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Educação Física no Ensino Médio. 

A percepção dos alunos do terceiro ano

La Educación Física en la Escuela Media. La percepción de los estudiantes de tercer año

 

*Profa. em Educação Física

**Prof. Dr. Educação Física

(Brasil)

Manuela do Couto Gonzalez Montes*

Thais Ferreira da Silva Albuquerque*

Jose Antonio Vianna**

javianna@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo identificar a importância das aulas de Educação Física escolar na opinião dos alunos do terceiro ano do ensino médio. Responderam a um questionário semi-estruturado 35 alunos - 48,6% do sexo feminino e 51,4% do sexo masculino - com idade entre 16 a 21 anos (M=17,7), do 3° ano do ensino médio de escolas públicas (11,4%) e privadas (88,6%). Foram entrevistados sujeitos que estudavam no turno da manhã (94,2%), tarde (2,9%) e noite (2,9%), trabalhadores (5,7%) e não trabalhadores (94,3 %). Entre os motivos apontados pelos entrevistados para a importância da educação física escolar encontramos: manter uma boa qualidade de vida, evitar a obesidade, dar mais ânimo e principalmente descontrair, pois na fase de pré-vestibular os alunos sofrem muitas pressões por parte da escola e dos pais. Acreditamos que os motivos indicados pelos sujeitos podem servir de elementos para repensar a prática pedagógica em educação física a fim de construir acordos que provoque uma revalorização da educação física ao longo dos anos escolares e aumente a participação dos alunos nas aulas.

          Unitermos: Ensino médio. Educação Física escolar. Participação

 

Abstract

          This study aimed to identify the importance of physical education classes in school in the opinion of students of the third year of high school. Answered a semi-structured questionnaire, 35 students - 48.6% female and 51.4% males - aged 16 to 21 years (M = 17.7), the 3rd year of secondary education in schools public (11.4%) and private (88.6%). Interviewed subjects who were studied in the morning shift (94.2%), afternoon (2.9%) and night (2.9%), employees (5.7%) and non-employees (94.3%). Among the reasons given by respondents for the importance of school physical education are: to maintain a good quality of life, avoid obesity, to more emotional and relax mainly because in the period before university exams students suffer much pressure from school and parents. We believe that the reasons given by the subjects may serve to rethink elements of the pedagogical practice in physical education to build agreements that would lead to a revaluation of physical education throughout the school years and increase participation.

          Keywords: High School. Physical Education. Participation

 

Artigo baseado em Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Universidade Estácio de Sá

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

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Introdução

    A concorrência cada vez mais acirrada para ingressar no ensino superior em instituições de qualidade, tem levado alguns colégios com foco no pré-vestibular a contrariar a legislação vigente e não oferecer a disciplina Educação Física (EF) escolar aos alunos do 3º ano do Ensino Médio. Este fato é motivo de polêmica entre os alunos que priorizam as disciplinas que tem os seus conteúdos avaliados no vestibular e aqueles que observam nas aulas de educação física escolar um momento de descontração.

    Muitos jovens reclamam que se sentem estressados e sofrendo muita pressão por parte dos professores, das famílias e da própria sociedade, pelo fato de terem a “obrigação” de passar no vestibular. A educação física escolar para esses alunos poderia ser um ótimo momento de descontração, relaxamento e de socialização, isso porque a prática de atividades físicas proporciona aos indivíduos bem estar físico e mental. Mattos e Neira (2004) discordam da idéia de que a aula de EF possa ser um espaço apenas de recreação e lazer, pois esta matéria deve estar vinculada a dimensão educacional.

    Segundo os autores ao longo da formação escolar, as aulas de EF possibilitam a aprendizagem de procedimentos e atitudes que são essenciais na construção da autonomia intelectual e moral (MATTOS e NEIRA, 2004). A EF no ensino médio deve colaborar para que os alunos tenham ampla compreensão e atuação nas manifestações da cultura corporal.

    A disciplina Educação Física é componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e as condições da população escolar sendo facultativa a alunos que se enquadram nas seguintes condições: mulheres com prole, trabalhadores, militares e pessoas com mais de 30 anos (BRASIL, 2003). A EF está inserida na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e tem como objetivo tratar da cultura corporal, através dos jogos, lutas, ginástica, esportes e dança, com a finalidade de introduzir e integrar o aluno nessa esfera, formando um cidadão que vai produzir, reproduzir e também transformar essa cultura (BRASIL, 2006).

