efdeportes.com

Esporte como conteúdo da Educação Física:
a ação pedagógica do professor

El deportes como contenido de la Educación Física: la acción pedagógica del profesor

 

*Especialista em Educação Física Escolar pela Escola Superior de Educação Física

da Universidade de Pernambuco. Professora do Colégio GGE e Colégio saber Viver

**Mestre em Gestão pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

Professor da Universidade de Pernambuco, Faculdade Maurício de Nassau

e da Faculdade Salesiana do Nordeste

Natália Muniz Gonzalez*

natimuniz@hotmail.com

Carlos Augusto Mulatinho de Queiroz Pedroso**

carlosaugustomulatinho@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O esporte é um fenômeno sócio cultural que se manifesta de diversas maneiras, sendo procurado como prática por crianças e adolescentes. Apresenta várias possibilidades de manifestação, porém neste estudo ele irá se direcionar para a sua utilização nas aulas de Educação Física, analisando aspectos relacionados à sociabilização, construção de valores morais e éticos, bem como à recreação e lazer, e sua importância para o desenvolvimento integral da criança. Nesse contexto, este estudo preocupa-se em estudar, através de um estudo bibliográfico, as relações entre o professor e os alunos, de forma a propor procedimentos pedagógicos que possam trazer qualidade às aulas, percebendo a importância dada ao esporte dentro da escola e nas aulas de educação física. Dessa forma, orientado pelo Projeto Político Pedagógico da escola, o professor deve abordar o esporte como conteúdo no processo de educação.

          Unitermos: Educação Física Escolar. Esporte.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    São notórios os benefícios que as práticas esportivas e de lazer trazem para a sociedade. A busca pela prática esportiva como lazer e/ou atividade física está relacionada aos inúmeros benefícios que estão atrelados a sua prática, entre eles destacamos a promoção e manutenção da saúde, a socialização, melhora a auto-estima, ou seja, a busca por um hábito de vida saudável que seja permeado pelo bem estar integral dos indivíduos é um valor essencial na sociedade atual.

    Atualmente a busca pelo bem-estar individual e coletivo está presente em todos os níveis sociais, assim as práticas esportivas configuram-se como um elemento fundamental no cotidiano da população. É relevante também ressaltar a importância do esporte para a vivência de valores e o desenvolvimento de fatores importantes para o convívio em sociedade como a tolerância, a inclusão e o respeito.

    O esporte é o grande fenômeno sócio-cultural da atualidade estimulando crianças, jovens, adultos e até mesmo idosos à sua prática. Como fenômeno cultural, apresenta várias possibilidades de manifestação, diferenciando-se em esporte de alto rendimento (profissional), atividade de lazer, para portadores de deficiência, bem como na escola. O esporte transmite valores de acordo com suas formas de manifestação, o que indica a necessidade de adequação do seu sentido ao ambiente social em que se insere.

    Nos ambientes escolares o esporte apresenta duas intervenções: uma se caracteriza como conteúdo de educação física, e outra intervenção se caracteriza como esporte escolar. Este se apresenta como escolinhas esportivas (iniciação), ou como treinamento com equipes que representam a escola em competições oficiais.

    A escola é um local onde socializa e educa a criança e o jovem para a sociedade em que está inserida. Compete à escola, pois, assumir um papel fundamental no processo de formação esportiva das crianças e jovens, já que é na escola que as crianças passam a maior parte do seu dia, proporcionando oportunidades para a conquista da autonomia do aluno.

    O esporte é motivo de importantes recursos financeiros e materiais nas escolas, sendo “um fator fundamental para a educação de crianças e jovens, atribuindo-se a ele freqüentemente papéis admiráveis, como livrar as pessoas do consumo de drogas”. (BASSANI; TORRI; VAZ, 2003, p. 90). Esse fenômeno passou a ter grande influência na educação física, onde hoje, possa ser talvez o seu maior conteúdo de ensino.

    Em aulas de Educação Física, analisa aspectos relacionados à sociabilização, construção de valores morais e éticos, bem como à recreação e lazer, e à sua importância para o desenvolvimento sócio-afetivo da criança, pois as crianças e os adolescentes aprendem por meio do esporte valores fundamentais que levam para a vida, como: união, respeito, amizade, cooperação, entre outros. Aprendem também a lidar com as vitórias e derrotas que o esporte proporciona, e desenvolve a independência, o sentido de responsabilidade e a confiança em si mesmos.

    Logo, pode se tornar um excelente meio para que dentro de um processo educativo, contribua para a formação integral e crítica do ser humano. Daí surge o interesse em analisar a prática do professor nas aulas de Educação Física, tratando o Esporte como conteúdo no processo de educação e não como alto rendimento para a formação de atletas.

    De acordo com Stigger in Stigger e Lovisolo (2009, p.123), isso leva a considerar que:

    Nesse sentido, a educação física constitui-se como uma prática pedagógica que, no âmbito escolar tem o papel de tematizar - entre outros conteúdos da denominada cultura corporal – essa forma particular de atividade física.

    Porém, o esporte como conteúdo de Educação Física Escolar precisa ser refletida, e como prática social que institucionaliza temas lúdicos da cultura corporal, deve ser analisado nos seus variados aspectos para determinar a forma que deve ser abordado pedagogicamente no sentido de caracterizá-lo como “da escola”, onde está a serviço da instituição educacional ou de valores educativos, e não “na escola”, que está a serviço da instituição esportiva.

    O esporte da escola deve priorizar o coletivo, a criatividade, a brincadeira e a compreensão pelos alunos de suas próprias possibilidades e limitações, onde as regras são flexíveis de acordo com os interesses e necessidades dos alunos. Logo, acontece a busca pela participação coletiva, sem se importar com gesto técnico, havendo uma inclusão já que não prioriza o melhor nem o mais capaz.

    Na Educação Física Escolar pode-se trabalhar expressões corporais como:

    dança, jogos, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímicas, e outros que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem historicamente criados e culturalmente desenvolvidos. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 50).

