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Análise da couraça caracterial muscular em praticantes de musculação

Análisis de la coraza caracterial muscular en los practicantes de musculación

Analysis of muscle characterial analysis in strength practitioners

 

Doutoranda em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas

Departamento de Psicologia, Área de Ciências Humanas. Campinas, SP

(Brasil)

Andressa Melina Becker da Silva

andressa_becker@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Observar o perfil caracterial dos praticantes de musculação em academias. Metodologia: Como participantes, 60 pessoas (feminino/masculino) praticantes de musculação em academia de Curitiba. Utilizou-se anamnese, avaliação física através de fotos; miotonograma e utilizou-se a tabela de classificação de caráter segundo as condições caracteriais de bloqueios energéticos proposta por Navarro (1995). Empregou-se análise estatística descritiva e ANOVA (p<0.05). Resultados: Os principais motivos que levam as pessoas a praticar musculação são saúde, condicionamento físico e estética, respectivamente. A maior prevalência foi de traço duplo núcleo-psicótico e cobertura fálico-narcisista. Quando se comparou traço, cobertura e sexo houve uma diferença significativa entre o sexo feminino e a cobertura caracterial. A prevalência do traço e cobertura caracterial reflete o ambiente da academia em que há uma idolatria do corpo e uma exposição maior do mesmo. Conclusão: O profissional deve levar em consideração esses aspectos procurando uma forma adequada para trabalhar sem que haja conflitos.

          Unitermos: Educação Física. Musculação. Psicologia Corporal.

 

Resumen

          Objetivo: Observar el perfil caracterial de practicantes de musculación en los gimnasios. Metodología: Participaron 60 personas (mujeres/hombres), practicantes de musculación en gimnasios de Curitiba. Se utilizó la anamnesis, la evaluación física a través de imágenes, miotonograma y se utiliza la tabla de clasificación de carácter según las condiciones caracteriales de bloqueos energéticos propuestas por Navarro (1995). Se aplicó el análisis estadístico descriptivo y ANOVA (p<0,05). Resultados: Los principales motivos que llevan a las personas a practicar musculación son la salud, el acondicionamiento físico y la estética, respectivamente. La mayor prevalencia fue el trazo doble núcleo psicótico y la cobertura fálico-narcisista. Cuando se comparó el trazo, la cobertura caracterial y el sexo, hubo una diferencia significativa entre el sexo femenino y la cobertura caracterial. La prevalencia del trazo y la cubierta caracterial refleja el ámbito del gimnasio donde hay una idolatría del cuerpo y una exposición mayor del mismo. Conclusión: El profesional debe tener en cuenta estos aspectos en busca de una forma adecuada para trabajar sin conflictos.

          Palabras clave: Educación Física. Musculación. Psicología Corporal.

 

Abstract

          Objective: To observe the character outline of strength practitioners in gyms. Methodology: As participants, 60 people (female/male) strength practitioners in Curitiba’s gym. We used the clinical history, physical assessment through pictures, miotonograma and used the classification table of character under the character conditions of energy blocks proposed by Navarro (1995). We applied descriptive statistics and ANOVA (p<.05). Results: The main reasons that lead people to practice strength are health, fitness and aesthetics, respectively. The highest prevalence was double dash-core psychotic and coverage phallic-narcissistic. When comparing Dash, coverage and gender, there was a significant difference between female and coverage characterial. The prevalence of strokes and characterial cover reflects the atmosphere of the gym where there is an idolatry of the body and a longer exposure of the same. Conclusion: The professional must consider these aspects seeking an appropriate way to work without conflict.

          Keywords: Physical education. Bodybuilding. Body Psychology.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    É interessante perceber o número de pessoas que freqüentam uma academia diariamente. Quais são os motivos que as levam até lá? Uma busca pelo corpo perfeito ou uma ancoragem social? Uma melhora na qualidade de vida ou um aumento na auto-estima? Mas além desses preceitos básicos, o que será que o psicológico reflete no corpo? Da mesma forma, o que será que o corpo reflete na mente?

