation Motivation Questionaire de Gill, Gross e Huddleston (1983). Os resultados indicaram que os fatores que mais motivaram os atletas da categoria máster a praticarem o voleibol foram: Saúde, Afiliação e Condicionamento Físico. Na comparação quanto ao gênero, apenas os fatores Energia e Contexto apresentaram diferença significativa (p≤0,05). Ao comparar o tempo de prática com os fatores motivacionais, apenas o fator Energia obteve diferença significativa para os indivíduos que praticavam o voleibol há menos tempo (menos de 20 anos). Conclui-se que o conhecimento dos fatores que envolvem a motivação em jogadores de voleibol máster é de grande importância para que seja levado em conta para o planejamento dos treinos, além de conscientizar os praticantes sobre a relevância de se ter um estilo de vida ativo durante todas as fases da vida.

          Unitermos: Motivação. Voleibol. Máster.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O voleibol é considerado uma modalidade de esporte coletivo (DE ROSE JR, 2006) em que o objetivo do jogo consiste em, resumidamente, fazer com que a bola caia na quadra adversária, com os jogadores utilizando no máximo três toques ou fazer com que o adversário não consiga devolver a bola dentro da área de jogo (SANTINI, 2007). Embora pareça um jogo simples, o voleibol é considerado, segundo Bizzocchi (2004), uma das modalidades esportivas mais difíceis de ser praticada e ensinada, por causa dos seus movimentos complexos, da quantidade de toques, dos deslocamentos e do jogo aéreo (MARQUES JR, 2006).

    Tanto a prática do voleibol como a de qualquer outra atividade física, tem sido amplamente procurada, devido aos inúmeros benefícios à saúde de seus praticantes, sejam estes crianças, adolescentes, adultos ou idosos (BENETTI, SCHNEIDER, MEYER, 2005; FRANCHI, MONTENEBRO, 2005; KNIJNIK, SANTOS, 2006; LAZOLLI et al., 1998). A prática regular do voleibol contribui para uma melhora no desenvolvimento geral dos indivíduos, independente da idade, devido a grande riqueza de componentes físicos, psíquicos e sociais envolvidos em sua prática (COLLET et al., 2007). Além disso, segundo Nahas (2010), um estilo de vida fisicamente ativo reduz o risco de diversas doenças crônicas incluindo hipertensão, doenças cardíacas, diabetes tipo II, ansiedade, depressão, bem como, estimula a formação e retarda a perda de massa óssea - quando a atividade envolve impacto sobre o esqueleto -, além de diminuir a incidência de quedas e fraturas associadas. Se o exercício for praticado na 2ª década de vida, parece aumentar o pico de massa óssea e ser mais efetivo na prevenção (KARAM, F. C.; MEYER, F.; SOUZA, A. C. A. de, 1999).

    A prática do voleibol no Brasil, de acordo com Schaeffer (2010), não se concentra apenas em escolas, clubes e seleções por atletas jovens, mas também por ex-atletas de alto rendimento. Estes atletas, ao envelhecerem, tendem a seguir praticando o desporto na categoria adequada a sua idade, como, por exemplo, a categoria máster. Consequentemente a isto, eles acabam buscando manter uma boa saúde física e mental, o que caracteriza a busca pela excelência na qualidade de vida.

    Diversas pesquisas no âmbito da Psicologia do Esporte têm avaliado o estudo da motivação, não apenas no esporte de rendimento e universitários, mas também no âmbito recreativo, relacionados com crianças, jovens, adultos e idosos (CAMPOS, VIGARIO, LÜDORF, 2011; FRANZONI, 2006; HERNANDEZ; VOSER; LIKAWKA, 2004; LIMA; MORAES, 2009; SANTOS, 2011). A motivação, segundo Cratty (1983), é um termo que denota os fatores que levam as pessoas a uma ação (euforia) ou à inércia (letargia) em diferentes situações. Especificamente, estudar os motivos da prática de algumas tarefas, significa examinar as razões pelas quais o praticante escolhe fazer ou executar elas com mais empenho do que outras ou, ainda, persiste numa atividade por longo período de tempo (PAIM, 2003).

