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Análise descritiva dos rallies e a participação dos 

líberos no voleibol masculino brasileiro de alto nível

 

*Formado em Educação Física

Especialista em Fisiologia do Exercício, UFSCar

Técnico de Voleibol

**Mestrado em Ciências da Motricidade, UNESP-RC

Docente e Coordenador da Faculdade de Educação Física

Laboratório de Avaliação Física e Fisiologia do Exercício, LAFIFE

Universidade de Cuiabá - UNIC

Everton Cássio Capitanio*

evertoncapitanio@yahoo.com.br

Otávio Rodrigo Palácio Favaro**

triota2005@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo analisar como os rallies são definidos durante o jogo e verificar a influência da participação dos líberos no tempo de duração dos rallies, com 1 e 2 líberos em quadra. Os dados deste estudo foram coletados durante os quatro últimos jogos da etapa final da competição (play-off) Superliga Masculina de Voleibol 2004/2005. Os jogos foram analisados através de imagens gravadas em fitas VHS, utilizando-se estatística descritiva e teste t de Student (p<0,05). Foram contabilizados 789 rallies. O tempo médio dos rallies ficou em 6,01 ±0,84s. Quando foi feita a comparação entre tempo de rallies com um ou dois líberos em jogo, verificou-se que não houve diferença estatística entre os rallies disputados (5,95 ±1,01s e 6,08 ± 0,64 s, respectivamente). Os rallies são definidos predominantemente por disputas efetivas entre os jogadores, seguidos de saques errados, saques com aces e por um número muito baixo de penalidades. Portanto, contatou-se que a duração dos rallies não sofre influência com a presença de um ou dois líberos em quadra.

          Unitermos: Líbero. Rally. Voleibol

 

Abstract

          The aim of the present study was to analyze how the rallies are defined during the game and to verify the influence of one and two libero players in duration of rally. The study included the analysis of 789 rallies corresponding to 4 matches (play off) of high level competitions in final phase of the Brazilian Men’s Volleyball Superleague 2004/2005. The games were analyzed by video recordings. The statistic procedures used were: arithmetical mean, standard deviation and a t-test (p<0.05). The mean time of rallies was 6,01 ±0,84s. When comparing the rally time with 1 or 2 libero players, there was no significant difference among them (5,95 ±1,01s and 6,08 ± 0,64s, respectively). The rallies are mostly defined by effective struggle among the players, followed by wrong serves, serves with aces and by a small number of penalties. Therefore, we verified that the rallies length is not influenced by the presence of 1 or 2 libero players.

          Keywords: Libero player. Rally. Volleyball

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

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Introdução

    A ciência vem contribuindo muito para a melhoria e evolução dos métodos de treinamento o que, conseqüentemente, gera um aumento do rendimento físico entre os jogadores. Com intenção de dinamizar ainda mais o voleibol, a Federação Internacional (FIVB) decidiu criar algumas regras e adaptar outras. Em 1993, Pinto e Gomes(1) relatavam grande evolução, devido a mudanças no regulamento e, principalmente, do aprimoramento da técnica e da tática nesta modalidade. A eliminação da vantagem deixou mais acirrada a disputa pela conquista do rally (RL).


    Com as alterações nas regras de jogo, cada equipe tem direito de inscrever um jogador especializado em ações de recepção e defesa, denominado Líbero (LBR)(2), o qual surgiu para minimizar deficiências defensivas dos jogadores centrais na zona defensiva(3). Para que o LBR pudesse desempenhar seu papel no jogo de voleibol, foram criadas regras para a regulamentação. Este jogador, de acordo com as regras oficiais(4), não pode sacar, bloquear ou participar de qualquer ação ofensiva de sua equipe.

    O RL pode ser definido como sendo o tempo em que a bola fica em jogo, a partir do momento que o jogador saca até o momento que o ponto é definido, seja esta definição feita pelo árbitro, pelo atleta ou por qualquer outra forma presente nas regras desta modalidade(2,5,6).

    Sobre os estudos que se dedicaram à investigação da modalidade, ao se discutir o tempo de cada RL, Iglesias(7) e Capitanio e Favaro(8) verificaram que a duração média de cada RL está em 7,5 segundos e 6 segundos, respectivamente. Outros estudos investigaram aspectos do treinamento físico e suas relações com a performance(7,9-13), aspectos psicológicos(6,14-16), aspectos relacionados ao jogador líbero(17,18). Desta forma, ainda é relativamente pouco investigado sobre a atuação do LBR nas partidas de voleibol, o que torna pertinente esta analise.

    Assim, este estudo teve como objetivos: a) analisar como os RL são definidos durante o jogo; b) verificar a influência da participação dos LBR no tempo de duração dos RL com 1 e 2 líberos em jogo.