    Às vezes nos deparamos com professores perdidos dentro das academias por não saberem como lidar com seus alunos que buscam nele uma solução tanto física quanto psicológica. Sabe-se que cada pessoa apresenta a sua individualidade, uma memória emocional de uma vida inteira armazenada na mente e no corpo, ou seja, o que dá a cada pessoa a condição de ser único nesse mundo. Esse fato é lógico, mas será que é quão racional trabalhar da mesma maneira com diversos alunos? Obviamente que não. Para tanto se faz necessário uma análise prévia de cada indivíduo, de suas dificuldades físicas e emocionais, do que seu corpo e sua mente necessitam de seu caráter.

    O caráter segundo Reich (1995) é uma mudança crônica do ego com o objetivo de proteção contra perigos internos e externos. É a forma como a pessoa se mostra. São as atitudes somadas ao temperamento e a personalidade. Ele é formado em acordo com as etapas de desenvolvimento emocional que a criança passa. Essas são divididas em sustentação, incorporação, produção, identificação e formação do caráter (Volpi & Volpi, 2002).

    Reich considerava dois tipos de caráter: o genital, que seria a forma mais madura e saudável, e o neurótico, sendo imaturo no aspecto psico-afetivo, mas não doente. Porém, em uma visão pós-reichiana o que existe em um indivíduo são combinações de traços de caráter e coberturas. A tabela abaixo representa a etapa do desenvolvimento segundo Volpi e Volpi (2002), a energia e o caráter segundo Navarro (1995).

Tabela 1. Etapas do desenvolvimento emocional, tipos de caráter e suas respectivas energias

    Navarro (1995) ainda afirma que as estruturas caracteriais seriam núcleo psicótico, borderline e duplo núcleo psicótico (quando a pessoa apresenta ser tanto núcleo psicótico como borderline). O restante seriam as coberturas caracteriais. Da seguinte forma, Volpi e Volpi (2003) explicam as características de todos os traços e coberturas de caráter. O núcleo psicótico se instaura no período que vai da gestação até os 10 primeiros dias de vida, em decorrência de um parto traumatizante, falta de contato da mãe com o bebê, etc. As pessoas portadoras desse traço de caráter apresentam como características básicas a confusão de pensamentos, racionalização, problemas ligados a visão, pele, ouvido e nariz.

    O Borderline se forma no período que vai do nascimento até o desmame (por volta dos 9 meses) e se apresenta de duas formas: o oral insatisfeito (esconde a depressão, mas é consciente sobre seu padrão então compensa-o com alimento, álcool, fumo, ou algo que traga satisfação oral), e o oral reprimido (pessoas raivosas, tenta se defender do comportamento depressivo e por isso age agressivamente) (Volpi & Volpi, 2003).

    Já o psiconeurótico forma-se no período que vai desde o desmame até a puberdade, período em que a criança torna consciente o controle dos esfíncteres. O bloqueio nessa etapa pode formar o traço de caráter masoquista ou obsessivo-compulsivo. O masoquista tem medo de morrer e de explodir, então implode. Apresenta uma angústia orgástica porque o estímulo excitante é tido como desagradável. O obsessivo-compulsivo, por sua vez, apresenta uma obsessão pela ordem. São pouco criativos e esquematizados. Caso algo saia do controle há uma angústia (Volpi & Volpi, 2003).

    O caráter neurótico é o que mais se aproxima do genital, e pode dar origem aos traços fálico-narcisista ou histérico. O fálico – narcisista instala-se a partir do nono mês de vida de forma inconsciente e depois, em torno dos dois anos de vida de forma consciente. Apresenta um bloqueio energético no nível do pescoço e esse é responsável pelo orgulho, vaidade e obstinação. É sedutor, corpo geralmente atlético e precisa mostrar poder, ostentando um ar de superioridade. Já o histérico é a pessoa com comportamento sexual invasivo, grande agilidade corporal, mas na hora de concretizar a sexualidade se retrae e se mostra apreensivo e passivo. O histérico deseja ser o centro das atenções (Volpi & Volpi, 2003).

