efdeportes.com

Relação entre a capacidade aeróbia e o estado 

nutricional em adolescentes de ensino médio

Relación entre la capacidad aeróbica y el estado nutricional en adolescentes de escuela media

 

*Centro Universitário Metodista Bennett

UERJ, Universidade do Grande Rio

**Graduada em Educação Física

Centro Universitário Metodista Bennett

(Brasil)

Ms. José Marinho Marques Dias Neto*

marinho@bbheart.com.br

Thais Pereira Areal**

thaisareal@ig.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: Aptidão física é o conjunto de características ligadas ao condicionamento cardiorrespiratório, composição corporal, força muscular, resistência e flexibilidade, sendo importante indicador tanto em jovens quanto em adultos. Objetivos: Investigar a existência ou não de relação entre a capacidade aeróbia e a composição corporal em adolescentes de Ensino Médio. Métodos: A amostra foi composta por 59 alunos voluntários sendo (30 do gênero feminino e 29 do gênero masculino), com idade entre 16 e 17 anos de uma escola pública do Rio de Janeiro RJ. Para a classificação do IMC foi adotada como referência a tabela de Cole e col. (2000). O Consumo Máximo de Oxigênio (VO2máx) foi obtido através da aplicação do Teste de Multiestágios de 20m de Leger e Lambert (Beep Test). Para a comparação dos resultados foi aplicado o índice de Correlação de Pearson. Resultados: Ao tentar estabelecer a relação entre o IMC e o VO2máx, observou-se uma correlação não significativa (p>0,05) em ambos os sexos. Foi constatada correlação significativa de (-0,35) entre os meninos e (-0,41) entre as meninas (p≤0,05) entre o peso corporal ao VO2máx. Conclusão: Os resultados encontrados nesse estudo nos levam a crer que a herança genética, a rotina alimentar e o tipo de exercício físico exerçam papel importante nas relações propostas, embora tenhamos observado alguma correlação entre o peso corporal e o VO2máx.

          Unitermos: Consumo de oxigênio. Estado nutricional. Ensino Médio.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Entende-se saúde como o completo bem estar físico, social e mental e não apenas ausência de doença ou enfermidade (OMS, 1946). Neste contexto, bem estar físico, ou aptidão física, é o conjunto de características ligadas ao condicionamento cardiorrespiratório, composição corporal, força muscular, resistência e flexibilidade capaz de manter um nível moderado de atividade física durante toda a vida (ACSM, 1998). Aptidão física relacionada à saúde inclui componentes que possibilitam mais energia para o trabalho e as tarefas cotidianas, diminuindo o risco de desenvolver doenças relacionadas a baixos níveis de atividade física (NAHAS, 2003).

    Wilmore e Costill (2001) definem resistência cardiorrespiratória como capacidade do corpo de manutenção de um esforço prolongado, sendo ela dependente de diversos parâmetros cardiovasculares (tamanho do coração, volume de ejeção, freqüência cardíaca, etc). A eficiência do sistema cardiorrespiratório pode ser avaliada através da medida do consumo máximo de oxigênio (VO2máx). O VO2máx é produto do debito cardíaco pela diferença artério-venosa (Fernandes FILHO, 2003).

    Guedes e Guedes (2006) dividem os testes de esforço físico em ergométricos e de campo. Os testes ergométricos, devido à sofisticação do equipamento, permitem padronizar e quantificar com mais exatidão o trabalho muscular, enquanto os de campo, embora sejam menos precisos e mais suscetíveis às variações ambientais, têm grande serventia por seu baixo custo, rentabilidade e pela boa relação estatística com os parâmetros fisiológicos a serem medidos.

    Leger e col. (1988) desenvolveram um teste campo, realizado em multi-estágios de 20m (Beep Test), com o intuito de medir o consumo máximo de oxigênio de jovens, adultos saudáveis e atletas, tendo obtido bons índices de validade e reprodutibilidade.

    A composição corporal é definida como a relação de gordura, minerais, proteínas e água no corpo (Robergs e Robert, 2002). Mc Ardle, Katch e Katch (2008) apontam a densitometria, o percentual de gordura corporal e o Índice de Massa Corporal (IMC) como sendo métodos interessantes de medida do estado nutricional voltados para a classificação ponderal. Estes mesmo autores, Condei (2006) e Vitolo e col (2007) destacam o IMC por sua praticidade e por sua boa correlação com os fatores de risco de doenças. O IMC é utilizado com sucesso para a classificação do estado nutricional em adolescentes (CONDEI, 2006).

