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A inserção da capoeira no currículo escolar

La inserción de la capoeira en el currículo escolar

 

*Licenciando em Educação Física (FAGOC)

**Orientadora. Professora da Faculdade

Governador Ozanan Coelho (FAGOC)

(Brasil)

Everton Barbosa Soares*

evertonbarsoares@yahoo.com.br

Marli das Graças Julio**

marli@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo busca mostrar como o “Projeto Capoeira na Escola” se inseriu nas escolas da rede municipal de Presidente Bernardes/MG, buscando detectar quais os benefícios que a capoeira vem proporcionando aos escolares, quais são as causas e conseqüências das dificuldades encontradas, e como é a aceitação deste eixo temático que desenvolve os conhecimentos da cultura popular brasileira que abrange luta, dança, musica, ritmo, jogo, historia e disciplina, auxiliando o ensino aprendizado em 15 escolas da rede publica de um município do interior de Minas Gerais. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi aplicação de um questionário semi-estruturado aos 42 professores e/ ou pessoas com vivências em Capoeira, atuantes no “projeto capoeira na escola” implantada em 2010 e desenvolvida pela prefeitura de Presidente Bernardes MG este projeto envolvendo todos os alunos de 1º ao 5º ano, faz uma integração com outras disciplinas a fim de melhorar o rendimento e a freqüência escolar destes alunos, formando não só bons capoeiristas, mas bons cidadãos.

          Unitermos: Capoeira. Escola. Educação Física.

 

Abstract

          This article tries to show that "Poultry Project in the School" was inserted in the municipal schools of Presidente Bernardes, Minas Gerais, trying to detect what benefits that the poultry has been providing school, what are the causes and consequences of the difficulties encountered, and how is the acceptance of this main theme that develops knowledge of Brazilian popular culture that encompasses combat, dance, music, rhythm, game, history and discipline, helping the teaching-learning in 15 public schools in a city in Minas Gerais. The instrument used for data collection was applied to a semi-structured questionnaire to 42 teachers and / or people with experience in Capoeira, acting in the "poultry project in school" established in 2010 and developed by the city of Presidente Bernardes MG this project involving all students from 1st to 5th year, integrates with other disciplines in order to improve performance and school attendance of these students graduate not only good capoeira, but good citizens.

          Keywords: Capoeira. Schools. Physical Education.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº 156 - Mayo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Este artigo pretende destacar a capoeira como uma manifestação da cultura popular brasileira que além de esporte, foi também uma arma de resistência de um povo, trazendo um resgate histórico, sendo um aprendizado muito importante para os alunos, permitindo o entendimento das transformações socioculturais ocorridas no Brasil. A capoeira tem características bem composta de luta, jogo, dança, praticada ao som de instrumentos musicais como, berimbau, pandeiro, atabaque e as palmas. A roda de capoeira normalmente é formada por uma bateria com 3 berimbaus, 2 pandeiros e 1 atabaque, onde normalmente todos os componentes do ritmo, com exceção do atabaque, são tocados sentados, podendo ainda serem usados o agogô e o reco-reco. É sempre o ritmo do berimbau que indica o tipo de jogo, se é um jogo de angola (jogo lento mais rasteiro) ou se é jogo da regional (com golpes e defesas rápidas em um jogo mais em cima). A tradição nos mostra que os angoleiros costumam jogar calçados, com calça preta e camisa amarela sendo que na regional os capoeiristas jogam descalço se vestindo de branco.

    O objetivo deste estudo é verificar como o “projeto capoeira na escola” criada pela prefeitura de Presidente Bernardes MG, esta se inserindo nas escolas da rede publica municipal.

    O PCN de Educação Física, Brasil (1998, p.71 e 72) determina e valoriza a participação dos alunos em jogos, lutas e esportes dentro do contexto escolar, sejam de forma recreativa ou competitiva; este documento destaca que: “Num país em que pulsam a capoeira, o samba, entre outras manifestações, é inconcebível o fato da educação física, ter desconsiderado essas produções de cultura popular como objeto de ensino e aprendizagem”.

Breve história da capoeira

    Segundo Silva J. (2003, p.35), “a Capoeira tem sua origem, ou pelo menos seus primeiros sinais de luta, no Brasil Colônia em que os negros escravos foram trazidos à força da África Ocidental a este país tropical, eles eram a principal mão de obra usada pelos fazendeiros na época. Devido aos maus tratos, surgiram segundo MELLO (2002) a necessidades de autodefesa e de resistência à opressão, as técnicas são elementos propulsores da criação de defesa e ataque, para se confrontar com seus opressores (feitores e capitães do mato). Geralmente estes Confrontos ocorriam nas fugas, nos lugares de mato ralo das selvas, nas capoeiras. Daí a origem do nome de capoeira.

