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Educação Ambiental por meio da Educação 

Física Escolar: a percepção de professores

Educación Ambiental a través de la Educación Física: la mirada de los profesores

Environmental education through physical education

 

Universidade Estácio de Sá

(Brasil)

Ana Carla Pereira Dias

Mayara Gomes Serra de Azevedo

Dr. José Antonio Vianna

javianna@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A proposta deste estudo foi investigar a representação de professores de Educação Física Escolar quanto à Educação Ambiental em escolas de diferentes realidades socioeconômicas. Foram entrevistados 26 professores - 14 de escolas públicas e 12 professores de escolas privadas com média de idade de 41 anos e média de 17 anos de formação. As escolas, por meio de projetos e cursos, estimularam os sujeitos a trabalharem com o tema. Os professores de escolas públicas situadas em bairros populares trabalham menos com a Educação Ambiental do que os professores de escolas particulares situadas em bairros de classe média alta.

          Unitermos: Interdisciplinaridade. Educação Física Escolar. Educação Ambiental.

 

Resumen

          Tenemos la intención de investigar la representación de los profesores de Educación Física en la Educación Ambiental en escuelas de diferentes realidades socio-económicas. Entrevistamos a 26 profesores - 14 escuelas públicas y 12 maestros de escuelas privadas con una edad media de 41 años, con un promedio de 17 años de formación. Escuelas, a través de proyectos y cursos, alentó a los sujetos para actuar con el tema. Se destaca de los datos que los maestros en las escuelas públicas situadas en el trabajo socio-económica marginal menos con la educación ambiental de los profesores de las escuelas privadas.

          Palabras clave: Interdisciplinariedad. Educación Física. Educación Ambiental.

 

Abstract

          We intend to investigate the representation of teachers of Physical Education on Environmental Education in schools in different socio-economic realities. We interviewed 26 teachers - 14 public schools and 12 teachers from private schools with an average age of 41 years, and averaged 17 years of training. Schools, through projects and courses, encouraged the subjects to work with the theme. Teachers at public schools located in neighborhoods with less work than the environmental education teachers of private schools located in upper middle class neighborhoods.

          Keywords: Interdisciplinarity. Physical Education. Environmental education.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Trabalhar com sujeitos de realidades sociais distintas pressupõe a adoção de estratégias e metodologias de ensino que atendam as particularidades do grupo social que sofre a intervenção. No entanto, percebe-se que a intervenção pedagógica em relação à Educação Ambiental (EA) por meio da disciplina Educação Física nem sempre é ajustada às particularidades tanto dos alunos quanto do meio social no qual eles estão inseridos.

    A desigualdade social na cidade do Rio de Janeiro se manifesta no contraste nas condições de moradia e acesso aos serviços públicos no mesmo bairro ou em bairros próximos. A observação fortuita permite perceber que os alunos residentes em bairros de classe média alta possuem melhores condições de saneamento e os impactos da degradação do meio ambiente podem ter menor influência em sua qualidade de vida. Enquanto os jovens moradores em bairros populares vivem em condições mais precárias, o que supostamente implicaria em maior impacto da degradação ambiental em sua qualidade de vida.

    A Educação Física Escolar é um dos meios de ensino dentro das escolas para a inserção da temática Educação Ambiental que deve atentar para o contexto sócio cultural da comunidade escolar a fim de contribuir para as transformações pessoal e social que colaborem para a construção de uma sociedade ecologicamente equilibrada. Assim, entender como está sendo desenvolvida a temática da Educação Ambiental (EA) na escola e em particular, nas aulas de Educação Física, é fundamental para possíveis melhorias no processo de ensino-aprendizagem.

    Ao investigar as percepções dos professores sobre as abordagens metodológicas e procedimentos de ensino que podem ser utilizadas nas aulas de Educação Física Escolar para a integração do núcleo temático Educação Ambiental e a disciplina Educação Física, esta pesquisa pode contribuir para o aprofundamento e a ampliação da compreensão do fenômeno em pauta e favorecer as intervenções pedagógicas que procurem a Educação Ambiental por meio da Educação Física Escolar em escolas de diferentes realidades socioeconômicas.

