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A capoeira a partir da abordagem crítico

emancipatória: vivenciando e praticando

La capoeira desde el abordaje crítico emancipatorio: vivenciando y practicando

 

*Professor da rede municipal de Itajaí

Licenciado em EF pela Universidade do Vale do Itajaí

Aluno especial de mestrado da disciplina EF e mídia na

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

**Professora orientadora da Universidade do Vale do Itajaí

Disciplina Estágio Supervisionado

Eliton Clayton Rufino Seara*

Veruska Pires**

elitonseara@univali.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo apresenta os resultados de uma pesquisa no qual busquei disponibilizar o conhecimento da capoeira em uma visão crítico-emancipatória no sentido de propor uma visão crítica dos alunos acerca do contexto atual em que vivem. Procurei trabalhar os elementos teóricos e práticos que compõem o universo desta manifestação cultural, com objetivo de instigar e aguçar o poder de criticidade dos alunos. O método utilizado visou-se em uma abordagem de ensino crítico-emancipatória, levando em consideração os componentes desta abordagem, as competências: objetiva, social e comunicativa. Esta pesquisa de campo foi realizada uma escola municipal de Balneário Camboriú com alunos do ensino fundamental. Ao iniciar meu trabalho com este estágio, pude observar que a cultura da escola com relação à Educação Física tem grande influência nas atitudes dos alunos com novas propostas de ensino e de movimento. O tema não teve a aceitação de todos os alunos no inicio, porem com o passar das aulas houve um interesse maior de muitos alunos, havia aqueles que já tinham realizado a prática, e se interessavam mais pelas aulas, mas mesmo assim não consegui atingir a todos os alunos, e fazer com que estes participassem. Com todas as dificuldades encontradas e que se analisa a importância do estágio, pois é neste processo que se constrói a docência.

          Unitermos: Capoeira. Educação Física Escolar. Abordagem crítico-emancipatória

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 15 - Nº 144 - Mayo de 2010

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Introdução

    A proposta deste artigo é possibilitar novas visões de trabalho nas diferentes especificidades da educação física, no contexto escolar.

    Este estágio foi desenvolvido na Escola municipal Jardim Iate Clube localizado na Rua Dom Henrique no bairro Vila Real, com turmas do ensino fundamental.

    Presentemente entende-se que a Educação Física escolar deve tratar dos movimentos do corpo, da cultura corporal e seus aspectos fisiológicos. Contudo, não podemos esquecer-nos do papel desta mesma nas relações cognitivas e sociais.

    Nos diferentes níveis de ensino que tangem a educação física que os parâmetros curriculares nacionais (BRASIL, 1998) apresentam o ensino fundamental das séries de 5ª a 8ª direciona o trabalho em um âmbito social, ou seja, na construção social do individuo. Também engloba questões políticas e de pluralidade social, onde os escolares devem compreender e respeitar as diferentes culturas, religiões etnias, entre outras características particulares. Acompanhando este raciocínio busquei introduzir a capoeira através da concepção critico-emancipatória, como estratégia de ensino para despertar o interesse dos alunos e resgatar o verdadeiro significado da mesma.

  Podemos observar através de muitos acontecimentos a importância do profissional no contexto escolar que sempre se renova. A prática docente é fundamental para a formação de profissional de um professor, e o estágio acadêmico proporciona esta prática com a realidade.

    O interesse pelo tema vem da busca de novas possibilidades de mudança, e de um olhar crítico sobre a realidade, com uma nova forma de intervenção que busca resgatar a diversidade de cultura brasileira em seus movimentos, que deram origem à Capoeira.

    A Capoeira se expressa em uma manifestação de grande representação da cultura brasileira, imprimi relações histórico-culturais, estas por sua vez tratam de ações que se direcionam na busca de valores da construção do cidadão, juntamente buscando o poder de reflexão e criticidade da realidade que se habita.