    No entanto, Darido e Rangel (2005) ressaltaram que mesmo estando incluída no currículo escolar a EF nem sempre consegue oferecer igualdade de oportunidades a todos. Muitos alunos não conseguem participar das aulas por falta de materiais, falta de espaço, falta de habilidade motora e falta de interesse destes alunos. Para solucionar este problema as autoras sugerem que o professor repense a prática pedagógica a fim de torná-la acessível a todos.

    Alguns estudos empíricos procuraram traçar o quadro da participação dos alunos nas aulas de EF escolar. Rosário e Devide (2008) em investigação com jovens concluintes do ensino médio procuraram observar a construção do discurso de jovens de ambos os gêneros sobre os conhecimentos adquiridos nas aulas de EF ao final do ensino médio.

    Os autores realizaram um estudo descritivo no qual investigaram 103 alunos em fase de conclusão do ensino médio em um colégio que separava a turma para a aula de EF por gênero. Os sujeitos investigados responderam a um questionário que procurava verificar os conhecimentos adquiridos ao longo da formação escolar e a sua aplicabilidade.

    O colégio investigado por Rosário e Devide (2008) utilizava como conteúdos de aula os esportes.  Ao sugerir uma modificação dos conteúdos tradicionais, adotando atividades como a corrida e a caminhada voltadas para a melhoria da saúde e qualidade de vida, os professores da disciplina observaram que houve maior interesse por parte das meninas, enquanto os alunos do sexo masculino manifestaram preferência por esportes convencionais. Os autores apontaram a evasão das meninas ao longo das aulas como conseqüência da pequena vivência da prática esportiva ao longo de sua formação escolar, o que não despertou o interesse por esta prática no ensino médio.

    Vianna, Pinto, André e Ferreira (2009) se propuseram investigar a relação existente entre os procedimentos e atitudes dos professores de EF escolar e o compromisso destes com o exercício da profissão e a formação dos alunos.

    O estudo desses autores foi uma pesquisa descritiva na qual fizeram entrevistas com 10 professores com idade entre 25 e 49 anos (M=46,3). Cinco professores atuavam no ensino fundamental e no médio enquanto a outra metade atuava apenas no Ensino fundamental. Os investigados responderam a um questionário semi-estruturado com cinco questões fechadas e 14 perguntas abertas.

    Os professores entrevistados pelos autores mostraram uma diversidade de informações sobre os objetivos da EF escolar, entre eles estava a melhoria na qualidade de vida e formação para uma vida ativa (apontados com maior ênfase), disciplina, motivação, integração social, formação integral e afetividade. Para um dos professores entrevistados alguns fatores que contribuem para a motivação nas aulas são: a melhoria das condições de ensino, a qualificação profissional, a contextualização das aulas e o interesse do professor. Foi concluído na investigação que a melhoria nas aulas de EF deve começar com conteúdos diversificados que despertem interesse e motivem os alunos a participarem das aulas, ou seja, os professores devem incentivar os alunos.

    Luna, Silva e Andrade (2008) investigaram os motivos que levam alunos do ensino médio de escolas privadas e publicas a não participarem das aulas de EF. Os autores tiveram como objetivo verificar as expectativas dos alunos quanto à qualidade das aulas de EF, identificando as atividades mais motivantes e as desmotivantes.

    Realizou-se nessa investigação uma pesquisa descritiva de caráter qualitativo. Os entrevistados foram alunos do ensino médio que não participavam das aulas de EF. Esses alunos responderam um questionário com 9 questões abertas e fechadas.

    Em comparação das respostas dadas, os autores observaram que os jovens de públicas e privadas demonstraram sentimentos parecidos em relação a qualidade das aulas, na opinião dos entrevistados haverá melhoria das aulas quando o professor tiver maior compromisso melhorando então as condições de ensino.

