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Suplementação de proteínas do soro do leite no treinamento de força

Suplementación de proteínas del suero de la leche en el entrenamiento de la fuerza

 

Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Setor de Ciências Biológicas

Departamento de Educação Física

Curitiba, PR

(Brasil)

Rafael Rabello Ramos | Eliza Lins Donha

Lincoln Henrique Olkuszewski da Silva | Ana Maria da Silva Delai

Paola Minervini Prolla | Pedro Ricardo Bortolanza

Renata Teixeira Mamus | Maria Gisele dos Santos

rramostrainer@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo desse estudo foi analisar os efeitos da suplementação de proteínas do soro do leite no treinamento de força. Através de uma revisão literária, conclui-se que as proteínas de soro do leite, correspondem ao suplemento alimentar mais utilizado pelos praticantes de musculação, na cidade de Curitiba. E seus benefícios com relação o aumento de massa muscular e força estão comprovados cientificamente. Sabendo-se que o ganho de massa muscular está relacionado ao perfil de aminoácidos, rápida absorção intestinal de seus aminoácidos, peptídeos e à sua ação sobre a liberação de hormônios anabólicos, como a insulina. A proteína de soro do leite é eficaz na busca do aumento do ganho de massa livre de gordura. Porém, ao adotar a ingestão desse suplemento alimentar, a orientação de um profissional especializado em nutrição torna-se fundamental, para prescrever a dosagem e horários de ingestão corretos. Pois, o excesso não proporciona resultado significativo. Já o aumento significativo da força, justifica-se pelo alto teor de cisteína das proteínas do soro, o que resultaria em aumento da concentração de glutationa e redução da disfunção muscular causada pelos agentes antioxidantes.

          Unitermos: Proteínas do soro do leite. Efeitos da suplementação. Força.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 154, Marzo de 2011. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Na tentativa de obter melhor desempenho físico ou aumento de massa e força muscular, a utilização de recursos ergogênicos por atletas e desportistas, teve início antes da era cristã, quando os heróis olímpicos, tinham suas invencibilidades atribuídas às grandes ingestões alimentares. Desde então até os dias atuais, as pessoas cotidianamente são estimuladas pela indústria cultural, vivendo basicamente do que a mídia dita. A preocupação por parte dos praticantes de musculação aumentou em relação ao desejo de obter hipertrofia e força muscular. Levando a repensar, que “apesar do exercício de resistência objetivar principalmente a promoção da massa muscular, os resultados obtidos com o treinamento regular, variam a massa corpórea de 0 a 1 kg por mês, sendo ainda os mesmos considerados insatisfatórios por muitos dos praticantes” (1). O fato dos resultados aparecerem tardiamente faz com que estes passem a usar os suplementos nutricionais como forma de obter um resultado aparentemente mais rápido.

    Observou-se (1) que nas academias de musculação da cidade de Curitiba, os suplementos nutricionais de proteína à base do soro do leite bovino são os mais consumidos. Há uma cultura difundida nas academias de que esse suplemento hiperproteico aumenta a massa muscular, podendo se constituir num prejuízo para a saúde, se o uso for excessivo, já que a alta ingestão de proteínas pode acarretar riscos metabólicos no que diz respeito às funções hepática e renal (1).

Proteína do soro do leite

    A proteína do soro do leite, também conhecida como Whey Protein, é obtida através da filtragem do soro residual da fabricação do queijo. Contem alto valor biológico com propriedades funcionais, além de conter alto teor de aminoácidos essenciais, especialmente os de cadeia ramificada (2).

    O leite bovino é formado por proteínas, 20%, e caseína, 80%. As proteínas são formadas por peptídeos, grupamentos de aminoácidos. Os peptídeos do soro do leite são principalmente: Beta-lactoglobulina (BLG), o maior peptídeo encontrado no soro, apresenta o maior teor de aminoácidos de cadeia ramificada (3); O Glicomacropeptídeo (GMP) que é um peptídeo derivado de digestão da caseína no processo de coagulação do queijo, sua carga negativa favorece a absorção minerais pelo intestino possui alto teor de aminoácidos essenciais. Alfa-lactoalbumina (ALA) é o segundo peptídeo encontrado no soro de leite bovino e é o principal do leite humano, caracteriza-se por apresentar fácil e rápida digestão (4). Este peptídeo, também pode se ligar a alguns minerais: Cálcio, Zinco, fazendo com que a absorção desse peptídeo seja mais rápida. Albumina do soro bovino (BSA) é um peptídeo que possui afinidade por ácidos graxos livres e outros lipídeos, o que favorece seu transporte na corrente sanguínea (5). Imunoglobulinas (lg’s) estão relacionadas à imunidade passiva e atividade antioxidante (6).