    No cativeiro, os negros tiveram que disfarçar a luta em dança, com a introdução de instrumentos musicais e movimentos cadenciados, para poderem praticá-la sem suspeita, embora alguns senhores permitissem aos senhorinhos, como eram chamados os filhos dos senhores de engenho, o aprendizado da luta. (SETE, 2004). Com a abolição da escravidão em 1888, e o emprego nas lavouras de café de mão de obra estrangeira (italianos, alemães, japoneses), os negros recém “libertados”, vagavam sem rumo, fazendo biscates. (LOPES, 2010). Fica também proibida a pratica da capoeira, considerada “Circunstância agravante pertencer o capoeira à alguma banda ou malta”. Mesmo com sua proibição a capoeira não acabou; ela continuou acontecendo de forma clandestina e marginalizada principalmente nas cidades de Salvador, Recife e Rio de Janeiro. Era grandemente perseguida pela polícia, e, era comum a deportação de capoeiristas para ilhas e presídios. (YAHN, 2009).

    Mas a capoeira sofre uma transformação importante, o Mestre Bimba, usufruindo de um ideal mestiço e de defesa da capoeira como "legítimo esporte brasileiro”, já incorporado por intelectuais brasileiros, consolidou o "embranquecimento simbólico da capoeira", somando à prática, movimentos de artes marciais orientais e ocidentais, como karatê, Jiu-Jítsu e luta greco-romana, trocando a ritualidade pela agilidade e eficiência (REIS, 2000). A seguir, surge um movimento de oposição liderado por Vicente Ferreira Pastinha, o "mestre Pastinha", defendendo o resgate da ancestralidade africana da capoeira, que por sua vez recebeu o nome de Capoeira Angola. Ao contrário do discurso esportista de mestre Bimba, Pastinha defende uma nova filosofia para a prática da capoeira, baseada numa estética de jogo mais simbólica e subjetiva, que continha certo misticismo, lealdade com os companheiros de jogo e obediência absoluta às regras que o presidem. (MUNARO, 2007). Desta forma, tomando por referencias os dois mestres, que sistematizaram os dois estilos diferentes de jogar capoeira que são: capoeira angola e capoeira regional, estilos que contribuíram para a existência de uma capoeira que atualmente tenta ser as duas coisas, chamada de capoeira contemporânea (SIMÕES, 2006).

    Entre muitos fundamentos abordados pela capoeira, ela trás uma filosofia de vida, que prega o respeito ao próximo, e aos mais velhos, que por sua vez possui um grau maior de sabedoria. Muitos são adeptos que se engajam de corpo e alma criando desta forma uma filosofia de vida, tendo a capoeira como símbolo e até mesmo usando-a para a sua sobrevivência.

A capoeira como fundamentos pedagógicos na educação básica

    A roda de capoeira é o local onde se desenvolve o jogo da capoeira, é neste momento que os capoeiristas colocam em prática todo o seu conhecimento e fundamentos dessa arte brasileira: o ritual, malícia, a dança, a teatralização, o jogo, a luta, o canto, o toque dos instrumentos, a ética da capoeira. Desta forma os capoeiristas tornam–se mensageiros dos ancestrais da capoeira, transmitindo e mantendo viva esta cultura que é passada de geração em geração (BREGOLATO, 2005). Segundo Accurso, et al (2004) a capoeira se for desenvolvida nos fundamentos e raízes, por si só é um instrumento de educação, desde que comprometida com as raízes culturais, com a luta pela liberdade como a de zumbi nos quilombos de palmares no resgate da identidade cultural.