    Este estudo tem por objetivo verificar a representação de professores de Educação Física Escolar em escolas de diferentes realidades socioeconômicas, situadas em bairros com melhores condições de saneamento básico e limpeza urbana e em bairros que carecem destas condições, situados na zona oeste do município do Rio de Janeiro, quanto a Educação Ambiental nas aulas de Educação Física.

    Os objetivos específicos foram: verificar a percepção da contribuição da formação inicial e da formação continuada para o trabalho com EA; observar a percepção da ocorrência e da frequência do trabalho interdisciplinar com foco na EA; identificar a percepção dos entrevistados sobre os problemas sócio ambientais a serem abordados nas aulas; comparar a percepção de professores em escolas públicas situadas em um bairro popular e a percepção de professores em escolas localizadas em um bairro de classe média alta.

O contexto teórico

    A interdisciplinaridade apresentou-se como o elemento essencial para adentrar no tema “Educação Ambiental por meio da Educação Física”. Segundo Fazenda (2000), para atingir a interdisciplinaridade seria preciso modificar as posições acadêmicas primitivas e unidirecionais que impedem a inserção de olhares diferenciados, o que implica em atrair uma visão mais ajustada com as práticas pedagógicas.

    Fazenda (2000) procurou definir interdisciplinaridade pela relação de troca entre professores de variadas disciplinas em um mesmo projeto, na qual há uma completa interação entre estas para que haja uma substituição do ensino fragmentado por um ensino unitário do ser humano.

    De acordo com Jacobi (1999), a interdisciplinaridade é um processo de conhecimento que busca estabelecer cortes transversais na compreensão e explicação do contexto do ensino e da pesquisa. Através deste, busca-se a integração entre variadas disciplinas, superando a excessiva compartimentalização do ensino ocasionada pela especialização.

    Ao que tudo indica todas as habilidades e competências escolares, entre elas a educação ambiental, podem ser mais bem trabalhadas de forma interdisciplinar, sem que ocorra a separação do todo. O processo da educação ambiental objetiva a cidadania crítica de sujeitos aptos para se interconectar com a realidade local e global e para tanto necessitam de uma formação global.

    Os Parâmetros Curriculares Nacionais sugerem que a Educação Ambiental (EA), que envolve o indivíduo e a coletividade, deve ser abordada por todas as disciplinas que compõem a educação nacional de uma forma integrada como um tema transversal (BRASIL, 1998). A lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999 que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) sugere a construção de valores, conhecimentos e habilidades para a conservação do ambiente, por meio de uma prática educativa integrada e contínua.

    Sendo assim, não seria a escola um meio de transformação da sociedade? Escolas com diferentes realidades socioeconômicas deveriam ter uma metodologia de ensino diferenciada para atender às reais necessidades de seus alunos? Se a transformação do meio ambiente desses alunos pode gerar melhoria nas condições de vida destes, a disciplina Educação Física não deveria abordar questões relacionadas ao Meio Ambiente em suas aulas regulares?

    Para ampliar a reflexão sugerida pelas questões anteriores, se faz necessário focalizar investigações que observaram o processo de ensino aprendizagem.

    Freitas e Neuenfeldt (2005) apresentaram uma proposta de construção curricular interdisciplinar entre os estudos de Matemática, Geografia, Português e Ciências Biológicas utilizando a literatura infantil como meio articulador. A estratégia adotada nas séries iniciais teve a finalidade de ampliar a compreensão dos limites e possibilidades da interdisciplinaridade na escola. Para isto, foram realizadas atividades como: pesquisa, discussão, escolha dos conteúdos que seriam desenvolvidos até a preparação de unidades didáticas e suas implantações em sala de aula. A interdisciplinaridade deve se estender das primeiras séries até as séries finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio, a fim de colaborar com a formação de sujeitos com uma visão de mundo ampliada, integrada e mais ecológica.