    Deste modo, o objetivo deste estudo foi investigar a existência ou não de relação entre a capacidade aeróbia e a composição corporal em adolescentes de Ensino Médio.

Material e métodos

    A amostra foi composta por 59 alunos voluntários, sendo 30 do gênero feminino e 29 do gênero masculino, com idade entre 16 e 17 anos. Todos os alunos estavam matriculados numa escola pública localizada na cidade do Rio de Janeiro.

    A participação de cada aluno foi previamente esclarecida e concedida através da assinatura de um termo de consentimento livre esclarecido pelos responsáveis respeitando as diretrizes e normas reguladoras de pesquisa envolvendo seres humanos de acordo com a resolução 196/96 Conselho Nacional de Saúde.

    O índice de Massa Corporal (IMC) é calculado a partir da medição da estatura em (metros) e do peso corporal em (Kg), através da seguinte fórmula: IMC= peso/ estatura2 (ANJOS, 1992). O peso corporal foi aferido através de uma balança digital modelo Tamita 2001 com precisão de 100g. Ficou esclarecido e padronizado que os alunos que participaram da amostra tinham que estar descalços, vestindo calções (ou bermudas) e camisas. Não foram permitidos relógios, cordões ou qualquer outro tipo de acessório que pudessem influenciar o resultado. Para a medição da estatura, foi utilizado um estadiometro da marca Seca, precisão em centímetros. Os alunos foram medidos descalços, com os pés unidos, cabeça no plano de Frankfurt e com uma leve inspiração. Para a classificação do IMC foi adotada como referência a tabela de Cole e col. (2000).

    O Consumo Máximo de Oxigênio (VO2máx) foi obtido através da aplicação do Teste de Multiestágios de 20m de Leger e Lambert (Beep Test) (GUEDES E GUEDES 2006). A distância de 20 m foi demarcada numa quadra poliesportiva, onde cinco alunos, no máximo, se deslocavam ao som do apito do professor, que, por sua vez, era guiado por sinais sonoros de um aparelho mp3 com o protocolo do teste. O teste foi interrompido com a desistência voluntária do aluno ou por dois atrasos de percurso. O VO2máx foi calculado pela fórmula VO2máx = 31,035 + (vel x 3,238) – (idade x 3,248) + (vel x idade x 0,1536) (LEGER e col., 1988, citado por GUEDES e GUEDES, 2006).

    Foram calculados os percentuais de distribuição das faixas de IMC e VO2máx. Além disto, determinou-se o Índice de Correlação de Pearson entre o IMC e o VO2máx e a Massa Corporal e o VO2máx dos alunos.

Resultados

    Não foi encontrada correlação entre IMC e o VO2máx nos meninos (p>0,05). Por outro lado, entre o Peso Corporal e o VO2máx notou-se uma correlação negativa (-0,35), moderada e significativa (p≤0,05) (Tabela 1).

Tabela 1. Resultados – Meninos

    Não foi encontrada correlação entre IMC e o VO2máx (p>0,05). Por outro lado, entre o Peso Corporal e o VO2máx notou-se uma correlação negativa (-0,41), moderada e significativa (p≤0,05) (Tabela 2).

Tabela 2. Resultados - Meninas

    A composição corporal da amostra apresentou valores de IMC com um interessante predomínio da normalidade. Observou-se que os meninos apresentaram uma composição corporal um pouco inferior, onde 17% estão faixa do sobrepeso ou da obesidade contra apenas 10% das meninas. (Figuras 1 e 2).

Figura 1

 

Figura 2

    A distribuição do consumo de oxigênio da amostra apresentou certa diferença ao levarmos em consideração o gênero. Enquanto as meninas estiveram classificadas em sua maioria na faixa do razoável (59%), os meninos tiveram predominância da faixa bom (41%). Vinte por cento dos meninos foram considerados excelentes ou superiores contra apenas 10% das meninas. Nenhuma componente do sexo feminino foi avaliada como muito ruim. (HEYWARD, 2006). (Figuras 3 e 4).

Figura 3

 

Figura 4

Discussão

    Malina e Bouchard (2002) destacam que o consumo máximo de oxigênio nos jovens em crescimento é influenciado pelo tamanho corporal, estado de maturação e gênero. Além disto, o desempenho aeróbio depende na adolescência de fatores estruturais, fisiológicos e bioquímicos.

    O consumo máximo de oxigênio por quilograma expressa com confiabilidade o desempenho aeróbio em comparações transversais (ROWLAND, 2008).