    Estas proteínas que são retiradas da parte líquida do leite e que são geradas após o processo de fabricação do queijo, têm importância no tratamento e prevenção de problemas intestinais, e atletas e praticantes de atividade física têm buscado os benefícios destes tipos de proteínas. A proteína do soro do leite é rica em aminoácidos essenciais e BCAA, ela favorece o anabolismo e evita o catabolismo, sendo imprescindível para o aumento da massa muscular (2).

    A prática regular de exercício resistido requer uma ingestão de 1,2 a 1,4g de proteína por quilograma de peso ao dia, já para atletas de força, recomenda-se de 1,6 a 1,7g – 1 por kg de peso/dia-1, enquanto para pessoas sedentárias estabelece-se 0,8-1,0g - 1 por kg de peso/dia-1. As proteínas ao serem ingeridas logo após o treino atuam no favorecimento da síntese protéica (2, 5).

Efeitos sobre o anabolismo muscular

    Os efeitos da suplementação com proteína do soro do leite sobre alterações na composição corporal e adaptações nas fibras musculares, foram destacados pela Sociedade Americana de Fisiologia (The American Physiological Society). Observou-se (7) que quatro grupos de homens (entre 20 e 35 anos de idade) habituados à prática de exercícios de resistência receberam suplementação com isolado de soro, carboidratos, creatina ou uma combinação de creatina e soro, respectivamente (1,5 gramas de proteína/kg de peso corporal/dia). Os grupos suplementados com o soro apresentaram, após 11 semanas de exercícios de resistência, um ganho duas vezes maior em massa livre de gordura em comparação aos homens que receberam o suplemento de carboidratos. A capacidade extraordinária do soro de potencializar o ganho de massa muscular durante períodos de treinamentos intensivos com exercícios de resistência foi confirmada a nível celular. Biópsia dos músculos dos participantes, realizadas antes e depois do período experimental, revelou que a suplementação com proteína do soro do leite aumentou o tamanho de alguns tipos de fibras musculares em até 543% quando comparada à suplementação de carboidratos. Além disso, a maior resposta hipertrófica muscular obtida com a suplementação com soro correlacionou fortemente com a melhora superior nos indicadores de resistência física observada nos grupos suplementados com soro. Conforme observado pelos pesquisadores, todos os participantes iniciaram o programa de treinamentos com igual nível de resistência física e todos consumiram uma quantidade adequada de proteína além da proteína contida na suplementação investigada. Por este motivo, os dados revelados por estes estudos permitem concluir que o soro parece ser um catalisador capaz de garantir uma grande melhora nos resultados obtidos com exercícios de resistência.

    O perfil dos aminoácidos que compõem as proteínas do soro é muito similar ao perfil das proteínas do músculo esquelético (8).

    A quantidade e o tipo de aminoácidos ingeridos influenciam a síntese protéica. Estudos mostram que aminoácidos essenciais especialmente à leucina, são necessários para estimular a síntese das proteínas (9). A leucina participa no processo de iniciação da ativação da síntese protéica e também na cascata de reações que promovem a fosforização da proteína S6 cinase ribossomal (proteína responsável por ativar a tradução de proteínas envolvidas na síntese protéica) (10). O efeito da suplementação (10g, de proteínas do leite e da soja), em um grupo de 13 idosos, submetidos à musculação, no período de 12 semanas. Sendo que a ingestão das proteínas citadas foi realizada logo após o término da sessão de exercícios resistidos. Apresentou ganho significativamente maior de força e de hipertrofia muscular, quando comparado ao grupo que recebeu suplementação duas horas após a realização de exercícios com pesos (11).

    A ingestão de uma solução contendo proteínas do soro do leite e carboidrato aumentou significativamente as concentrações plasmáticas de sete aminoácidos essenciais, incluindo aminoácidos de cadeia ramificada em comparação à caseína (12).

    Indivíduos submetidos ao treinamento resistido, que foram suplementados com carboidrato (225g d-1) juntamente com proteína (1,8g kg-1.d-1) apresentaram uma maior massa muscular do que os avaliados que foram submetidos ao mesmo tipo de treinamento e à suplementação de 4g kg-1.d-1de proteína (13). Na literatura foram encontrados resultados identificando que, quando a ingestão de proteína é maior do que 2,4g.kg-1.d-1 não há diferença significativa, porém quando há aumento da ingestão de 0,86 para 1,4g.kg-1.d-1 ocorre um aumento na síntese protéica de indivíduos submetidos ao treinamento (13, 14).