    Porém, os conteúdos estão se resumindo à prática desportiva, principalmente aos esportes coletivos como voleibol, basquetebol, handebol e futebol, deixando de levar em consideração o conhecimento prévio do aluno (conhecimentos motores e culturais). A concepção de Esporte deve ser modificada na escola passando a considerar o aluno como sujeito da prática pedagógica, ou seja, o aluno pode dizer por que ele quer jogar de um jeito e não de outro, transformando a prática esportiva em termos afetivos, culturais, sociais e motores.

    Os objetivos do Esporte na escola, segundo Teixeira (1999), são a promoção da saúde, sociabilização, construção de valores morais e éticos, recreação e lazer. O Esporte assume um aspecto recreativo quando é usado como lazer, onde o praticante não se preocupa com a vitória; assume um aspecto formativo quando é voltado ao rendimento e competição, visando a vitória como objetivo final.

    O fator mais importante que o Esporte pode oferecer é o lúdico, o prazer de jogar livremente, aproximando-se do outro, preparando o indivíduo para a vida, defrontando-se com vitórias e derrotas. Ele também cultiva a sociabilidade, pois ao decidir fazer parte de uma equipe, o aluno deverá aceitar seus companheiros, que são dotados de limitações e talentos.

    Nas aulas de educação física não se deve tratar o esporte de alto rendimento, porém, se algum aluno possuir habilidades específicas para alguma modalidade esportiva, sobressaindo-se perante os outros, o professor poderá indicá-lo a praticar fora da das aulas, caso o aluno esteja interessado. A iniciação esportiva, segundo

    Moreno e Machado (2006), deve ser promovida nos lugares específicos de treinamento, e o esporte nas aulas de educação física deve tratado com ênfase no lúdico e na vivência, onde, para aqueles que se destacam no interior de escolas, podemos indicar caminhos e não criar obrigações.

    Para se colocar em prática essas análises, é preciso discutir o papel do professor como interventor, mediador desse processo didático-pedagógico, tendo o esporte como conteúdo. Ou seja, deve-se desenvolver uma pedagogia que possibilite a esses indivíduos o acesso à cultura esportiva, permitindo, assim, que eles possam analisar criticamente o esporte.

    Este conteúdo é possível de ser trabalhado dentro das aulas de educação física desde que o professor tenha um amplo entendimento da tarefa que pretende desenvolver, e deve ser trabalhado por possibilitar seu acesso às crianças e jovens, que muitas vezes não têm oportunidade de praticá-lo e vivenciá-lo fora do âmbito escolar. “Democratizar o esporte é assegurar a igualdade de acesso à prática esportiva para todas as pessoas.” (TUBINO, 1992, p.22).

    Como instituição social, o esporte representa uma forma de atividade social que promove valores. Diante disso, verifica-se que o esporte escolar não deve ser considerado como um fim, e sim como um meio para a socialização, inclusão social e formação dos alunos.

    Nessa perspectiva, a pesquisa se encaminhará para a identificação das várias formas de manifestação do esporte, para a sugestão de procedimentos pedagógicos que potencializem o trato educacional com o esporte, a fim de contribuir para a formação dos alunos, através da aquisição de valores considerados positivos para o convívio na sociedade.

Metodologia

    O esporte na escola apresenta características que advêm de como ele pode ser desenvolvido na escola, a fim de não confundi-lo com o esporte de alto rendimento. Assim, o método de investigação vai de encontro com os objetivos que o presente estudo procura atingir, através de procedimentos que garantam a operacionalização dos resultados.

    Segundo Thomas, Nelson e Jack (2007, p.301) “Na pesquisa qualitativa, as fontes de coleta de dados mais comuns são entrevistas, observações e revisão de documentos”. Nessa ótica, a presente pesquisa é fundamentalmente qualitativa, recorrendo-se à revisão bibliográfica através de fontes como livros que abordam os conceitos dos temas utilizados, e artigos de revistas científicas dentre elas: Revista Motriz, Revista Movimento, Revista Brasileira de Ciências do Esporte, nos períodos de 1999 a 20011.

    A escolha de tais revistas foi realizada pelo seu reconhecimento, ano de publicação e temas abordados, onde os critérios de análise foram subsidiados por palavras-chave e palavras próximas, tentando compreender os conceitos dos autores relacionando-os com o objetivo do presente estudo. Procurou-se recolher dados relativos à utilização do esporte nas aulas de educação física e dos fatores que levam à sua contribuição na formação dos alunos.

    Observou-se que o esporte se encontra na área do lazer, da competição e da escola, dependendo do objetivo de quem o pratica. Levando em consideração a área escolar, deve-se tratá-lo como um componente curricular, tratando-o pedagogicamente a fim de oportunizar a todos a sua prática, de maneira que não priorize o ato mecânico e as habilidades físicas dos alunos. Desta forma, constata que nas aulas são desenvolvidos aspectos relacionados à cooperação, compreendendo o sentido de ajudar e compartilhar, promovendo à formação de cidadãos críticos e criativos

    Contudo, o procedimento partiu do estabelecimento de uma questão, que conduziu a leituras exploratórias, seguido da definição do problema e finalizando com as informações obtidas, permitindo assim as conclusões.

As manifestações do esporte: origem, evolução e suas diferentes categorias

    Para entender a origem do esporte deve levar em consideração o jogo, por entender que o esporte é o jogo institucionalizado, regulado por regras e comandado pelas federações. Segundo Tubino (1994), o termo esporte vem do séc. XIV, quando os marinheiros usavam as expressões “fazer esporte”, desportar-se ou “sair do porto” para explicar seus passatempos que envolviam habilidades físicas.

    Antes de existir o esporte existiam atividades físicas, como por exemplo, os homens primitivos da Pré-História, que praticavam exercícios físicos para a sobrevivência através das lutas, da caça e da pesca. Utilizavam movimentos relacionados ao trepar, saltar, lançar, atacar e defender, levantar e transportar.