    O mesmo autor aponta que valores de VO2máx em meninas tendem a decrescer com o crescimento, atingindo valores médios de 40ml/kg/min no final da adolescência devido ao acúmulo de gordura proveniente da maturação sexual e pela tendência sedentária do sexo feminino na juventude.

    Machado, Antonacci e Denadai (2002), avaliando 40 crianças e adolescentes brasileiros do sexo masculino com idade entre 10 e 15 anos não praticantes de atividade física sistemática, concluíram que o VO2máx (l/min), a máxima velocidade aeróbia e velocidade correspondente ao VO2máx têm seus valores aumentados como um provável efeito do crescimento e desenvolvimento, ou mesmo da melhora da economia de movimento.

    Duarte e Duarte (2001) obtiveram bons índices de correlação entre os testes ergométricos e o teste de 20m em multiestágios em brasileiros. Para mulheres entre 15 e 25 anos, a correlação foi de 0,75 e para homens de 21 a 43 anos, o índice foi de 0,73.

    Observando o VO2máx encontrado em nossa amostra, 61% dos meninos apresentam índice bom ou superior, enquanto as meninas apresentaram predominância da classificação razoável, segundo Heyward (2006).

    O IMC está fortemente associado ao total de massa gorda e ao percentual de massa gorda tanto em meninos (0,85 e 0,63, respectivamente) quanto em meninas (0,89 e 0,69, respectivamente). Deste modo, o IMC se mostra uma importante medida na composição corporal em jovens, tendo limitações na comparação entre faixas etárias e grupos específicos (atletas, por exemplos) (Pietrobelli e col., 1998).

    Abrantes, Lamounier e Colosimo (2000), medindo 3943 adolescentes das regiões nordeste e sudeste do Brasil, encontraram 9,3% de obesidade e 3,0% de sobrepeso entre adolescentes do sexo feminino e 7,3% e 2,6%, respectivamente, nos meninos. Nossos dados foram semelhantes, embora os meninos tenham apresentado composição corporal inferior às meninas. O PNDS 2006 aponta em mulheres entre 15 e 19 anos, 21,6% com sobrepeso e 4,4% obesas (BRASIL, 2006).

    A amostra feminina componente deste estudo difere bastante em termos de estado nutricional do padrão populacional brasileiro para esta idade (BRASIL, 2006). Já a condição aeróbia dos avaliados se situou entre razoável e boa em sua maioria, com tendência de superioridade para os meninos.

    Rodrigues (2009) relatou uma alta correlação entre o IMC e o VO2máx (utilizando o teste de 20m em multiestágios), em um estudo realizado com 100 alunos de ambos os sexos com faixa etária entre 10 a 15 anos de um Projeto Social da cidade de Itumbiara-Go, embora não tenha utilizado instrumentos estatísticos para comprová-la.

    Watanabe e col. (1994), em pesquisa realizada com 37 jovens japoneses entre 12 e 15 anos, também encontrou forte correlação negativa entre o percentual de gordura e o VO2máx. Nos meninos, o índice foi de -0,742 e nas meninas -0,843. Em nosso estudo, observamos correlação moderada e não significativa.

    Os mesmos autores verificaram alta correlação entre o peso magro e o VO2máx nos meninos (0,923) e fraca nas meninas (0,315).

    Fernandes e col. (2009), em trabalho cientifico realizado com 32 adultos jovens do sexo masculino e sem histórico prévio de doenças, observaram que o menor consumo máximo de oxigênio associou-se com maior excesso de peso (p= 0,005). Nossos achados apontam correlação negativa moderada e significativa (p≤0,05) entre o peso corporal e o VO2máx tanto em jovens do sexo masculino quanto do feminino, respectivamente, -0,35 e -0,41.

    Supõe-se que a herança genética e a rotina alimentar exerçam grande influencia sobre a composição corporal dos adolescentes. Além disto, o tipo, freqüência e a quantidade de exercício físico também interferem diretamente nas relações estudadas.

Conclusão

    Ao observarmos o estado nutricional da população brasileira do sexo feminino constatamos discrepância com o que encontramos em nosso estudo (PNDS, 2006). Já a condição aeróbia dos avaliados se situou entre razoável e boa em sua maioria, com tendência de superioridade para os meninos.

    Observa-se a existência de certo antagonismo nos resultados deste estudo. Se, por um lado, a relação entre o IMC e o VO2máx não parece ser significativa, por outro existe uma correlação moderada entre o peso corporal e o VO2máx.