    O conhecimento sobre os motivos da prática dos esportes, em nosso caso o voleibol, têm sido estudado por diversos pesquisadores e profissionais da área, porém, é escassa a literatura quando se relaciona os motivos da prática do voleibol aos indivíduos da categoria máster - 35 anos de idade ou mais (CBV, 2011). A identificação dos fatores motivacionais da prática de um desporto pode ser útil para se estudar novas formas de aumentar e melhorar a participação de indivíduos nos programas de treinamento e de aderir à modalidade, contribuindo assim para o planejamento específico de programas de intervenções, como meio de promoção da atividade física, para cada público (FERNANDES, 2006).

    Tendo em vista a relevância do tema e, ainda, de que são poucos os estudos sobre o voleibol máster e sua relação com os motivos para a sua prática, este estudo tem como objetivo identificar e analisar os motivos que levam os jogadores de voleibol da categoria máster da cidade de Pelotas a permanecerem praticando esse desporto nessa faixa etária (a partir dos 35 anos de idade). Pretende-se, ainda, estabelecer comparações entre os gêneros e o tempo de prática do voleibol para verificar algumas particularidades que possam influenciar na motivação dos praticantes.

2.     Metodologia

    Este estudo se caracteriza como uma pesquisa transversal do tipo descritivo exploratória, pois descreve as características de determinada população utilizando técnicas padronizadas de coleta de dados – questionário - (GIL, 2008). De acordo com Richardson (2008), este estudo apresenta abordagem quantitativa dos dados, tanto na coleta, quanto no tratamento (técnicas estatísticas), pois utiliza a quantificação dos dados para a interpretação.

    A amostra foi constituída por jogadores de voleibol de ambos os sexos, que treinam e competem em equipes máster da cidade de Pelotas – RS durante o ano de 2012. De acordo com a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV, 2011), a categoria máster compreende os jogadores ou jogadoras com idades a partir dos 35 anos de idade. A seleção da amostra se deu por conveniência.

    Participaram do estudo 25 praticantes (16 do sexo masculino e 9 do sexo feminino), os quais representam três equipes, sendo uma equipe masculina e duas femininas. Porém, destaca-se que a equipe masculina é a única que disputa competições estaduais, nacionais e internacionais, enquanto que as femininas disputam apenas competições em nível regional.

    Como instrumento de coleta de dados, foi utilizado a Escala de Motivos para a Prática Esportiva (EMPE), versão traduzida e validada para o uso no Brasil por Barroso (2007) a partir do Participation Motivation Questionnaire (PMQ) de Gill, Gross e Huddleston (1983).

Questionário

    Abaixo temos alguns motivos que fazem com que as pessoas pratiquem esportes. Leia cada item com atenção e, por favor, marque com um “X” o quanto cada um deles é importante para você praticar vôlei HOJE.

   

Nada importante

Pouco importante

Importante

Muito importante

Totalmente importante

1. Eu quero melhorar minha técnica

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2. Eu quero estar com meus amigos

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3. Eu gosto de vencer

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4. Eu preciso liberar energia

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5. Eu gosto de viajar

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6. Eu quero ficar em forma

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7. Eu gosto de sentir emoções fortes

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8. Eu gosto de trabalhar em equipe

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9. Meus pais e/ou amigos querem que eu jogue

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10. Eu quero aprender novas técnicas

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11. Eu quero manter a saúde

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12. Eu gosto de fazer novas amizades

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13. Eu prefiro fazer algo em que sou bom

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14. Eu preciso liberar tensão

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15. Eu gosto de ganhar prêmios

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16. Eu gosto da fazer exercícios

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17. Eu gosto de ter algo para fazer

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18. Eu gosto de estar fisicamente ativo

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19. Eu gosto do espírito de equipe

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20. Eu gosto de sair de casa