    De acordo com os PCNs da Educação Física, (BRASIL, 1998), é mencionado o tema Pluralidade Cultural, que aponta para o aprendizado do aluno em: conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações de cultura corporal do Brasil e do mundo. Segundo Calçado (2009, p. 4), a capoeira na escola tem como objetivo estar trabalhando as valências físicas, o desenvolvimento motor, a harmonização e o respeito, para que assim as crianças possam ter um desenvolvimento completo. Através de movimentações como a que ocorre na capoeira a criança principalmente na educação infantil poderá facilmente familiarizar-se com a imagem do próprio corpo, pois os exercícios da prática da capoeira envolvem todas as partes do corpo, contando com gestos que são associados a um ritmo que fortalece a integração dos envolvidos, ajudando no amadurecimento das noções espaço-tempo, além de desenvolver uma atitude de interesse e cuidado com o próprio corpo, também “em seu universo simbólico e motor encontramos elementos tais como a musicalidade a religiosidade, movimentos acrobáticos, que a tornam bastante peculiar” fazendo da capoeira uma pluralidade com interpenetração do lúdico e do combate, caracterizando como jogo, luta e dança. (CAMPOS, 2000).

    Sendo a capoeira um esporte rico de cultura e de movimento corporal, se encaixa perfeitamente nas exigências da educação física escolar, fazendo uma integração com outras disciplinas facilitando o aprendizado dos alunos. É um eficaz sistema de auto defesa e treinamento físico, destacando-se entre as modalidades desportivas por ser a única originalmente brasileira e fundamentada em nossas tradições culturais, diferenciada de outras artes marciais pela presença do ritmo, dando a cada golpe e movimento uma beleza única sempre em sincronia com parceiro de jogo, representando também o coletivo. Enfatizando a proposta de trabalho delineado pelo CBC, 2005 (Conteúdo Básico Comum) da Secretaria do Estado de Minas Gerais, cabe, portanto, à Educação Física compreender a riqueza de movimentos e de ritmos que a sustentam e a necessidade de não separá-los de sua história, recuperando seu caráter como manifestação cultural. Ainda de acordo com o CBC, a capoeira enquanto manifestação da cultura popular tem se destacado como um importante referencial para compreender vários aspectos da nossa história, principalmente os ligados à luta pela emancipação do negro no Brasil escravocrata. É também uma atividade privilegiada em projetos com cunho social, devida a sua possibilidade de desenvolver competências e habilidades em crianças e jovens com pouco acesso aos bens culturais.

    A partir desse entendimento, Lemos e Naressi (2010) expõe que o projeto capoeira na escola procura privilegiar os valores éticos e estéticos dentro da proposta educativa esta metodologia de ensino estimula os alunos ao aprendizado, considerando a capacidade de formação de pessoas críticas e conscientes de sua própria história.

    Esclarecendo mais ainda, o termo ético deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa). Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está relacionada com o sentimento de justiça social. Diante desta definição, os autores supracitados destacam que, atualmente, a humanidade está com um grande problema de falta de princípios éticos, problemas estes que deve ser tratado desde a idade escolar, faixa etária em que a moral deve ser encarada e tratada com muito cuidado e dedicação. Pois, existe correntes que não consideram a ética como espaço de investigação científica, o que não corresponde a uma área do conhecimento, mas sim a maneira de agir e de se comportar, sendo que ela estabelece as normas que devem reger a vida de cada um de nós, é necessário pontuar também que a ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde... Faz parte dos temas transversais que compõe os Parâmetros Curriculares Nacionais.

    De acordo com Nascimento (2009), os PCN’s (1998) e CBC (2005) nos apontam que é preciso ver o educando como ser total e único que quer aprender de forma dinâmica, prazerosa e envolvente, assim não deverá concebê-los como um ser imóvel que deve permanecer sentado e quieto para aprender, pois privilegiar a mente e relegar o corpo pode levar a uma aprendizagem empobrecida. Percebemos assim a importância que a capoeira assume no âmbito escolar, uma vez que ela proporciona ao educando a capacidade de desenvolver habilidades motoras fundamentais e especializadas de maneira integral.

    Tomando como referência os estudos de ALMEIDA e SOARES (2006 p.6), traz seu parecer descrevendo que a luta para transformar a capoeira em conteúdo curricular ou educacional ainda se faz presente, a inclusão da capoeira nos Jogos Escolares Brasileiros (JEB´s), em 1985, e o Programa Nacional de Capoeira, criado pelo SEED-MEC em 1987 foram acontecimentos importantes nesse sentido. Apesar das várias tentativas de se institucionalizar a capoeira por intermédio do Estado, o sucesso esperado não foi totalmente obtido segundo a visão dos capoeiristas.

Metodologia

    Este estudo consiste em uma pesquisa com foco qualitativo, pois, segundo Godoy (1995, p. 58) a pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados, envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo. O objetivo desta pesquisa é verificar como a capoeira esta se inserida nas escolas da rede publica municipal da cidade de Presidente Bernardes MG e se está ocorrendo mudanças de comportamento e melhoria na aprendizagem de outros conteúdos depois da implantação deste projeto. Participaram desta amostra, 42 professores e/ou pessoas com vivências em capoeira, os dados coletados foram analisados e discutidos com base em referenciais teóricos abordados neste estudo.