    Moreira e Ferreira (2009) tiveram a curiosidade de detectar a importância da EF para os professores de alunos que estavam no último ano do ensino médio. Os autores fizeram um estudo descritivo com uma abordagem quantitativa. Os entrevistados foram 30 professores que lecionavam no ensino médio matérias diferentes da EF. Foi utilizado para coleta de dados um questionário fechado com questões objetivas relacionadas com a educação física no terceiro ano do ensino médio.

    Os resultados obtidos nessa pesquisa mostraram que 47% dos entrevistados consideravam a EF importante para os alunos de 3º ano. 63% desses entrevistados consideraram que a EF deve ser uma matéria obrigatória nessa fase de pré-vestibular. 83% dos professores entrevistados consideraram que a EF auxilia os alunos do 3º ano a relaxar e conseqüentemente ter um rendimento melhor no seu estudo.

    Os autores concluíram que existe ainda uma resistência em relação à EF, isso talvez possa ocorrer porque essa matéria não tenha definido os conteúdos que deviam ser transmitidos aos alunos em especial aos do 3º ano.

    Marzinek e Neto (2007) tiveram como objetivo geral identificar se as aulas de EF estavam conseguindo motivar os alunos do 3° ano do ensino médio. A pesquisa caracterizou-se como descritiva, com teor diagnóstico. Foram 3 questões referentes à identificação de motivos intrínsecos e extrínsecos em aulas de EF. Meninos e meninas do 3º ano do ensino médio de todas as escolas estaduais de Maringá, no Paraná, responderam às questões.

    Os autores concluíram que os alunos participavam da aula para obterem melhores notas e existia uma grande motivação para isso. Porém perceberam que havia uma quantidade significativa de alunos que não participavam das aulas por fatores como: alunos que tinham mais habilidades nas aulas zombavam dos alunos que tinham menos habilidades e havia falta de cooperação entre eles ocasionando grande desentendimento. Foi notado também que a participação dos garotos era maior que a participação das garotas.

    Ao investigar o tema em questão, esperamos contribuir para ampliar a compreensão deste fenômeno e destacar a importância e a valorização da Educação Física no período de pré – vestibular. Assim, a proposta deste estudo é identificar a importância das aulas de Educação Física escolar na visão dos alunos do terceiro ano do ensino médio.

Metodologia

    O presente estudo exploratório é de caráter descritivo com uma abordagem qualitativa (THOMAS e NELSON, 2002). Foram investigados 35 alunos, com idade entre 16 a 21 anos (M=17,7), do 3° ano do ensino médio de escolas públicas (11,43%) e privadas (88,57%) - 48,6% do sexo feminino e 51,4% do sexo masculino. Foram entrevistados sujeitos que estudavam no turno da manhã (94,2%), tarde (2,9%) e noite (2,9%), trabalhadores (5,7%) e não trabalhadores (94,3 %).

    Para a coleta de dados foi utilizado um questionário semi-estruturado com 11 questões fechadas e 7 questões abertas. Os temas abordados no questionário foram: a importância da EFE no ensino médio; a prática de atividade física fora do horário escolar; os níveis de ensino que ofereceram a EF escolar; o que os alunos mais gostavam e o que menos gostavam na EFE; e a relação entre EFE no terceiro ano com o rendimento escolar.

    A análise de dados foi iniciada com a estatística descritiva, com posterior interpretação qualitativa (LUDKE; ANDRE, 1986).

Resultados e discussão

    Percebe-se que todos os entrevistados já tiveram aula de EF em algum nível de ensino, principalmente a partir do 5° ano do ensino fundamental até o 9° ano do ensino fundamental. 11 alunos informaram que tiveram aula até o 2° ano do ensino médio, mostrando que alguns colégios não estão seguindo a lei que garante a obrigatoriedade da disciplina EFE até o 3° ano. No entanto, a maior parte dos entrevistados (87,7%) informou que a disciplina EF era oferecida em suas escolas.

    Porém a maioria dos colégios dos participantes no estudo (68,6%) oferece EFE, mas não são todos os colégios que os alunos tem a obrigação de participar das aulas (31,4%). Esse número é alarmante, pois a disciplina é obrigatória por lei.

    Foi observado que a maioria dos alunos (60%) informou que sempre participava das aulas, enquanto a minoria ( 17,1%) quase nunca participava – 2,9% de respostas inválidas. Essa evasão também foi estudada por Luna et al (2009), quando os autores constataram que a maioria dos alunos que não participava das aulas apresentava como justificativa a falta de didática e comprometimento do professor de EFE.

