efdeportes.com

Perfil sociodemográfico, hábito alimentar e consumo de 

alimentos protéicos por universitários brasileiros da área de saúde

Perfil demográfico, hábito alimenticio y consumo de alimentos proteicos por parte de universitarios brasileños del área de la salud

 

Núcleo de Pesquisa e Inovação em Ciências da Saúde (NUPICS)

Faculdade de Farmácia, Universidade Federal de Juiz de Fora

(Brasil)

Edilene Bolutari Baptista

Romário Costa Fochat

Nádia Rezende Barbosa Raposo

Elizabeth Lemos Chicourel

courel@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Uma dieta equilibrada associada à atividade física são importantes aliados ao bem-estar e à saúde. Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o perfil sócio-demográfico, o hábito alimentar e o consumo de alimentos protéicos por universitários (n = 266) do curso de Farmácia da Universidade Federal de Juiz de Fora – Minas Gerais – Brasil, através da aplicação de dois questionários: sociodemográfico e de freqüência alimentar. A análise estatística foi realizada com o auxílio do Software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 14.0 e Excel. Dos estudantes, 66,2% eram do sexo feminino, com idade média de 20,6 anos (DP = 1,9). A população foi composta na sua maioria por indivíduos solteiros (98,1%), cuja fonte dos recursos financeiros de 78,5% deles era proveniente da família. A maioria dos universitários (50,4%) residia com a família e 59,0% apresentavam renda familiar superior a três salários mínimos. Apenas 1,5% dos alunos afirmaram realizar mais de 6 refeições/dia, 46,9% consumiam feijão 1 vez/dia, 20,8% leite integral 1 vez/dia e 43,5% carne de frango 2 a 4 vezes/semana. A atividade física não é um hábito freqüente entre a maioria dos alunos (53,1%). Os resultados demonstraram a necessidade de adequação da ingestão de alimentos que compõem o grupo das carnes e ovos, do grupo do leite, queijos e iogurte e do grupo dos feijões e oleaginosas e de incentivo para que a atividade física seja um hábito mais frequente entre os alunos.

          Unitermos: Hábitos alimentares. Universitários. Saúde.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    O perfil alimentar no Brasil é caracterizado pelo consumo de alimentos de alto teor energético e baixo teor de nutrientes e, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010, 2011), a despesa total dos brasileiros com a alimentação corresponde a 16,1% da sua renda, sendo 21,9% com carnes, vísceras e pescados.

    De acordo com a pirâmide alimentar adaptada (2000 kcal), as carnes e ovos, o leite, queijos e iogurte, assim como os feijões e oleaginosas foram classificados no terceiro nível da mesma, representando os alimentos proteicos de alto valor biológico. Numa dieta equilibrada, tais alimentos devem corresponder de 10 a 15% do valor energético total da dieta e não devem ser substituídos entre si (PHILIPPI, 2008). No Brasil, as proteínas destacam-se como um marcador positivo na dieta atingindo aproximadamente 15% do consumo calórico total, destacando-se principalmente o grupo das carnes, vísceras e pescados de maior participação no cardápio do brasileiro. O feijão, que juntamente com o arroz é considerado alimento tradicional da dieta no país, é mais consumido por indivíduos pertencentes às faixas de menor renda (LEVY et al., 2012).

    No que diz respeito ao consumo de leite e produtos lácteos no país, esse é considerado inadequado (IBGE, 2011). Tal grupo alimentar constitui importante fonte de cálcio, nutriente essencial em diversas funções biológicas (PHILIPPI, 2008). Um consumo aquém do recomendado pode estar associado com doenças crônicas como a osteoporose, câncer de colón, hipertensão arterial e obesidade (PEREIRA et al., 2009).

    Uma dieta equilibrada e a atividade física regular são essenciais para uma vida saudável, auxiliando no controle da obesidade e outras doenças crônicas (PETRIBÚ; CABRAL; ARRUDA, 2009; SALUE, 2005). Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o perfil sociodemográfico, o hábito alimentar e o consumo de alimentos protéicos por universitários brasileiros da área de saúde.

