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Exercícios básicos de natação, salvamento e socorrismo 

aquático para programas em piscina de grande profundidade

Ejercicios básicos de natación, salvataje y socorrismo acuático para programas en piscina profunda

 

Licenciado em Educação Física, pelo INEF/ISEF – UTL, Lisboa

Professor de Educação Física e professor e de treinador de Natação

(Portugal)

Emanuel Alte Rodrigues

emaro@sapo.pt

 

 

 

 

Resumo

          O ensino da natação deve ter como primeiro objetivo a prevenção do afogamento. O facto de saber nadar as quatro técnicas de natação pura, não põe só por si o nadador a salvo numa situação inédita de perigo no meio aquático. Atualmente, é já possível começar a desenvolver programas que tornem o ser humano autónomo no meio aquático a partir dos 6 meses de idade. Todos os professores e treinadores de natação deveriam inserir nos seus programas exercícios visando as técnicas introdutórias à Natação Salvamento e ao Socorrismo Aquático. Como exemplo, o autor propõe uma bateria de 13 exercícios, a introduzir e a gerir pelos técnicos de natação desde as primeiras fases da aprendizagem, nomeadamente a partir dos 5 anos de idade.

          Unitermos: Natação. Salvamento. Socorrismo aquático.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Segundo a Unicef (2001), “o afogamento é responsável por meio milhão de mortes por ano, em todo o mundo, continuando a ser a segunda causa de morte acidental nas crianças” … e, segundo a OMS (2008), “todos os anos na Europa morrem 5.000 crianças e jovens até aos 19 anos vítimas de afogamento”.

    Defendo a introdução de uma bateria de exercícios relacionados com as “técnicas introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático” nos programas de natação, desde as primeiras fases da aprendizagem. Estes exercícios deverão ser introduzidos e geridos pelo professor/treinador, ao longo do processo ensino-aprendizagem, em progressão de dificuldade e complexidade crescentes, nos vários níveis de formação do nadador, desde a iniciação à competição ou na natação de manutenção, quer para crianças e jovens quer para adultos e veteranos.

    Mais, defendo que o professor de natação poderá (e deverá) introduzir nos seus programas de aprendizagem, “técnicas introdutórias” de outras modalidades aquáticas, tais como: saltos para a água, pólo aquático, natação com barbatanas/mergulho livre, natação sincronizada. Modalidades a que os nadadores(as) desmotivados(as) pela monotonia da natação pura, poderão recorrer mais tarde, sem terem que abandonar a prática do desporto e o seu ambiente preferido, o meio aquático.

    Claro que é possível introduzir tais gestos técnicos sem alterar ou desvirtuar os princípios técnico-pedagógicos da natação pura.

    No meu entendimento, a natação é algo que deve permitir, em primeiro lugar, que o indivíduo não se afogue, e, em segundo lugar, não deve ser constituída pela aprendizagem, aperfeiçoamento e “alto-rendimento”, unicamente de uma só modalidade.

    Mais importante é pensarmos que a variedade e riqueza de movimentos e coordenação introduzidos por estas técnicas introdutórias, irão possibilitar aos alunos, além de uma maior segurança na água, a aquisição de um maior e mais rico controlo gestual e, por isso, uma mais ampla disponibilidade motora, contribuindo para uma mais rápida preparação como nadadores. E, deste modo, integrar eficazmente as capacidades físicas e psicológicas do indivíduo que contribuem para o domínio completo do meio aquático: habilidades, técnicas, agilidade e “endurance”; autoconfiança e autocontrolo; gosto pela prática das atividades aquáticas.

    Nesta perspetiva, esta proposta de trabalho encerra também uma mensagem no sentido de nos consciencializarmos da importância de todas as áreas da natação desde as primeiras fases da aprendizagem.

    Do ponto de vista técnico-pedagógico, esta variedade de situações irá contribuir, certamente, para melhorar e enriquecer o desempenho e motivação dos praticantes.