    Acreditei que através da Capoeira, poderia despertar o interesse dos alunos e fazer com que os mesmos tivessem um olhar crítico sobre a própria prática

    Ao todo foram seis intervenções onde desenvolvi os conteúdos, objetivos e estratégias referentes ao nosso plano de ensino. Os conteúdos que foram desenvolvidos foram: História da capoeira, movimentos básicos, golpes, seqüência de movimentos, formação de roda, iniciação ao jogo e ritmo.

    Para tanto, me fundamentei no seguinte problema: como desenvolver a capoeira em uma abordagem de ensino crítico-emancipatória?

Referencial teórico

       Devemos ter como base o que é educação física e qual sua importância para a escola. A educação física é a cultura dos movimentos, conhecimento corporal, forma de linguagem, formação de identidade do aluno, pois é da educação física que muitos alunos têm um exemplo sobre cidadania.

    A concepção de cultura corporal de movimento amplia a contribuição da educação física escolar para o pleno exercício de cidadania, na medida em que, tomando seus conteúdos e as capacidades que se propõe a desenvolver como produtos socioculturais, afirma como direito de todo o acesso e a participação no processo de aprendizagem. (BRASIL, 1998, p. 30)

    Fica claro, que, todos os alunos têm direito à prática da educação física. Sem discriminação, o professor deverá ensinar todos os alunos.

    Em se tratando do professor e sua prática docente, sabe-se que ela se desenvolve a cada dia com o passar dos anos. Novos meios, formas, sociedade, e outros. A docência deve estar acompanhando esse ritmo de mudança para melhor do seu desenvolvimento.

    A vida quotidiana de qualquer profissional prático depende do conhecimento tácito que mobiliza e elabora durante a sua própria ação. Sob a pressão das múltiplas e simultâneas solicitações da vida escolar, o professor activa os seus recursos intelectuais, no mais amplo sentido da palavra (conceitos, teorias, crenças dados, procedimentos, técnicas), para elaborar um diagnóstico rápido da situação, desenhar estratégias de intervenção e prever o curso futuro dos acontecimentos. (Azzi, apud Pérez Gómez, 1992).

       O educador conforme a faixa etária com que trabalha deve estar atento às especificidades dos níveis de ensino. No ensino fundamental o aluno começa a ter mais noção de suas atitudes e também tem uma melhor compreensão de questões sociais e de vida cotidiana, é neste sentido alguns objetivos para esta faixa etária são indicados pelos parâmetros curriculares nacionais (BRASIL, 1998) tais como:

    O educador conforme a faixa etária com que trabalha deve estar atento às especificidades dos níveis de ensino. No ensino fundamental o aluno começa a ter mais noção de suas atitudes e também tem uma melhor compreensão de questões sociais e de vida cotidiana, é neste sentido alguns objetivos para esta faixa etária são indicados pelos parâmetros curriculares nacionais (BRASIL,1998) tais como:

    Conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao país utilizando o movimento humano para interação com outras pessoas e comunicação social. Outro seria questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação. (p.8-9).

    Estes objetivos podem estar articulados com uma prática pedagógica acompanhada de uma abordagem de ensino. E a abordagem crítico-emancipatória é uma abordagem utilizada na Educação Física, esta se exprime em um processo de libertação do aluno de condições que possam limitá-lo ao uso da razão crítica.

    Assim Kunz (1994) ao descrever esta abordagem adverte que deve ser necessariamente acompanhada de uma didática comunicativa, pois ela deverá fundamentar a função do esclarecimento e da prevalência racional de todo agir educacional. [...] O aluno enquanto sujeito do processo de ensino deve ser capacitado para sua participação na vida social, cultural e esportiva, o que significa a aquisição de uma capacidade de ação funcional, mas também de reconhecer e problematizar sentidos e significados nesta vida, através da reflexão critica. [...] Maioridade ou Emancipação devem ser colocadas como tarefa fundamenta da educação (p. 29-31).

