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Panorama das atividades físicas aplicadas no Serviço Social da Indústria (SESI) durante o nacional desenvolvimentismo:
análises e reflexões

Overview of physical activity in Applied Social Services Industry (SESI)
during the national developmentalism: analysis and reflections

Visión general de las actividades físicas aplicadas en el Servicio Social de 

la Industria (SESI) durante el nacional desarrollismo: análisis y reflexiones

 

*Graduado em Direito pela Universidade São Francisco

Graduando em Ciência da Atividade Física pela USP

Pós Graduado em Psicologia Política pela USP

Mestrando em Participação Política pela USP

**Graduado em Direito pela UNIBAM

Graduando em Ciência da Atividade Física pela USP

***Profº Dr° de Ciências da Atividade Física da Universidade de São Paulo

Eduardo Mosna Xavier*

eduardo.xavier@usp.br

William Cloudes Galhardo**

galhardowilliam@hotmail.com

Marco Antonio Bettine de Almeida***

marcobettine@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O Nacional Desenvolvimentismo Brasileiro, período histórico identificado entre os anos de 1946 (fim do Estado Novo) e 1964 (início da Ditadura Militar), foi caracterizado pela criação e multiplicação dos chamados “Serviços Sociais”, entidades paraestatais que ofertava Educação, Lazer e Atividade Física á classes sociais operárias específicas. Dentro de a estrutura do Sistema “S”, destacou-se o Serviço social da Indústria (SESI), por sua destacada atuação no campo da promoção do Esporte (Jogos Abertos do Interior, Olimpíadas Operárias, atividades de lazer e de esporte nos clubes, etc.). Entretanto, a existência de um ambiente propício a formação de uma consciência de classe (fator esse favorecido, inclusive, pela prática de atividades físicas) não possibilitou uma formação ideológica daquele grupo social. O esporte e a atividade física, na verdade, eram utilizados apenas como ferramentas para a ocupação do tempo livre.

          Unitermos: Nacional desenvolvimentismo. Atividade física. Serviço Social da Indústria.

 

Resumen
         
El nacional desarrollismo brasileño, identificado con el período histórico comprendido entre los años 1946 (el fin del Estado Novo) y 1964 (inicio de la dictadura militar), se caracterizó por la creación y la multiplicación de los llamados "servicios sociales", las entidades paraestatales que ofertaban Educación, Recreación y Actividades físicas a sectores sociales de trabajadores específicos. En el marco de la "S" del sistema, el más destacado fue el Servicio Social de la Industria (SESI), por su destacada labor en el campo de la promoción de los deportes (Juegos Abiertos del Interior, Juegos Olímpicos de Trabajadores, actividades de ocio y deporte en los clubes etc.). Sin embargo, la existencia de un entorno propicio para la formación de la conciencia de clase (un factor favorecido incluso por la actividad física) no permitió una formación ideológica de ese grupo social. El deporte y la actividad física, de hecho, sólo se utilizaron como herramientas para la ocupación del tiempo libre.

          Palabras clave: Nacional desarrollismo. Actividad física. Servicio Social de la Industria,

 

Abstract

          The Brazilian National Developmentalism, identified the historical period between the years 1946 (the end of the Estado Novo) and 1964 (beginning of the military dictatorship), was characterized by the creation and multiplication of so-called "Social Services", parastatal entities that offer Education, Recreation and Activity Physics classes will specific social workers. Within the framework of the "S" system, the highlight was the Social Service of Industry (SESI), for his distinguished work in the field of promotion of sports (Open Country Games, Olympics Workers, leisure activities and sports clubs, etc.). However, the existence of an enabling environment for the formation of class consciousness (a factor that favored even by physical activity) did not allow an ideological formation that social group. The sport and physical activity, in fact, were only used as tools for the occupation of free time.

          Keywords: National developmentalism. Physical activity. Social Service of Industry.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Contextos históricos Relevantes do SESI

    A década de 1940 significou para o Brasil um período de adaptação às recentes mudanças no cenário interno e externo: a renúncia de Getúlio Vargas, o fim da Segunda Guerra Mundial, a posse de Eurico Gaspar Dutra na presidência da República e o crescimento da industrialização. Era uma época com perspectivas de liberdade e democracia. Por outro lado, aumentavam as tensões sociais – reflexo de problemas nos setores de alimentação, saúde, transportes e habitação.

