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Percepção da imagem corporal: uma relação do 

estudante de Educação Física e o biotipo feminino

La percepción de la imagen corporal: una relación del estudiante de Educación Física y el biotipo femenino

 

*Graduando do Curso de Educação Física da Universidade Estadual do Ceará.

**Docente do curso de Educação Física da Universidade Estadual do Ceará

***Docente do curso de Educação Física da Universidade Regional do Cariri

(Brasil)

Cléo Vanessa Gomes de Queiroz*

Natália Maria dos Santos Lima*

MS. Sarah de Souza Escudeiro**

MS. André Accioly Nogueira Machado***

cleovgqueiroz@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A mídia influencia as pessoas a adotarem uma imagem corporal estigmatizada pela estética e pelo culto ao corpo. O objetivo do estudo realizado foi verificar a insatisfação da imagem corporal em acadêmicos do sexo feminino do curso de Educação Física de uma universidade pública do estado do Ceará. Para compor a amostra foram avaliadas 38 universitárias do sexo feminino, maiores de 20 anos, na região de Fortaleza, estado do Ceará, no ano de 2011. Para avaliar a percepção da imagem corporal utilizou a escala de nove silhuetas proposta por Stunkard et al. (1983). Para a avaliação da importância da imagem corporal para o estudante de Educação Física foi aplicado um questionário perguntando-se a importância da imagem corporal para esses futuros profissionais. Grande parcela das estudantes avaliadas apresenta alguma distorção de sua imagem corporal. A maioria das mulheres eutróficas ou com sobrepeso superestimam seu tamanho corporal. A insatisfação com a imagem corporal foi percebida, mostrando desejo por menores medidas em mais de 45% das entrevistadas. Verificou-se que a imagem corporal é considerada pelas mesmas como algo intimamente ligado à profissão, pois em mais de 90% das entrevistadas pontuaram alguma importância de ter uma boa imagem corporal para ser um bom profissional de Educação Física. A partir dos resultados encontrados podemos concluir que uma boa parcela da população estudada apresenta insatisfação com a imagem corporal, o que segundo as mesmas, é de grande importância para o sucesso profissional.

          Unitermos: Imagem corporal. Autoimagem. Composição corporal.

 

Abstract

          The media influence people to adopt a stigmatized for aesthetic body image and for the cult of the body. The aim of this study was to assess body image dissatisfaction in female scholars of the Physical Education course at a public university in the state of Ceara. For the sample were evaluated 38 female universities, older than 20 years in the region of Fortaleza, Ceará, in 2011. To evaluate the perception of body image was used the nine silhouettes scale proposed by Stunkard et al. (1983). To evaluate the importance of body image for Physical Education student they received a questionnaire asking the importance of body image for these future professionals. A large percentage of students evaluated show some distortion of body image. Most normal weight or overweight women overestimate their body size. Dissatisfaction with body image was seen showing desired lower measures in more than 45% of respondents. It was found that body image is considered by them as something closely connected to the profession, because in more than 90% of the questionnaires the respondents scored some importance to have a good image to be a good professional. We can conclude that a good portion of the population studied shows dissatisfaction with body image, which according to them, is of great importance to professional success.

          Keywords: Body image. Self-image. Body composition.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A imagem corporal segundo SCHILDER (1935) consiste na representação da forma, do tamanho e da aparência do nosso corpo produzida em nossa mente.1,2 Baseando-se nos estudo citado comprovou-se que a imagem corporal é um dos componente importantes para a formação da identidade pessoal.³

    Nesse contexto, os meios de comunicação em massa influenciam a população a adotar uma imagem corporal idealizada pela mídia.4 Se analisarmos uma determinada população, notaremos que existem dois gêneros no que diz respeito à imagem corporal: a idealizada pelo individuo e a sua imagem atual que corresponde à sua realidade. O padrão da imagem corporal idealizado pela população, que sofre influência da mídia não corresponde ao modelo considerado como saudável5, devido o fato de a mídia ter um amplo domínio no quesito de manipular “a Imagem”6. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em 2006 a maioria dos acadêmicos que ingressaram na universidade possuía idade entre 18 e 24 anos7, esses indivíduos correspondem a um grupo de risco de doenças relacionadas a transtornos alimentares (anorexia, bulimia, vigorexia, dentre outros) devido à insatisfação que prevalece no final da adolescência e inicio da fase adulta.8

