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Força explosiva de jogadores de futebol da categoria sub-15

La fuerza explosiva de jugadores de fútbol de la categoría sub-15

Explosive strength of sub-15 soccer players

 

*UNIABEU (RJ) – LABIMH (UNIRIO)

**Universidade do Porto

(Portugal)

MSc. Paulo Gil Salles*

MSc. Fabrício do Amaral Vasconcellos**

pgsalles@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi traçar o perfil da força explosiva de atletas de futebol sub-15, através do teste de impulsão com plataforma de saltos, e analisar o desempenho dos jogadores em relação à posição de jogo. Foram avaliados 49 jogadores dos clubes que disputaram o campeonato carioca de futebol, escolhidos aleatoriamente, que executaram dois testes, com três saltos em cada teste, numa plataforma de saltos modelo Jumptest®, marca Hidrofit (Brasil). Os jogadores foram separados em grupos, de acordo com a posição em que atuavam no jogo e foi utilizado o valor médio do melhor salto de cada teste para ser analisado através do teste Anova One Way para determinar se existiam diferenças significativas entre os saltos desses grupos. O teste Post Hoc de Tukey determinou onde estas diferenças se encontravam. Foram encontrados valores distintos de altura de saltos por posição: entre os goleiros 44,9 ± 4,2 cm, atacantes 36,1 ± 6,5 cm, zagueiros 32,8 ± 11,2 cm e meias 28,8 ± 9,2 cm. Porém, diferença significativa somente foi encontrada entre o grupo dos goleiros e dos meias (D%= 35,86%, p=0,036). Os resultados sugerem que o posicionamento tático em campo tem influência na força explosiva dos atletas de futebol sub-15.

          Unitermos: Futebol. Força muscular. Membros inferiores.

 

Abstract

          The purpose of this study was to outline a profile from the sub-15 athlete’s explosive strength, by the impulsion test with the jumping platform and to assess the players’ performance regarding the game’s position. Forty-nine players were assessed within clubs which play off the Carioca Championship of Soccer, randomly chosen, which performed two tests in a jump platform Jumptest® model, Hidrofit (Brazil). The players were divided into groups, according to the position they acted within the game and it was used a mean value of the best jump from each test to be analyzed through the Anova One Way test to determine if there were significant differences among the jumps from these groups. The Tukey Post Hoc test determined where these differences were found. There were found distinct values of jump heights by position: among goalkeepers 44,9 ± 4,2 cm, forwards 36,1 ± 6,5 cm, full backs 32,8 ± 11,2 cm and mid-fielders 28,8 ± 9,2 cm. However, it was only found a significant difference among the goalkeepers group and the mid-fielders group (D%= 35,86%, p=0,036). The results suggest that the tactic positioning within the field has an influence in the explosive strength of the sub-15 soccer players.

          Keywords: Soccer. Muscular strength. Lower limbs.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A força explosiva é um parâmetro que varia em função da relação entre a velocidade do movimento e a força desenvolvida pelo músculo considerado (STONE et al., 2003).

    Segundo Rebelo e Oliveira (2006), diversas ações do jogo de futebol exigem bastante força explosiva, como nos tiros de curta duração, além dos momentos de aceleração e desaceleração de forma brusca, quando são requeridos elevados níveis desta valência física para modificar a inércia da massa corporal do jogador.

    Para o jogador de futebol, a força explosiva de membros inferiores bastante desenvolvida lhe confere grandes vantagens, desde o fato de saltar mais alto que seu oponente até executar deslocamentos com grande aceleração, parar e recomeçar a corrida rapidamente e executar mudanças de direção instantâneas. Além disso, a força explosiva é importante nos movimentos específicos do desporto, como os sprints, saltos, chutes e cabeceios (MALLIOU et al., 2003).

    A força explosiva dos membros inferiores é associada significativamente aos saltos verticais e ao desempenho nos tiros em velocidade (GISSIS et al. 2006 e WISLOF et al. 2004).

    Hoff (2005), Rebelo e Oliveira (2006) sustentam que, no decorrer do jogo, um sprint de dois a quatro segundos de duração é executado pelo atleta de futebol a cada 90 segundos, o que representa até 11% do total percorrido por ele numa partida, e constituiu de 0,5 a 3% do tempo efetivo de bola em jogo.

    Durante as décadas de 1960 e 1970, pesquisas sobre o salto vertical foram realizadas, com o enfoque em analisar a expressão da força, o que permitiu que estudiosos como Cavagna, Saiberne e Margaria (1965); Cavagna, Dusman e Margaria (1968); Cavagna (1970); Melvill e Watt (1971); Asmussem e Bonde-Petersen (1974); Asmussen (1974); e Ford, Huxvey e Simmons (1976) estabelecessem estimativa da força explosiva.

    No fim da década de 1970 o desenvolvimento de estudos com a plataforma de contato “Ergojump” caracterizou-se como um marco histórico que impulsionou a mensuração da força explosiva a partir do movimento do salto vertical (KOMI e BOSCO, 1978).

    Em estudo promovido por Arnason et al (2004), foi relatado que o salto vertical, quando expresso em média da equipe, estava relacionado ao ranqueamento das equipes da primeira divisão de futebol da Islândia.

    Sendo assim, o objetivo deste estudo foi traçar perfil da força explosiva de atletas de futebol sub-15 do gênero masculino através do teste de impulsão com plataforma de saltos, e analisar o desempenho dos atletas em relação à posição em que atuavam, uma vez que este tipo de estudo não é encontrado na literatura científica.