    Tendo em vista todos os pontos tratados anteriormente, o seguinte estudo tem por objetivo principal observar o perfil caracterial dos praticantes de musculação em academias da grande Curitiba. Definem-se como objetivos específicos os seguintes itens: Cruzar informações entre a anamnese, a avaliação física (feita através de fotos) e miotonograma (Rego, 2006) para poder determinar quais são os traços caracteriais de cada indivíduo; Identificar qual é o padrão caracterial mais comum entre os praticantes de musculação; Analisar através da anamnese se há uma preferência das pessoas com esse perfil caracterial para a escolha da musculação; Realizar uma comparação entre traço, cobertura e sexo.

    Esse trabalho é de fundamental importância para que outras academias possam aderir a esse método de trabalho que já é apresentado em uma instituição da cidade de Curitiba, e para que analisem assim, o indivíduo como ser único, preservando suas necessidades e desenvolvendo técnicas para que seja reajustado o que for necessário.

Procedimentos metodológicos

    O presente estudo foi de cunho qualitativo e quantitativo do tipo ex post facto, onde se verificou se existe predominância de algum perfil caracterial entre os praticantes de musculação e qual a melhor forma de trabalho para essa população dentro de uma academia.

    Como participantes contou-se com um grupo de 60 pessoas, 30 do sexo feminino e 30 masculino, com idades entre 15 e 73 anos, 69,33% apresentam idade inferior a 30 anos e 31,66% idades superiores a 30 anos. Praticantes de musculação em uma academia da cidade de Curitiba.

    Como instrumentos de avaliação utilizaram-se anamnese contendo 40 perguntas, com o intuito de conhecê-las psicologicamente; avaliação física feita através de fotos (o indivíduo era fotografado de frente, lado e costas para ser analisado corporalmente, observando-se pontos de tensão e comportamento morfológico e estrutural relacionados aos traços e coberturas de caráter); miotonograma, que é um esquema de representação do tônus muscular citado por Rego (2006), desenvolvido para registrar o diagnóstico do tônus muscular, detalhando áreas de hipotonia (flacidez), hipertonia (tensão) e tônus normal, importantes para se conhecer a couraça muscular do caráter do avaliado; e, por fim, utilizou-se a tabela de classificação de caráter segundo as condições caracteriais de bloqueios energéticos proposta por Navarro (1995). Para todos os fins, antes da coleta ser realizada os indivíduos leram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e foram devidamente informados sobre os procedimentos de pesquisa.

    O estudo utilizou análise estatística de forma descritiva utilizando porcentagens e médias, além de uma ANOVA a um nível de significância, p< 0,05.

Resultados e discussão

    Na anamnese os motivos que as pessoas mais relataram por procurarem a musculação como atividade foi por saúde em primeiro lugar, seguidos de condicionamento físico e estética. Depois vem lazer, terapêutico, redução de gordura, condicionamento físico e só por último alto rendimento.

    Como abordado anteriormente na introdução, existem maneiras tanto físicas quanto psicológicas para saber o tipo de caráter e cobertura que a pessoa apresenta. Para determinação tanto do caráter como cobertura, portanto, foi utilizado, a Anamnese para um análise psicológica do caráter, levando-se em consideração informações emocionais e de estrutura psicológica; e para a análise corporal (física) utilizou-se as fotos tiradas (avaliação física dos pontos de tensão e morfologia corporal) e o miotonograma para determinação dos pontos de hipotonia, hipertonia e tônus normal. Ao agrupar todas essas informações e comparar com a tabela de classificação de caráter segundo as condições caracteriais de bloqueios energéticos proposta por Navarro (1995), concluiu-se o caráter e a cobertura que mais se sobressaia naquele indivíduo analisado.