    O surgimento do esporte remonta a Antiguidade, sendo a sociedade grega o referencial da época, onde os exercícios físicos assumiram uma finalidade educativa pelos gregos de Atenas. O que era valorizado na formação de um atleta era o físico robusto e ágil, para os gregos o corpo era o essencial.

    Nesse período iniciaram os Jogos Gregos, onde é caracterizado como um marco da história esportiva, pois representam a concepção inicial de esporte, sendo os Jogos Olímpicos a principal manifestação do esporte na antiguidade.

    Com certeza não podemos deixar de citar a importância da civilização grega para o desporto, porém temos que ter a consciência de que o esporte tal qual conhecemos hoje tem sua origem em outro momento histórico, a revolução industrial no século XIX, e que também é denominado de desporto moderno, que surgiu na Inglaterra tendo origem numa perspectiva pedagógica, incorporando-se um sentido de rendimento.

    Com isso, durante algum tempo as pessoas entendiam o esporte apenas pelo seu aspecto de rendimento, na busca de recordes nos jogos olímpicos modernos.

    Porém, houve outra ação também no esporte moderno que foi a atuação das Associações Cristãs de Moços (ACMs), que criaram novas modalidades esportivas como o Voleibol e o Basquetebol. “A conclusão que se pode tirar do período histórico em que se desenvolveram os chamados Jogos Gregos é que, pela primeira vez na história, ocorreram fatos esportivos, e não apenas práticas esportivas”. (TUBINO, 1992, p.33).

    No entanto, Tubino (1994), diz que Philip Noel-Baker assinou em 1964, o Manifesto do Desporto. Este documento reconheceu a existência de outras manifestações do esporte além do rendimento, onde admitia também a existência de um esporte escolar e de um esporte de tempo livre. Logo, surgiu o movimento Esporte para Todos, que tinha como pressuposto o direito de todas as pessoas, independentemente de sua condição, terem acesso às práticas esportivas, contestando o esporte de alto nível. E com isso, a democratização do desporto é fundamental para que esse direito seja garantido.

    O esporte, que antes só era visto pelo rendimento, passou a partir do final da década de setenta, a uma modificação quanto ao seu conceito e ao seu conteúdo. No final do século passado surgiu o Homo Sportivus, constituído, segundo Tubino (1992), por aqueles que incorporam a atividade física às suas culturas individuais. No mundo contemporâneo esse Homo Sportivus ganha relevância por estar presente em várias faixas etárias, sexo, raça e níveis sociais.

    O esporte é um dos fenômenos mais significativos dos séculos XX e XXI. Ele é, praticamente em todas as sociedades, uma das práticas sociais de maior unanimidade. No entanto, é fundamental entender que o esporte não possui apenas uma vertente competitiva e institucionalizada, mas sim uma gama de atividades e áreas de intervenção que contemplam a diversidade e pluralidade de suas práticas na sociedade.

    Diante disso, Stigger in Stigger e Lovisolo (2009, p.108), relata que o esporte:

    [...] é uma prática que tem possibilidades de se desenvolver numa perspectiva multicultural, ou seja, que se expressaria numa diversidade de manifestações, além daquela que tem maior visibilidade social, o esporte de rendimento.

    O esporte, no seu conceito apoiado no pressuposto do direito de todos às práticas esportivas, pode ser entendido através de três manifestações (dimensões), que Tubino (1992, p.18) denominou:

    [...] percebemos que a prática esportiva pode ser dividida em práticas de aprendizagem, de treino, de competição, de prática regular, de recreio e a tantas outras identificadas na abrangência das dimensões sociais do esporte, isto é, do esporte-educação, do esporte-participação e do esporte-performance.

    O esporte-participação baseia-se no princípio do lúdico, no lazer, não tendo compromisso com regras institucionais, promovendo o bem-estar dos praticantes, que é a sua finalidade. O esporte-performance ou de rendimento, é disputado obedecendo rigidamente às regras existentes, visando o rendimento do atleta sem a presença da ludicidade.

    O esporte-educação ou esporte educacional (que deve ser o esporte tratado na escola, próprio das aulas de Educação Física), é um processo educativo para a formação dos jovens e uma preparação para o exercício da cidadania, não deve ser uma extensão do esporte-performance para a escola. No entanto, o esporte-educação tem um caráter formativo, onde deve ser desenvolvido na escola e fora dela, com a participação de todos, evitando a seletividade.

    Ou seja, o esporte na educação é um meio para a formação da cidadania e não pode ser uma reprodução do esporte de rendimento. Logo, essa manifestação “exige princípios próprios e estratégias formais e não-formais específicas de disputa esportiva, devendo acompanhar as próprias evoluções ocorridas nas ações educativas.” (TUBINO, 1992, p. 60).

    Com o intuito de compreender melhor as manifestações esportivas, Marques, Gutierrez e Almeida (2008, p.45-46) apresentam um modelo através do seguinte pensamento:

    Para compreender uma manifestação esportiva é preciso observá-la como um fenômeno complexo, que pode estar presente em diversos ambientes de prática. Uma maneira de executar tal análise se apresenta no Modelo de concepção das formas de manifestação do esporte. Para a configuração deste modelo, faz- se necessário compreender, num primeiro momento, os ambientes de manifestação do esporte, e num segundo, refletir sobre os valores transmitidos pelos seus diversos sentidos. Quanto às modalidades esportivas, apresentam maior especificidade, variedade e autonomia frente à regras e história, podendo estar presentes em qualquer ambiente, sob qualquer sentido.

    O esporte contemporâneo apresenta uma heterogeneidade nas suas formas de manifestação, pois ele irá se adaptar ao ambiente que se está inserido, atendendo às necessidades de quem o pratica. Uma mesma modalidade pode ser ensinada como atividade pedagógica, ser uma prática recreativa, ou ser vista como esporte espetáculo. Independente de como se pratica determinado esporte, todas as formas estarão envolvidas com a prática esportiva, porém sob aspectos diferentes e expostos a situações e valores distintos.