Discussão dos resultados

    A partir das questões investigadas junto aos professores que ministram este conteúdo, foi possível engendrar a seguinte discussão: Os conteúdos da capoeira são de grande importância dentro do âmbito escolar, pois ajuda na formação de seres humanos capazes de lidar com as diferenças, aplicando conhecimentos amplos da cultura popular, resgatar a história e influência do negro na manifestação da cultura brasileira. Diante do exposto, a questão 1 do questionário é quanto ao tempo de implantação do projeto que vem se desenvolvendo a 1 ano na cidade de Presidente Bernardes do interior de Minas Gerais.

Figura 1

    O resultado representado na Figura 1 é referente a pergunta como as aulas do projeto capoeira na escola estão sendo trabalhadas nas escolas. 93% dos professores responderam que as aulas de capoeira são oferecidas durante as aulas de educação física e 7% não marcaram.

    Segundo Vieira (2010), a Capoeira inicialmente foi inserida na escola como uma atividade extracurricular, ganhou seu espaço nos currículos escolares através dos parâmetros curriculares nacionais da educação física (PCN), como parte dos conteúdos de lutas presentes na Educação Física Escolar. Este autor ainda ressalta que, em algumas escolas, as aulas de capoeira são oferecidas pelos "amigos da escola", mas não nos horários das aulas de Educação Física. A capoeira, por ser eminentemente prática, enfocando no jogo da roda um de seus momentos mais sublimes e característicos, e por se consolidar a partir de movimentos corporais, funciona como importante agente facilitador no trato com o movimento na educação física. Acreditamos, pois, que capoeira possa contribuir no processo pedagógico e didático em aulas de educação física, pois o ritmo, elemento potencialmente explorado na musicalidade da capoeira, tem o poder gerador de impulso e movimento no espaço, desenvolvendo a aprendizagem dos conteúdos que relacionam a capoeira com o legado cultural perpassado através da instituição escolar. (QUADROS, 2008). Com relação à pergunta da Figura 1: recorro aqui aos PCNs Brasil (1998) , que retrata a questão e nos diz que a Educação Física como área de conhecimento da Cultura Corporal do Movimento e a Educação Física Escolar é um componente curricular e que a capoeira faz parte da pluralidade cultural do nosso país. Entretanto, vem sempre aquela pergunta: Aulas de capoeira na escola? Quem dará esta aula? Mestres de Capoeira, professores de Educação Física? Os PCNs, Brasil (1998) entendem que a Educação Física como área de conhecimento da Cultura Corporal do Movimento e a Educação Física Escolar é um componente curricular e que a capoeira faz parte da pluralidade cultural do nosso país.

    E, é um dos eixos temático mais fácil de ser trabalhado na escola, pois não requer materiais de grande custo, não se faz necessário um espaço físico apropriado e nem indumentária sofisticada. Porem, a maior dificuldade encontrada para ministrar este conteúdo na maioria das vezes é que os profissionais de Educação física não o contemplam em suas aulas por não ter domínio ou vivencia do mesmo. Diante deste fato, na figura 3 foi levantada a questão sobre os profissionais que trabalham com a capoeira neste projeto escolar.

Figura 2

    No campo da atuação profissional, a Figura 2 refere a esta questão: quem trabalha diretamente com este projeto na escola, 38% são professores habilitados com vivência em capoeira, 57% pessoas sem habilitação e com vivência em capoeira e 5% não responderam. No Projeto de Lei 5.186/05 Art. 90-E diz que todo ex-atleta que tenha exercido a profissão durante, no mínimo, 3 (três) anos consecutivos, ou 5 (cinco) anos alternados, será considerado, para efeito de trabalho, monitor na respectiva modalidade desportiva. Por causa disso vem aparecendo pessoas não qualificadas, querendo aproveitar este momento para exercer ilegalmente as atividades do Profissional de Educação Física, prescrevendo treinamento, mesmo que de uma forma mais disfarçada.