    Casarotto (2005) observou que a maioria dos alunos não vê o homem como parte do Meio Ambiente. Os sujeitos consideraram o homem um ser à parte de outros seres vivos. Os autores sugerem uma revisão no planejamento das atividades realizadas nas escolas, devido à separação notada entre a teoria e a prática, a falta de objetivos claros e da avaliação dos resultados alcançados.

    Segundo Barbo (2009) apesar de ser socialmente valorizada, a EA não recebe a devida importância que o tema merece. A autora acredita que a falta de capacitação dos profissionais de educação para tratar com eficácia dos temas reais e atuais da sociedade, entre eles os ligados a ecologia e meio ambiente, comprometem a formação dos alunos.

    A conscientização dos professores envolvidos no processo ensino-aprendizagem da inclusão da EA em todos os níveis de ensino pode maximizar o êxito escolar e cooperar para a formação de cidadãos conscientes e aptos para decidirem e vivenciarem a realidade social e ambiental de um modo empenhado com a vida e o bem estar da sociedade (FERREIRA, 2008).

    A partir do trabalho com a EA Bagatini e Bertelli (2005) observaram um gradativo envolvimento da comunidade escolar na busca de informações, a fim de contribuir nas ações efetivas da escola. Houve uma valorização por parte dos pais e responsáveis da educação dada aos filhos e a melhora do rendimento escolar foi notada. Os educandos passaram a demonstrar uma percepção melhor da relação escola/comunidade com um olhar mais atento, principalmente em suas atitudes como cidadãos.

    O professor é um agente importante no processo de EA. No entanto, nem sempre a formação do docente o capacita atuar de forma interdisciplinar e em especial com a EA. Thomaz (2006) abordou a questão da inserção da educação ambiental no ensino superior, principalmente nos cursos de licenciatura. O objetivo do trabalho foi investigar se a inserção da educação ambiental (EA) é mais adequada se desenvolvida de forma interdisciplinar ou disciplinar no ensino superior, com a perspectiva de uma formação humana, política e profissional que incorpore os pressupostos da educação ambiental, entendida como processo educativo de busca de novos valores, sensações e percepções, dentro e para o ambiente natural e social.

    O autor observou nos depoimentos dos sujeitos, que havia disparidade em relação à operacionalização da EA no ensino superior e que os docentes que ministravam disciplinas de conhecimentos pedagógicos tratavam a educação ambiental de forma conservadora (THOMAZ, 2006).

    No entanto, ao contrário do que se poderia supor, apesar da formação deficiente os professores procuram promover ações de EA. Bohrer, Guerizoli e Moriggi (2005) constataram que em 75% das escolas pesquisadas mais de 55% dos professores já desenvolveram projetos de EA com suas turmas. Quanto ao número de alunos envolvidos em projetos ambientais apenas quatro escolas apresentaram índices de envolvimento dos alunos maior que 50% (BOHRER; GUERIZOLI; MORIGGI, 2005). Ao que parece, embora exista interesse das escolas acerca do tema, talvez falte uma metodologia diferenciada para despertar nos alunos a vontade de aprender sobre o assunto. Deve-se criar significado, valor ao conteúdo, para que seja relacionado à sua realidade, para uma aprendizagem efetiva.

    As disciplinas que mais trabalharam em sala de aula temas ambientais foram Biologia (80,5%) e Geografia (59%), sendo estas as disciplinas mais citadas também quando a questão que se referia às disciplinas que mais relacionavam seus conteúdos com outras disciplinas, ficando Biologia com 80,5% e Geografia com 60,6% do total de indicações. A disciplina Educação Física ocupou a antepenúltima colocação entre outras 15 disciplinas que foram citadas. (BOHRER; GUERIZOLI; MORIGGI, 2005). Os atores parecem não perceber a Educação Física como um meio de inclusão da EA no currículo escolar de uma forma interdisciplinar.