    Logo, conforme Marques, Gutierrez e Almeida (2008), as formas de manifestação do esporte são compostas por três esferas interligadas: ambiente da prática, modalidade da prática e sentido da prática.

    O ambiente da prática refere-se ao local que se realiza a prática esportiva. É o ambiente em que as modalidades esportivas se concretizam, baseadas em sentidos que lhe dão significados. A modalidade da prática diz respeito às diferentes modalidades, que se caracterizam pelas regras e formas de jogar. O sentido da prática se refere aos valores transmitidos por ela. Deriva das condições sociais e culturais dos indivíduos envolvidos.

    Segundo Moreno e Machado (2006, p.130), o Conselho Federal De Educação Física (2002) define bem o esporte como:

    [...] a atividade competitiva, institucionalizado, realizado conforme técnicas, habilidades e objetivos definidos pelas modalidades desportivas, determinado por regras pré-estabelecidas que lhe dá forma, significado e identidade, podendo também ser praticado com liberdade e finalidade lúdica estabelecida por seus praticantes, realizado em ambiente diferenciado, inclusive na natureza (jogos da natureza, radicais, orientação e outros).

    Porém, esta definição não caracteriza o esporte escolar, pois este trabalha princípios de formação vinculados ao processo de educação. Nos dias atuais o esporte tem um enfoque não somente competitivo, mas é visto como um meio de socialização, no entanto, a realidade atual nos mostra elementos que marginalizam o esporte, onde o ganhar se faz mais importante do que participar.

    O esporte transmitirá valores morais de acordo com a forma de manifestação que se apresenta, interferindo, desta forma, na formação humana. Esses valores são diferenciados dependendo do sentido da prática. É na manifestação do esporte-educação que se percebe o maior conteúdo sócio-educativo, pois se baseia em princípios educacionais como participação, cooperação, integração e responsabilidade.

    Segundo Marques, Gutierrez e Almeida (2008, p.55):

    A escola teve papel fundamental na gênese do esporte moderno e ainda hoje ocupa local de destaque frente à disseminação da prática contemporânea, visto que é nas aulas de Educação Física escolar que muitas crianças têm seus primeiros contatos com manifestações esportivas sistematizadas.

    Porém, deve-se salientar que nesse ambiente o esporte se manifesta em aulas curriculares e extracurriculares. São nas aulas curriculares que se deve ter objetivos pedagógicos, com o principal intuito de formação do cidadão, através dos valores que transmite, no entanto, sem desconsiderar seu conhecimento específico.

    Desde as épocas mais remotas, o mais importante do esporte não está somente ligado à atividade física e ao desenvolvimento corporal e sim na socialização que ele proporciona. Segundo Bassani, Torri e Vaz (2003), o século XX pertenceu ao esporte e tudo indica que a sociedade contemporânea se fixe nos valores e normas do esporte.

    Com certeza o esporte passou e continuará a passar por transformações, pois este acompanhará as modificações que ocorrem na sociedade, e como hoje vivemos num mundo em que as transformações são constantes, para entender o esporte será sempre necessário entender a sociedade e os atuais contextos. “O esporte é uma construção histórico-social humana em constante transformação e fruto de múltiplas determinações.” (BRACHT in STIGGER E LOVISOLO, 2009, p.14)

    No trato com a Educação Física, a esta foram atribuídas diversas funções ao longo da história como Galatti et al (2008, p.410) cita:

    Promover e manter a saúde, capacitar e preparar indivíduos para um determinado fim, desenvolver as capacidades físicas e habilidades motoras em seus praticantes, competir e até mesmo preparar e investigar atletas olímpicos são objetivos da Educação Física.

    No entanto, compreendendo o esporte como um fenômeno complexo, deve-se atribuir objetivos à educação física visando uma atuação de um profissional, que contribua na educação de crianças que vivenciam o esporte nas aulas de educação física escolar.

Pedagogizando o esporte

A Prática Pedagógica

    O esporte é o grande fenômeno sócio-cultural da atualidade que estimula de crianças a idosos a praticarem, e seu contato acontece desde criança, seja como telespectador ou como praticante, e entre os não praticantes, o interesse ocorre pelos fatos esportivos que vem crescendo nas últimas décadas. Com isso, a aproximação com o esporte acontece nas ruas, nos clubes, nos estádios de futebol e nas escolas.

    No ambiente escolar, o esporte pode se organizar de diversas maneiras e apresentar diferentes objetivos para a sua prática. É na escola que se estabelece uma relação diferente com o esporte, pois ele é pedagogizado e tratado metodologicamente para que o aluno possa aprendê-lo e vivenciá-lo. Portanto, aceito como fenômeno social, “o esporte precisa ser questionado em suas normas, suas condições de adaptação à realidade social e cultural que o pratica, cria e recria” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.71).

    A educação física tem o movimento como meio para atingir seu objetivo educacional dentro do contexto escolar, manifestando-se através do jogo, do esporte, da dança, da luta ou da ginástica. Remete-se ao esporte alguns objetivos como a saúde, a moral e o valor educativo, porém é preciso um professor que o faça como meio de educação.

    O esporte acontece na escola como qualquer em outro lugar, com isso acaba sendo confundido com a educação física como se fossem a mesma coisa, caracterizando-se como um prolongamento da instituição esportiva, desconsiderando as diferenças que existem, como o fator educacional presente em um e a performance no outro. O aluno é tido como atleta e o professor como treinador, desconsiderando o verdadeiro conceito de professor de educação física escolar.

    O esporte deve assumir outras características mais adequadas, tratando-o pedagogicamente, pois este inadequadamente é tratado no ambiente escolar, onde nas aulas os alunos têm que reproduzir as técnicas e os gestos esportivos procurando atingir um rendimento máximo, o qual acaba sendo o objetivo do professor.