    A ingestão de proteína  após os exercícios favorece a recuperação, a síntese protéica (2 5). Quanto menor o tempo de intervalo entre o fim do exercício a ingestão de proteína melhor é a resposta do anabolismo muscular (11). Pesquisas mostram que as proteínas do soro do leite possuem um perfil muito parecido com as proteínas musculares (8).

    Assim de forma geral o aumento da massa muscular está relacionado principalmente à leucina, à rápida absorção dos aminoácidos e peptídeos no intestino, e também a liberação de insulina um hormônio anabólico (2).

    Sobre a diminuição da massa muscular com o passar da idade, os exercícios resistidos são eficazes para diminuir a perda dessa massa muscular e melhorar a qualidade de vida. A nutrição é fundamental para as pessoas ativas. Sabe-se que pessoas ativas necessitam de uma demanda protéica maior que indivíduos sedentários, já que a síntese protéica é maior (15).

Diferentes velocidades de absorção

    De acordo com avaliação realizada envolvendo quatro diferentes soluções (solução 1 contendo 25g/l de glicose; solução 2: 25g/l de glicose e 0,25g/kg de ervilhas; solução 3: 25g/l de glicose e 0,25g/kg proteínas do soro do leite; solução 4: 25g/l de glicose e 0,25g/kg de leite integral), após 20 minutos de ingestão, a solução contendo proteínas do soro do leite provocou elevação da concentração plasmática de insulina (duas vezes maior que a encontrada na solução contendo comente glicose). Além disso, 20 minutos após a ingestão, a solução contendo proteínas do soro de leite e glicose provocou maior elevação na concentração plasmática de aminoácidos essenciais, principalmente BCAA, que atua inibindo a degradação da proteína muscular (16).

Redução da gordura corporal

    O soro do leite atua na diminuição da gordura corporal pelo mecanismo associado ao cálcio, pelas altas concentrações do BCAA (2). As proteínas do soro do leite, ricas em cálcio, atuam na diminuição dos hormônios calcitrópicos que têm como função a lipogênese (nova síntese) e diminuição da quebra de gordura, consequentemente ocorre pouca deposição de gordura (17).

    Uma dieta rica em proteínas é muito eficiente para o controle da glicemia e também para diminuição da gordura corporal. Assim o autor aponta que as proteínas do soro do leite podem interferir positivamente na diminuição da gordura corporal pelas altas concentrações de cálcio e atua também na perda de peso com o controle glicemico e manutenção da massa muscular pelo aumento de BCAA (18).

Efeitos sobre desempenho físico

    Conforme a literatura não é uma tarefa fácil avaliar o papel de um determinado nutriente no desempenho de atletas, pois esta depende de muitos fatores, mas pode-se avaliar o efeito sobre determinadas variáveis que são importantes para o desempenho do atleta, ou praticantes de atividade física (2).

    Estudos demonstraram uma comparação do o efeito de um suplemento a base de proteínas concentradas do soro e caseína (placebo) sobre o desempenho físico de jovens, no teste isocinético em bicicletas. Administrando 20g/ dia, durante 3 meses, apresentou aumento de 35,5% na concentração de glutationa (o principal agente antioxidante, o qual depende da concentração intracelular do aminoácido cisteína para ser sintetizado). Os voluntários suplementados conseguiram gerar mais potências e maior quantidade de trabalho em testes de velocidade (19). O provável efeito estaria relacionado ao alto teor de cisteína das proteínas do soro, o que resultaria em aumento da concentração de glutationa e redução da disfunção muscular causada pelos agentes antioxidantes.

Conclusão

    Após, a realização dessa revisão literária sobre a proteína do soro do leite constatou-se que esse suplemento alimentar é o mais utilizado pelos praticantes de musculação. Além, de ser o suplemento mais utilizado já estão comprovados os motivos para ser um sucesso em termos de ganho de força e massa muscular. Vários estudos apontaram as vantagens da utilização do “hiperproteíco” ou proteína do soro do leite na busca de um aumento da quantidade de massa livre e gordura, ou seja, hipertrofia.

    No entanto, para a obtenção desses benefícios é fundamental que se adote uma metodologia especifica com relação aos horários e quantidades de ingestão do suplemento. A ingestão, logo após, o término do exercício resistido demonstra um resultado muito expressivo ao anabolismo muscular. É importante ressaltar que o uso abusivo desse suplemento alimentar pode gerar danos à saúde e que a ingestão de proteína superior a 2,4g.kg-1.d-1 não proporciona um resultado significativo.

    Constatou-se, também, que o uso somente do Whey protein após o treinamento resistido não proporciona tantos ganhos de massa livre de gordura quanto o uso do Whey protein associado a um carboidrato. Devido o aumento da concentração plasmática de sete aminoácidos, incluindo aminoácidos de cadeia ramificada que atuam diminuindo a degradação da proteína muscular.