    Fazendo uma ligação da Educação Física com o Meio Ambiente, Sampaio (2008) ressalta a importância de alterar a concepção que o ser humano tem de se achar superior aos outros seres vivos, e que a Educação Física em sua relação com os desafios ambientais necessita inserir-se do desejo cotidiano de amar e permitir que os sentidos apareçam tanto quanto a razão. A educação física deve estar em contato direto com o tema educação ambiental, percorrendo trajetos ecoéticos, comprometida com a sustentabilidade de todos os seres vivos do ecossistema (SAMPAIO, 2008).

    Nesta perspectiva a educação Física deveria buscar a participação assídua dos sujeitos na sua comunidade, respeitando a diversidade, e realizar atividades corporais diversificadas, para que estas pessoas busquem a reflexão de suas condições humanas e tracem trajetórias para a convivência social plena e equilibrada (SAMPAIO, 2008).

Metodologia

    Esta investigação tem caráter descritivo e exploratório (THOMAS; NELSON, 2002). Para atender aos interesses do estudo e comparar a percepção de professores de educação física que trabalham com sujeitos em realidades sócio-cultural e econômica distintas, foram selecionados dois grupos de indivíduos: Professores de escolas públicas (PU) e Professores de escolas particulares (PR).

    Professores de escolas públicas (PU) - 14 professores de escolas públicas situadas em um bairro de classes populares (favela), na faixa etária de 28 a 56 anos, sendo 5 do gênero feminino e 9 do gênero masculino. As escolas nas quais os professores entrevistados do G1 ministravam aulas estavam situadas em um bairro popular com infra-estrutura e saneamento básico precários, onde o lixo espalhado pelas ruas e a presença de esgoto a céu aberto no entorno da escola e próximo das residências era constante.

    Professores de escolas particulares (PR) - 12 professores de escolas privadas situadas em um bairro de classe média alta, situado na beira da praia, que tem recebido investimentos públicos para duplicação de vias e melhoria dos serviços públicos a fim de abrigar grandes empreendimentos imobiliários. Os estudantes nestas escolas eram moradores nos condomínios localizados no bairro, que contavam com vias urbanizadas, saneamento básico e coleta de lixo regular. Os sujeitos investigados no G2 estavam na faixa etária de 27 a 49 anos, sendo 3 do gênero feminino e 9 do gênero masculino.

    Após assinarem um termo de consentimento, os 26 professores de Educação Física foram entrevistados, sendo a média de idade geral de 41 anos. Os entrevistados tinham em média 17 anos de formados em Educação Física.

    Para coleta de dados foi utilizada uma entrevista semiestruturada para ambos os grupos, com 12 questões fechadas e 11 questões abertas que abordavam os seguintes temas: Interdisciplinaridade, Educação Física Escolar e Meio Ambiente. Foi utilizada na análise dos dados a estatística descritiva para posterior interpretação dos resultados, respeitando a capacidade de verbalização dos entrevistados (THIOLLENT, 1980).

Análise e discussão dos resultados

    Em acordo com os dados da investigação de Thomaz (2006), poucos professores entrevistados nesta pesquisa (2) afirmaram ter tido conteúdos ou disciplina relacionados ao meio ambiente em sua formação docente, que contribuíssem para uma articulação entre a Educação Física e a Educação Ambiental, sendo que 1 (um) não lembra exatamente o conteúdo que teve relacionado ao tema.

    Os resultados revelam que a EA e as metodologias de ensino necessário à formação interdisciplinar do professor de Educação Física, não tem sido aprofundados nos cursos de graduação. Ambos os grupos de professores (89% dos professores formados na rede pública e 76% dos professores formados na rede particular de ensino), afirmaram que não tiveram acesso a estes conhecimentos em sua formação acadêmica.