    Assim como o brincar e o jogar na escola não é exatamente igual ao brincar e ao jogar em outras ocasiões, o esporte também se diferencia na escola das demais finalidades ao fazer parte de um currículo. Segundo o Coletivo de Autores (1992), na escola é preciso resgatar os valores que privilegiem o coletivo sobre o individual, defende o compromisso da solidariedade e respeito humano, a compreensão de que o jogo se faz “a dois”, e de que é diferente jogar ”com” o companheiro e jogar “contra” o adversário. Sendo a educação física um espaço para novas experiências motoras, o esporte é utilizado como meio para a vivência dessas experiências. Para muitos educadores a inclusão da Educação Física nos currículos escolares se dá pelo fato de seus conteúdos, em principal o esporte, terem grande contribuição na socialização dos alunos. Como esta prática social vem sendo valorizada pela sociedade, ela “passa a ser apropriada, incorporada pela escola como um conhecimento a ser transmitido.” (MORENO ; MACHADO, 2006, p.133).

    Logo, não se deve priorizar na escola a formação de atletas, porém, deve-se trabalhar a competição no seu lado positivo, onde se situam o espírito de progresso, superação, lealdade, generosidade, espírito de equipe e o respeito para com o adversário, diferentemente do lado negativo da competição, onde se encontra a busca pela vitória a qualquer preço, a violência e o doping. A busca pelo rendimento não cabe ao esporte como conteúdo nas aulas, pois este deve contribuir para a formação geral dos alunos, que deverão vivenciar e não treinar os esportes.

    Porém, o esporte ainda vem sendo trabalhado de forma tradicional por alguns professores, trazendo para a escola como forma de iniciação esportiva buscando talentos individuais, acarretando no esquecimento do caráter educativo do esporte nas aulas, não procurando a formação global do aluno. Isso ocorre muitas vezes porque o esporte ainda é trabalhado com insegurança por alguns profissionais, onde recorrem de suas experiências como aluno ou até mesmo como atletas para dirigirem suas práticas.

    Logo, o profissional de educação física deve encontrar ações pedagógicas através de práticas alternativas, produzindo um conhecimento que seja significativo sobre o esporte, indo além da sua prática vista como um fim em si mesma.

    Na educação física escolar, o esporte não deve estar ligado ao ato mecânico, visando o rendimento, e sim auxiliar o aluno a compreender e adotar atitudes que o levem a dominar os valores da cultura esportiva. As competições escolares, por exemplo, que deveriam ter um sentido educativo, acabam reproduzindo as competições de alto nível, deformando qualquer conceito de educação.

    Diante disso, Both e Christofoletti (2001, p.131) afirmam que:

    É necessário separar o momento da aula de educação física do Treinamento Esportivo, para que a aula não perca seu objetivo e sua função pedagógica, e busque a criação de experiências motoras significativas para o praticante, tornando-se uma prática formativa que valorize o indivíduo em todas as suas dimensões.

    O esporte ensinado nas escolas como alto rendimento acarreta na vivência de fracassos e insucessos pela maioria dos alunos, colaborando para a desmotivação e desenvolvendo um tipo de educação que colabora para a aquisição de valores que não estão ligados à formação do cidadão. Portanto, se pretendemos modificá-lo é preciso tratá-lo pedagogicamente.

    Tubino (1992, p.32) diz que:

    A educação, que tem um fim eminentemente social, ao compreender o esporte como manifestação educacional, tem que exigir do chamado esporte-educação um conteúdo fundamentalmente educativo.

    Com isso, o professor de educação física tem uma responsabilidade ao tratar esse conteúdo, já que existe ainda uma confusão acerca desse assunto, devendo o esporte ser visto como algo lúdico dentro das aulas. Nesta perspectiva, a prática esportiva permite à aquisição de hábitos e valores para a vida social, contribuindo ainda para a aceitação de normas e tarefas de seu grupo social, respeito e solidariedade com os outros.

    O professor fornecendo aos alunos orientações sobre comportamento social faz com que eles aprendam como conviver com os outros, desenvolvendo responsabilidade contribuindo, assim, para o processo de desenvolvimento do aluno. Para isso, deve-se desenvolver aulas que estimulem a motivação dos alunos através de atividades atraentes e com compromisso.

    A forma de como o esporte deve ser tratado na escola depende da ação do professor na prática pedagógica, onde o aluno enquanto sujeito da aprendizagem deve estar no centro de atenções do ensino, e não a modalidade esportiva. Visando a formação através do esporte, é necessária a elaboração de um planejamento enfocado nos interesses dos alunos, tendo a atividade, desta forma, o significado real para o aluno.

    A relação professor-aluno é de suma importância para a aprendizagem, onde quanto mais positiva esta relação, maior o enriquecimento de troca de experiências e crescimento pessoal do professor e dos alunos. O professor deve respeitar a individualidade dos alunos, as diferenças das suas condutas, valorizar seu conhecimento e suas experiências, estabelecendo relações como participantes da construção coletiva.

    Contudo, muitos professores não aproveitam esse momento de proximidade, e acaba não incentivando o aluno a reconhecer suas habilidades, nem leva em consideração a realidade histórica deles. Dessa forma o professor deve procurar trabalhar em sua aula atividades diferentes e até trazidas pelos alunos, para estes se sentirem valorizados.

    Numa perspectiva crítica de ensino dos esportes, deve-se abordar também a técnica, bem como as regras e as táticas.

    A técnica pode ser tratada na perspectiva da resolução de problemas colocados para os alunos, incentivando a descoberta e a pesquisa, no sentido de buscar a melhor maneira de fazer algo. (ASSIS, 2001, p.126.)

    Portanto, o que a pedagogia crítica em Educação Física propõe não é a ausência do ensino da técnica, e sim o ensino das habilidades motoras esportivas dotadas de novos sentidos e novos objetivos a serem construídos junto com um novo sentido para o esporte. O aluno não deve simplesmente reproduzir os gestos, e sim participar ativamente, propondo alterações que podem ser possíveis durante a aula.

    Segundo Bracht in Stigger e Lovisolo (2009), criticar o esporte não é negá-lo como conteúdo, e sim modificá-lo tratando pedagogicamente, ou seja, diferente do trato pedagógico numa perspectiva conservadora de educação onde se preocupa apenas com o ato mecânico do movimento.