    Sabendo-se que o ganho de massa muscular está relacionado ao perfil de aminoácidos, rápida absorção intestinal de seus aminoácidos e peptídeos e à sua ação sobre a liberação de hormônios anabólicos, como a insulina. Pode-se indicar a proteína do soro do leite (whey protein) como um suplemento alimentar eficaz na busca do aumento do ganho de massa livre de gordura.

    Com relação ao aumento da força a literatura aponta um aumento significativo e o provável efeito estaria relacionado ao alto teor de cisteína das proteínas do soro, o que resultaria em aumento da concentração de glutationa e redução da disfunção muscular causada pelos agentes antioxidantes.

Referências

  1. Kantikas, M. das G. de L. Avaliação do uso de suplementos nutricionais à base de soro bovino pelos praticantes de musculação em academias da cidade de Curitiba – PR Curitiba, 2007.

  2. Haraguchi FK, Abreu WC, Paula H. Proteínas do soro do leite: composição, propriedades nutricionais, aplicações no esporte e benefícios para a saúde humana. Rev. Nutrição vol. 19 no. 4 Campinas. 2006

  3. De Wit JN. Nutritional and functional characteristics if whey proteins in foods products. J Dairy Sci. 1998; 81(3):597-608

  4. Shannon LK, Chatterton D, Nielsen K, Lönnerdal B. Glycomacropeptide and alfa-lactoalbumin supplementation of infant formula affects growth and nutritional status in infant rhesus monkeys. Am J Clin Nutr. 2003; 77(5):1261-8.

  5. Lemon PWR. Effects of exercise on dietary protein requirements. Int J Sports Nutr. 1998; 8(4): 426-47.

  6. Salzano Jr I. Nutritional supplements: practical applications in sports, human performance and life extension. Symposium series 007; São Paulo; 1996-2002. p.75-202.

  7. Cribb, P.J., Williams, A.D., Hayes, A. and Carey, M.F. The effects of whey isolate and creatine on muscular strength, body composition and muscle fiber characteristics. FASEB J 17;5:a592.20, 2003.

  8. Ha E, Zemel MB. Functional properties of whey, whey components, and essential amino acids: mechanisms underlying health benefits for active people. J Nutr Biochem. 2003; 14(5):251-58

  9. Kimball SC. Regulation of global and specific mRNA translation by amino acids. J Nutr. 2002; 132(5):883-6.

  10. Anthony JC, Anthony TG, Kimball SR, Jefferson LS. Signaling pathways involved in translation control of protein synthesis in skeletal muscle by leucine. J Nutr. 2001; 131(3):856s-60s.

  11. Esmarck B, Andersen JL, Olsen S, Richter EA, Mizuno M, Kjaer M. Timing of postexercise protein intake is important for muscle hypertrophy with resistance training in elderly humans. J Physiol. 2001; 535(1):301-11

  12. Van Loon LJC, Saris WHM, Verhagen H, Wagenmakers JM. Plasma insulin responses after ingestion of different amino acid or protein mixtures with carbohydrate. Am J Clin Nutr. 2000; 72(1):96-105.

  13. Oliveira PV; Baptista L; Moreira F; Junior AHL. Correlação entre a suplementação de proteína e carboidrato e variáveis antropométricas e de força em indivíduos submetidos a um programa de treinamento com pesos. Rev Bras Med Esporte, Vol. 12, Nº 1 – Jan/Fev, 2006

  14. Tarnopolsky MA, Atkinson SA, MacDougall JD, Chesley A, Phillips S, Schwarcz HP. Evaluation of protein requirements for trained strength athletes. J Appl Physiol 1992;73:1986-95.

  15. Hasten DL, Pak-Loduca J, Obert KA, Yarasheski KE. Resistance exercise acutely increases MHC and mixed muscle protein synthesis rates in 78-84 and 23-32 yrs old. Am J Physiol End Met. 2000; 278(4):E620-6.

  16. Werustsky CA. Inibição da degradação protéica muscular em atletas pela suplementação de aminoácidos. Nutrição Enteral e Esportiva. Rio de Janeiro; 1993. 6:4-7.

  17. Zemel MA. Role of calcium and dairy products in energy partitioning and weight management. Am J Clin Nutr. 2004; 79(5):907s-12s

  18. Layman DK, Shiue H, Sather C, Erickson D, Baum J. Increased dietary protein modifies glucose and insulin homeostasis in adult woman during weight loss. J Nutr. 2003; 133(2):405-10

  19. Lands LC, Grey VL, Smoutas AA. Effect of supplementation with cysteine donor on muscular performance. J Appl Physiol. 1999; 87(4):1381-5.

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