    Os professores de escolas públicas (PU) que citaram terem tido algum conteúdo relacionado ao tema (formados em instituições públicas e privadas), indicaram disciplinas como: Introdução à Biologia, Biodiversidade e Esportes de Aventura; e conteúdos específicos como Educação Física no meio ambiente, preservação do meio, a questão do lixo após os eventos, o uso da água, floresta como meio da prática de atividade/ preservação. Embora os dados não informem se em sua formação a EA tenha sido trabalhada de forma interdisciplinar, a tradição disciplinar da educação brasileira permite inferir que estes e outros conhecimentos foram ministrados de maneira fragmentada e conservadora conforme observou Thomaz (2006).

    Quando perguntados a respeito da formação continuada - capacitação e/ou atualização de professores através de cursos relacionados ao meio ambiente pela Secretaria de Educação ou pela escola os resultados em escolas públicas e privadas foram parecidos - 79% dos professores que lecionam em escolas públicas e 75% dos professores que lecionam em escolas privadas informaram que não tiveram cursos de capacitação e/ou atualização acerca do tema meio ambiente.

    Entre os professores que tiveram algum curso de atualização e/ ou capacitação em meio ambiente nas escolas públicas, foram abordados os seguintes temas: Forma correta de coleta de lixo, Meio Ambiente e práticas pedagógicas, reciclagem - entre os professores de instituições privadas foram abordados os seguintes assuntos: Oficina de reciclagem e reaproveitamento do lixo. As respostas levam ao questionamento se as escolas nas quais os professores lecionavam procuravam atender de fato as recomendações da Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999 (BRASIL, 1999). Ao que tudo indica a abrangência continua limitada e a EA nas escolas é fruto de iniciativas fortuitas e assistemáticas.

    Apesar de informar que a formação inicial sobre EA não tenha sido suficiente, a maioria dos professores da rede pública relatou que as instituições onde trabalham realizam projetos relacionados ao meio ambiente - pouco mais da metade (57%) dos entrevistados informaram que as escolas realizam projetos com esta característica.

    A maioria (57%) dos professores da rede pública informou que a escola costuma realizar projetos relacionados ao meio ambiente, enquanto a maior parte dos professores das escolas da rede particular (92%) esses projetos costumam ser realizados.

    Ao que parece as campanhas na mídia, ressaltam a urgência em ampliar o processo de EA nas instituições de ensino, mobilizando gestores, professores e alunos. Como observado em estudos anteriores (BARBO, 2009; FERREIRA, 2008; BOHRER; GUERIZOLI; MORIGGI, 2005), mesmo sem formação específica os professores são impelidos à ação e se capacitam na prática.

    Quando perguntados sobre a freqüência que esses trabalhos são realizados na escola, a maioria que trabalha em instituições públicas disse que ocorrem uma vez ao ano e a maioria nas instituições privadas disse que ocorrem bimestralmente.

    Segundo palavras do voluntário professor em escola pública (PU11):

    “É uma preocupação constante, mas os projetos específicos são sempre desenvolvidos no 2º bimestre devido ao dia mundial do meio ambiente. Esse assunto faz parte do Projeto Político Pedagógico da Escola.”

    Mesmo ao afirmar que a EA é uma preocupação constante, não fica claro se a proposta dos PCNs (BRASIL, 1998) da ecologia como um tema transversal é seguida pelos investigados.

    “hoje essa consciência é maior, visto que até minha filha de 5 anos fala comigo essa questão do Meio Ambiente” (PU 10).

    Os entrevistados foram questionados quanto à realização de projetos de educação ambiental com suas turmas. A maior parte dos professores questionados não realizou projetos relacionados ao meio ambiente (57%) enquanto nas escolas particulares esse percentual é menor (33%), ou seja, de acordo com os dados coletados há maior desenvolvimento de projetos relacionados ao meio ambiente por professores de Educação Física em escolas particulares comparando-se com escolas públicas.