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21. Eu gosto de competir

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22. Eu quero adquirir hábitos saudáveis

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23. Eu gosto de me sentir importante

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24. Eu gosto de fazer parte de uma equipe

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25. Eu quero superar meus limites

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26. Eu quero estar em forma

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27. Eu quero me destacar socialmente

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28. Eu gosto de desafios

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29. Eu gosto dos técnicos e/ou professores

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30. Eu quero ganhar status ou ser reconhecido

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31. Eu gosto de me divertir

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32. Eu quero melhorar ainda mais minha saúde

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33. Eu gosto de usar instalações e equipamentos esportivos

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    Este questionário é composto por 33 itens, apresentados em escala intervalar de 11 pontos (0 a 10), que devidamente agrupadas identificam sete fatores de motivação para a prática esportiva. A primeira categoria, Status, abriga sete itens (questões 03, 13, 15, 21, 23, 27 e 30 do questionário), que engloba os aspectos extrínsecos da aprovação social por comparação direta e os intrínsecos do ego, superação pessoal. Os motivos desta dimensão estão relacionados com a busca por prestígio. A segunda dimensão é composta por três questões relacionadas ao Condicionamento Físico (questões 06, 16 e 26 do questionário), motivação intrínseca voltada ao ego, relacionando-se tanto com motivos de ordem fisiológica quanto com a autoestima. Liberação de Energia, a terceira categoria motivacional, abriga seis questões (questões 04, 07, 14, 17, 18 e 31 do questionário), é considerada como um motivo intrínseco relacionado ao ego. Essa energia liberada é o potencial de desempenho e realização do indivíduo, ou seja, aquilo que nos leva a fazer algo como, por exemplo, praticar esportes (DORSCH, HÄCKER, STAPF, 2001). O quarto fator motivacional foi classificado como Contexto (questões 05, 09, 20, 29 e 33 do questionário), o qual se refere à interação face-a-face entre a pessoa em desenvolvimento focalizada, os outros (também em desenvolvimento), símbolos e objetos. O Aperfeiçoamento Técnico foi o quinto fator identificado, composto por quatro itens: questões 01, 10, 25 e 28 do questionário. Este fator pode ser definido como motivo intrínseco voltado ao ego. A sexta categoria, Afiliação (questões 02, 08, 12, 19 e 24), trata-se de um motivo extrínseco de aprovação social (ROBERTS, SPINK, PEMBERTON, 1986) e, por fim, a sétima categoria, Saúde (questões 11, 22 e 32 do questionário), seus itens podem ser considerados como de ordem intrínseca, voltados para o ego, e classificados como motivos de sobrevivência por Winterstein (2002).

    Os voluntários atribuem um valor de zero a 10 (escala Likert de 11 pontos) para cada pergunta de acordo com o quanto este fator o motiva a continuar praticando o voleibol na categoria máster. Para determinar o score de cada fator motivacional, calcula-se a média, somando os valores assinalados nas questões a ele pertencentes e dividindo pela quantidade de itens. Portanto, se um fator abriga quatro itens, basta somar os valores assinalados em cada um deles e dividir por quatro. Valores entre 0,0 e 0,99: o fator motivacional é nada importante; entre 1,0 e 3,99, pouco importante; entre 4 e 6,99, importante; entre 7 e 9,99, muito importante; e 10 quando totalmente importante.

    Inicialmente, para seleção dos participantes, realizou-se um contato prévio com os treinadores ou jogadores das equipes da categoria máster da cidade para saber os dias de treinamento. Após a obtenção dos dias de treino, foi realizado o primeiro contato com os indivíduos convidando-os a participar da pesquisa.

    Para a participação do estudo, solicitou-se a assinatura do Termo de Autorização e eles deram seu consentimento por escrito, pessoalmente, de maneira livre e esclarecida. Todos os participantes do estudo foram informados dos objetivos da pesquisa, procedimentos para o preenchimento do instrumento e dos critérios para a seleção dos participantes. A coleta dos dados foi realizada nos locais onde os indivíduos realizavam a prática do desporto, sendo que os instrumentos foram aplicados antes do início do aquecimento onde não houvesse a interferência de outras pessoas. Os questionários foram aplicados por um único entrevistador previamente treinado para tal finalidade.