    Percebemos que dentro das estruturas caracteriais, 35% é considerado duplo núcleo psicótico, 10% núcleo psicótico e 55% borderline. Já as coberturas de caráter entre os participantes observaram que 21,66% apresenta cobertura masoquista, 16,66% compulsivo-obsessivo, 55% fálico-narcisista e 6,66% histérico.

    Associando-se estruturas e coberturas de caráter percebeu-se que dentre as pessoas classificadas como duplo núcleo psicótico, 47,61% eram fálico-narcisista, 19,04% masoquista, 33,33% obsessivo-compulsivo, 0% histérico. Dentre os indivíduos classificados como núcleo-psicótico temos a seguinte divisão: 33,33% fálico-narcisista, 33,33% masoquista, 33,33% obsessivo-compulsivo, 0% histérico. Quando analisamos os indivíduos borderline observamos 21,21% masoquista, 63,63% fálico-narcisista, 12,12% histérico, 3,03% obsessivo-compulsivo.

    Com todos esses dados percebe-se um padrão caracterial sendo borderline e a cobertura fálico-narcisista. Como explicado anteriormente pessoas com cobertura fálico-narcisista é sedutor, corpo geralmente atlético e precisa mostrar poder, ostentando um ar de superioridade. Se observarmos um ambiente de academia é exatamente isso que encontramos, uma corpolatria exacerbada, uma busca pelo corpo perfeito, e isso se refletiu bem na anamnese pelo fato de que a busca pela estética foi um dos fatores mais votados.

    Também foi verificada a existência de diferenças significativas entre o traço, cobertura de caráter e o sexo. Para isso foi realizada uma ANOVA e então, houve uma diferença significativa entre a cobertura caracterial e o sexo, tendo em vista que entre ambos os sexos e o traço de caráter não houve diferenças significativas, pois F(59,1)=0,165, p=0,686.  Para saber se a diferença encontrada foi no sexo masculino ou feminino fez-se a média de cobertura de cada sexo, quem tivesse a maior média apresentaria a diferença. Então as médias encontradas foram: para o sexo masculino, a média de traço = 2,23 e a média para cobertura = 6,87; já para o sexo feminino a média de traço = 2,13 e média de cobertura = 8,8. Portanto há uma diferença significativa entre o sexo feminino e a cobertura caracterial, pois F(59,1)=16,401, p=0,0001.

    Após a descoberta desses resultados foi realizada uma palestra explicativa para os professores de musculação com o objetivo de orientá-los sobre as existências dessas diferenças e métodos de trabalhos com determinados tipos de caráter, como trabalhos com respiração, relaxamentos, ou uma ativação maior, partes do corpo que precisam de relaxamento e quais precisam de soltura muscular e aumento da flexibilidade. Isso trouxe um retorno muito gratificante tendo em vista que os professores desconheciam totalmente esses conceitos e utilizaram a partir de então para melhoria do indivíduo. Além disso, as respostas do estudo foram passadas aos alunos para que os mesmo também tivessem conhecimento mais especificado sobre a pesquisa.

Conclusão

    A prevalência do traço e cobertura caracterial reflete o ambiente da academia em que há uma idolatria do corpo (corpolatria) e uma exposição maior do mesmo. O profissional deve levar em consideração esses aspectos procurando uma forma adequada para trabalhar auxiliando tanto a parte física quanto a parte psicológica.

Referências bibliográficas

  • Navarro, F. (1995). Caracterologia Pós Reichiana. 1.ed. São Paulo: Summus.

  • Rego, R.A. (2006). Miotonograma. São Paulo: Instituto Brasileiro de Biodinâmica, Disponível em: www.ibpb.com.br. Acesso em 01/06/11.

  • Reich, W. (1995). Análise do Caráter. 5 ed. São Paulo: Martins Fontes.

  • Volpi, J. H., Volpi, S. M. (2002). Crescer é uma aventura! 1 ed. Desenvolvimento emocional segundo a Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano.

  • Volpi, J. H., Volpi, S. M. (2003). Reich: da psicanálise à análise do caráter. 1 ed. Curitiba: Centro Reichiano.

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