    Para que o aluno deixe o estado de menor idade inicial, Kunz (1994) alerta, que é preciso que o aluno sofra um tipo de coerção do professor, ou seja, em certos momentos dificultar as ações do aluno, para que o mesmo sinta-se não-esclarecido e com isso se desperte do estado de menoridade inicial, e assim busque uma condição emancipada.

    Na abordagem crítico-emancipatória são vistas três competências nas quais se devem trabalhar com o aluno a objetiva, social e comunicativa. A competência objetiva diz respeito ao que o aluno deverá receber entre conhecimentos e informações, também esta competência mostra que o aluno precisa treinar destrezas e diferentes técnicas que sejam racionais e eficientes, e que precisa aprender estratégias para ter suas ações feitas com competência.

    Já na competência social o aluno deverá compreender as diferentes relações que o homem tem em uma sociedade, como relações histórias, culturais, sociais, também deve entender os problemas que o norteiam e as contradições das relações que habitam ao seu redor. Por fim esta competência trata de estabelecer conhecimentos que o aluno ira utilizar em sua vida em comunidade.

    Enquanto a competência comunicativa é importante salientar que o ser humano utiliza a linguagem verbal, porém ela é apenas umas das linguagens que podem ser usadas. O movimento se exprime em forma de linguagem, a criança, por exemplo, se manifesta e se comunica através de seus movimentos, pois sabemos que sua capacidade de se expressar corporalmente é indiscutível.

    A competência comunicativa na abordagem crítico-emancipatória se faz importantíssima, pois para esta abordagem saber se comunicar e entender o que o outro quer dizer é um processo de reflexão que desencadeia ação de um pensamento critico.

    Para a competência comunicativa a linguagem verbal é muito importante, assim como a linguagem corporal, no entanto nesta abordagem a verbal é vista como um processo que ira auxiliar o aluno a sair apenas da fala dos problemas, fatos que o rodeiam e ira tornar em nível de discurso, ou seja, o aluno saber refletir e discutir as questões sobre o que se esta trabalhando.

    Esta abordagem é completamente visada em uma ótica crítica, Kunz (1994), defende o ensino crítico, pois é a partir dele que os alunos passam a compreender a estrutura autoritária dos processos institucionalizados da sociedade e que formam as falsas con­vicções, interesses e desejos. Desta forma, a missão da Educação crítica é promover condições para que estas estruturas autoritárias sejam suspensas, e o ensino encaminha no sentido de uma emancipação, possibilitado pelo uso da linguagem.

    Quando falamos em visão crítica de ensino podemos introduzir a Capoeira como conteúdo desta magnitude A capoeira no contexto escolar vista como cultura do movimento deve ter um olhar de movimento critico social, na idéia de Falcão (2003).

    A capoeira é uma manifestação da cultura afro-brasileira, a mesma constitui-se numa atividade em que o jogo, a luta e a dança se interpenetram (Falcão, 2003, p.16). Mesmo sendo ao mesmo tempo luta, dança e jogo, o seu praticante é visto como jogador e não lutador ou dançarino com·isso fica evidenciado que a capoeira se diferencia de outros tipos de lutas, visto que o elemento jogo redimensiona o conceito dessa cultura do movimento. Segundo a ótica de Huizinga (1990), o jogo é uma atividade em que predomina a alegria, não precisa ser justificado e nem precisa de um objetivo para ocorrer. Sendo analisado pela visão·de jogo, ela consegue atender a necessidade de fantasia, utopia, justiça e estética e, ainda, despera o gosto pelo inesperado, pelo imprevisível.

    A dança na capoeira se expressa no gingado centrado nos quadris. No embalo do toque do berimbau, os capoeiras descrevem círculos no espaço da roda, fazendo com que '' o corpo lute dançando e dance lutando'', remetendo a capoeira '' a uma zona imaginaria e ambígua, situada entre o lúdico e o combativo'', conforme Letícia Reis (1977, p. 215).

