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Perfil do gestor desportivo das federações 

olímpicas do Estado de Pernambuco

Perfil del gestor deportivo de las federaciones olímpicas del Estado de Pernambuco

 

*Universidade do Porto, Faculdade de Desporto

Gabinete de Gestão Desportiva (Portugal)

**Universidade Federal de Pernambuco

***Faculdade Maurício de Nassau

Carlos Augusto Mulatinho de Queiroz Pedroso*

carlosaugustomulatinho@hotmail.com

Vilde Menezes**

vildemenezes@hotmail.com

José Pedro Sarmento*

Rafael José Freire de Albuquerque***

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Esta investigação tem por escopo identificar o perfil dos gestores de desporto olímpico em uma unidade federativa do Brasil. Constitui-se, inicialmente, de processos exploratórios decorrentes da bibliografia relativa à temática. Em seqüência, realiza-se uma intervenção de campo entre dez federações esportivas do Estado de Pernambuco no período de setembro a outubro de 2008. Obtêm-se os dados mediante aplicação de questionário com 23 perguntas fechadas, cujo tratamento decorre de estatística descritiva. Ambos os procedimentos se inspiram em Sarmento, Pinto e Oliveira (2006). Os dados revelam que 100% dos entrevistados são do sexo masculino, com idade entre 41 e 49 anos. Têm curso superior 86% dos entrevistados, e 100% desenvolvem a atividade de gestão de forma parcial, sem remuneração. Apenas 29% deles participam de capacitação na área. Conclui-se que há uma cultura de gestão distanciada de inovações tecnológicas e procedimentos de gestão baseados em mecanismo de racionalidade gerencial. Presença acentuada de voluntarismo e, no caso em tela, de pouca produtividade.

          Unitermos: Federações desportivas. Gestão desportiva. Organizações. Perfil dos gestores.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010

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Introdução

    A gestão desportiva é atualmente uma das principais áreas de intervenção profissional no contexto do desporto (Pires & Sarmento, 2001). Nesse sentido, é de fundamental importância compreender que o desporto como fenômeno social remeteu as organizações a um processo de desenvolvimento com base em pressupostos racionais de gestão.

    Assim sendo, o conhecimento acerca do perfil dos gestores das federações desportivas olímpicas do Estado de Pernambuco representa uma significativa contribuição ao entendimento do desporto pernambucano no que concerne aos recursos humanos, o que pode, em larga medida, levar à compreensão da realidade e das perspectivas em médio e longo prazos, tendo por baliza o processo organizacional.

    De acordo com Pires (1993), o termo organização é polissêmico, assume vários sentidos. O autor ilustra essa ideia de polissemia com a frase “a organização, faz a organização da organização”, em que, no primeiro instante, a organização é entendida como um conjunto de princípios que governam a atividade de um clube, federação ou qualquer outro organismo desportivo.

Gestão desportiva

    Os termos administração esportiva e gestão esportiva se confundem e se utilizam simultaneamente, porque variam de país a país conforme a teoria administrativa escolhida. Neste trabalho, optou-se pelo termo gestão desportiva em razão de reunir mais funções e capacidades de acordo com Parkhouse:

    A gestão engloba todas as áreas relativas ao desporto tais como: turismo, hotéis, equipamentos, instalações, investimentos públicos e privados no setor de fitness, merchandizing, esportes escolares e profissionais. Enquanto a administração esportiva seria mais limitada e sugere um foco nas relações esportivas escolares. (Parkhouse, 1996 citado em Zouain & Pimenta, 2003, p. 178).

    Percebe-se maior abrangência na área de atuação ao se observar o termo gestão desportiva enquanto o termo administração esportiva é uma área restrita. No que diz respeito ao desenvolvimento do esporte como um sistema e sua evolução, faz-se pertinente a afirmação de Pereira e Santos (2001, p. 9):

    O desenvolvimento de uma organização é o resultado do processo de aplicação sistemática de um conjunto de conhecimentos, cujo objetivo é exatamente a mudança de um estado inicial para um estado consecutivo planejado. Já evolução assume um significado mais abrangente. Temos a evolução de um sistema qualquer quando ocorre um processo espontâneo de mudanças não-planejadas ou um resultado não-planejado de mudanças planejadas.

    Na sua estrutura interna, as organizações ou federações esportivas devem manter em harmonia três grupos que acabam por guiar seu comportamento: os aspectos técnicos, políticos e administrativos. Essa harmonia vai refletir na interação desses grupos com os agentes e os aspectos da estrutura externa favorecendo o desenvolvimento das organizações, ou seja, as mudanças internas contribuem para as mudanças de um sistema maior, e os gestores podem ocupar uma posição estratégica para suprir as necessidades técnicas, políticas e administrativas das organizações (Tassinari, 2007).

Papel do gestor desportivo

    A constante transformação do setor desportivo aumenta a procura por profissionais com competência para dar resposta a renovados desafios e contínuos desafios.