    A técnica pode ainda ser aprendida e praticada no próprio jogo, fugindo dos exercícios fragmentados, ou seja, o “aprender a jogar, jogando”. A tática, por estar mais relacionada à dinâmica do jogo, também pode ser trabalhada na perspectiva da resolução de problemas, bem como se configurar em processo desafiador de entendimento e análise de como se desenvolve um jogo. A resolução de problemas apresenta obstáculos para levar à decisão do que fazer no jogo.

    Se o aprendizado dos esportes se restringir ao ensino das técnicas através dos gestos automatizados, não será possível um questionamento sobre essa prática. O professor tem de promover o entendimento dos sentidos que as modalidades esportivas apresentam, a resolução de conflitos que aparecem na sua realização e a compreensão de suas regras.

    Dessa forma, não é valorizado apenas o que o aluno produz ao jogar, mas busca-se que ele compreenda o jogo, estimulando a sua autonomia, e assim, tornando a aprendizagem mais significativa.

    Em relação ao trato com as regras, estas devem ser conhecidas e experimentadas pelos alunos, podendo a partir daí, alterá-las através da (re) elaboração definidas pelos próprios participantes. Segundo Assis (2001), essas três dimensões (técnica, tática e regra), devem ser tratadas articuladamente, porque é dessa forma que elas existem na realidade do jogo.

    Busca-se, então, fazer com que o aluno aprenda sobre a história do esporte, discuta suas regras, bem como o seu comportamento e o de seus colegas. Nesse contexto, de acordo com Galatti et al (2008), é importante levar em conta a cooperação, participação, convivência, emancipação e co-educação.

    Como conteúdo de Educação Física, o esporte faz parte de três categorias que, segundo os PCNs (1998), os conteúdos são classificados em : Conteúdos Conceituais (envolvem fatos, princípios e conceitos); Conteúdos Procedimentais (estão ligados ao fazer); Conteúdos Atitudinais (construídos de normas, valores e atitudes).

    Deve-se buscar sempre a formulação de atividades significativas, que façam sentido para o aluno. Para isso, é necessário que introduza atividades que proporcionem prazer na sua prática, valorizando os conteúdos conceituais e atitudinais, além de garantir a vivenciada prática da experiência corporal.

    No entanto, Salvador (2000) diz que a motivação é um dos fatores determinantes na aprendizagem. O aluno deve sentir moderadamente a necessidade de alcançar algo e o medo do fracasso, pois se estes dois componentes forem bastantes altos ou bastantes baixos, o resultado é uma motivação ineficaz para a aprendizagem. A criança, quando estiver interessada por um determinado conteúdo ou atividade, quer aprender ou levar até o fim a atividade por vontade própria.

    O professor é um mediador, facilitador e transmissor de conhecimentos nas aulas. De acordo com os PCNs (1998), o profissional de Educação Física durante a sua formação acadêmica adquire conhecimentos, que talvez por comodismo do seu trabalho, não se preocupa em adaptar esses conhecimentos às necessidades de seus alunos, portanto, o professor de Educação Física deve intervir nas aulas considerando as representações dos alunos e suas referências prévias.

    Diante disto, a aula de Educação Física deve conter “leituras” que o professor realiza de seus alunos, e por ser esta uma disciplina que lida diretamente com o corpo, onde há diferenças em relação às habilidades desenvolvidas pelos alunos, sua ação pedagógica será direcionada entre o conhecimento prévio dos alunos e o conhecimento sistematizado.

    Logo, o professor deve ter a consciência de que os alunos são diferentes, e que vão responder de formas diferentes a uma mesma situação. Isso não implica necessariamente que um aluno é melhor que o outro, mas que lidam de maneiras distintas frente às atividades propostas.

    O professor precisa discutir em suas aulas sobre os interesses dos alunos dando espaço para que os mesmos possam se expressar, e assim desenvolver sua criticidade. Os alunos precisam ser estimulados a criar novas formas de jogar, novas regras, trabalhando dessa forma a criatividade e o lúdico.

    Com isso, Galatti et al (2008, p.409) diz que

    Iniciar uma criança no esporte significa adequar o esporte à criança e não a criança no esporte, elaborando seqüências didáticas e selecionando estratégias e procedimentos pedagógicos tendo como critério as necessidades da infância- como o lúdico, a espontaneidade e a capacidade de adaptar-se a novos conteúdos.

    O ensino do esporte na escola deve tornar a aula um espaço de aprendizagem, onde o aluno possa aprender os gestos e movimentos esportivos de forma criativa, cooperativa e prazerosa promovendo a socialização. Não haverá exclusões, pois todos participarão do processo da construção de suas aprendizagens, exercitando assim, a cidadania. Dessa forma, permite aos educandos vivenciar práticas esportivas que privilegiem a cooperação, a participação e o lúdico.

    Tratando o esporte escolar pedagogicamente possibilita aos alunos, além da vivência prática, a transmissão de valores e significados como a valorização e reconhecimento das capacidades individuais, integração social, competição sem rivalidade, entre outros. A transmissão dos conteúdos deve respeitar as limitações, capacidades, objetivos e expectativas dos alunos.

    No entanto, as experiências práticas quanto ao compromisso educativo ainda são escassas. “A melhor experiência aceita foi a desenvolvida no Brasil, em 1989, nos Jogos Escolares Brasileiros (...)” (TUBINO, 1992, p. 33). Foi possível desenvolver nos jogos cinco princípios educativos: princípio da participação, princípio da cooperação, princípio da co-educação, princípio da integração, princípio da co-responsabilidade.

    O jogo se torna um facilitador pedagógico na vivência e aprendizagem do esporte, possibilitando aos alunos experiências sócio-afetivas individuais e coletivas. Portanto, para que a aula seja significativa, os alunos devem entender o movimento humano e não apenas reproduzi-los, ou seja, o “fazer pelo fazer”, deve ser um ambiente de trocas de conhecimento, e não como um espaço de transmissão unilateral do saber.