    Os dados obtidos, a partir dos questionários, foram digitados no programa Excel for Windows e as análises conduzidas no programa estatístico Stata 10.0. A análise dos dados ocorreu através da estatística descritiva, com cálculo de média e desvio padrão para variáveis numéricas e de proporção para variáveis categóricas; e inferencial (ANOVA) para comparação de médias. Foi utilizado o valor p≤0,05, para indicação de significância estatística.

3.     Apresentação, análise e discussão dos resultados

    Participaram do estudo 25 praticantes de voleibol de 37 a 55 anos de idade, os quais pertenciam a uma equipe máster da cidade de Pelotas no ano de 2012. A maior parte da amostra é do sexo masculino (64%). A média de idade dos entrevistados foi de 44,2 anos (DP± 4,4 anos), sendo que a idade mais prevalente foi de 43 anos (20%).

    A média de anos de prática do voleibol entre os indivíduos foi alta (23,32 anos; DP±11,8 anos), variando de 2 a 40 anos. Quando questionados se eram ex-atletas (foram considerados como ex-atletas aqueles que afirmaram terem praticado algum tipo de esporte durante pelo menos dois anos consecutivos, entre a faixa etária dos 10 aos 19 anos), a maioria (72%) respondeu que sim. Entre os entrevistados, 76% praticam a atividade pelo menos uma vez por semana e apenas 24% praticam mais de uma vez por semana (12% praticam duas vezes e 12% praticam três vezes). De acordo com Saba (2001), quanto maior o tempo de prática de alguma atividade, maior podem ser os motivos entendidos para a sua continuidade, porque as necessidades de manutenção vão se somando e, assim, estabelecendo uma maior sustentação com o passar do tempo.

    O principal motivo para prática do voleibol foi a Saúde (média de 8,89), seguido de Afiliação (8,40), Condicionamento Físico (8,30), Liberação de Energia (7,56), Aperfeiçoamento Técnico (6,33), Contexto (6,02) e por fim Status com a menor pontuação (5,58). Conforme pode ser observado, a maioria dos resultados dos fatores (4) classificou-se como “muito importantes – entre 7 e 9,99” (Tabela 1).

    Os resultados encontrados são semelhantes com os estudos de Lima e Moraes (2009), com praticantes de vôlei de praia de idades entre 45 e 87 anos; e Balbinotti e Capozzoli (2008), com praticantes de ginástica em academias com idades entre 18 e 65 anos, bem como no estudo de Laurentino (2009) com 101 jogadores de futebol amador em São José, SC, no qual o fator Saúde foi o mais importante motivo para a prática do desporto, seguido de Condicionamento Físico, Afiliação, Status, Liberação de Energia, Técnica e Contexto. Em outro estudo, de Interdonato et al. (2008), os fatores associados à saúde foram tidos, também, como mais importantes para a maioria dos atletas de basquetebol, futebol, ginástica rítmica desportiva, judô, natação e voleibol, mesmo utilizando instrumento diferente.

    Entretanto, o estudo de Campos, Vigário e Lüdorf (2011), com jovens atletas da categoria mirim à juvenil, apresentaram como fatores mais importantes para a prática do voleibol, em ordem decrescente, o Aperfeiçoamento Técnico, Saúde, Afiliação, Condicionamento Físico, Status, Liberação de Energia e por último o fator Contexto; no estudo de Martins Jr, Krebs e Barroso (2009), com 32 atletas da seleção brasileira adulta masculina e feminina de hóquei sobre a grama com idades entre 17 e 29 anos de idade o fator motivacional mais importante para as duas equipes foi o Aperfeiçoamento Técnico, o qual foi igualmente verificado no estudo de Barroso et al. (2007), ao estudar os motivos de prática de esportes coletivos entre 100 universitários de uma instituição pública que treinava para os Jogos Universitários Catarinenses (JUC’s) de 2007.