    Do ponto de vista socioprofissional, poderá contribuir, penso, para a construção de mais piscinas (desenvolvimento de mais desportos aquáticos = necessidade de mais piscinas) e mais emprego para os jovens técnicos ligados às atividades aquáticas.

Programa educativo visando a competência “salvar–se e socorrer”

    O ensino da natação deve ter como primeiro objetivo a prevenção do afogamento do ser humano (bébé, criança, jovem, adulto).

    Por exemplo, nos programas aquáticos para bebés (dos 6 meses aos 3 anos de idade) é possível, com muita psicologia, a partir da imersão, provocar reações de adaptação, visando progressivamente a capacidade de flutuar, de se virar (da posição ventral para a dorsal), de se deslocar e o controlo da respiração – “Infant Swimming Resource”.

    O facto de se saber nadar 25 ou 50 metros em cról ou bruços ou mesmo os 100 metros estilos, fazer o salto de partida e a viragem cambalhota, não põe só por si o nadador a salvo numa situação inédita de perigo no meio aquático, seja qual for a sua idade.

    É necessário que o nadador controle o seu comportamento dentro da água, saiba imergir, saiba controlar a respiração, saiba nadar debaixo de água com os olhos abertos e sem óculos ou máscara, saiba mergulhar a, pelo menos, 2 metros de profundidade, saiba saltar de pé de mais de 1 metro de altura … de preferência em água fria. Isto é, é necessário e fundamental que adquira e desenvolva competências de Natação Salvamento e não só de Natação Pura.

    “Saber nadar constitui o melhor e o mais eficaz meio de combater os acidentes na água”, se saber nadar consistir em dominar o comportamento na água: saber respirar, saber imergir e nadar submerso, saber deslocar-se, quer à superfície quer a dois metros de profundidade …

    “A qualificação de bom nadador só deve ser atribuída aos indivíduos adaptados à água fria, capazes de nadar debaixo de água com os olhos abertos, sem que a eficácia dos seus movimentos seja afetada por correntes, vagas ou choques emotivos (pânico) (Dr. Lartigue). O “bom nadador” é um desportista “bilingue” – que domina com a mesma facilidade e prontidão quer a “linguagem corporal terrestre” quer a “linguagem corporal aquática”, bastante diferentes uma da outra.

    O objectivo utilitário integrado desde cedo nos programas do ensino da natação, há muito que apresenta uma vasta e importante aceitação por parte de muitas instituições e autores conceituados na área da natação a nível internacional, nomeadamente em França, Suíça, Canada, Bélgica, Austrália, EUA … Os conteúdos utilitários são integrados nos programas de natação desde as primeiras fases de aprendizagem, de forma progressiva e adaptada ao longo do processo ensino-aprendizagem, durante as várias etapas da formação do nadador.

    Todos são unânimes em incluir nos programas de natação elementos específicos da natação salvamento e socorrismo aquático, tais como:

  • Técnicas utilitárias de nado: “costas elementar”; “side stroke”; “lifesaving stroke”; … para além das quatro técnicas desportivas convencionais;

  • Saltar de pé para a água, de 2 e mais metros de altura;

  • Técnicas e habilidades visando a autoconfiança e a autossegurança na água;

  • Técnicas de socorrismo para os não nadadores;

  • Desenvolvimento da “natação endurance”, utilizando não só as técnicas desportivas convencionais, mas também as técnicas propulsivas utilitárias;

  • Técnicas de reboque – objetos, manequim, parceiro(a);

  • Nadar vestido; despir-se dentro de água;

  • Natação subaquática – ir buscar um objeto/manequim a dois ou mais metros de profundidade;

  • Noções teóricas e práticas de primeiros socorros, nomeadamente a observação e instalação da vítima, posição de segurança, ressuscitação cardiorrespiratória;

  • Etc.