    Os alunos informaram o que eles mais gostavam nas aulas de EF. A influência cultural da prática de esportes na sociedade contemporânea parece ter inteferido na opção dos respondentes pela Prática de jogos e Esportes como a preferência da maioria (58,9%); O desejo de integração social, característico desta faixa etária, contribuiu para que a Interação social correspondesse a 19,5% das opções; lazer, relaxamento e descontração representou 10,8%; as preocupações com a estética corporal pode ter sido responsável por 8,7% das indicações de Aulas práticas, Avaliação física e Desenvolvimento físico; enquanto Desenvolvimento mental correspondeu 2,1% das percepções do que mais gostavam nas aulas de EF – uma percepção que não comum no meio social.

    É importante que os professores saibam identificar o que seus alunos gostam para planejarem aulas motivantes e educativas. A resposta de uma aluna de 16 anos de idade, estudante de escola particular (entrevistada 29) pode ilustrar esta situação:

    “Era um momento de descontração que ajudava a relaxar no meio das aulas, além do fato de que fazemos novos amigos por meio dessas aulas”.

    Ao serem perguntados sobre o que menos gostavam nas aulas de EF, foram identificados diversos fatores que são responsáveis pela evasão desses alunos nas aulas, dentre eles a prática de algum esporte específico devido a falta de habilidade do aluno para esse esporte e também o desinteresse do professor para ensinar. Os ítens relatados foram: Falta de conteúdo, Aula fora do horário, Turma cheia, Falta de habilidade, Treinos, Falta de tempo para banho após a aula, Pouca variedade de conteúdos e Nada. As respostas estão sendo apresentadas na Figura 1.

Figura 1. O que os alunos menos gostavam nas aulas de EF

    A falta de interesse e preocupação dos próprios professores, os quais não levavam a sério sua própria profissão, falta de organização causada pela pouca importância dada pelos diretores dos colégios em geral. E por ser aos sábados após a aula.” (entrevistado 30)

    Os aspectos apontados pela entrevistada 30 como aula de EFE fora do horário e a falta de comprometimento do professor como aspectos que ela não gostava, são fatores que podem contribuir para a evasão nas aulas. O que também pode ocorrer quando o profissional apresenta pouco interesse em buscar atualização, fato que pode comprometer o controle da prática pedagógica em uma turma cheia de alunos. Este argumento é reforçado na resposta de alunas de escola particular.

    “Professores sem disposição que não ligam para a ordem na sala, não tinham como prestar atenção em tudo, visto que era uma turma de quarenta alunos . Logo vários alunos não dotados de talentos esportivos se excluíam dos jogos e ficaram desmotivados em relação aos esportes”. (entrevistada 31 – aluna de escola particular).

    Em uma questão aberta os alunos relataram o que eles consideravam mais importante numa aula de EF. Foram destacados a qualidade da atuação do professor (14,8%); fitness e qualidade de vida (27,7%); prática de esportes e jogos (16,6%); diversão e relaxamento (12,9%); interação social e cooperação (16,6%). Outros aspectos com menos destaque foram: Turmas pequenas, Não ser obrigatória, Prática frequente das aulas, Sair da monotonia, Competição saudável, Alcançar metas/ objetivos. Esses itens foram agrupados na opção Outros (11,4%) por terem sido citados apenas uma vez cada um.

    A resposta de uma jovem de 16 anos aluna de um colégio particular pode ser sugestiva para a melhoria da intervenção em EF:

    “ Professores jovens e ativos, idéias inovadoras, classes não muito grandes, incentivo a vários esportes e a instrução desses para que os alunos se interessem pelo esporte e valorização do trabalho coletivo”. (entrevistada 31)

    Por esta resposta pode-se perceber a importância de ter professores participativos e com boa didática para ministrar as aulas e valorizar o trabalho em equipe, aspectos relevantes que podem servir de referência para a futura vivência pessoal e profissional dos alunos. A resposta sugere também que alguns professores mais antigos podem ter modificado a sua prática ou tenham caído na rotina e na ausência do dinamismo que se manifesta em aulas monótonas e repetitivas o que gera pouco interesse nos alunos.