    Uma boa aparência física tem sido considerada por muitos estudantes de Educação Física e de outros cursos da área de saúde, como um pré-requisito para destacar-se no mercado de trabalho.9 Assim, a busca por um “corpo perfeito” idealizado pelo estudante pode conduzir a um distanciamento entre a imagem corporal real e a idealizada deste indivíduo. E quanto maior for essa distância, poderão ser potencializados os sentimentos negativos e a baixa auto-estima, afetando significativamente a qualidade de vida e a saúde da população em questão10.

    Com base no que foi dito anteriormente o presente estudo teve por objetivo verificar a insatisfação da imagem corporal em acadêmicos do sexo feminino do curso de Educação Física de uma universidade pública do estado do Ceará.

2.     Metodologia

2.1.     Sujeitos da amostra

    A amostra foi composta por estudantes com idade mínima de 20 anos completos, do gênero feminino, regularmente matriculadas no curso de Educação Física do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Ceará, sendo a amostra igualmente dividida por entre os semestres, sendo escolhidas de forma aleatória.

    A coleta foi realizada na Universidade Estadual do Ceará – UECE, no Campus do Itaperi localizado na Avenida Paranjana, numero 1700, CEP 60.740-000. Especificamente, as coletas foram realizadas no Bloco O, todos referido ao Campus.

    Os sujeitos da pesquisa assinaram um termo de consentimento de participação da coleta de dados e utilização dos mesmos para a análise. Como forma de oferecer retorno aos participantes da pesquisa, após a coleta de dados, foi redigido e entregue um relatório com o IMC e GC%, com a interpretação e explicação dos resultados e a sua relação com fatores de risco para a saúde.

2.2. Verificação da imagem corporal

    Para a verificação da imagem corporal foi utilizada a escala de silhuetas proposta por Stunkard et al (1983)1 como mostra a figura 1.

Figura 1. Escala de silhuetas proposto por Stunkard et al. (1983)

    O conjunto de silhuetas foi mostrada aos indivíduos e realizadas as seguintes perguntas: Qual é a silhueta que melhor representa a sua aparência física atualmente? E posteriormente será perguntado: Qual é a silhueta que você gostaria de ter? Para verificar a insatisfação corporal, utilizamos a diferença entre a silhueta atual (SA) e silhueta ideal (SI), apontadas pelo indivíduo. O avaliador isentou-se de opinião na escolha do avaliado entre as silhuetas. Para a avaliação da satisfação corporal foi subtraído da SA a SI, podendo haver variação de menos oito até oito. Quando essa variação for igual a zero, o individuo foi classificado como satisfeito com a sua aparência e se diferente de zero foi classificado como insatisfeito. Diferenças positivas foram consideradas como uma insatisfação por excesso de peso e negativas uma insatisfação por magreza. Posteriormente foi questionado o grau de importância da imagem corporal para os profissionais de Educação Física com uma pergunta aberta.

2.3.     Medidas antropométricas

    Verificamos as medidas antropométricas através da coleta da massa corporal, estatura e dobras cutâneas. A aferição da massa corporal foi realizada utilizando-se a Balança da marca “G.TECH”. Na medida da estatura foi utilizada uma fita métrica da marca “SANNY” de dois metros afixada à parede. O IMC (Índice de massa corpórea) foi calculado dividindo-se a massa corporal (kg) pela estatura (m) ao quadrado – Kg/m². A classificação do Índice de Massa Corporal (IMC) foi realizada utilizando a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS – 2004)11 idealizado na Tabela 1.

Tabela 1. Classificação do IMC - recomendação da OMS (Adaptado de Organização Mundial da Saúde – 2004)

    O percentual de gordura (%GC) foi estimado tendo-se como referência o protocolo de McArdle, 1991.12 Cujos valores estão associados à idade e gênero como demonstrado na Tabela 2. O protocolo considera as medidas das dobras cutâneas tricipital e subescapular do sujeito. Para essas medidas utilizamos um adipômetro científico da marca SANNY.

