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A carreira de árbitro de futebol: perspectivas
atuais e a profissionalização

La carrera de árbitro de fútbol: perspectivas actuales y profesionalización

 

*Faculdade Sogipa de Educação Física

**Escola de Educação Física da UFRGS

(Brasil)

Esp. Paulo Jassin Gutiérrez*

paulogutierrezj@hotmail.com

Dr. Rogério da Cunha Voser**

rogerio.voser@ufrgs.br

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo transversal, qualitativo e descritivo, teve por objetivo descrever as perspectivas atuais e a profissionalização do árbitro de futebol do Rio Grande do Sul na visão dos árbitros, que ingressaram na Federação Gaúcha de Futebol (FGF) no ano de 2010, da cidade de Pelotas. Foram entrevistados cinco dos seis árbitros filiados à FGF. As entrevistas foram realizadas no período de 10 a 17 de maio de 2012. Estas foram transcritas e retornadas aos entrevistados para suas validações e aprovações. Após uma análise de conteúdos, concluiu-se que: em todos os casos a primeira experiência como árbitro em geral foi considerada tranqüila. Com relação ao o que os motivou a serem árbitros, dentre as respostas mais relevantes para início da carreira na arbitragem estavam as questões do gosto pelo futebol, experiências de familiares, amigos e professores, e as questões financeiras. No que diz respeito às perspectivas atuais da carreira, os árbitros foram unânimes ao dizer que almejam ter um crescimento profissional, vindo a tornarem-se conhecido e atuarem em grandes jogos. Já a falta de oportunidades e visibilidade dos árbitros do interior do estado foram os mais citados pelos árbitros como aspectos negativos. No quesito profissionalização, foram unânimes ao dizer que esta seria muito importante permitindo que o árbitro de dedique exclusivamente a profissão e acreditam que a profissionalização não ocorreu pela falta de uma instituição para assumir a responsabilidade para com os árbitros.

          Unitermos: Árbitro. Futebol. Carreira. Profissionalização.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Hoje em dia o árbitro está cada vez mais em evidência dentro de uma partida de futebol, tendo uma importância muito grande dentro do campo. Mesmo este não podendo participar diretamente da partida fazendo ou impedindo gols, ou ainda sendo um dos destaques desta ou daquela equipe, muitas vezes é tido como culpado por vitórias ou derrotas das equipes aos olhos de torcedores, jogadores, dirigentes e apaixonados por este esporte que move milhões de aficionados, tornando-o o grande vilão de uma partida. Embora muitos critiquem a presença dele dentro de uma competição, sabe-se que é imprescindível para a realização de uma partida, conforme Lima (1982, p. 1) afirma:

    Não há competição desportiva oficial que dispense uma equipe de arbitragem. É ela que faz respeitar as regras do jogo, é ela que oficializa os resultados. Colocados acima dos competidores, os árbitros apresentam-se sozinhos perante todos os outros intervenientes do ato desportivo e são freqüentes alvos do fogo cruzado de críticas, denúncias, vexames e até agressões físicas que não dignificam a prática desportiva.

    Mesmo sendo uma função muito ingrata, inúmeros candidatos a árbitros procuram a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) anualmente para tentar ingressar nesta carreira, ingresso este que está cada vez mais difícil. As exigências impostas pela Federação Gaúcha de Futebol são cada vez maiores. Não basta apenas saber as regras do jogo e ser detentor de boas intenções. As exigências vão muito além disso.

    Não tem mais espaço para árbitros baixinhos e barrigudos, pois a estatura é um dos critérios eliminatórios para ingressar nos cursos promovidos pela Federação Gaúcha de Futebol, além de vários outros fatores como idade, exames clínico, oftalmológico e eletrocardiograma de esforço, escolaridade, várias negativas sobre a vida pessoal do candidato, alem de provas teóricas e de aptidão física.

    Após a aprovação no curso, os árbitros estão aptos a arbitrar e fazer parte do quadro da instituição. Depois de entrar para o quadro da Federação Gaúcha de Futebol, o árbitro passa a ter os seus passos seguidos e seu comportamento e atitudes, tanto dentro como fora do campo são levados em consideração pela Comissão Estadual de Arbitragem. Ainda, o árbitro é obrigado a entregar uma serie de documentos e a realizar testes físicos, seguindo normas da Fédération Internationale de Football Association (FIFA), a cada semestre do ano para manter-se apto a concorrer às escalas.