    De facto, o desporto apresenta-se como um sector de intervenção profissional diversificada com enormes potencialidades, não só no âmbito da economia tradicional bem como no da emergente economia social. Em conformidade, o desporto tem vindo a criar um crescente número de oportunidades de emprego com tendência para o crescimento. (Pires & Sarmento, 2001, p. 93).

    Para Chiavenato (2004), tem-se gerado, nos últimos anos, uma evolução no papel do gestor desportivo. Desde o papel de técnico muito centrado em uma ação de especialista com baixa responsabilidade hierárquica a um papel de gestor ou diretor com atuação de caráter estratégico em que a dimensão conceitual tem uma importância fundamental.

    Atualmente existem diversos postos de trabalho em gestão esportiva como consultor, diretor geral, diretor técnico, diretor comercial e diretor de instalação; gestor da área de Marketing, gestor de eventos esportivos, de produto, de recursos humanos, de empresas e de outras organizações ou entidades privadas e públicas; investigador e secretário técnico (Pires & Sarmento, 2001).

    O gestor desportivo deve ser suficientemente capacitado para dirigir um clube desportivo, um ginásio, empresas de serviço desportivo e organismos ou serviços da administração pública.

    Existe grande carência de profissionais qualificados. Muitos gestores são postos no cargo por indicação política e agem como se a organização ou federação fosse propriedade sua. Esquecem seu verdadeiro papel de gestor: exercer uma função objetiva, independentemente de propriedade ou poder; a propriedade é acidental no trabalho principal, que é administrar (Drucker, 2002).

    Nesta perspectiva da formação profissional na gestão desportiva Bastos (2003) afirma que as capacitações existentes não são suficientes para se alcançar a mudança desejada.

    Verifica-se então que no campo da formação do profissional para atuar na área, ações têm sido desenvolvidas, mas a simples freqüência de ‘administradores esportivos’ em cursos que repassem e discutam superficialmente os conceitos básicos da área não será suficiente para a almejada mudança e a credibilidade da área no país. (Bastos, 2003, p. 296-297).

    O grau de instrução e formação do gestor desportivo constitui um indicativo importante para subsidiar políticas públicas de formação e capacitação desses sujeitos (Menezes, 2009); de modo que contar com recursos humanos capacitados para atuar com desporto na lógica do desenvolvimento social, econômico e cultural é uma premissa contemporânea, sob pena de algumas modalidades em médio e longo prazos deixarem de existir, gerando prejuízos culturais significativos, assim como ocorre com qualquer organização que não se capacita para gerir em cenários de forte concorrência.

Metodologia

    A metodologia utilizada inspirou-se em Sarmento, Pinto e Oliveira (2006) e Bastos, Barhum, Alves, Bastos, Mattar et al. (2006). Para a definição do tipo de pesquisa a ser realizada, entende-se ser necessária a utilização de critérios estabelecidos de acordo com Vergara (2000). Quanto aos fins, caracteriza-se como pesquisa exploratória - pois há pouco conhecimento acumulado e estruturado na realidade brasileira - e descritiva, uma vez que pretende expor características de determinada população, perfil e características do cargo de gestores das federações desportivas olímpicas no Estado de Pernambuco, Brasil.

    Selecionaram-se os sujeitos das federações que fazem parte do quadro das federações desportivas olímpicas de Pernambuco, pessoas responsáveis por responder o questionário. De acordo com López e Luna-Arocas (2000, p. 90), que seja: “[...] responsável pela gestão - planejamento, organização, direção, controle e realização de programas e instalações esportivas, seja ela profissional contratado, ou na não existência deste, o membro do corpo diretivo responsável.” Assim, selecionaram-se dez gestores de federações de desportos olímpicos em Pernambuco.

    O instrumento utilizado foi um questionário adaptado de Sarmento et al. (2006), composto de questões fechadas relativas ao perfil do gestor, enviado por e-mail (aos gestores que deixaram disponível esse meio), ou entregue pessoalmente. Para o encaminhamento do questionário, elaborou-se a carta de apresentação do instrumento em conjunto com as instruções para seu preenchimento e termo de consentimento. O prazo de devolução do questionário foi de quinze dias. Trataram-se os dados mediante estatística descritiva, realizando o cálculo de porcentagem.

Apresentação e discussão dos dados

    Dos dez sujeitos selecionados para a pesquisa, sete entregaram o questionário respondido. Sendo assim, os resultados obtidos revelam que 100% dos sujeitos estudados são do sexo masculino, a grande maioria dos gestores tem formação superior completa, mas apenas 28% têm formação na área de Administração ou Desporto. Os gestores encontram-se na faixa etária dos 41 a 49 anos. Neste sentido, os dados confirmam e assemelham ao estudo desenvolvido por Bastos et al. (2006).