    Entre os empresários da indústria, da agricultura e do comércio estava clara a necessidade de criar um plano de ação social para o Brasil. Exposto na Carta Econômica de Teresópolis, de 1945, o pensamento ganhou força após uma reunião de sindicatos patronais e empregados de Minas Gerais. Ali, elaborou-se a Carta da Paz Social, amparada pelos princípios de solidariedade social que norteariam a criação do SESI.

    Em junho de 1946, o Presidente da República Eurico Gaspar Dutra baixou o Decreto Lei 9.043, instituindo o Serviço Social da Indústria e entregando-o à Confederação Nacional da Indústria (CNI). Esta Instituição tinha como fundamento, a melhora na qualidade e no estilo de vida do trabalhador do ramo industrial, evidenciado logo no corpo do artigo 1º do Decreto em questão:

    Art.1º: Fica atribuído à Confederação Nacional da Indústria o encargo de criar o Serviço Social da Indústria (SESI), com a finalidade de estudar, planejar e executar, direta ou indiretamente, medidas que contribuam para o bem estar social dos trabalhadores na indústria e nas atividades assemelhadas concorrendo para a melhoria do padrão geral de vida no país, e bem assim, para o aperfeiçoamento moral e cívico e o desenvolvimento do espírito de solidariedade entre as classes.

    A preocupação do Governo com a vida social, econômica e moral do trabalhador constitui fator preponderante no objetivo estratégico que culminou coma criação do SESI. Além desta motivação, a criação deste Serviço Social específico pode ser explicada pelo abrupto crescimento da insurgente classe operária, produto da industrialização pujante que caracterizou o Período Nacional Desenvolvimentista. Segundo Júnior (2004), este cenário mobilizou o Poder constituído para a criação de uma modalidade de Serviço Social que, de forma geral, dividisse responsabilidades entre Setor Público e Privado1 sobre a vida laboral e extra laboral dos industriários e de seus familiares.

    O empresariado industrial propôs a criação do SESI, fundado sob a égide da visão liberal-humanista na perspectiva da paz social, da produtividade industrial e do reconhecimento, pelos líderes industriais de então, da responsabilidade social da empresa (pág. 72).

    Fica evidenciada, na passagem acima citada, a presença do conceito liberal na específica criação desta Entidade Paraestatal. O século XX marcou o auge da Política Pública do Liberalismo, onde o Governo geria a máquina estatal através da participação decisiva do Setor Privado. No caso do SESI, a gestão sobre a vida dos industriários, tanto nas suas atividades de trabalho quanto em seus momentos de folga e de lazer, foi distribuída entre o Governo e a Classe Dirigente dos Industriários, representando um micro cosmo do que seria preceituado pelo liberalismo moderno.

    A entidade teve, por finalidade, prestar assistência aos trabalhadores industriais, buscando preencher suas “carências” em diversos aspectos: transporte, alimentação, habitação, higiene e saúde, problemas econômicos e domésticos provenientes das relações no mundo do trabalho, conhecimento dos “deveres sociais e cívicos”, e a “defesa dos salários reais”. Concisamente, o SESI atuou (e atua) nas áreas de educação, saúde e lazer. Com efeito, pode-se identificar em seu Regulamento:

    Art. 5º. São objetivos principais do SESI: (a) alfabetização do trabalhador e seus dependentes; (b) educação de base; (c) educação para a economia; (d) educação para a saúde (física, mental e emocional); (e) educação moral e cívica; (f) educação comunitária.

    O artigo 5º marca uma passagem de suam importância na concepção idealística deste Serviço Social. O uso do termo “educação” abrange uma série de atividades da vida diária realizadas pelos industriários e seus familiares: base, economia, saúde moral, civismo e comunidade, de forma geral, contemplam todas as áreas de convivência destes industriários, demonstrando uma massiva presença do SESI na formação não apenas social, mas ideológica de todos aqueles que conviviam nos espaços por eles destinados, potencializando ainda mais o efeito da socialização política.

    Ainda analisando o artigo, verifica-se uma preocupação abrangente do termo “educação para a saúde”, envolvendo as áreas física, mental e emocional. Desta forma, o SESI tornou-se um dos pioneiros no Brasil em utilizar o vasto conceito de “saúde”, desmistificando esta palavra como uma mera “ausência de doença”, mas como uma situação onde o ser humano apresenta uma plena qualidade de vida. Entretanto, cabe esclarecer que a saúde do trabalhador também era importante para garantir sua produção laboral, impulsionando, de forma crescente e constante, a já citada pujante indústria do Nacional Desenvolvimentismo.