    Mesmo com todos esses pré-requisitos sabe-se que apenas a aprovação em cursos não é garantia de uma carreira de sucesso, pois pode o árbitro ser aprovado e nem sequer vir a atuar pela entidade.

    Outro fator importante é a falta de leis que regulamentem a profissão de arbitro de futebol aqui no Brasil. Todas as demais áreas do futebol estão profissionalizadas, desde o jogador, passando por comissão técnica chegando até o gandula, este muitas vezes funcionário do clube, entretanto a carreira de árbitro ainda não tem sua regulamentação.

    Em uma partida de futebol o arbitro é o único participante que se comete um erro é crucificado e na maioria das vezes tido como o principal responsável pelo insucesso de uma equipe. Não importa se o jogador deixou de marcar um gol ou se o goleiro não defendeu um chute que parecia ser fácil, a culpa sempre recai na equipe de arbitragem pelos equívocos que possam ter vindo a cometer.

    A proposta desta pesquisa, portanto, objetiva identificar por que estes profissionais decidiram ingressar na carreira de arbitro, como foram suas primeiras experiências, quais são as perspectivas em relação à carreira e como visualizam a profissionalização da categoria.

2.     Revisão de literatura

2.1.     O futebol e sua arbitragem

    Já faz um bom tempo que a modalidade esportiva futebol deixou de ser um simples esporte e passou a ser um grande negócio. Milhões de pessoas estão envolvidas direta e indiretamente quando uma partida de futebol começa, movendo com interesses não só de pessoas como também de empresas que investem muito dinheiro neste desporto, tornando o futebol o esporte mais popular do mundo.

    Atualmente segundo dados da FIFA[1] são 208 países ou territórios associados, número este que faz com que a instituição seja a segunda maior em quantidade de associados, superando instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Comitê Olímpico Internacional (COI), que possuem, respectivamente, 193 e 205 membros cada.

    O interesse pelo futebol é tanto que a ultima Copa do Mundo realizada em 2010 na África do Sul foi assistida por mais de 3,2 bilhões de pessoas[2], compreendendo 46,4% da população mundial.

    Em meio a tudo isso existe a figura do árbitro, que teve a sua função instituída no futebol no século XIX, mais precisamente no ano de 1868, (CBD, 1978). Antes da criação do árbitro o futebol era norteado pelo senso comum dos jogadores, o que tornava o jogo quase uma brincadeira. Existia humildade entre os jogadores e caso alguém solicitasse uma falta, todos paravam, gritando e pedindo para que o jogo fosse paralisado. Mesmo havendo o descontentamento de alguns, o que prevalecia no jogo era o senso comum.

    Como o senso comum já não era garantia para o cumprimento das regras, antes ainda do surgimento do árbitro, a função de tentar fazer com que as regras fossem cumpridas era de uma comissão, que se encontrava em um palanque, segundo Saldanha (1971). Essa comissão só intervinha no jogo quando houvesse reclamação de uma das equipes.

    Tempos depois houve o surgimento dos primeiros árbitros de futebol, que ainda atuavam fora do campo de jogo e intervinham na partida somente quando uma das equipes reclamava. Para parar o jogo o árbitro gritava, já que o apito só começou a ser utilizado a partir de 1878 (DUARTE, 1997). Assim como as regras que dizem respeito ao jogo, as que dizem respeito à arbitragem foram sofrendo diversas modificações com o passar do tempo, possibilitando ao arbitro cada vez mais poderes, tendo em vista que o futebol deixou de ser tratado como uma simples brincadeira inocente e passou a ser visto sim como competição, com o envolvimento de associações, clubes e países.

    Hoje em dia o árbitro é tão importante para o futebol que, sem a presença dele não é permitida a realização de uma partida oficial (International Football Association Board, 1999). Na realidade, conforme as regras atuais, para que uma partida seja conduzida com eficiência, deverão estar presentes no campo de jogo, no mínimo, três árbitros, isso porque um atuará como árbitro principal, aquele que apita a partida, e os outros dois atuarão como árbitros assistentes, podendo ainda existir um quarto árbitro denominado árbitro reserva. Ainda, em fase de testes, podendo ser inserida na regra há a possibilidade de haver mais dois árbitros auxiliares de gol, estes posicionados fora do campo de jogo bem próximos ao gol, com a função de ajudar o árbitro nas suas decisões.

    Por sua vez as dificuldades da função de árbitro transcendem as quatro linhas do campo de jogo. Além disso, “o árbitro deve, praticamente, em um mesmo instante observar, constatar, interpretar, julgar e punir ou absolver um atleta, o que não é fácil e não é qualquer pessoa que consegue” (SILVA, RODRIGUEZ-AÑEZ e FRÓMETA, 2002).