Tabela 2. Classificação do percentual de gordura modificado de Jackson; Pollock, 1978; Jackson et al, 1980

3.     Resultados

    Foram estudadas 38 universitárias, com faixa etária variando entre 20 e 27 anos. Verificou-se, de acordo com o Gráfico 1, que 65,8% (n=25) da amostra se mostram insatisfeitas com seu biótipo. Ainda de acordo com o mesmo gráfico, podemos ver que 47,5% (n=18) do total de indivíduos entrevistados apresentaram o desejo de reduzir o tamanho da sua silhueta atual, enquanto que apenas 18,4% (n=7) indivíduos acreditavam que precisavam aumentar o tamanho da suas silhuetas.

Gráfico 1. Percentual de satisfação dos indivíduos estudados

    O gráfico 2 mostra uma média do Índice de Massa Corporal de 22,1±3,0 kg/m2, demonstrando que a maioria da população estudada encontra-se nos padrões ditos como saudáveis de acordo com a classificação da Organização Mundial de Saúde (2004). Constatou-se também que 76,3% da amostra apresentavam IMC normal, sendo classificadas assim como eutróficas. Entretanto, 13,5% da amostra demonstraram um IMC acima do dito como saudável e também foram detectados que 10,5% das estudantes apresentavam níveis de magreza leve ou moderada.

    Os níveis de gordura corporal também foram exibidos no gráfico 2 que mostra a média de 21,7±4,6 % de gordura corporal encontrada entre as participantes. A média encontrada nos mostra que este valor encontra-se dentro dos parâmetros de saúde.

Gráfico 2. O gráfico representa a media de peso, altura, IMC e percentual de gordura corporal

    O gráfico 3 mostra os valores percentuais da classificação pelo percentual de gordura corporal. Podemos verificar que 55,3% da amostra se encontram dentro das médias populacionais. Entretanto se observarmos que somente 7,9% da amostra se encontram abaixo dos padrões de saúde, o que pode não corroborar para o grande índice de insatisfação da imagem corporal. Nenhum integrante da amostra foi classificado como “alto percentual de gordura corporal”.

Gráfico 3. Percentuais da classificação acerca do percentual de gordura corporal

    No gráfico 4 abordamos a importância da Imagem corporal para a profissão de Educação Física, foi apontada pelas participantes em: marketing pessoal, saúde, motivação para os seus clientes, exemplo de corpo saudável, padrão de beleza imposto e que a imagem corporal não é importante para a profissão. Os três aspectos em ordem de importância mais citados pelas entrevistadas: exemplo de corpo saudável (40%), marketing pessoal (27%) seguido de saúde (19%).

Gráfico 4. Representação da importância para o Profissional de Educação Física

4.     Discussão

    A literatura aponta que mulheres, quando insatisfeitas com a sua imagem corporal, podem adotar um comportamento alimentar inadequado13. Esta distorção ou insatisfação com a imagem corporal pode constituir um fator de risco para o desenvolvimento de doenças relacionadas à alimentação e ao excesso de atividade física14.

    De acordo com Pontieri et al (2007)15, os estudantes do curso avaliado apresentam perfeccionismo em relação aos seus corpos porque, de certa forma, eles são um cartão de visita profissional onde no meio que se encontram, um corpo bonito é considerado como um pré-requisito para o sucesso e ingresso no mercado de trabalho, tendo em vista que a maioria ainda são acadêmicos e não trabalham.

    Com a pesquisa, pode-se comprovar a insatisfação corporal relacionada ao excesso de peso mesmo que as participantes estejam dentro dos padrões considerados como saudável, pois uma parcela significante das universitárias descreve seu tipo físico ideal associado aos baixos pesos e percentual de gordura corporal16.

    Tal fato é de importante relevância, pois a analise de IMC e %GC demonstrou que pequena parcela das universitárias encontra-se com esses índices elevados, não sendo necessária a sua modificação, pois a grande maioria encontra-se adequadamente nos padrões saudáveis. Tais resultados sugerem a influência da mídia e a cobrança por um padrão de beleza imposta pela mesma que nem sempre se encontra nos parâmetros ditos como saudáveis.