    Quanto à caracterização do tempo que exercem o papel dos gestores, percebe-se que a experiência no cargo/função é relativamente nova, variando de três a cinco anos. Dentre as funções do cotidiano que mais são referenciadas pelos gestores desportivos, encontra-se a elaboração de competições (71%), o planejamento (14,5%) e organização (14,5%). Em relação à dificuldade que os gestores desportivos têm para exercer sua função, todos revelam que o aspecto financeiro é o maior obstáculo a ser enfrentado. Na opinião dos entrevistados, para gerir a federação desportiva, é necessário conhecimento sobre Marketing Esportivo (29%), Administração Desportiva (42%) e Gestão de Projetos (29%).

    Quanto à forma como os gestores ingressaram nessa função da federação, a grande maioria foi eleita, e 71% afirmaram que pretendem ficar mais um mandato na federação. Diferentemente do que foi encontrado nesta pesquisa, Bastos et al. (2006), onde 60% dos gestores ingressaram por meio de seleção interna e 29% por indicação.

    A maioria dos gestores desenvolve suas atividades na federação de forma parcial, bem como todos afirmaram que exercem a atividade sem remuneração. A grande maioria dos gestores afirma ter capacidade para exercer a gestão, porém, apenas dois gestores afirmaram participar de capacitação na área da Gestão Desportiva, e nenhum deles gestores tem um plano estratégico para o desenvolvimento da federação. Tais dados demonstram a verdadeira capacidade dos gestores no Estado de Pernambuco.

    Em relação à infraestrutura da federação desportiva, a maioria dos gestores (86%) considera deficitária, pois não existe instalação desportiva própria para as atividades, a infraestrutura é, na maioria dos casos, alugada ou concedida; assim como o material necessário para o funcionamento da federação, que, na maioria, é cedido pelas confederações.

Conclusão

    Inicialmente, pode-se concluir, com base nos dados encontrados, que o perfil do gestor desportivo de federações olímpicas de Pernambuco não difere dos perfis encontrados em outras pesquisas sobre o tema; pode-se notar que a falta de uma formação qualificada na área da gestão desportiva predomina no cenário nacional.

    Sendo assim, a qualificação do gestor desportivo perpassa por uma estruturação de conhecimento teóricos e práticos acerca da gestão e administração de uma organização desportiva. Nesse caso, necessita-se de capacitação que integre, para além dos conhecimentos supracitados, os conhecimentos sobre marketing, recursos humanos e análise financeira como base fundamental no desenvolvimento desses dirigentes desportivos.

    Com isso, conclui-se que há uma cultura de gestão distanciada de inovações tecnológicas e procedimentos de gestão baseados em mecanismo de racionalidade gerencial. Além de haver a presença acentuada de voluntarismo e, no caso em tela, de pouca produtividade.

Referências

  • Bastos, F. da C. (2003). Administração esportiva: área de estudo, pesquisa e perspectivas no Brasil. Motrivivência, ano 15, n. 20-21, p. 295-306.

  • Bastos, F. da C., Barhum, A., Alves, M. V., Bastos, E. T., Mattar, M. F. et al. (2006) . Perfil do administrador esportivo de clubes sócio-culturais e esportivos de São Paulo/Brasil. Revista Mackenzie de Educacão Física e Esporte, 5 (1), pp. 13-22.

  • Chiavenato, I. Introdução à teoria geral da administração. 7a ed. Rio de Janeiro: Campus, 2004.

  • Drucker, Peter F. (2002). Fator humano e desempenho: o melhor de Peter F. Drucker sobre administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning.

  • Lopéz, A. L.; Luna-Arocas, R. (2000). Perfil del gestor público del deporte en la comunidad valenciana: un análisis preliminar. Apunts: Educación Física y Deportes, (61), p. 88-94.

  • Menezes, V. G. de. (2009). Gestão de política públicas desportivas municipais: análise da região metropolitana do Recife-PE, Brasil. Tese de doutorado, Universidade do Porto, Porto, Portugal.

  • Parkhouse, B. L. (1996). The management of sport: its foundation and application. 2nd ed. St. Louis: Mobsy Year Book.

  • Pereira, M. I.; Santos, S. A. dos (2001). Modelo de gestão: uma análise conceitual. São Paulo: Pioneira.

  • Pires, G. (1993). A organização faz a organização da organização. Ludens, 13(3-4), p. 2-40.

  • Pires, G.; Sarmento, J. P. (2001). Conceito de gestão do desporto: novos desafios, diferentes soluções. In: Fórum Olímpico de Portugal: Desporto e desenvolvimento humano. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 1(1), pp. 88-103.

  • Sarmento, J. P., Pinto, A., Oliveira, A. E. (2006). O perfil organizacional e funcional do gestor desportivo em Portugal. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 20 (suppl.), p. 153-155.

  • Tassinari, L. (2007). Gestão esportiva: uma abordagem sobre a disposição e a contextualização das organizações esportivas. Palávora.

  • Vergara, S. C. (2000). Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 3a ed. São Paulo: Atlas.

  • Zouain, D. M.; Pimenta, R. da C. (2003). Perfil do gestor das organizações esportivas brasileiras. Anais do Congresso Mundial de Gestión Econômica del Deporte. Barcelona, Espanha, t. 3, p. 172-200.

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