    Inicialmente classificadas como Delegacias Regionais, os Departamentos Regionais do SESI nos Estados Brasileiros foram surgindo gradualmente. Ao longo dos anos, cada região foi se destacando em áreas específicas. Hoje, no entanto, todos os Departamentos do SESI nos 26 estados e no Distrito Federal são percebidos pelos empresários locais como parceiros para o desenvolvimento social de suas indústrias e de seus funcionários.

    Como anteriormente visto, a criação do SESI possui um forte caráter político-ideológico, sobretudo no tocante ao controle e formação da pujante classe operária brasileira. O Governo Federal, atento às esta circunstância, buscava com este Serviço Social um mecanismo de solidarizar, de forma controlada, estes funcionários. Entretanto, segundo Rodrigues (2007), apesar da proximidade de princípios com o Estado do Bem Estar Social, tal filosofia de “encantamento” do proletariado, apregoada pelo SESI (sobretudo durante o Nacional Desenvolvimentismo), não criou raízes, tampouco repercussões práticas profícuas, em nosso território:

    Se o SENAI buscava atender aos interesses industriais ao formar profissionalmente o trabalhador, o SESI surge com o objetivo conformar “moral e civicamente” a força de trabalho, funcionando como indutor da “solidariedade de classes”. Ambos são objetivos bastantes articulados com os princípios do Estado de Bem-Estar Social, então montado nos Estados Unidos e na Europa, logo após a Segunda Guerra Mundial, e cujos benefícios nunca se generalizaram no Brasil (pág. 168).

    O SESI, presente em todos os Estados da Federação e no Distrito Federal por intermédio de Departamentos Regionais, possui sua jurisdição na respectiva base territorial, além de usufruir de autonomia técnica, financeira e administrativa. Sua função é a prestação de serviços sociais (nas modalidades anteriormente citadas) visando à melhoria da qualidade de vida do trabalhador da indústria e sua família.

    No dias atuais, além de disponibilizar seus serviços nos Centros de Atividades e nas Unidades Operacionais e Móveis, o Departamento Regional desenvolve ações dentro da empresa industrial, em sintonia com as necessidades e expectativas do empresariado. Diversos projetos beneficiam também a comunidade, mediante parcerias e convênios firmados com instituições governamentais e privadas, nacionais e internacionais.

    Dentro das atividades desportivas oferecidas pelo SESI, destacam-se as destinadas para á área de lazer, a escolar e a competitiva, em diversas faixas etárias e profissionais. Os Jogos Nacionais do SESI e a Copa do Mundo do Trabalhador (fomentados e iniciados durante o Nacional Desenvolvimentismo) exemplificam estes tipos de eventos, peculiares ao Serviço Social referenciado, que são destinados ao público alvo, como ilustra Júnior (2004):

    Quanto ao esporte, ele aparece na área de Lazer do SESI na linha de desporto educacional e de participação. São oferecidos cursos nas mais diversas modalidades esportivas e realizados torneios e campeonatos para crianças, adolescentes, adultos e idosos, trabalhadores da indústria e assemelhadas, tais como Jogos Nacionais do SESI e a Copa do Mundo de Futebol do Trabalhador (pág. 74).

    Esta ampla dimensão de atuação, alcançada nos dias atuais pelo SESI, foram cultivadas e semeadas incisivamente durante o Período Nacional Desenvolvimentista. A promoção de atividades de mobilização lúdica e desportiva que congregava trabalhadores industriários e seus familiares (como os Jogos Operários) constituíram importantes ferramentas de ação utilizadas por esta Entidade Paraestatal logo após a sua criação, ainda no fim da década de 1940.

Espaços destinados à prática de atividades físicas

    A prática de atividade física, tanto pelo aspecto lúdico como pelo escopo competitivo, demanda um espaço compatível para tal finalidade, proporcionando não apenas um conforto e segurança para a prática, como também um importante aspecto motivacional. Tais ações devem gerar ao praticante uma motivação suficiente para manter o movimento em sua diversidade, almejando não apenas resultados quantitativos (para desportistas profissionais), como qualitativos (para praticantes amadores, ou, até mesmo, pessoas que usufruam o aspecto etéreo da atividade em pauta).