5.     Considerações finais

    O presente estudo demostra que uma parcela significativa das universitárias do curso de Educação Física do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Ceará encontram-se insatisfeitas com a sua imagem corporal e que desejariam modificá-la, apresentando assim um perfil de risco para o aparecimento de transtornos alimentares.

    Fica evidenciado que o corpo é considerado pelas mesmas como sendo importante para o sucesso e ingresso no mercado de trabalho profissional. Sendo assim, seria necessária uma possível intervenção com os futuros profissionais para a conscientização e melhoria de sua formação para que os mesmos estejam aptos a trabalhar em prol de uma melhoria da sua qualidade de vida e da sociedade.

    Finalmente o estudo demonstra pioneirismo no quesito da comparação do relacionamento da imagem corporal com o futuro profissional de Educação Física. Demonstrando que muitos dos participantes assumem que necessitam de uma boa aparência física para garantir sucesso no mercado de trabalho.

Referências

  1. STUNKARD AJ, SORENSON T, SCHLUSINGER F. Use of the Danish Adoption Register for the study of obesity and thinness. In: Kety SS, Rowland LP, Sidman RL, Matthysse SW, editors. The genetics of neurological and psychiatric disorders. New York: Raven, 1983;115-20.

  2. SCHILDER, P. F. The Image and the Appearance of the Human Body: Studies in Constructive Energies of the Psyche. London: Trench e Trubner, 1935.

  3. TAVARES, M.C.C. Imagem corporal: conceito e desenvolvimento. São Paulo: Manole, 2003.

  4. ANDRADE, A.; BOSI, M.L.M. Mídia e subjetividade: impacto no comportamento alimentar feminino. Revista de Nutrição, Campinas, v.16, n.1, p.117-25, 2003.

  5. PINHEIRO, A.P.; GIUGLIANO, E.R.J. Quem são as crianças que se sentem gordas apesar de terem peso adequado? Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v.82, n.3, p.232-5, 2006.

  6. RUSSO, R. Imagem corporal: construção através da cultura do belo. Movimento & Percepção, Espírito Santo de Pinhal, v.5, n.6, p.80-90, 2005.

  7. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Sinopses Estatísticas da Educação Superior - Graduação, 2006.

  8. PINHEIRO, A.P.; GIUGLIANO, E.R.J. Quem são as crianças que se sentem gordas apesar de terem peso adequado? Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v.82, n.3, p.232-5, 2006.

  9. MARCONDELLI, P.; COSTA, T.H.M.; SCHMITZ, B.A.S.: Nível de Atividade Física e hábitos alimentares de universitários do 3° ou 5° semestres da área da saúde. Rev. Nutr. vol.21 no.1 Campinas Jan./Feb. 2008.

  10. FIATES, G. M. R.; SALLES, R. K. Fatores de risco para o desenvolvimento de distúrbios alimentares: um estudo em universitárias. Revista de Nutrição, Campinas, v.14, p. 3-6, 2001

  11. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Sinopses Estatísticas da Educação Superior - Graduação, 2006.

  12. OMS, 2004. Adapted from WHO, 1995, WHO 2000 and WHO 2004

  13. KATCH, E.; KATCH, V.; McARDLE, W. Fisiologia do exercício. Energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Koogan, 1991

  14. SOUTO, S.; FERRO-BUCHER, JSN. Práticas indiscriminadas de dietas de emagrecimento e o desenvolvimento de transtornos alimentares. Rev Nutr. 2006; 19(6): 693-704

  15. SAIKALI, C.J.; SOUBHIA, C.S.; SCALFARO, B.M.; CORDÁS, T.A. Imagem corporal nos transtornos Alimentares. Rev Psiq Clin. 2004; 31(4): 164-6

  16. PONTIERI, F.M;LOPES,P.F;EÇA, V.B. Avaliação da presença de fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares em acadêmicos de um curso de Educação Física. Ensaios e Ciência, Vol. 2, Nº 2 (2007).

  17. MASSET, K.V.S.B.; SAFONS, M.P.S. Excesso de peso e insatisfação com a imagem corporal em mulheres. CEPS (Centro de Estudos e Pesquisas Sanny)

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