    Para Barros (1990) a situação de conduzir uma partida no Brasil não é fácil haja vista que são muitos os fatores que contribuem para tal. Vale salientar que a falta de conhecimento das regras por atletas, técnicos e treinadores, a conduta desonesta de alguns dirigentes falta de estrutura de vários campos de futebol, a falta de segurança e o próprio despreparo de alguns árbitros são problemas que interferem na arbitragem.

    Além disso, o avanço da tecnologia nas mídias televisivas acaba por confrontar com a capacidade humana do árbitro, uma vez que o mesmo não dispõe deste recurso em tempo real para auxiliar nas suas decisões, as quais devem ser tomadas em frações de segundos. Hoje em dia, não são raras as partidas em que as situações do jogo são assistidas por mais de 20 ângulos diferentes, fazendo com que as decisões da equipe de arbitragem tenham uma interpretação desigual.

2.2.     A profissionalização da arbitragem

    A profissionalização da arbitragem é um tema polêmico que está inserido no meio futebolístico nacional. Como já exposto anteriormente são inúmeras as exigências para se tornar árbitro, além de uma grande dedicação e disposição de tempo para uma atividade que na maioria das vezes não é a sua única ocupação profissional.

    Desde 2002 há um projeto de profissionalização da arbitragem brasileira proposto pelo Senado Federal (Projeto de Lei 6.405 de 2002). Em 2005 foi proposta uma emenda (Projeto de Lei 6.212 de 2005) que foi vetada pela Câmara Federal em 2008. Foram apensos, no ano de 2009, uma nova emenda (Projeto de Lei 6.467 de 2009), de autoria do deputado Edinho Bez (SC), que restringia a atividade de árbitro aos profissionais de Educação Física, e no ano de 2012 o PL 3715/2012, do Deputado André Figueiredo (CE), que acrescentava tipos penais (crimes) que podem ser cometidos pelos profissionais da arbitragem (que também já tinham previsão no Estatuto do Torcedor).

    Em 16 de maio deste ano, com atuação dos deputados André Figueiredo (CE) e Romero Rodrigues (PB), foi aprovada, pelo Plenário da Câmara dos Deputados, Emenda Substitutiva Global, sendo que os PLs apensos restaram prejudicados e foram arquivados. Com nova redação o PL 6405 (Anexo III), está voltando ao Senado Federal, para nova votação, uma vez que houve alterações na Câmara dos Deputados.

    Por se tratar de um país muito extenso territorialmente, enfrentamos também a dificuldade de padronização nas idéias e objetivos da categoria. Existe uma enorme disparidade em relação às lutas e interesses dentro de cada sindicato. Enquanto alguns lutam por receber taxas atrasadas, outros lutam por taxas maiores e profissionalização da categoria. Então o que se pode observar é uma divergência de interesses e objetivos para que se chegue a uma uniformização nacional da classe.

    Outro ponto importante a ser discutido é a remuneração dos árbitros. Em se tratando do futebol, um esporte que movimenta milhões, a idéia que poderíamos ter é que todos os árbitros são muito bem remunerados, mas essa não é a realidade atual da arbitragem brasileira. Conforme Boschilia et al., 2008 "a categoria dos árbitros não possui nenhuma regulamentação profissional, não dispondo dos direitos trabalhistas previstos", o que vem a contribuir com o precário reconhecimento.

    Em resumo, as dificuldades encontradas pela arbitragem brasileira são consequências da falta de regulamentação da profissão, o que acarreta na ausência de direitos trabalhistas já conquistados pela maioria das outras profissões e ainda por uma fraca organização da categoria, impedindo que o árbitro faça dessa a sua única ocupação profissional.

3.     Metodologia

    É um estudo do tipo qualitativo, caracterizado por uma pesquisa descritiva exploratória (GAYA, 2008). A entrevista foi semi-estruturada com 4 tópicos de assuntos para serem desenvolvidos pelos entrevistados.

Roteiro da entrevista (semi-estruturada)

    A carreira de árbitro no Futebol: perspectivas atuais e a profissionalização

  1. Como foi a tua primeira experiência como árbitro?

  2. O que te motivou a ser árbitro?

  3. Fale sobre as perspectivas atuais: pontos positivos e negativos

  4. Fale sobre a profissionalização da arbitragem: é importante? O que vai melhorar? Quais os motivos desta não profissionalização?