    Com as pesquisas citadas anteriormente e com a de Barcelona e Sanfelice (2004), os quais aplicaram o PMQ em 27 atletas argentinos de voleibol, todos homens entre 16 e 32 anos e compararam 17 jogadores de voleibol participativo, cujo maior fator motivacional de prática foi “desenvolver habilidades” (técnicas) com média 2,76, com 10 atletas de rendimento que apresentaram média 2,90 para a categoria “aptidão” (condicionamento físico), é possível observar que os principais motivos para a prática esportiva estão baseados na visão interacional (BARROSO, 2007), ou seja, eles variam conforme a personalidade do indivíduo e o contexto em que o praticante está inserido. Visto que, jovens podem querer novos desafios, e talvez sonhem em tornarem-se jogadores de elite. Já as pessoas com mais idade podem envolver-se em atividades para melhorar a saúde e o condicionamento físico e não se preocupam muito com o status ou aperfeiçoamento técnico. Logo, é importante que o técnico e a comissão que lhes dão suporte identifiquem e analisem os motivos que os mantêm naquela prática, podendo, assim, fazer um trabalho mais direcionado, alcançando os objetivos do atleta em questão.

Tabela 1. Média geral dos fatores motivacionais para prática esportiva

    Uma questão abordada durante o preenchimento do questionário foi com relação a ter sido ex-atleta de voleibol. Do total de entrevistados, 18 alegaram ter sido ex-atleta. Alguns estudos sobre o fenômeno do tracking de atividade física - o qual estuda a continuidade de atividade física da infância à idade adulta - corroboram com os achados desse estudo, tais como: o estudo de Alves et al. (2005) com 170 alunos do curso de medicina do estado de Pernambuco, o qual verificou que entre aqueles que foram atletas durante a adolescência, a prática de atividade física de lazer na vida adulta foi maior; 26,8% (33/123), do que aqueles não atletas, 6,2% (2/32); p < 0,03; bem como no estudo de Azevedo et al. (2007), em que entrevistaram 2.577 indivíduos com idades entre 20 e 59 anos, resultou que indivíduos envolvidos com atividade física na adolescência apresentaram maior probabilidade de serem suficientemente ativos na idade adulta (razão de prevalências ajustada 1,42; IC 95%: 1,23; 1,65). Em vista disso, percebe-se que estimular a atividade física na adolescência é uma importante intervenção contra a epidemia de inatividade física na idade adulta.

    Com relação aos fatores motivacionais estratificado por sexo, percebe-se que a Saúde é um fator relevante para prática do desporto com médias de 8,64 e 9,33 respectivamente, para homens e mulheres (Tabela 2). O achado vai ao encontro ao estudo de Santos (2011), o qual identificou que nadadores e nadadoras federados de Santa Catarina, entre idades de 13 a 19 anos, consideram a Saúde um fator relevante para prática obtendo médias parecidas (masculino 8,52+1,71 e feminino 8,58+1,68).

    Indivíduos do sexo masculino apresentaram, no fator Contexto, maior motivação à prática esportiva quando comparados às mulheres (p=0,024); entretanto, em relação ao fator Liberação de Energia, as mulheres apresentaram-se mais motivadas à prática, quando comparadas a seus pares (p=0,041). Martins Jr, Krebs e Barroso (2009), compararam os motivos de prática de 32 atletas das seleções brasileiras adultas, masculina e feminina, de hóquei sobre a grama e descobriram que o fator Liberação de Energia das atletas é superior ao dos atletas. Entretanto, o estudo de Barroso et al. (2007), com 100 universitário que treinavam para os JUC’s de 2007, divididos nos quatro desportos coletivos, verificou diferença estatística significativa entre sexos nos fatores Status e Afiliação, utilizando como instrumento o QMAD (Questionário de Motivação em Atividade Desportiva).