    Sabe-se que os conteúdos são instrumentos utilizados para se chegar aos objetivos presentes em um planejamento, seja ele, bimestral, trimestral, semestral ou anual. Deve-se ter em mente que os "objetivos de um plano de trabalho não são aquilo que vai aplicar ao aluno como atividade, mas sim o que se espera dele como resultado da aprendizagem". Segundo Negrine apud Mello; Bracht (1992, p. 06) citado por Silveira (2010). (FALCÃO, 1995, p. 182). Citado por Almeida e Soares (2006) explica que ainda não existe uma estruturação acadêmica e institucional que conduza a organização e normatização da capoeira, ficando tudo nas mãos daqueles que possuem o conhecimento herdado e que fazem trabalhos individuais com base na intuição e na experiência adquirida na tradição. Essa colocação vem de encontro com que ocorre neste projeto, e não só confirmando isso como também enfatizando Ferreira e Gama (2009), coloca que por isso a capoeira é colocada como atividade extracurricular, com os colégios contratando profissionais não formados, para lecionar tornando sua prática difícil nas escolas devido aos professores de educação física não estarem qualificados e poucos a vivenciaram durante a graduação. Segue o autor dizendo que estas atitudes são tomadas por colégios particulares, pois os colégios públicos não dispõem de renda para contratá-los e montar a infra-estrutura. Mas os professores deveriam vivenciar a capoeira na sua formação e, pois além da capoeira ser um conteúdo que pode ser perfeitamente usado dentro da educação física escolar, se faz presente a LEI Nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003 que segundo o “Art. 26-A, os estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”. E que serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar. Segundo o Art. 27, Inciso IV da LDB, deve estar presente na escola o esporte de preferência não formal e de cunho educativo. A EFI deve atender a todos os alunos, respeitando suas diferenças e estimulando-os ao maior conhecimento de si e de suas potencialidades. Podendo reforçar ainda mais, tendo a capoeira também como formação de professores de educação física. Mas tendo como consideração o artigo 3ª da lei 9. 696/98 estabelece que “compete ao profissional de Educação Física coordenar, planejar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar, e executar trabalhos, programas, planos e projetos, bem como prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar informes técnicos científicos e pedagógicos, todos nas áreas de atividades físicas e do desporto”. No entanto o autor Costa (2007) se opõe a esta lei, e descreve em seus estudos que, caso, esta lei venha a ser realmente posta em prática, contribuirá para a destruição da cultura popular, no que diz respeito à forma de transmissão dos ensinamentos da capoeira na comunidade. Exigir de indivíduos que vivem em um país onde apenas 2% da população tem acesso ao ensino superior e apenas 1% conseguem concluí-lo é, no mínimo, crueldade. Sendo que sobre isso o projeto de lei 7.370/02 propõe a alteração, com o intuito de excluir os profissionais de dança, capoeira, artes marciais, yoga, seus instrutores e academias do âmbito de fiscalização e controle do sistema Confef/Cref’s Moção (2004). Esse projeto se aprovado deixaria essas profissões regulamentadas por quem tem esses conhecimentos herdados. Ao que se referem ao profissional habilitado em Educação Física estes devem primar pela sua criatividade assim, poderão trabalhar a capoeira na perspectiva de exploração do ritmo, conhecimento do seu corpo, utilizando o desenvolvimento dos movimentos corporais fundamentais, a ginga ( dança e o jogo), a musica através da ludicidade. Com a mesma interpretação de fatos Lemos e Naressi (2010), descreve que a capoeira e ludismo são dimensões que tem muito de afinidade entre aquilo que as crianças fazem e aquilo que elas desejam. O ludismo mantém a vida do movimento corporal e a capoeira mexe com as raízes culturais que estão arraigadas na índole da identidade do povo brasileiro. Portanto, a educação e o ensino no meio escolar, só têm a beneficiarem-se desta congruência. Partilhando desta mesma idéia Campos et al (1990), relata em seus estudos que trabalhar com a capoeira trazendo-a para o contexto escolar, como conteúdo nas aulas de educação física, representam uma grande possibilidade de exploração no contexto da educação, numa perspectiva da cultura corporal de movimento. Compartilhando com a idéia deste autor, Betti et al, Darido e Rangel ( 2005), poderá ser entendida como uma parte da cultura humana definindo e sendo definida pela cultura geral, que abrange valores e padrões de atividades físicas sobre tudo as institucionalizadas como esporte. A capoeira pode contribuir no processo pedagógico e didático, isto se afirma nas palavras de Lemos e Naressi (2010) que nas aulas de Educação Física, o ritmo, elemento potencialmente explorado na musicalidade da capoeira tem o poder gerador de impulso e movimento no espaço, desenvolvendo aprendizagem dos conteúdos que relacionam a capoeira com o legado cultural perpassado através de instituição escolar. Assim, é importante desvelar as possibilidades didáticas em aulas de Educação Física a partir dos conteúdos da capoeira, na perspectiva da cultura corporal de movimento. Pretendendo desenvolver uma reflexão pedagógica sobre as possíveis formas de experiências e expressões culturais e históricas dos movimentos dessa modalidade. A importância de estabelecer um trabalho de capoeira na educação física escolar voltada para o ensino fundamental, com a pretensão de criar um vínculo cultural com a prática da modalidade, cujos objetivos a serem alcançados necessitam de sustentação política e pedagógica comprometida com a socialização, numa perspectiva educacional e deve fazer parte do planejamento das atividades escolares. (QUADROS, 2008).