Método

    Neste estudo transversal e descritivo foram avaliados 266 universitários regularmente matriculados entre o 2º e 10º períodos do curso de Farmácia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) – Minas Gerais, no mês de março de 2009. Os alunos foram convidados e esclarecidos a responder o questionário sociodemográfico e o de freqüência alimentar (QFA) segundo Willett (1998), adaptado para a dieta brasileira por Sichieri e Everhart (1998). O QFA foi dividido em produto, quantidade e freqüência de consumo, sendo o último segmentado em: mais de 3 vezes/dia, de 2 a 3 vezes/dia, 1 vez/dia, de 5 a 6 vezes/semana, de 2 a 4 vezes/semana, 1 vez/semana, de 1 a 3 vezes/mês e nunca ou quase nunca.

    Para avaliar o estado nutricional dos participantes foi utilizado o índice de massa corporal (IMC), classificado segundo os critérios da World Health Organization (WHO, 1995). A massa corporal e estatura foram obtidas por meio de auto relato.

    O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP/PROPESQ) da UFJF (Parecer nº 394/2008) e o aceite para participação voluntária foi por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

    Os dados coletados foram digitados em planilha eletrônica e avaliados estatisticamente com o auxílio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 14.0. Para a elaboração dos gráficos foi utilizado o Excel.

Resultados e discussão

    Dentre os 266 alunos do curso de Farmácia avaliados, 66,2% eram do sexo feminino, resultado semelhante ao encontrado por Marcondeli, Costa e Schimitz (2008) que ao avaliarem os hábitos alimentares dos estudantes da área de saúde observaram que 65,0% eram do sexo feminino.

    A idade média dos universitários do curso de Farmácia da UFJF participantes deste estudo foi de 20,6 anos (DP= 1,9; faixa etária de 18 a 30 anos). A população era composta na sua maioria por indivíduos solteiros (98,1%), cuja fonte dos recursos financeiros de 78,5% deles era proveniente da família, semelhante à população universitária da área de Saúde de Recife (Pernambuco – Brasil) estudada por Paixão, Dias e Prado (2010).

    Nas pesquisas conduzidas por Monteiro e colaboradores (2009), foi constatado que a presença freqüente da família exerce grande influência sobre os hábitos alimentares dos estudantes, já que os universitários que não residiam com os pais tiveram menos acesso a todos os grupos alimentares. No nosso estudo, a maioria dos estudantes (66,5%) possuía uma família composta por 3 a 4 membros, sendo que 50,4% residiam com a mesma e 29,2% em república.

    De acordo com Levy e colaboradores (2012), a renda familiar exerce influência sobre a alimentação e quanto maior a renda familiar, maior o consumo de frutas, verduras, leite e derivados. No entanto, para o grupo das leguminosas, principalmente o feijão, ocorre uma tendência inversa. Nossos dados demonstram que a renda familiar da maioria dos alunos (59,0%) era superior a três salários mínimos. A renda familiar dos entrevistados pode ser observada na Figura 1.

Figura 1. Renda familiar dos estudantes do curso de Farmácia da Universidade Federal de Juiz de Fora

    O restaurante universitário (RU) foi citado pelos universitários como o local onde é realizada uma das principais refeições do dia e somente 3,8% dos alunos não almoçam no RU. A maioria dos entrevistados (50,4%) o utiliza 5 vezes/semana para o almoço. Tais resultados são condizentes com os encontrados por Alves e Boog (2007), em que 63,0% dos estudantes almoçavam no RU. De acordo com esses autores, o comportamento coletivo pode ser um fator importante na melhoria da qualidade da alimentação.

    Apenas 1,5% dos alunos afirmaram realizar mais de 6 refeições/dia, 42,3% consumiam 3 a 4 refeições/dia e 33,5% 4 a 5 refeições/dia. Dessa forma, constatou-se inadequação entre o número de refeições diárias consumidas e o preconizado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2005). De acordo com os dados coletados, as refeições principais nunca foram trocadas por lanches por pelo menos 23,1% dos universitários e apenas 27,7% afirmaram que preparavam refeições em casa. Vale ressaltar que o curso de Farmácia ocorre em período integral na UFJF, sendo assim aqueles que almoçavam fora de casa alegaram a falta de tempo como o principal motivo (54,2%) e a praticidade como o segundo motivo (30%).

    Dentre os alunos entrevistados, 40,4% relataram o consumo raro de fast foods, enquanto 43,1% consumiam este tipo de alimento 1 vez/mês. Tais resultados são discordantes do observado por Monteiro e colaboradores (2009).