Tabela 2. Média dos fatores motivacionais para prática esportiva segundo o gênero

    Quando comparados os fatores motivacionais de acordo com o tempo de prática dos indivíduos (menos de 20 anos/acima de 20 anos), não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre a maioria dos fatores, com exceção do fator Energia (p=0,03), no qual aqueles com menor tempo de prática (menos de 20 anos) apresentaram maior motivação para mesma (Tabela 3). Andrade et al. (2006) verificaram que não houve diferença significativa entre o tempo de prática entre adolescentes futebolistas, porém  houve uma tendência dos atletas com menos tempo de prática – no caso menos de 10 anos -, de possuírem uma maior motivação intrínseca. Isto se justifica pelo fato de que atletas no início de sua carreira são mais motivados do que os atletas com mais tempo na modalidade, uma vez que, praticantes com menos tempo de prática têm um amplo campo de experimentação pelo qual aqueles de maior tempo já podem ter vivenciado.

Tabela 3. Média, desvio padrão e nível de significância dos fatores motivacionais ao comparar os participantes do estudo quanto ao tempo de prática

4.     Conclusões (limitações e encaminhamentos de novos estudos)

    Considerando os objetivos propostos neste estudo, verificou-se que para os participantes da pesquisa, os principais fatores motivacionais que impulsionam a prática do voleibol na categoria máster são: Saúde, Afiliação e o Condicionamento Físico, respectivamente. Além disso, o fator motivacional determinante para ambos os sexos foi o fator Saúde, o que demonstra a importância que os jogadores da categoria máster dão para a prática de atividade física com objetivo de manutenção da saúde.

    Foram analisados os fatores motivacionais em relação ao gênero e os resultados demonstraram diferença significativa (p ≤ 0,05) para os fatores Contexto, com os maiores índices de motivação para os homens, e Liberação de Energia, o qual teve as mulheres com maior índice de motivação.

    Por fim, foram verificados índices mais elevados de motivação para o grupo com menor tempo de prática (≤ 20 anos); entretanto, apenas no fator Energia houve diferença significativa (p=0,03). Os resultados vão ao encontro da literatura consultada, a qual relatava a motivação como aspecto preponderante no início da prática esportiva devido às possibilidades de vivências no esporte a estes iniciantes, algo que os mais experientes já teriam passado.

    Sugere-se a realização de outros estudos nessa área que utilizem outro instrumento validado que abranja indivíduos com faixa etária da categoria máster, além de procurar se ter uma amostra mais significativa da população em questão.

    Portanto, acredita-se ser de grande importância o conhecimento dos motivos que levam à prática do voleibol máster, pois através deste conhecimento pode-se contribuir para maior adesão por parte deste grupo à pratica esportiva e consequentemente, para que estes possam desfrutar dos benefícios por ela proporcionados.

Referências

  • ALVES, J. et al. Prática de esportes durante a adolescência e atividade física de lazer na vida adulta. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Recife, v.11, n.5, p.291-294, set./out. 2005.

  • AZEVEDO, M.R et al. Tracking of physical activity from adolescence to adulthood: a population-based study. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v.41, n.1, p.69-75, 2007.

  • BALBINOTTI, M. A. A.; CAPOZZOLI, C. J. Motivação à prática regular de atividade física: um estudo exploratório com praticantes em academias de ginástica. Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.22, n.1, p.63-80, jan./mar. 2008.

  • BARCELONA, E. M.; SANFELICE, G. R. Motivos de atletas “riocuartenses” para jogar voleibol. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, v.10, n.78, 2004. http://www.efdeportes.com/efd78/motiv.htm

  • BARROSO, M. L. C. Validação do Participation Motivation Questionnaire adaptado para determinar motivos de prática esportiva de adultos jovens brasileiros. 130p. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano) – Centro de Ciências da Saúde e do Esporte. Universidade do Estado de Santa Catarina. Florianópolis, 2007.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 173 | Buenos Aires, Octubre de 2012
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