Materiais e métodos

    Os dados deste estudo foram coletados em uma final de competição de nível nacional, Superliga Masculina de Voleibol (2004/2005). A final desta competição foi disputada em sistema de cinco jogos, sendo que neste estudo foram selecionados os quatro últimos jogos deste play-off.

    Os dados foram gravados em duas fitas super VHS e em cada uma destas fitas foram gravados dois jogos das finais. Após a gravação, a reprodução permitiu a análise das variáveis estudadas. Como critério de tomada de tempo de duração do RL, o registro iniciou no momento em que o sacador bateu na bola e a parada do tempo foi feita no momento que a bola tocou o solo ou qualquer outro tipo de interrupção que possa ocorrer no jogo.

    Para descrever as situações dos RL, verificando como eles foram definidos, quatro aspectos diferentes foram estabelecidos, sendo eles, rally efetivo (RLE), rally com saque errado (RLSE), rally com aces (RLSA) e rally com punições (RLP).

    Com relação à participação dos líberos em quadra foram definidos RL considerados com a participação efetiva dos líberos (RLPE), rally com a participação de um líbero em jogo (RLP1), rally com a participação dos dois líberos (RLP2). Nessas situações de participação dos líberos, os rallies foram definidos com ataques, bloqueios, defesas, entre outros fundamentos.

    Para verificar a influência da participação dos líberos no tempo de duração do rally com um ou dois líberos (RLTD1 e RLTD2, respectivamente), foram desconsiderados RLSE, RLSA e RLP, pois não teve participação efetiva do LBR.

Análise estatística

    Os dados obtidos foram analisados por estatística descritiva para apresentar os resultados. Para comparar os dados foi empregado o teste t de Student, com grau de significância de p<0,05.

Resultados

    Como resultados do estudo foram contabilizados 789 RL durante as quatro partidas estudadas (n=4). No quadro 1 verifica-se a descrição das situações estabelecidas neste estudo.

Quadro 1. Descrição das situações de jogo durante

as quatro partidas (jogos) finais da competição

 

Variáveis

1° Jogo

(%)

2° Jogo

(%)

3° Jogo

(%)

4° Jogo

(%)

RLE

73,86

80,55

72,13

79

RLP1

30

28,16

27,27

27,21

RLP2

70

71,84

72,72

72,78

RLSE

20,45

15,27

24,59

18,69

RLSA

5,11

3,24

3,27

1,88

RLP

0,56

0,92

-

0,46

    O tempo médio dos RL ficou em 6,01 ±0,84s. Quando foi feita a comparação entre RLTD1 e RLTD2, verificou-se que não há diferença estatística entre os rallies disputados com 1 ou 2 líberos (5,95 ±1,01s e 6,08 ± 0,64 s, respectivamente).

Discussão

    Com nossos resultados, podemos observar que predominantemente os líberos participam de alguma forma nos RL, independentemente se tem um ou dois líberos em quadra. Com a participação do líbero em quadra e os RL sendo disputados efetivamente pelos sistemas defensivos e ofensivos das equipes que estão jogando, pode-se concluir que os RL terminam provenientes destas ações. Sendo o voleibol um jogo dinâmico, o posicionamento dos jogadores em quadra pode influenciar na execução perfeita dos sistemas defensivo e ofensivo. Desta forma, a ação de recepção assume um papel de grande relevância, pois se constitui no primeiro momento do jogo e sua eficácia depende das ações subseqüentes(19). Em função das mais variadas situações de jogo, o atleta precisa estar em constante correção do seu posicionamento em quadra.

    Após a inclusão do novo sistema de pontuação o jogo de voleibol alterou substancialmente a dinâmica das ações técnicas e táticas, levando a um espaço de tempo curto entre o início e o término do RL, necessitando dos atletas rapidez nas respostas psicomotoras(6).

    Ações como o saque pode interferir diretamente nas respostas das equipes. Saques forçados, com a intenção da conquista direta de ponto, podem ser considerados como um problema a ser vencido, pois com o erro, a equipe adversária é imediatamente beneficiada. Atualmente, os RL passaram a ser disputados de maneira mais dinâmica, tendo valor significativo em qualquer momento do jogo, já que o erro ou acerto já se caracteriza em ponto.

    Contudo, o saque acaba assumindo uma ação relativamente determinante durante o jogo e a conclusão do RL. No presente estudo que 23,1% dos rallies foram concluídos em função de SA e SE (3,38% e 19,75%, respectivamente). Nessas situações, os RL são conquistados independentes da participação efetiva do Libero em quadra. Por exemplo, o SA desestabiliza taticamente o adversário desencadeando uma pontuação direta. Por outro lado a imperfeição técnica do saque geralmente acarreta perda de pontos(6).