    Outra aluna de 17 anos , também de colégio particular respondeu :

    “ No 3° ano em particular, é mais importante pois estamos estudando muito, a Educação Física nos ajuda a relaxar, nos exercitar evitando o estresse, sedentarismo, ganho de peso. Na aula é muito importante uma boa organização (feita pelo professor) e aconselhamento”. (entrevistada 30)

    Esta resposta já aponta quão importante é a EF durante o período de pré-vestibular para desestressar os alunos, que sofrem muitas pressões de pais, amigos e do ambiente social como um todo.

    Questionados sobre quanto consideravam a EF escolar importante - 40% considerava a EF muito importante; 42,9 % respondeu que a disciplina era importante; 8,7% achavam a EF indiferente; 5,8 % informaram ser pouco importante; e uma minoria (2,6%) achava a EF sem importância.

    Os participantes foram perguntados quantas vezes na semana eles praticavam alguma atividade física fora do horário escolar. A maioria ( 42,8 %) praticava atividades físicas 2 vezes na semana. Foi constatado que 3 alunos praticavam atividades físicas 4 vezes na semana; nenhum aluno praticava ativividade física apenas 1 vez na semana. Seis entrevistados não praticavam atividade física.

    Os informantes revelaram as atividades físicas praticadas fora do horário escolar. A musculação (30,6%) era a atividade física mais praticada pelos sujeitos investigados – ginástica localizada obteve 6,2% das indicações. Entre os esportes praticados houve a predominância do futebol (16,4%) – natação (4%), tênis (2%), voleibol (2%), surfe (10,4%), futebol americano (2%) foram os outros esportes citados. As atividades alternativas que surgiram na fala dos sujeitos foram a ioga (2%) e a escalada (2%). Práticas que podem ser realizadas como lazer - andar de bicicleta (2%), caminhada (4%) e a corrida (14,4%) – também foram citadas, enquato a luta muai thay apareceu com 2%. O que nos leva a crer que os jovens gostam de praticar atividades físicas, no entanto, preferem praticar fora do horário de educação física escolar.

    Procuramos saber se a escola dos alunos oferece outras atividades físicas fora do horário escolar (por exemplo: escolinha de futebol, de volei...). A maioria (91,5%) dos alunos respondeu que não. Para os alunos que responderam que sim (8,5 %) questionamos quais atividades extraclasse as escolas ofereciam: corridas, futebol, futsal, basquete, handebol e natação foram as atividades informadas.

    A maior parte dos alunos respondeu que considera importante as aulas de EF no terceiro ano do ensino médio (77,1%). E apresentaram como principais justificativas para ter aulas de EF: relaxar (28,3%), não ficar sedentário (17,4%), descontrair (17,4%) e desenvolvimento físico (10,8%) entre outras (Figura 2).

Figura 2. Justificativas dos alunos para ter EFE no 3° ano do ensino médio

    O aluno de uma escola particular informou que o 3° ano é voltado para o vestibular e não tem a disciplina EFE (entrevistado 1) na escola. Mesmo assim o entrevistado considera a educação física importante e deu a seguinte justificativa:

    “ Sinto falta das aulas de Educação Física no 3° ano pois é um ano estressante pelo vestibular e pela própria escola, então o estudo foi redobrado, enquanto os momentos de relaxamento e descontração ficaram mais raros ainda, e a Educação Física seria muito importante para suprir esta necessidade.”

    O entrevistado 21, também relatou que acha importante ter a disciplina EFE no 3° ano e justificou:

    “Acho importante em todas as séries, pois estimula o desenvolvimento físico do aluno, em um momento de ‘sedentarismo’ motivado pelo vestibular”.

    Uma das respostas contrárias veio de uma crítica à qualidade das aulas ministradas - entrevistada 29. Ela argumentou o seguinte:

    “O 3° ano é muito corrido e importante, uma aula de Educação Física da forma que é dada ( em que nada fazemos e não sabemos regras) acaba sendo perda de tempo pois não nos exercita ou acrescenta algo.”