Procedimentos metodológicos

    O estudo utilizou como voluntários, 49 jogadores de futebol dos diversos clubes do Rio de Janeiro da categoria sub-15, selecionados aleatoriamente entre os aproximadamente 500 atletas que compõem o universo de atletas desta categoria.

    Para inclusão no experimento os voluntários deveriam apresentar as seguintes características: a) ser filiado à Federação de Futebol do Rio de janeiro há pelo menos 1 ano, b) estar participando do campeonato carioca de futebol na categoria sub-15, c) não apresentar nenhum problema que viesse a influenciar na obtenção e interpretação dos dados. Após verificação de todas as dúvidas sobre o protocolo experimental, os responsáveis pelos atletas assinaram um termo de consentimento, de acordo com as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética institucional da Universidade Castelo Branco.

    Inicialmente, foi feita uma anamnese para verificação da posição em que o atleta atuava (goleiro, zagueiro, meia ou atacante). Paralelamente a este procedimento, foi realizada a avaliação das medidas cineantropométricas básicas, como a estatura e a massa corporal, de forma a verificar a homogeneidade da amostra.

    Para estimativa das alturas de salto foi utilizada uma plataforma de salto modelo Jumptest®, da marca Hidrofit (Brasil), validada conforme estudo de Ferreira, Carvalho e Szmuchrowski (2008). O sistema desta plataforma determinou a altura do salto através do tempo de vôo do atleta, utilizando a equação: altura = 1/8 gt2, onde g é a aceleração da gravidade (9,81m/s2); e t é o tempo de permanência no ar (s). Emissores e receptores fotoelétricos, distribuídos no interior da plataforma de salto, computaram o tempo de permanência no ar a partir do momento em que o jogador perdeu o contato com o solo e os feixes de luz alcançaram os receptores.

    De acordo com o protocolo descrito por Silva, Magalhães e Garcia (2005) o saltador se posicionou com os dois pés sobre a plataforma correspondente ao teste e em seguida saltou verticalmente, com livre movimentação dos membros superiores e liberdade total na flexão dos membros inferiores.

    Foram executados dois testes de impulsão, compostos de três saltos em cada teste. Foi observado um intervalo mínimo de 45 segundos entre os saltos e de 48 horas entre os testes. O resultado analisado surgiu da média aritmética entre o maior salto do primeiro e do segundo teste.

    Os jogadores foram separados em grupos de acordo com a posição em que atuavam no campo de jogo. Foi utilizado o teste Anova One Way para determinar se existiam diferenças significativas entre os saltos dos grupos e o teste Post Hoc de Tukey que determinou onde estas diferenças se encontravam. A fim de verificar a normalidade dos dados, foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirvov. O software estatístico SPSS 11 foi utilizado para estas análises.

Resultados

    A análise descritiva dos dados antropométricos dos 45 avaliados divididos por posição pode ser encontrada na tabela 1.

Tabela 1. Análise descritiva dos dados antropométricos divididos por posição

    A tabela 2 mostra a análise descritiva dos dados referente aos saltos dos voluntários na plataforma, divididos por posição de jogo.

Tabela 2. Análise descritiva da média dos saltos na plataforma

    Pode-se observar que no teste de Kolmogorov-Smirnov, tanto na tabela 1 quanto na tabela 2, os valores apresentados representam a normalidade da amostra.

    Analisados por meio do teste Anova One Way, os dados apresentaram diferença significativa entre os grupos (p=0,028).

    Para determinar entre quais grupos estava a diferença apontada no teste anterior, foi feito o teste Post Hoc de Tukey, que indicou diferença significativa somente entre o grupo dos goleiros e os jogadores na posição de meias (p=0,036), como mostra a tabela 3.

Tabela 3. Resultado do teste de Tukey (p-valor)

Discussão

    Existem evidências das diferentes demandas fisiológicas entre os jogadores das diversas posições, sendo que os meio-campistas têm um VO2máx mais elevado que os atacantes e que os zagueiros (WISLOF, HELGERUD e HOFF, 1998; SANTOS, 1999; REILLY, BANGSBO e FRANKS, 2000; SANTOS e SOARES, 2001; HOFF e HELGERUD, 2004; DRUST, ATKINSON e REILLY, 2007).

    Alguns autores concluíram que o treinamento aeróbico inibe, ou pelo menos interfere, no desenvolvimento da força, e em particular da força explosiva (HENNESSY e WATSON, 1994; LEVERITT e ABERNETHY, 1999), enquanto Bailey, Khodiguian e Farrar (1996) encontraram que o treinamento de força pode afetar as respostas esperadas ao treinamento aeróbico, sugerindo que estes treinamentos podem ser concorrentes.

    Por este motivo, e considerando que os meias possuem resistência aeróbica mais desenvolvida que os zagueiros e atacantes, é esperado que os meias apresentem menor força explosiva, como foi encontrado no presente estudo.

    Embora a única diferença significativa encontrada neste estudo esteja entre o grupo de goleiros e o grupo dos meias, para Goulart, Dias e Altimari (2007) existem diferenças na força dos músculos extensores do joelho entre os atletas das diferentes posições de jogo, sugerindo que o posicionamento tático tem influência na força pura e especialmente na força explosiva dos membros inferiores destes jogadores.

Conclusão

    Observando os resultados deste estudo, podemos concluir que os atletas das posições que necessitam de maior capacidade aeróbica, como é o caso dos meias, apresentam menor força explosiva nos membros inferiores quando comparados com os atletas de posições em que a capacidade aeróbica não precisa ser tão desenvolvida, como no caso dos goleiros e dos zagueiros.

    Além disso, os resultados sugerem que o posicionamento tático em campo tem influência na força explosiva dos atletas de futebol sub-15.

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