    As entrevistas foram feitas individualmente e gravadas num aparelho de mídia digital e posteriormente transmitidas ao computador. Num segundo momento foi feita a transcrição de cada depoimento, filtrando-se as respostas para posterior análise. Foram entrevistados 05 (cinco) árbitros pertencentes ao quadro da Federação Gaúcha de Futebol, inscritos na subsede Pelotas que ingressaram na carreira no ano de 2010. Para preservar a identidade dos árbitros, seus nomes foram substituídos por Árbitro 1, 2, 3, 4 e 5.

    Para participarem do estudo os árbitros assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

4.     Apresentação e análise dos resultados

    Os aspectos abordados na entrevista feita com 05 (cinco) árbitros integrantes do quadro da Federação Gaúcha de Futebol – Subsede Pelotas que ingressaram no ano de 2010 foram os seguintes: como foi a tua primeira experiência como árbitro; o que te motivou a ser árbitro; fale sobre as perspectivas atuais: pontos positivos e negativos; fale sobre a profissionalização da arbitragem: é importante? O que vai melhorar? Quais os motivos desta não profissionalização.

    Sobre como foi a primeira experiência como árbitro, as respostas obtidas foram bem parecidas. Em geral na opinião dos árbitros suas primeiras experiências foram tranqüilas, dentro das expectativas esperadas por eles, como pode se notar abaixo:

    “A minha primeira experiência como arbitro foi muito boa, acima de tudo, o meu sentimento na hora era meio confuso era, meio de nervosismo de estar sendo exigido, uma responsabilidade maior.” (Árbitro 5)

    Minha primeira experiência como árbitro foi tranqüila, em 2009, na ACE, no campo do... não me recordo o nome do campo, colônia de Canguçu, foi tranqüilo eu esperava bem mais pressão, bem mais gritos, bem mais loucura na minha volta, mas foi jogo tranquilo.(Árbitro 3)

    Um fato bastante frisado por alguns árbitros foi que tiveram jogos a principio fáceis de serem apitados. O responsável pelas escalas dos campeonatos onde fizeram suas estréias soube escolher um jogo onde o árbitro não pudesse ter maiores problemas, como citaram os árbitros abaixo:

    “Minha primeira experiência foi tranquila, mesmo sendo uma situação muito fora de rotina, uma situação atípica, eu considero que foi tranqüilo, acredito que muito pelo jogo que fui escalado.” (Árbitro 1)

    A minha primeira experiência como árbitro de futebol foi boa, acho que pelo fato de já apitar outras modalidades, aquilo não era uma novidade pra mim, mesmo sendo uma coisa bem diferente. Outra coisa que acredito que influenciou e muito, foi o jogo que me escalaram, o jogo foi 10 x 0... (Árbitro 4)

    Com relação ao o que os motivou a serem árbitros, obtivemos que os motivos mais relevantes para início da carreira na arbitragem estavam ligados a questões do gosto pelo futebol, experiências de familiares, amigos e professores, e a questões financeiras como podemos ver abaixo:

    “O que me motivou a ser, foi o meu primo ser árbitro e eu gostar muito do âmbito do futebol. Também por eu não ter conseguido ser jogador, acabei um jogador frustrado, mas me tornei um arbitro apaixonado.” (Árbitro 1)

    Bom, o que me motivou a ser arbitro foi uma experiência anterior que a minha mãe teve, ela trabalhava como árbitro, como arbitro assistente de futebol profissional e pelo incentivo dela, pela oportunidade que veio a ocorrer, eu decidi, também por gostar muito de futebol. (Árbitro 2)

    “O que me motivou a ser árbitro, primeiro foi o dinheiro, a função do meio de futebol também, sempre gostei de futebol.” (Árbitro 5)

    Antes de pensar em fazer o curso de árbitros da FGF eu já tinha tido experiências de arbitragem em outras modalidades, ai conversando com alguns amigos que já apitavam pela FGF e com um professor meu que também era árbitro decidi fazer o curso. Também pensei na parte financeira, como já ganhava uma grana apitando outros esportes, que pagam bem menos que o campo, pensei que poderia me ajudar financeiramente. (Árbitro 4)

    Quando questionados sobre quais as perspectivas atuais da carreira, nos pontos positivos os árbitros foram unânimes ao dizer que, como todo profissional, almejam ter um crescimento na carreira, vindo a tornar-se um árbitro conhecido e atuar em grandes jogos, como podemos ver:

    Cara, todo mundo que vira árbitro sonha em crescer na arbitragem, agente começa apitando jogos de categoria de base, ai depois começa a trabalhar no profissional, segunda divisão e copinha, mas agente quer sempre crescer mais, apitar jogos da primeira divisão e pensando mais longe ainda chegar na CBF e na FIFA... (Árbitro 4)

    “... as minhas perspectivas é crescer, obvio que é crescer ter a chance como todo mundo quer e está lutando, que é a chance de ser visto e avaliado. Crescer e ter a oportunidade se possível subir e exercer um bom trabalho...” (Árbitro 3)

    Quando eu comecei a entrar em campo, eu comecei a gostar de participar, de estar por dentro daquela atmosfera do futebol e a minha motivação é ser um arbitro de ponta, um arbitro de primeira divisão e atuar bem sempre, aparecer, pois é uma coisa que eu me identifiquei e gostei muito [...] (Árbitro 2)

    [...] depois que tu entra pro meio do futebol, tu começa a analisar vários jogos e ver sempre em foco uma estância maior do futebol como campeonato brasileiro, jogos das divisões principais das federações, e com certeza o sonho de todo arbitro de futebol e conseguir ter ascensão a nível nacional ou ate internacional. (Árbitro 1)

    Também foi citado pelos árbitros que dentro das perspectivas existem pontos negativos, como a falta de oportunidades e visibilidade dos árbitros do interior do estado, como podemos ver abaixo:

    Os pontos negativos são que agente tem muito pouca gente olhando por nós, não tem ninguém, ainda mais no interior que é onde agente trabalha [...] o maior querer depois que agente entra na arbitragem é apitar um jogo profissional e depois que isso acontece para haver uma maior ascensão e muito difícil, não tem que olhe por nós. (Árbitro 1)

    “... como fato negativo disso é a falta de visibilidade e oportunidade perante a comissão que nós do interior temos. Pelo fato da gente ser do interior a comissão não dá a mínima para nós...” (Árbitro 4)

    “... o ponto negativo é a falta de visibilidade do interior frente a Porto Alegre.” (Árbitro 3)

    Outro fator citado como negativo por um dos árbitros foi a forte pressão e estresse a que estes são submetidos durante uma partida de futebol, como cita o árbitro no trecho abaixo:

    Os pontos negativos da arbitragem que é realmente, querendo ou não eu acho que ela é uma função que carrega muito a pessoa, apesar de agente estar concentrado dentro de campo a responsabilidade e o estresse de estar dentro do gramado às vezes sobrecarrega um pouco a pessoa.. (Árbitro 2)

    Quando perguntado aos árbitros sobre como avistam a profissionalização, no que diz respeito à sua importância, e quais as melhorias diante de sua regulamentação, obtivemos as seguintes respostas:

    [...] é importantíssimo porque a arbitragem é muito cobrada, em qualquer tipo de esporte, mas no futebol essa cobrança e tremenda tem que ter uma perfeição tremenda, então no momento que tu profissionaliza o arbitro, tu tem uma carga horária para treinamento, para diretrizes de regras pra varias instruções... (Árbitro 1)

    Na minha opinião a profissionalização da arbitragem é muito importante. O que melhoraria em relação a profissionalização seria que o arbitro poderia se dedicar exclusivamente a arbitragem, olha que não estou nem falando em relação a aposentadoria e benefícios de previdência, porque isso todo profissional regularizado tem, mas digo em relação as condições de trabalho, hoje quase ninguém vive de arbitragem, ou se vive tem uma carreira muito curta. O árbitro teria tempo para se dedicar muito mais a sua profissão, estudar regras, treinar fisicamente, mas hoje não, o cara tem que estar no seu emprego, ter tempo para treinar, estudar e ainda apitar. (Árbitro 4)

    [...] importante claro que ela é né, hoje dentro do futebol todo mundo é profissional, menos o arbitro, sendo que as decisões capitais do jogo passam pela mão do arbitro, então num país onde tu tem jogadores profissionais, técnicos profissionais, o gandulas acho que é profissional também, é funcionário do clube, todo mundo é profissional e ai só o arbitro que não é profissional. E o que eu acho que vai melhorar se profissionalizar e que vão ter menos erros, vai acabar tendo menos erros de arbitragem, a arbitragem vai poder ter mais foco, podendo se dedicar mais a profissão, consequentemente os erros vão diminuir. (Árbitro 3)