    Para um próximo estudo, recomenda-se que sejam utilizadas outras faixas etárias e com um maior numero de participantes e com diferentes níveis sócio-econômico, (limitação do estudo-discução) pois segundo Machado, Antonacci e Denadai (2002), a máxima velocidade aeróbia e a velocidade correspondente ao VO2máx têm seus valores aumentados como um provável efeito do crescimento e desenvolvimento.

Referências

  • ABRANTES, M.; LAMOUNIER, J.; COLOSIMO, E. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes das regiões Sudeste e Nordeste. Jornal de Pediatria, v.78, no.4, p. 335-340, 2002.

  • American College of Sports Medicine (ACSM). Position Stand on The Recommended Quantity and Quality of Exercise for Developing and Maintaining Cardiorespiratory and Muscular Fitness, and Flexibility in Adults. Med. Sci. Sports Exerc., v.30, no. 6, p. 975–991, 1998.

  • ANJOS, A.A. Índice de massa corporal (Massa Corporal * Estatura²) como indicadores do estado nutricional de adultos. Revista Pública. São Paulo, v. 26, no. 6, 1992.

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Mulher e da Criança (PNDS), 2006.

  • Cole, T.J.; Bellizzi M.C.; Flegal K.M.; Dietz W.H. Establishing a standard definition for child overweight and obesity worldwide: international survey. British Medical Journal, no. 320, p. 1240-1243, 2000.

  • CONDEI, W. L. Valores críticos do índice de massa corporal para classificação do estado nutricional de crianças e adolescentes brasileiros. Jornal de Pediatria, v.82, no.8, p.266-272, jul./ago. 2006.

  • DUARTE, M. de F., DUARTE, C. R. Validade do teste de corrida de vai-e-vem de 20 metros. Revista brasileira ciência e Movimento. v.9, no.3, p. 07-14, 2001.

  • FERNANDES FILHO, J. A prática da avaliação física. Rio de Janeiro: Shape, 2003.

  • Fernandes, R.; Codogno, J.; Campos, E.; Rodrigues, E.; Sousa, S.; Balikian Júnior, P.; Freitas Júnior, I. Consumo máximo de oxigênio e fatores de risco cardiovascular em adultos jovens. Rev. bras. ativ. fís. saúde; v.14, no.2, p. 96-102, maio-ago, 2009.

  • GUEDES, D.; GUEDES, J.E. Manual prático para avaliação em Educação Física. São Paulo: Manole, 2006.

  • Léger, L.A.; Mercier, D.; Gadoury, C.; Lambert, J. The multistage 20 metre shuttle run test for aerobic fitness. J Sports Sci. v.6, no.2, p. 93-101, 1988.

  • Machado, F.; Antonacci, L. G.; Denadai, B.S. Velocidade de corrida associada ao consumo máximo de oxigênio em meninos de 10 a 15 anos. Rev Bras Med Esporte, Vol. 8, Nº 1, Jan/Fev 2002.

  • MALINA, R.; BOUCHARD, C. Atividade física do atleta jovem. São Paulo: Roca, 2002.

  • McARDLE, W., KATCH, F.; KATCH, V. Fisiologia do exercício – Energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

  • NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida. 2. Londrina: Midiograf, 2003.

  • Pietrobelli A.; Faith M.S.; Allison D.B.; Gallagher D.; Chiumello G.; Heymsfield S.B. Body mass index as a measure of adiposity among children and adolescents: a validation study. Jornal de Pediatria. v.132, no.2, p. 204-10, Fevereiro 1998.

  • Robergs, R. A.; Robert, S. O. Princípios fundamentais de fisiologia do exercício para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo: Phorte, 2002.

  • ROWLAND, T. Fisiologia do exercício na criança. Manole: Barueri-SP, 2008.

  • VITOLO, M. R.; CAMPAGNOLO, P.; BARROS, M. A.; GAMA, C.; LOPEZ, F. Avaliação de duas classificações para excesso de peso em adolescentes brasileiros. Revista de Saúde Publica, São Paulo, v. 41, n. 4, p.653-656, ago. 2007.

  • Watanabe K, Nakadomo F, Maeda K. Relationship between body composition and cardiorespiratory fitness in Japanese junior high school boys and girls. Ann Physiol Anthropol. v.13, no.4, p.167-74, Jul 1994.

  • WILMORE, J.; COSTILL, D. Fisiologia do esporte e do exercício. São Paulo: Manole, 2001.

  • World Health Organization (OMS). International Health Conference, New York, 19-22 June, 1946.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 168 | Buenos Aires, Mayo de 2012  
© 1997-2012 Derechos reservados