    Segundo Ziperovich (2007), o termo “espaço” pode implicar numa diversidade de interpretações, com inúmeras significações que variam não apenas com a estrutura física, mas com os materiais que pertencem ao local, bem como a distribuição dos mesmos no terreno onde se pratica uma atividade física ou de lazer. Este autor ilustra tal multiplicidade de fatores que dão significado a um ambiente, utilizando um exemplo comparativo entre espaços:

    Um espaço escola, não seria claramente definido como tal se não analisássemos a totalidade dos elementos e áreas (ou sub-espaços) que conformam ou poderiam conformar ao longo do tempo e como resultado ou avaliação de sua implementação (salas, quadros, sanitários, pátio, entre outros). O edifício, sem todos estes equipamentos, é simplesmente um container que não responde a nenhuma orientação nem funcionalidade específica (pág. 69).

    Portanto, levando em consideração a área física, além dos profissionais que ministram as atividades nestes locais, os estabelecimentos sob os auspícios do Serviço Social da Indústria foram analisados, no referenciado período, vislumbrando a estrutura desportista e de lazer disponibilizada às crianças, adolescentes e adultos, tanto para o esporte competitivo, como para as atividades lúdico-recreacionais, além daquelas ministradas em suas Escolas.

    O SESI foi um dos pioneiros no Brasil a fundir determinada Classe Social (no caso, a de industriários) para realizar competições de caráter esportivo. Segundo Lefebvre (2005), este Grupo Social, além de possuir uma ideologia fixa, constituiu-se num produto do coletivo de seu meio, ou seja, carrega nas qualidades individuais, traços e características marcantes da fonte de seu comportamento, qual seja, a necessidade, a fruição e o trabalho. Estes três aspectos são fundamentais para a formação de uma ideologia típica de Classe que, por despertar interesse governamental (já que formava a principal mão de obra para o período histórico brasileiro aqui analisado), necessitava de interferências diretas e indiretas para sua condução dentro dos objetivos Estatais:

    O proletariado e o proletário se reúnem, como tais, direta e imediatamente, nas três fontes (dimensões ou fundamentos) do psiquismo humano: necessidade, trabalho, fruição. O proletário trabalha e percebe como uma evidência a exigência individual e social do trabalho. Quanto à necessidade, ele a ressente, mais vivamente que qualquer outra classe, como falta ou como exigência. Enfim, o proletariado como classe e o proletário como indivíduo precisaram ou precisam, lenta e dificilmente, conquistar a fruição como satisfação da necessidade e recompensa do trabalho (pág. 36).

    A necessidade de atender a Classe dos Industriários fomentou a construção de estruturas de esportes que satisfizessem seus anseios. Com base no crescente apreço popular pelo futebol, os Clubes pertencentes a esta Entidade Paraestatal construíram inúmeros campos de futebol, utilizando uma grande variedade de tipos de calçamento (grama, areia e concreto). A diversidade de tipo de campo atingiu diretamente a preferência dos industriários, ocasionando um aumento substantivo da filiação desta Classe de Trabalhadores junto ao Serviço Social da Indústria.

    Em 1946 (logo após sua fundação), o SESI foi pioneiro em organizar uma competição esportiva que envolveu trabalhadores deste segmento de produção. A 3ª Olimpíada Operária, realizada durante todo o mês de maior de 1949, foi a que teve maior destaque. Embrião dos Jogos Abertos do Interior, a estrutura desta competição impressionou para os padrões da época. Segundo relatos da FIESP, esta competição envolveu, ao todo, 1.000 (mil) atletas de diversas regiões brasileiras. Sediada em São Paulo, a 3ª Olimpíada trouxe competidores de locais onde se iniciava o processo de industrialização (ainda concentrada na região sudeste), como, por exemplo, a ilustrada na foto abaixo. O “Brasmeler Clube”, time de futebol de uma pioneira siderúrgica baiana, localizada em Salvador, competiu na modalidade de futebol de campo.

Figura 1. “Brasmeler Clube” – Participante Baiano da 3ª Olimpíada Operária do SESI.

    O SESI concretizou esta união do proletariado para a realização de práticas esportivas competitivas organizando a primeira edição dos “Jogos Abertos do Interior”, elaborado por esta Instituição, em 1953. Este evento reunia todos os trabalhadores cadastrados nas diversas modalidades disponibilizadas por este Serviço Social e, segundo o site do SESI (www.sesi.org.br), reuniu mais de 10.000 pessoas nas disputas de diversas competições esportivas, tanto individuais quanto coletivas:

Figura 2. Cerimônia de Início do 1º Jogos Abertos do Interior, realizada em 1953

    A interpretação da fotografia acima, utilizando os elementos da imagem aliados com os fatores políticos que permeiam sua análise, nos auxilia na avaliação crítica de diversos fatores acerca destes Jogos, conforme abordamos abaixo:

    A vinculação da atividade física com o lazer possui estreitos laços de relacionamento e interesse mútuo, marco que se perpetua nos Serviços Sociais até os dias atuais. A simbiose existente entre eventos na área recreacional, esportiva e lúdica, destinados à nascente massa proletária, bem com o envolvimento significativo de seus sócios, pode ser constatado nesta passagem extraída de Ramalho (2000):

    O poder de comunicação entre industriário e o SESI era tão sedimentado que bastava o canal informal de divulgação de eventos (de qualquer natureza), para que a participação nos mesmos fosse considerável. Tal fato, apesar de gerar um círculo virtuoso que possibilitou um sensível aumento do número de sócios, impediu ações de marketing que gerassem um arquivo destes eventos para estudos posteriores, sendo que os relatos e, principalmente, os efeitos destes “jogos informais” acabaram se perdendo no tempo.

    Em suas escolas, o SESI (apesar de apresentar uma formação em classes híbridas, compostas por ambos os gêneros) dispunha, nas aulas de Educação Física, de atividades que segregavam meninos e meninas. Como bem ilustra Souza & Altmann (1999), os meninos realizavam esportes e dinâmicas relacionadas com a força (poder e dominação, como os esportes coletivos – caso do futebol). Já as meninas realizavam ações mais suaves, que privilegiavam a beleza e a sensibilidade (suscetíveis à dominação, como as danças – caso do ballet), numa clara acepção de uma formação machista, com reflexos diretos e indiretos na própria socialização política destes futuros cidadãos:

    Aos homens era permitido jogar futebol, basquete e judô, esportes que exigiam maior esforço, confronto corpo a corpo e movimentos violentos; às mulheres, a suavidade de movimentos e a distância de outros corpos, garantidas pela ginástica rítmica e pelo voleibol. O homem que praticasse esses esportes correria o risco de ser visto pela sociedade como efeminado. O futebol, esporte violento, tornaria o homem viril e, se fosse praticado pela mulher, poderia masculinizá-la, além da possibilidade de lhe provocar lesões, especialmente nos órgãos reprodutores (pág. 58).

    Ora, estes espaços proporcionados pelo SESI poderiam não apenas formar futuros atletas competitivos. Tais locais poderiam propiciar, inclusive, a formação de um Capital Social, caráter identitário de formação de uma classe social e laboral, necessário não apenas à profissionalização de atleta, como também na criação de um sentimento de proteção e de cuidado entre aqueles que compõem um grupo social. O Movimento Olímpico, por exemplo, serviu como um espaço propício a formação do Capital Social. Ainda citando Souza & Altmann (1999):

    O movimento olímpico permitiu conferir, pela categoria política da nação, um significado mais imediatamente político aos resultados esportivos, o qual é incorporado à política do corpo mais geral, com as repercussões que todos conhecemos na educação física (pág. 87).

    O espaço destinado pelo Serviço Social da Indústria para as práticas esportivas nunca foi utilizado com tal propósito. Sobretudo em seu período embrionário e gestacional (década de 1940) aonde, como vimos anteriormente, o enfoque político de sua utilização teve uma vinculação direta com a oferta de ferramentas para fomentar a citada “Válvula de Escape”. Portanto, a finalidade das atividades ofertadas limitava-se, apenas, a propiciar ao trabalhador apenas momentos de descontração que fosse possibilitassem uma recuperação física, mental e psicológica para a posterior assunção laboral nos estabelecimentos comerciais e industriários.

    Desta forma, pode-se abstrair que o Serviço Social da Indústria ofertava Programas de Atividades Físicas (nas áreas de lúdicas, esportivas e educacionais) em consonância com o preconizado pelo Governo Nacional Desenvolvimentista. A reprodução da Doutrina Higienista de Educação Física nos bancos escolares deste Serviço Social (sobretudo na aplicação diferenciada de ações entre meninos e meninas), bem como o fomento de práticas de atividades físicas de caráter esportivo (futebol) à classe trabalhadora, com o intuito de preencher o “Tempo Livre”, constituem exemplos de ferramentas utilizadas pelo SESI, apregoadas pelo Poder vigente à época.

Nota

1.     Esta lógica mobilizou o Governo Federal para a concepção das Entidades Paraestatais, ainda no Período do Estado Novo (1930 a 1945).

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 168 | Buenos Aires, Mayo de 2012  
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