    Um voluntário da instituição privada (PR8) relatou que faz construção de brinquedos com o material reciclado, e o entrevistado PR6 realiza projeto de limpeza das areias da praia com seus alunos. Apesar de projetos relacionados ao meio ambiente ainda não serem desenvolvidos por grande parte dos informantes professores da rede pública de ensino, entrevistado PU10 realizou caminhadas com suas turmas pelo Rio de Janeiro, recolhendo o lixo e vendo a utilidade do mesmo em nossas vidas/ reciclagem.

    Metade dos professores relatou que aborda conteúdos da Educação Ambiental em suas aulas regulares de Educação física escolar:

    “através de trabalhos para exposição e discussão do tema: A prática da atividade física ao ar livre. Interação homem e Meio Ambiente” (PU 10).

    Nas instituições privadas a maioria (58%) dos professores aborda conteúdos da Educação Ambiental em suas aulas regulares de Educação Física escolar.

    Como exemplo de atividade o respondente PR7 destaca:

    “A importância de se utilizar a caminhada ou os meios de transporte movidos à propulsão humana para deslocamentos de curta e média distância”.

    Embora não seja uma prática comum entre estes entrevistados, a maior parte dos professores (86%) em escolas públicas considera Importante ou Muito Importante abordar o tema, embora 14% considere Indiferente. Os valores são parecidos quando comparados às instituições particulares no qual a maioria dos respondentes (58%) considera Muito Importante a abordagem do tema seguido de Importante com 42% do total.

    Quando perguntados se a prática interdisciplinar é importante para a formação dos alunos, todos os professores de escolas públicas e privadas responderam que sim. Na perspectiva dos entrevistados a ação pedagógica interdisciplinar é importante para a formação dos estudantes, porque

    “O aprendizado de conhecimentos requer envolvimento de áreas afins. O conhecimento não se processa de forma estratificada, separada, sendo, portanto necessária a interdisciplinaridade”. (PU5)

    Os entrevistados foram questionados acerca da relação da Educação Física com outras disciplinas escolares. Segundo 79 % dos professores de instituições públicas, a Educação Física relaciona seus conteúdos com outras disciplinas sendo elas: Ciências, língua portuguesa, história, biologia, física, química, matemática, sociologia e alfabetização.

    No entanto não ficou claro nas informações coletadas, a percepção da interdisciplinaridade como um processo que busca favorecer aos alunos a compreensão e explicação do contexto, do ensino e da pesquisa, através da integração entre várias disciplinas, com a finalidade de superar a excessiva compartimentalização do ensino ocasionada pela especialização. (JACOBI, 1999).

    Os principais problemas ambientais apontados pelos professores de Educação Física como mais comuns na realidade de seus alunos de escola pública foram: a questão do Lixo nas Ruas com 15%, seguido de Conservação do Patrimônio Escolar, Conservação do Patrimônio Público e Falta de Saneamento Básico com 11% cada e Poluição Sonora com 10% do total (Figura 1).

Figura 1. Problemas ambientais mais comuns no cotidiano dos alunos – Instituições Públicas

    Por outro lado, os itens que foram apontados pelos professores de Educação Física em escolas particulares (PR) como mais comuns na realidade de seus alunos foram: Conservação do Ambiente Escolar (15%), Consumismo e Conservação do Patrimônio Público com (12%) cada e Poluição dos Rios com 11% do total.

Figura 2. Problemas ambientais mais comuns no cotidiano dos alunos – Instituições Privadas

    Apesar de demonstrarem a percepção das necessidades de seus alunos e dos procedimentos necessários para otimizar a formação de agentes transformadores da realidade social e conservadores do meio ambiente, o contraste nas percepções de sujeitos em escolas públicas (PU) e nas escolas particulares (PR) chama a atenção para as informações referentes ao trabalho interdisciplinar com a EA.