    Eu creio que seja o ponto fundamental pra que aconteçam menos erros na arbitragem, a partir do momento que se profissionalizar a arbitragem o foco do arbitro muda, não vai ser simplesmente pra trabalhar e deu, a arbitragem não vai ser mais um bico, como é a maioria dos casos. (Árbitro 2)

    Ainda quando questionados do por que a profissionalização ainda não havia acontecido, os árbitros foram unânimes ao dizer que a falta de uma instituição para assumir a responsabilidade de para com os árbitros é o principal motivo para a não profissionalização da categoria, como podemos conferir abaixo:

    “... eu acho que não aconteceu ainda porque não tem uma entidade, uma instituição que vai conseguir bancar isso, quem vai assumir essa situação, essa bronca...” (Árbitro 1)

    [...] ela não aconteceu ainda, porque falta interesse político para que isso ocorra. Cara hoje o futebol não é só um jogo, tem muito lixo por trás de uma partida de futebol e deve existir uma pressão muito grande da CBF para que ela não ocorra. A CBF não quer assumir a responsabilidade de pagar os encargos com os árbitros e mete uma pressão política para que as leis não sejam aprovadas. Seria muito simples, mas tinha que haver interesse de algum grande pra isso. Um cara que chegasse e batesse no peito e assumisse a bronca [...] (Árbitro 5)

    “Não ocorreu a profissionalização porque não sabem quem vai pagar o árbitro, de quem vai sair a grana pro arbitro se tornar profissional, acho que é ai que pega...” (Árbitro 3)

    “... bom, a profissionalização não aconteceu porque não existe ainda uma instituição certa que vai bancar os árbitros, quem é que vai ser que vai segurar os árbitros de futebol, ainda não existe isso, quem vai ser a empregadora...” (Árbitro 2)

5.     Considerações finais

    Mesmo sabendo que a figura do árbitro dentro do futebol “não é vista com bons olhos”, a sua presença e fundamental para que ocorra uma partida.

    Após a análise das respostas dos entrevistados verificou-se que em todos os casos a primeira experiência em geral foi considerada tranqüila, e em algumas ocasiões a escolha de um jogo considerado fácil foi um dos fatores preponderantes. Com relação ao o que os motivou a serem árbitros, dentre as respostas mais relevantes para início da carreira na arbitragem estavam as questões do gosto pelo futebol, experiências de familiares, amigos e professores, e as questões financeiras.

    Verificou-se também que quando questionados sobre quais as perspectivas atuais da carreira, nos pontos positivos os árbitros foram unânimes ao dizer que, como todo profissional, almejam ter um crescimento na carreira, vindo a tornarem-se conhecido e atuarem em grandes jogos. Já nos pontos negativos, a falta de oportunidades e visibilidade dos árbitros do interior do estado foram os mais citados pelos árbitros.

    Sobre como avistam a profissionalização, sua importância e melhorias diante de sua regulamentação foram unânimes ao dizer que a profissionalização seria muito importante e que viria a ajudar no sentido de que o árbitro poderia se dedicar exclusivamente a profissão. Ainda quando questionados do por que a profissionalização não havia acontecido, todos afirmaram que a falta de uma instituição para assumir a responsabilidade para com os árbitros é o principal motivo para a não profissionalização da categoria.

    Considerando que a pesquisa foi realizada com parte do grupo de egressos no quadro de árbitros da FGF, não vemos uma possibilidade de conclusão genérica. Deixamos, portanto, em aberto a proposta para a ampliação da pesquisa, onde sejam consultados um maior número de árbitros no inicio de carreira.

Notas

  1. http://pt.fifa.com

  2. http://pt.fifa.com/worldcup/archive/southafrica2010/organisation/media/newsid=1473439/index.html

Referências

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  • DUARTE, O. Futebol: história e regras. São Paulo: Makron Books, 1997.

  • GAYA, ADROALDO C. Ciências do Movimento Humano: Introdução a Metodologia da Pesquisa. Porto Alegre: Artmed, 2008.

  • GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 1999.

  • GODOI, I. Futebol: paixão de um povo. Caxias do Sul: EDUCS, 1989.

  • International Football Association Board. Regras do jogo. Suiça, 1999.

  • LIMA, T. Fora o Árbitro. Lisboa: Sarl, 1982.

  • SANTOS, V. P. JAHNECKA, L. RIGO, L. C Árbitro de futebol: a construção de uma carreira. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/efd156/arbitro-de-futebol-uma-carreira.htm

  • SILVA, A. I. Da. Bases científicas e metodológicas para o treinamento do árbitro de futebol. Curitiba: Imprensa da UFPR, 2005.

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