    As situações de aprendizagem devem ter uma lógica, indo ao encontro dos comportamentos procurados – devem ser adaptadas às competências que se pretendem desenvolver, enquadrando-se no tema da aula: explicitando os objetivos, a sua organização, os conselhos ou instruções a dar aos alunos (sejam de ordem didática/técnica, sejam referentes à segurança), os critérios de êxito, as “remediações” previstas em função dos comportamentos e das dificuldades dos alunos, …

    Exemplos de exercícios básicos de natação-salvamento e socorrismo aquático, a partir dos 5 anos de idade

Objetivos gerais

  • Saber utilizar o material auxiliar de salvamento mais comum – toalhas, varas, pranchas, “macarrões”, bolas, garrafas de plástico com rolha, etc.;

  • Procurar arranjar estratégias de autocontrolo em situações de perigo, tanto pessoal como de outras pessoas;

  • Ter consciência do espaço subaquático, agindo com os olhos abertos e sem óculos de natação, controlando a apneia e realizando a “manobra de Valsalva” aplicada ao mergulho;

  • Experienciar situações de salvamento de uma pessoa em grupo – “correntes humanas” com e sem material de salvamento;

  • Aprender técnicas específicas da natação salvamento: mergulho à pato, natação subaquática, flutuação dorsal, flutuação vertical, flutuação em posição fetal, pernas bruços em equilíbrio dorsal, salto de pé sem submergir a cabeça, técnica costas com braços simultâneos, …

    Dos 5 aos 13-14 anos os alunos ainda não estão preparados para salvar individualmente pessoas sem material de salvamento auxiliar, devendo aprender a evitar a todo o custo o contacto pessoal com a “vítima”.

    Nos escalões de competição mais velhos, a partir dos 15-16 anos e com os adultos, poder-se-ão utilizar alguns exercícios e técnicas mais avançadas, nomeadamente alguns dos programas de “nadadores-salvadores”.

    Os exercícios que se seguem nem sempre são acompanhados de imagens e nem sempre estas retratam na íntegra o enunciado do exercício (no entanto, referem-se a situações idênticas).

    Todos os exercícios devem ser realizados em piscinas de “grande profundidade” – igual ou superior a 2 metros – e sem os óculos de natação (salvo no caso em que o nadador evidencie problemas fisiológicos derivados do contacto direto dos olhos com a água da piscina).

    Sempre que possível, estes exercícios devem ser também experienciados em “piscinas de ar livre” (de água fria e grande profundidade).

    O técnico de natação tem toda a liberdade em gerir a sequência dos exercícios e em criar ou aplicar outros da sua autoria ou de outros autores.

Conclusão

    A natação não pode ser constituída apenas pela aprendizagem, aperfeiçoamento técnico e “alto rendimento” de uma só disciplina ou modalidade – a natação pura.

    A natação como Desporto, insere-se claramente num âmbito definido, não só de adaptação motora e aperfeiçoamento das técnicas de nado convencionais, mas igualmente num âmbito de construção metodológica que possibilite ao indivíduo a prática de várias catividades.

    Permitir que um indivíduo aprenda a nadar é permitir que se multipliquem os salvamentos e diminuam os acidentes mortais por afogamento. Para isso, o ensino da natação deve constituir um certificado de aptidão de natação e ao mesmo tempo um certificado de segurança válido para a prática de todas as atividades desportivas, recreativas e utilitárias/profissionais, aquáticas, subaquáticas e náuticas.

    Tal objetivo só é possível, integrando eficazmente:

  • O desenvolvimento das capacidades físicas e psicológicas do indivíduo:

    • Domínio completo do meio aquático – habilidades, técnicas de nado, resistência;

    • Autoconfiança e autocontrolo face ao meio aquático;

    • Gosto pelas atividades aquáticas.

  • Respondendo às diferentes solicitações (aplicações) desta modalidade:

    • Âmbito educativo;

    • Âmbito recreativo;

    • Âmbito desportivo;

    • Âmbito utilitário.

  • Concorrendo para o salvamento do nadador e para o salvamento de outra pessoa:

    • Natação Salvamento;

    • Socorrismo aquático.

Bibliografia

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