    “O primeiro trabalho a ser feito é saber com os alunos a realidade de suas vidas, qual forma que é tratada a questão na sua comunidade, família e escola, a partir daí traçar algumas estratégias de ensino, onde se possível possa envolver toda a escola”. (PU5)

    Ianni (1999) relata que a natureza impõe condicionantes às populações, mas a importância das características ambientais na sociedade depende de sua cultura e o trabalho surge como o único recurso social disponível para o homem modificar a natureza, modificando, assim sua condição social. Percebe-se que os problemas sociais podem estar vinculados aos problemas ambientais e estes parecem interferir nas condições de vida da população. Embora envolvidos com alunos em condições de vida precária, o que implica em maior necessidade de uma abordagem interdisciplinar de EA, 57% dos entrevistados na rede pública (PU) não realizaram projetos relacionados ao meio ambiente, enquanto 67% dos professores da rede particular (PR) desenvolveram projetos dessa natureza, embora as condições de vida de seus alunos fossem mais privilegiadas.

Conclusões e recomendações

    Os dados levantados revelaram que poucos professores investigados tiveram algum conteúdo relacionado à EA em sua formação inicial o que supostamente levaria esses sujeitos, diante da necessidade de trabalhar com o tema, a uma consciência ingênua acerca do problema, ocorrendo uma separação da teoria e da realidade, bem como a falta de objetivos claros e a falta da avaliação dos resultados (BARBO, 2009). No entanto, as exigências da realidade social podem ter levado alguns professores de Educação Física a uma capacitação assistemática por ensaio e erro em sua atuação profissional e a buscarem na formação continuada as competências necessárias a abordagem do tema.

    Tanto os professores investigados nas escolas particulares quanto os professores nas escolas públicas parecem ter a percepção da importância do trabalho interdisciplinar no que diz respeito à EA e procuraram realizar projetos relacionados à EA. Porém, acredita-se que a utilização do tema nas aulas de Educação Física em escolas públicas ainda é tímida se comparada ao alcance que essas escolas possuem em seu público alvo e na população em geral. Resta a duvida se projetos anuais, bimestrais, é a melhor solução para uma aprendizagem significativa em EA em vez de uma abordagem permanente e integrada aos diversos conhecimentos escolares (como sugerida nos PCNs) e a educação ambiental desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal (PNEA), o que em muitas escolas não tem ocorrido.

    Segundo Morin (2001) o ensino se tornou compartimentalizado sendo que a educação ambiental é mais bem trabalhada de forma interdisciplinar, pois a mesma não deve ser separada do todo. Embora os sujeitos investigados tenham afirmado que a Educação Física relaciona seus conteúdos com outras disciplinas, não ficou claro nas informações coletadas, a percepção da interdisciplinaridade como um processo que busca favorecer aos alunos a compreensão e explicação do contexto, por meio da integração entre várias disciplinas escolares, de forma a favorecer a cidadania crítica dos alunos.

    Embora ambos os grupos consigam identificar os problemas sociais e ambientais que circundam o espaço escolar, ao que parece, os professores investigados em escolas públicas, precisam ter mais aguçada a percepção da importância de trabalhar EA por meio da Educação Física. Haja vista que os inúmeros problemas socioambientais enfrentados pelos sujeitos das camadas populares podem ser abordados nas aulas de Educação Física, e esta pode ampliar e aprofundar a consciência ecológica de seus alunos no que diz respeito à realidade sócio ambiental que os cerca. Para isto a Educação Física integrada às demais disciplinas escolares devem buscar maior participação da comunidade e realizar atividades que estimulem a reflexão dos alunos sobre suas condições humanas, sociais e ambientais.

    A diversidade nas condições sócio ambientais dos alunos sugerem metodologias de ensino adequadas a estas diferenças. Ao que tudo indica, a interdisciplinaridade é essencial para que a Educação Ambiental não passe de uma simples “moda” e seja um instrumento de mudança, dos alunos e da realidade, por meio da Educação Física Escolar. Assim, o trabalho pedagógico surge como um recurso social disponível para o homem modificar a natureza e a sua própria condição social.

    Ampliar o número de sujeitos investigados e pesquisar realidades sociais distintas das que foram observadas podem contribuir para ampliar e aprofundar o conhecimento do fenômeno aqui estudado.

Referências

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