    Esta participante do estudo era aluna de um colégio particular que oferecia a EFE no terceiro ano, porém os alunos não tinham a obrigação de participar das aulas. Em sua resposta ela apontou a falta de compromisso do profissional de EF que não faz planejamento de aula, assim como a desvalorização popular da educação física na escola quando comparada a outras disciplinas escolares.

    A entrevistada 32, reforçou esta perspectativa com a seguinte argumentação:

    “A grade escolar é muito grande nesse ano, pois ficamos até tarde na escola durante 3 dias na semana, se tivéssimos Educação Física teríamos que ficar na escola por mais tempo. Eu acho que deve praticar atividade física quem quer.”

    Para aqueles que não acham a educação física importante nesta série escolar, os argumentos revelam um sentido utilitário, próprio de um momento decisivo para a maioria dos estudantes: o vestibular. Como a disciplina educação física não é alvo de avaliação, a mesma perde a sua importância para estes sujeitos. Estes entrevistados acreditam que deve participar das aulas quem quer.

    Os entrevistados foram questionados sobre a possível contribuição da EFE para melhorar o rendimento escolar durante o 3° ano do ensino médio.

    “Ao praticarmos atividades físicas nas aulas ficamos com mais energia e ânimo e isso é bom para estudar as outras matérias”. (entrevistada 2)

    “Ao estar mais relaxado o aluno tem um rendimento melhor”. (entrevistado 4).

    Conseguir mais ânimo para estudar (31,2%) aparece como a principal justificativa para que haja aula de educação física no terceiro ano do ensino médio. Outras opções estão voltadas para a melhoria das condições pessoais para o estudo – acalma (11,2%); melhora o equilíbrio mental (11,2%); melhora o equilíbrio físico (8,9%); descontrai (8,9%) - presentes na Figura 3, revelam o sentido utilitário atribuido pelos entrevistados à EF neste período escolar.

Figura 3. Como a EFE contribui para melhorar o rendimento escolar

    Os informantes que não acreditavam que a EF pode contribuir para a melhoria do rendimento em outras disciplinas escolares (20%) estabeleceram os seguintes argumentos:

    “Na minha opinião, a Educação Física iria cansar os alunos, quem tiver interesse pode praticar atividade física fora do colégio.” (entrevistado 33)

    Uma aluna de escola pública justificou sua resposta contrária:

    “Pois quem não se interessa, não será por causa da educação física que passará a se interessar. A não ser se na escola tiver algum projeto que envolva educação física com as outras disciplinas.” (Sic).

    Esta justificativa foi marcante porque a aluna acabou por reforçar uma solução que tem sido apontada para melhorar as aulas de EFE não somente no 3° ano do ensino médio, mas em todos os anos de escolaridade: Trabalhar a interdisciplinaridade. Em particular com os alunos do ensino médio, esta pode ser uma solução para evitar a evasão nas aulas de EFE. Outros argumentos de que a EFE não contribui para a melhoria do rendimento escolar como não dispor de tempo de estudo para uma disciplina que não é avaliada no exame do vestibular, podem ser observados na Figura 4.

Figura 4. Justificativas dos alunos contrários a EFE

Considerações finais

    Observamos através das respostas dos sujeitos entrevistados que a Educação Física Escolar é algo relevante no 3° ano do ensino médio. Os motivos citados são vários, tais como desestressar, manter boa qualidade de vida, evitar a obesidade, dar mais ânimo e principalmente descontrair, pois na fase de pré-vestibular os alunos sofrem muitas pressões por parte da escola e dos pais. Lembramos que muitos alunos reconheceram que a EFE é importante não só para o desenvolvimento físico, mas também para o desenvolvimento cognitivo e social.

    Em relação aos sujeitos que não acham a EFE importante durante a fase de pré-vestibular é necessário a adoção de procedimentos didático-pedagógicos para minimizar os efeitos dos motivos que levam a evasão nas aulas. Os procedimentos já citados por Darido e Rangel (2005), que sugeriram como solução alternativa que os professores de EFE devem repensar a prática pedagógica permanentemente, tornando-a acessível a todos os alunos, parecem adequados. Acreditamos que o trabalho interdisciplinar com a integração da EF com outras disciplinas escolares colaborem com o processo de valorização e legitimação da educação física escolar e estimulem a participação dos alunos.

Referências

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