    Reforçando o que foi dito, o planejamento deve estar presente em todas as atividades escolares. É a etapa mais importante do projeto pedagógico, porque é nesta etapa que as metas são todas articuladas à estratégia e ambas são ajustadas às possibilidades reais. O plano de ensino se divide em tópicos que definem metas conteúdos e estratégias metodológicas de um período letivo, levando em conta as características e necessidades de aprendizagem dos alunos, os objetivos educacionais da escola e seu projeto pedagógico, o conteúdo de cada série, os objetivos e seu compromisso pessoal com o ensino e as condições objetivas de trabalho.

Figura 3

 

Figura 4

    De acordo com o exposto acima, a figura 3 é referente a seguinte questão: como ela se faz presente nas escolas. O resultado apresentado foi: 7% dos professores marcaram que ela se faz presente através da prefeitura de Presidente Bernardes, 74% através do planejamento anual feito pelo professor, 19% não marcaram. A figura 4 corresponde a com que periodicidade o projeto da capoeira é oferecida na escola. O resultado apresentado foi: 19% responderam durante o bimestre, 36% durante o semestre, 5% durante o mês e 40 % não responderam.

    De acordo com a Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais (SEE/MG), houve uma necessidade de reorganização dos tópicos do CBC (2005), muitos foram aglutinados, outros criados e alguns eliminados. Em relação às habilidades, várias foram remanejadas de acordo com sua pertinência no tópico e no nível de ensino. Dentre as principais alterações destacamos: A capoeira deixa de ser um conteúdo complementar, tornando-se conhecimento pertinente ao CBC; esse entendimento vem atender a justificativa do Ensino da Educação Física na escola que é criar ações educativas, isto é, uma possibilidade que os educadores têm para tornar o ensino mais prazeroso e significativo e assegurar aos alunos acesso aos bens culturais, aos conhecimentos que garantam autonomia em relação ao seu corpo e ao exercício da cidadania. De inicio, parece evidente supor que as aulas de capoeira só existem pelo feito da prefeitura, e sem este projeto os alunos não estaria tendo a oportunidade de vivenciar o conteúdo, as aulas de capoeira nestas escolas têm como finalidade levar atividades físicas, dança, musica brincadeiras, vivências culturais e éticas, tendo duração de 1 hora durante uma vez por semana.

    O autor Fugikawa et AL (2006), comenta que, como a maioria das modalidades esportivas, a prática da Capoeira proporcionará um bom condicionamento físico, se realizada pelo menos três vezes por semana, durante aproximadamente uma hora promoverá a queima de calorias, desenvolverá a força muscular, resistência física e flexibilidade de seus praticantes. Porém, contradizendo o que descreve o autor, os alunos deste projeto têm aulas de capoeira apenas uma vez por semana, por essa razão sugere que o projeto para ser mais eficaz em seus resultados precisa ser aumentado o numero de aulas, ao invés de uma vez, oferecer no mínimo duas vezes por semana, possibilitando um resultado próximo que foi citada a cima. Embora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (2010), tenha a previsão da obrigatoriedade, não determina a carga horária de nenhuma disciplina. Remete ao Projeto Político e Pedagógico da Escola a forma como tratar as áreas de conhecimento. Mas ela tem incentivado profissionais responsáveis a participarem da construção do projeto e a demonstrarem a necessidade de um número maior de aulas.