Formação pelo Esporte

    O esporte traz consigo a cultura do povo, onde é possível identificar situações que privilegiam a solidariedade sobre a rivalidade, o coletivo sobre o individual e a vontade de jogar com descontração. Para trabalhar tudo isso, a educação física tem um papel fundamental dentro da escola, por ser uma disciplina que trata da cultura corporal.

    No entanto, as pessoas podem deixar de acreditar nos valores positivos do esporte, quando a sua prática e organização não levam em consideração a ética e a moral. A partir da experiência da criança, ela constrói sua consciência moral. Martins (2001) relata que existem estágios de desenvolvimento moral e modos de interferência na passagem de um estágio para o outro, ou seja, de se possibilitar que as pessoas desenvolvam suas capacidades de fazer julgamentos morais. Assim, cabe ao professor ser o mediador da análise, avaliação e julgamento das situações vividas pelos alunos dentro e fora da escola.

    A utilização do esporte nas aulas de Educação Física pode desenvolver valores morais e éticos na criança. Os valores condicionam a maneira pela qual as pessoas percebem e representam o mundo e a maneira em que se situam nele. Salvador (2000) apresenta os valores e atitudes que se encontram no ensino fundamental: autonomia e iniciativa; saúde e higiene; participação e solidariedade; responsabilidade e criatividade. Um dos objetivos da educação é proporcionar às crianças e jovens uma formação que permita construir uma concepção da realidade que integre o conhecimento e a valorização ética e moral.

    Na educação são transmitidos valores que possibilitam a vida na sociedade, adquirindo hábitos de convivência e respeito mútuo. Assim sendo, segundo Gallati et al (2008, p. 49), o esporte apresenta “um forte potencial de vivência de princípios e valores, que deve ser potencializado pelo profissional de educação física”. Ou seja, o que deve ser trabalhado não é apenas a modalidade esportiva, mas o ser social, o intelecto e os valores.

    Para muitas crianças o esporte serve como meio para se divertir, relacionar-se com outras pessoas, viabilizando a sociabilização. Para que a vida em grupo seja possível, é necessário o desenvolvimento da moralidade, pois possuindo autonomia moral, o ser humano pode avaliar as regras de seu grupo e decidir se elas estão de acordo com os princípios que promovem a liberdade, a solidariedade e a igualdade.

    Ou seja, quando o aluno se encontra num ambiente que favorece a cooperação, o respeito, a solidariedade, o companheirismo, ele passa a entender as suas dificuldades e a dos seus colegas. Galatti et al (2008) diz que o aluno passa a compreender o sentido de compartilhar, aumentando assim as atitudes de cooperação aos problemas que ocorre no jogo e às dificuldades dos seus amigos.

    O esporte ao ser tratado de forma lúdica, levando em consideração o resgate da cultura infantil, é recebido pelos alunos em forma de brincadeira, havendo uma boa aceitação pelo grupo, pois as pessoas priorizam atividades que lhe façam sentir-se bem para se ter uma auto-estima (avaliação afetiva de si mesma) elevada, e evitam aquelas que façam sentir-se mal consigo mesmas. A brincadeira é uma atividade que, além de promover o desenvolvimento global das crianças, incentiva a interação, a formação de um cidadão crítico e reflexivo.

    Portanto, é importante trabalhar o esporte através da ludicidade, onde não há a separação entre jogo e esporte, ou seja, tratar o esporte brincando para tornar sua prática uma alegria, um prazer, e não um compromisso apenas com a vitória. Para isso, o jogo deve se adaptar ao espaço físico, ao material, às regras, possibilitando desta forma uma maior participação dos alunos, sem exclusão. O aluno adquire um equilíbrio entre a cooperação e a competição acentuando sua ludicidade.

    Tubino (1992), afirma que o jogo apresenta condições básicas como a separação nos limites de tempo e espaço estabelecidos e a regulamentação. À medida que os jogos são desenvolvidos, as trocas de experiências e as oportunidades que os alunos vivenciam durante o processo de ensino e aprendizagem, preparam-nos para o mundo exterior.

    Assim, os alunos terão oportunidades educacionais como: descobrir por si mesmo por que as regras são importantes e para que elas servem; compartilhar suas idéias e trabalhar cooperativamente; ensinar aos colegas, inclusive o professor. A função lúdica do esporte é propiciar a diversão, onde a principal característica é o prazer proporcionado por ele. Porém o lúdico também apresenta função educativa, completando o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão de mundo, além de se constituir como elemento motivador no processo educacional.

    Porém, é preciso considerar também a forte presença do esporte de alto rendimento na nossa sociedade, formando os alunos para um consumo preparado, como forma de entretenimento com respeito às regras e manifestações de “espírito de equipe”. As competições trabalhadas devem ser adequadas à criança, dando ao aluno a oportunidade de vivenciar novas emoções sem constrangimentos.

    Dessa forma, colabora para a formação de cidadãos que poderão consumir o esporte de rendimento, de forma mais consciente em relação às questões sociais, políticas e econômicas que envolvem esse fenômeno. Stigger in Stigger e Lovisolo (2009, p.123), acreditam que “a escola é um lugar privilegiado para a transmissão de conhecimentos e hábitos historicamente construídos pelos seres humanos, assim como para formação de cidadãos conscientes, críticos, criativos e participativos.”

    Para Marques, Gutierrez e Almeida (2008), a presença do esporte no ambiente escolar deve garantir aos alunos a vivência e a aprendizagem de valores que a atividade esportiva pode oferecer, contribuindo para a incorporação desta atividade no hábito dos alunos. O esporte educacional ao se referir no processo de formação deve ser considerado como um caminho para o exercício da cidadania.

    Ou seja, o esporte através de uma abordagem educativa, contribui para a formação integral e crítica do ser humano indo muito além da fundamentação técnico e tática, priorizando outros aspectos como participação, solidariedade, criatividade dos alunos, que devem ser sujeitos do processo educativo e não apenas reprodutores da modalidade esportiva.