    Espera-se que o LBR, especializado em defesa, proporcione a qualidade do primeiro passe (passe-recepção), possibilitando assim, uma variedade ainda maior de estratégias dos atacantes na definição do ponto. Ao mesmo tempo em que o líbero de um time permite melhor recepção e ataque, o outro do time adversário tenta evitar que ocorra o ponto, com sua habilidade defensiva. Todavia não está claro que esta especialização funcional na recepção ao saque é um fator que diferencie o desempenho dos outros recebedores (20), embora João et. al.(6) constatou que o jogador líbero registrou maior eficácia na recepção excelente do saque do que os outros recebedores.

    Como eixo propulsor desta pesquisa, foi hipotetizado que com a implantação do líbero nas regras atuais e a participação deste nos jogos, o tempo de duração dos RL seria maior. Contudo, não foi constatada, na presente pesquisa, a diferença estatística entre os RL com a participação de um LBR em quadra ou com dois, mas observou-se que em todos as disputas pelo serviço pelo menos um líbero estava sempre presente em quadra, notoriamente quando estava para receber o saque.

    João, Mesquita, Sampaio et.al.(3) constataram influencia do jogador líbero no incremento da qualidade de recepção do serviço, embora a importância do líbero na organização do jogo pode não ser semelhante para todas as equipes. Os mesmos autores sugerem que se deve dar importância ao treinamento do líbero em função da sua interferência inegável na estruturação das ações do jogo.

    Contudo, sabe-se que quanto mais elevado o padrão tático praticado pelas equipes, mais complexas serão as ações motoras devido ao número de escolhas estímulos-respostas envolvidas no processo decisório(21).

Conclusão

    Os RL são definidos predominantemente de disputas efetivas entre os jogadores, seguidos de saques errados, saques com aces e por um número muito baixo de penalidades. A duração dos rallyies não sofre influência com a presença de um ou dois líberos em quadra.

Referencias

  1. Pinto, J.A., Gomes, L.R.R.G. Características Específicas e fatores fisiológicos do treinamento do voleibol de alto nível. R. Min. Educ. Fis, Viçosa. 1993; 1(1): 49-54.

  2. Kenny, B., Gregory, C. Volleyball: Steps to Sucsses. USA: Human Kinetics, 2006.

  3. Joao, P.V., Mesquita, I., Sampaio, J. et al. Análise comparativa entre o jogador libero e os recebedores prioritários na organização ofensiva, a partir da recepção ao serviço, em voleibol. Rev. Port. Cien. Desp. 2006; 3 (6): 318-328.

  4. Confederação Brasileira de Voleibol. Regras Oficiais 2001/2004. Disponível em: http//www.cbv.com.br. Acesso em: 19/11/2005.

  5. Capitanio, E. C. Participação dos Líberos nos rallies na Superliga Masculina. Jaboticabal, SP. Instituição Moura Lacerda, 2005. 35p. Monografia (Licenciatura Plena em Educação Física). Centro Universitário Moura Lacerda, Faculdade de Educação Física - Campus Jaboticabal.

  6. Maehler, E.I.; ACHOUR JUNIOR, A. As situações de placar e suas influências na execução de saque no voleibol: um estudo a partir da observação de atletas da categoria infanto-juvenil feminino. Revista Treinamento Desportivo. 2001; 1(6): 44-52.

  7. Iglesias, F. Analisis del esfuerzo en el voleibol. Stadium Argentina. 1994; 168(28): 17-23.

  8. Capitanio, E.C.; Favaro, O.R.P. Participação dos Líberos nos Rallies da Superliga Masculina 2004/2005. In. Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 28, 2005, São Paulo, Anais do Evento... São Paulo, 2005, p.214

  9. Stanganelli, L.C.R. et al. Análise da Freqüência Cardíaca de jogo em atletas de voleibol infanto-juvenil: de acordo com funções específicas. Treinamento Desportivo. 1998; 2(3): 44-51.

  10. Gomes, A.C., Teixeira, M. Aspectos da preparação física no voleibol de alto rendimento. Revista Treinamento Desportivo. 1998; 2(3): 105-111.

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  20. MAIA, N., MESQUITA, I. Estudo das zonas e eficácia da recepção. Rev. Bras. Educ. Fís. Esp. 2006; 4(20) 257-70.

  21. ANDRADE, Luís C.G., TORTOZA, Charli; SOUZA, Fabiano B.; LOPES-MARTINS, R.A.B. O papel do tempo de reação nas ações táticas do voleibol. Revista Ação & Movimento. 2004; 1(1): 6-13.

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