    Abordando de maneira específica de acordo com os dados históricos, a capoeira cresceu em meio a senzalas, canaviais, plantações de Café, quilombos e fazendas, foram tidos como a arte de vadiagem, selvageria e violência. Passando por períodos turbulentos de marginalidade e lutas sociais da massa escravocrata em anciã de liberdade, transformando a luta em cultura e posteriormente em um forte elemento de conteúdo educacional (ALVES e BARRETO, 2009). Mas até hoje existe uma resistência por parte das pessoas em abrir as portas da educação para a capoeira, talvez não acreditando que o período da marginalidade ainda não tenha passado. A partir deste entendimento, a figura 6 representa a seguinte questão: você notou alguma dificuldade na implantação deste projeto? E a figura 7 corresponde ao seguinte questionamento: quais as dificuldades encontradas para implantar este projeto.

Figura 6

 

Figura 7

    No final do século XIX foi proibida a pratica da capoeira nas ruas e praças públicas por ser considerada violenta, e aqueles que a praticassem seria incluídos no Código Penal da República, segundo Junio (2001). Infelizmente, hoje, muitos ainda têm uma visão errada da capoeira e continuam com a concepção de ser uma atividade violenta. Nesta perspectiva, quando foi perguntado aos professores, quais as dificuldades encontradas na implantação do projeto responderam: 11% aceitação dos pais, 14% responderam problemas de convivência entre os alunos, 14% duvidaram da aprendizagem deste conteúdo pelos alunos, 11% acharam que a dificuldade era o local para ministrar as aulas e 33% por ter uma visão errada desta modalidade, achando ser uma atividade violenta. Como afirma Filho (2010) o assunto em tela, na sua interpretação, salienta que a violência é decorrente da falta do gingado, da disposição mental para o ataque em lugar da predisposição à esquiva, subseqüentes ao ritmo excessivamente rápido dos toques de berimbau e predominância da atitude belicosa, levam a um jogo extremamente agressivo, impedindo o floreio e as esquivas típicas da capoeira. Em contrapartida, Frigério (S/D) ressalta que o jogo de capoeira não possui mais características violentas, perdeu seu objetivo principal do tempo da escravidão, que era a luta pela liberdade e defender-se dos capitães do mato. Numa roda de capoeira um jogador não tem como finalidade acertar, ferir, lesionar ou matar o outro jogador. O jogo de capoeira não passa de uma representação, simbolismo esportivo.

    Diante destes fatos Bregolato (2005) descreve que a Capoeira é a própria arte e é de alto teor educacional, no aspecto psicológico de liberação saudável da agressividade. Continuando nesta linha reflexiva, Aleluia destaca no CBC (2005) os relatos de Falcão et al (2005) a capoeira é uma atividade onde o jogo, a luta e a dança se interpenetram, numa relação recíproca. O jogo e a dança contribuem para a dissimilação da luta, que não se efetiva num confronto direto, mas numa constante simulação de ações e reações mediadas pela ginga. Nessa luta dissimulada e disfarçada, o importante é que o capoeirista podendo acertar um golpe, não o faça, e com isso, possibilite a continuidade da própria luta-jogo-dança. Segue o autor dizendo que sendo ela um jogo, quer dizer “brincadeira”, a prática pedagógica tem na capoeira, um conteúdo de base para o aluno extravasar simbolicamente a agressividade que habita sua realidade social. Ao da sua contribuição nesta questão, Rangel e Darido (2005) ressalta um dos objetivos gerais do Ensino Fundamental, proposto pelos PCNs Brasil (1998), que aponta a importância do conhecimento e do reconhecimento do outro, valorizando o diálogo entre as culturas, não contrapondo, e sim, convivendo com a diversidade. A construção da identidade cultural segundo Sobrinho (1999) por parte dos jovens que têm, através da Capoeira, a oportunidade de se reconhecerem enquanto pertencente a uma determinada cultura, cultura essa que é valorizada a partir da ressignificação dos elementos que caracterizam a Capoeira não mais como "atividade marginal" ou "coisa de desocupados", porém como expressão de um povo que se orgulha de sua história, de suas lutas e de seus antepassados.

    Na educação, a capoeira pode proporcionar total desenvolvimento da criança e do adolescente favorecendo todo e qualquer tipo de aprendizagem haja vista que integra o conhecimento intelectual, a habilidade corporal a criatividade e a afetividade do educando/a;

    [...] numa concepção consideramos a capoeira uma atividade física completa, pois atua de maneira direta e indireta sobre os aspectos cognitivos afetivos e motor. Sendo encarada como lúdica e instrucional articula atividades de desenvolvimento viso motor com desenvolvimento artístico e social levando a criança estabelecer relações a partir dela própria, fato que torna a capoeira multidirecional [...] (SANTOS, 1985, pag. 119).