    A atividade física não era um hábito freqüente entre os alunos, já que 27,3% nunca tiveram o hábito de praticá-la, 25,8% a praticavam antes de ingressarem na faculdade e 31,5% passaram a praticar menos após entrarem na universidade. Os dados demonstraram que apesar de serem alunos da área de saúde e possuírem conhecimento quanto aos benefícios da atividade física para o corpo e para a prevenção de doenças, os percentuais referentes ao hábito de praticar atividade física foram baixos e poderão ser melhorados. Tais percentuais são corroborados pelo estudo de Silva e colaboradores (2007), no qual os alunos do curso de Farmácia foram classificados pelos autores como os menos ativos dentre aqueles matriculados nos diferentes cursos da área de saúde. Segundo Marcondeli, Costa e Schimitz (2008), 65,5% dos universitários da área de saúde entrevistados foram considerados sedentários e 66,7% alegaram falta de tempo para atividade física.

    Apesar de não ser considerado como o melhor indicador do estado nutricional, o índice de massa corporal (IMC) foi empregado nesse estudo, por ser universalmente utilizado (SALUE, 2005). Os resultados variaram de 16,33 kg/cm2 a 34,29 kg/cm2 e a média obtida foi de 21,91 kg/cm2 (DP= 3,11), que de acordo com a classificação do estado nutricional é considerada eutrófica (WHO, 1995). Médias semelhantes foram encontradas por outros autores (BION et al., 2008; MARCONDELI; COSTA; SCHIMITZ, 2008; PETRIBÚ; CABRAL; ARRUDA, 2009).

    No presente trabalho, os universitários estavam regularmente matriculados entre o 2º e 10º períodos do curso de Farmácia da UFJF, no entanto, como na grade curricular desse curso nenhuma disciplina aborda especificamente o tema de educação alimentar, a análise comparativa entre o consumo alimentar dos alunos e o período cursado não foi realizada. Tal relação foi investigada por Franca e Colares (2008), os quais não encontraram variações significativas da conduta dos estudantes da área de saúde no início ou no final do curso.

    Quanto aos hábitos alimentares, a frequência da ingestão de feijão e lentilha, ervilha e grão-de-bico pode ser observada na Figura 2. De acordo com as recomendações, para os feijões e as oleaginosas 1 porção diária é considerada adequada (PHILIPPI, 2008). Sendo assim, os resultados encontrados são satisfatórios.

Figura 2. Freqüência da ingestão de leguminosas pelos estudantes do curso de Farmácia da Universidade Federal de Juiz de Fora

    A Figura 3 representa a comparação entre a freqüência de ingestão de leite, queijos e iogurte pelos universitários entrevistados. De acordo com a pirâmide alimentar adaptada, o ideal para suprir as necessidades de adultos e crianças são 3 porções diárias desses alimentos. Sendo assim, os dados encontrados sugerem insuficiência desse grupo alimentar. Tais resultados são condizentes tanto com o levantamento realizado pelo IBGE (2011), em que o consumo de leite foi aquém das recomendações, quanto nos estudos de Marcondeli, Costa e Schimitz (2008), em que o consumo do grupo do leite, queijos e iogurte mostrou-se o mais inadequado.

Figura 3. Freqüência da ingestão de leite, queijo e iogurte pelos estudantes do curso de Farmácia da Universidade Federal de Juiz de Fora

    Também foi investigada a freqüência com que os estudantes consumiam carnes e ovos e os resultados estão descritos na Figura 4.

Figura 4. Freqüência da ingestão de carnes e ovos pelos estudantes do curso de Farmácia da Universidade Federal de Juiz de Fora

    As vísceras foram as menos freqüentemente ingeridas pelos estudantes que demonstraram uma preferência pelas carnes de frango e boi. Mesmo sendo uma fonte rica em ômega 3, a ingestão de peixes foi baixa, assim como a de camarão. A explicação pode estar no fato da cidade em questão não ser litorânea. A mesma constatação foi feita por Monteiro e colaboradores (2009).

Figura 5. Freqüência da ingestão de peixes e camarão pelos estudantes do curso de Farmácia da Universidade Federal de Juiz de Fora

Conclusão

    Para se alcançar um estilo de vida saudável e se tornarem verdadeiros promotores da saúde, é necessário que os universitários investigados reavaliem a freqüência de ingestão de alimentos que compõem o grupo das carnes e ovos, do grupo do leite, queijos e iogurte e do grupo dos feijões e oleaginosas e tenham a atividade física como um hábito saudável para suas vidas.