    Na educação física, a criança deve ter acesso à prática esportiva numa perspectiva educativa e formadora, já que a escola é um local que instrui, educa e socializa. Deste modo, os educadores devem reconhecer a importância das atividades esportivas nas aulas devido ao seu valor educativo que possuem na formação e educação das crianças e jovens, sendo um elemento fundamental para a cidadania.

    Contudo, para que o conteúdo Esporte seja pertinente à aprendizagem, precisa educar e formar o aluno de maneira integral, através de momentos de reflexão e discussão, durante as aulas, sobre valores transmitidos pela atividade esportiva. Portanto, o esporte tratado na escola deve permitir que os educandos vivenciem formas de prática esportiva que privilegiem, antes do rendimento e a competição, a cooperação.

Considerações finais

    Diante do que foi abordado, verifica-se que o esporte está presente em várias áreas de atuação, e sua forma de manifestação será de acordo com a finalidade de quem o pratica. Encontramos o esporte na área do lazer (esporte-participação), do alto rendimento (esporte-performance) e da escola (esporte educacional). Na escola, mas especificamente nas aulas de educação física, o esporte deve ser tratado pedagogicamente com a participação de todos, evitando a exclusão e a seletividade que ocorre no esporte-performance.

    No entanto, para que isso seja possível, a mediação do professor durante a sua prática é de suma importância. O professor de educação física deve abordar o esporte nas suas aulas de maneira que não se atrele ao ato mecânico do movimento, e sim que os alunos possam conhecer e vivenciar o esporte de maneira lúdica, que eles possam intervir diretamente na prática, trazendo suas experiências, havendo desta maneira uma aprendizagem significativa.

    Visto dessa forma, o esporte contribui para a aquisição de valores que contribuem para o exercício da cidadania, adotando atitudes de respeito ao próximo, cooperação, solidariedade, dentre outros. Logo, a criança aprende a trabalhar em grupo, a respeitar as regras existentes, como também modificar tais regras estimulando sua criatividade.

    Deve-se respeitar a individualidade de cada aluno, pois todos apresentam suas limitações e capacidades, levando em consideração as suas expectativas, exigindo assim, uma boa relação entre o professor e o aluno, a fim de contribuir para a sua formação sócio-afetiva trabalhando o esporte como conteúdo.

    Percebe-se, desta forma, a importância dada ao esporte dentro da escola e nas aulas de educação física para a formação dos alunos, sendo uma tarefa difícil, porém, não impossível, onde “deve buscar a inclusão de todos na sua prática, favorecer ao ensinamento dos valores morais e sociais preparando-os para a vida.” (MORENO e MACHADO, 2006, p. 146).

    Temos que compreender que o esporte faz parte da cultura corporal de movimento e trabalhar adequadamente com ele. A forma de como este conteúdo é transmitido não deve passar pela compreensão do aluno.

    O lúdico aparece como fator determinante para que o esporte possa realmente auxiliar no desenvolvimento integral da criança e também a participação dos alunos nas atividades desenvolvidas, possibilitando a criatividade e a espontaneidade.

    O ambiente de Educação Física deve permitir o desenvolvimento da criança independente do autoconceito (referência que tem de si mesma) e da habilidade motora que ela possui, devendo o professor estar ciente de sua capacidade de transformação social, de sua intensa participação na formação de valores para o caráter de seus alunos.

    Nós, professores, devemos estar cientes também que podemos nos deparar com alunos que possuem uma significativa habilidade e interesse por algum esporte, e neste caso, como a educação física oportuniza o aluno a praticar e conhecer para então poder escolher o esporte que deseja, caso queira praticá-lo fora das aulas, podemos orientá-lo e encaminhá-lo para um local adequado. O profissional da área deve ter consciência da diferença do papel que existe entre a aula de educação física e o treinamento da equipe da escola.

    Porém, para que essas possibilidades se efetivem, é preciso que o professor de educação física empreenda ações conscientes, orientadas por um Projeto Político Pedagógico articulador do conjunto dos saberes no interior da escola, pois o esporte enquanto atividade escolar só tem sentido se integrado ao projeto pedagógico da escola.

    O esporte tratado na escola sem um significado de rendimento e competição permite aos educandos vivenciar formas de prática esportiva que privilegiem a cooperação, podendo se tornar um excelente meio para que dentro de um processo educativo, contribua para a formação crítica e integral do ser humano. Formação essa que priorize valores como a participação, a solidariedade a criatividade dos alunos, que não devem ser tratados como objetos que reproduzem movimentos dos tipos de atividades esportivas.

    No entanto, não se deve excluir a competição do processo pedagógico, levando em consideração que ela existe na sociedade em que vivemos, fazendo com que o aluno também possa lidar com essas questões do “saber competir”, “saber ganhar” e “saber perder”. Cabe ao professor saber dosar o conteúdo e como trabalhar o lado bom da competição, pois se não for visto com um olhar crítico dentro de uma prática educativa, pode ser muito prejudicial ao desenvolvimento de crianças e jovens.

    Tratando-se de educação, o esporte na aula de educação física deve buscar o conhecimento do corpo e de suas possibilidades de movimento, porém levando em consideração também outros componentes da cultura corporal, não identificando o esporte como o único conteúdo a ser tratado nas aulas. O professor deve ser o mediador ativo do processo de construção do conhecimento, oferecendo condições para a execução das atividades, onde os alunos de forma coletiva ou individual tentam superar os desafios propostos pelo professor.

    O esporte como conteúdo das aulas de educação física deve ser abordado de modo a vir formar idéias críticas, fazer com que o aluno reflita de acordo com o que foi transmitido, obedecendo a uma seqüência pedagógica que o faça participar e se colocar como um ser crítico e participativo no processo ensino-aprendizagem. Contudo, não se deve utilizar a educação para o desenvolvimento do esporte e sim a utilização do mesmo como conteúdo no processo de educação.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 166 | Buenos Aires, Marzo de 2012
© 1997-2012 Derechos reservados