    Segundo SILVA et al (2008) o esporte favorece o conhecimento do corpo como um todo, o desenvolvimento intelectual e moral, mudanças comportamentais, convívio social e estabilidade emocional, combatendo o estresse e promovendo a reenergização individual e/ou coletiva. “A capoeira manifesta-se como jogo, como luta e como dança, sem assumir efetivamente nenhuma destas características isoladamente, mas sendo todas ao mesmo tempo, reunindo grandes instrumentos para a educação escolar, como a música, o ritual, a expressão, a harmonia e sua pluralidade de manifestações corporais e culturais. Diante deste contexto, foi pedido aos professores envolvidos neste estudo para comentarem se haviam notado alguma mudança no comportamento e no rendimento por parte dos alunos participantes, familiares, comunidade escolar e comunidade local, 2% dos professores disseram não ter ocorrido nenhuma melhora, justificando também não terem ocorrido piora no comportamento, 7% não responderam, mas também não justificaram, supõe-se ter sido uma influencia política, já que o projeto é da prefeitura, 91% responderam que os alunos tiveram grandes melhoras no comportamento e no rendimento. Esses 91% dos professores justificaram que levando em consideração o tempo de implantação do “projeto capoeira na escola” os alunos tiveram avanços significativos nos seguintes fatores, atenção nas aulas, respeito com os colegas, na socialização, melhorando o rendimento e a participação em atividades em grupos, melhora da auto-estima, coordenação motora e do equilíbrio, diminuirão a discriminação entre colegas, tornaram se mais calmos e tolerantes, passaram ser mais solidários entre si, teve um aumento na freqüência escolar, ouve um maior interesse nas aulas. As aulas de capoeira tornam um lugar onde não só se aprende cultura, mas um lugar onde acontece também uma troca de saberes, e pode ser uma das maiores ferramentas na formação de seres humanos capazes de lidar com a diferença, para que eles se tornem mais livre de preconceitos e mais tolerantes, prevalecendo o respeito e a harmonização.

Conclusão

    A utilização da Capoeira como instrumento pedagógico vem sendo, nas últimas décadas um recurso de grande valia, estando ela presente tanto no currículo escolar de 1º e 2º grau, como em boa parte das Faculdades de Educação Física, sem falar no grande número de projetos de atendimento a jovens e crianças carentes que utilizam a Capoeira como atividade lúdica e educativa, em quase todos os grandes centros urbanos do país, pelo reconhecimento de seu valor pedagógico e da sua aceitação por parte desse público. (SOBRINHO, 1999). Este quadro vem sendo marcado segundo ALVES (2009), pelas várias publicações a cerca da inclusão da capoeira na escola. Embora, poucas sejam direcionadas a inclusão direta por meio das aulas de Educação Física ou a possibilidade da interdisciplinaridade que de uma proposta Pedagógica da capoeira possa imergir. Ao se tratar de capoeira na escola introduzida por professores de Educação Física, percebe-se que são raros os que detêm um conhecimento satisfatório para atender as necessidades desse conteúdo.

    Os conteúdos da capoeira são de grande importância dentro do âmbito escolar, é uma excelente modalidade de ensino para crianças, pois mostra bastante cabível dentro dos ensinamentos escolares, apresentando características que proporcionam aos seus aprendizes o desenvolvimento da agilidade, das habilidades motoras e de todas as valências físicas. Sua pratica vem crescendo cada vez mais dentro da escola como conteúdo da Educação física, pela sua eficiência no estimulo das percepções básicas e no interesse entre alunos, tendo influencia direta no comportamento afetivo e na criatividade. É relevante lembrar que quando observamos uma roda de Capoeira com todo o seu “gingado”, suas acrobacias, seus movimentos rápidos e destreza, utilizadas na sua prática, inclusive o condicionamento físico e a flexibilidade necessárias, devemos observar toda beleza destes movimentos e como os dois capoeiristas se compreendem, parecendo conversar através dos gestos dentro da roda. (FUGIKAWA et al, 2006).

    A busca da implementação de novos conteúdos pode transformar os objetivos e a didática do ensino, as inovações no nosso planejamento com outras áreas, pode proporciona aos alunos novas vivências por meio da ludicidade e poderá torná-los mais participativos, conscientes e integrados no meio escolar.

Referências bibliografias

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 16 · N° 156 | Buenos Aires, Mayo de 2011  
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