Referências

  • ALVES, J. H.; BOOG, M. C. F. Comportamento alimentar em moradia estudantil: um espaço para promoção da saúde. Revista de Saúde Pública, v. 41, n. 2, p. 197-204, 2007.

  • BION, F. M.; CHAGAS, M. H. C.; MUNIZ, G. S.; SOUZA, L. G. O. Estado nutricional, medidas antropométricas, nível socioeconômico y actividad física em universitários brasileños. Nutrición Hospitalaria, v. 23, n. 3, p. 234-241, 2008.

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo alimentação saudável. Edição especial. Brasília, 2005. 236p.

  • FRANCA, C.; COLARES, V. Estudo comparativo de condutas de saúde entre universitários no início e no final do curso. Revista de Saúde Pública, v. 42, n. 3, p. 420-427, 2008.

  • INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009. Despesas, rendimentos e condições de vida. Rio de Janeiro, 2010.

  • INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009. Análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro, 2011.

  • LEVY, R. B.; CLARO, R. M.; MONDINI, L.; SICHIERI, R.; MONTEIRO, C. A. Distribuição regional e socioeconômica da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil em 2008-2009. Revista de Saúde Pública, v. 46, n. 1, p. 06-15, 2012.

  • MARCONDELI, P.; COSTA, T. H. M.; SCHIMITZ, B. A. S. Nível de atividade física e hábitos alimentares de universitários do 3º ao 5º semestres da área da saúde. Revista de Nutrição, Campinas, v. 21, n. 1, p. 39-47, 2008.

  • MONTEIRO, M. R. P.; ANDRADE, M. L. O.; ZANIRATI, V. F.; SILVA, R. R. Hábito e consumo alimentar de estudantes do sexo feminino dos cursos de nutrição e de enfermagem de uma universidade pública brasileira. Revista de APS, v. 12, n. 3, p. 271-277, 2009.

  • PAIXÃO, L. A.; DIAS, R. M. R.; PRADO, W. L. Estilo de vida e estado nutricional de universitários ingressantes em cursos da área de saúde do Recife/PE. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, v. 15, n. 3, p. 145-150, 2010.

  • PEREIRA, G. A. P.; GENARO, P. S.; PINHEIRO, M. M.; SZEJNFELD, V.; MARTINI, L. A. Cálcio dietético – estratégias para otimizar o consumo. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 49, n. 2, p. 164-180, 2009.

  • PETRIBÚ, M. M. V.; CABRAL, P. C.; ARRUDA, I. K. G. Estado nutricional, consumo alimentar e risco cardiovascular: um estudo em universitários. Revista de Nutrição, Campinas, v. 22, n. 6, p. 837-846, 2009.

  • PHILIPPI, S. T. Alimentação saudável e a pirâmide dos alimentos. In: PHILIPPI, S. T. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição. Barueri: Manole, 2008. cap. 1, p. 2-29.

  • SALUE, M. G. C. Estudo sobre peso corporal e obesidade. Lecturas: Educación Física y Deportes, año 10, n. 89, 2005.

  • SICHIERI R.; EVERHART, J. E. Validity of a Brazilian food frequency questionnaire against dietary recalls and estimated energy intake. Nutrition Research, Indiana, v. 18, n.10, p. 1649-1659, 1998.

  • SILVA, G. S. F.; BERGAMASCHINE, R.; ROSA, M.; MELO, C.; MIRANDA, R.; FILHO, M. B. Avaliação no nível de atividade física de estudantes de graduação das áreas saúde/biológica. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 13, n. 1, p. 39-42, 2007.

  • WILLETT, W. C. Nutritional Epidemiology. In: ROTH-MAN, K. J.; GREENLAND, S. Modern epidemiology. Lippincot (USA): Williams & Wilkins, 1998. p. 623-642.

  • WORLD HEALTH ORGANIZATION. Physical status: the use and interpretation of anthropometry. Report of a WHO Expert Committee. Geneva: WHO Technical Report Series 854; 1995.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 168 | Buenos Aires, Mayo de 2012  
© 1997-2012 Derechos reservados