    Já enquanto luta a capoeira restaura suas origens. É importante observar que o jogo e a dança contribuem para a dissimulação do componente luta na pratica da capoeira. ''Através do jogo de capoeira, os corpos negociam, e a ginga significa a possibilidade de barganha (troca), atuando no sentido de impedir o conflito'' (Reis, 1977, p. 225).

    No que se refere ao nome capoeira, sabe-se que escravos oriundos de quilombos (geralmente situados em florestas), preferiam lutar, quando necessário, em locais onde as condições ambientais pudessem lhes ser favoráveis; essa região escolhida costumava ser a "capoeira", denominação dada a terra recentemente queimada, quando começam a brotar as primeiras Poaceae (atual denominação das gramíneas).

    Com o passar dos tempos foram ocorrendo diversas transformações nesta manifestação cultural, segundo Noronha e Nunes Pinto (2004), a Capoeira como manifestação cultural, ao longo da história do nosso país, sofreu modificações na sua constituição, na maneira de se interpretá-la, praticá-la e difundi-la, acompanhando mudanças políticas, econômicas e sociais. Foi considerada de contravenção penal a símbolo da identidade nacional. Devido suas origens africanas e por sua maioria ser praticada pela raça negra.

    A capoeira na escola além de trabalhar questões culturais, também engloba diferentes componentes curriculares como história, geografia, artes plásticas, música e principalmente a Educação Física, que pode unir os conhecimentos destas disciplinas a própria pratica. Nesta ótica inseri-la no contexto escolar, mais especificamente na Educação Física se faz necessário, já que esta manifestação cultural faz parte dos conteúdos propostos no próprio (PCN).

Procedimentos metodológicos

    Este estágio foi desenvolvido na Escola Municipal Jardim Iate Clube, a partir dos processos de coletas de dados, foi utilizado o método de pesquisa-ação que leva as idéias de experiência prática refletida e conceitualizada com grande valor formativo, e que os sujeitos compreendem a realidade e, portanto, aprendem quando estão ativamente implicados no processo (Alarão 2003). Também utilizando uma abordagem qualitativa. Segundo José Luis Neves (1996), a pesquisa qualitativa está baseada em hipóteses claramente indicadas e variáveis que são objeto de definição operacional, ou seja, não utiliza dados numéricos e/ ou gráficos.

    A reflexão do professor para com sua prática se faz necessário em uma pesquisa ação, visto que esta reflexão faz parte do processo de construção da prática do professor.

    Lewin concebe a pesquisa-ação como um posicionamento realista da ação, sempre seguida por uma reflexão autocrítica e objetiva e uma avaliação dos resultados (Pereira, 2001)

    As aulas foram fundamentadas utilizando como recurso o plano de ensino por mim organizado.

    A escola que desenvolvi o estágio abrange diversos tipos de alunos, tanto alunos mais carentes como alunos de classe média. Possui um enorme espaço para prática esportiva, e um anfiteatro. Também possuí um pátio grande para o recreio, e atividades de tênis de mesa. A sala de Educação Física dispõe de muitos materiais, no entanto não os utilizei muito.

    Realizei as intervenções no espaço da quadra e do anfiteatro, este espaço é coberto, porem bem menor que a quadra

    Como estratégia utilizei a Capoeira com a finalidade de incluir uma nova prática corporal dentro de um contexto escolar que por vez tentaria focar nas questões criticas da realidade do aluno. O objetivo de trabalhar com a capoeira na escola se direciona a abertura das novas possibilidades que a Educação Física vem buscando ao longo do tempo, com intuito de melhorar a prática escolar. Pois desta forma, o professor poderá levar a escola, as diferentes modalidades existentes na área da Educação Física.

    A cultura da capoeira foi desenvolvida de maneira mais simples, os alunos tinham que saber como ela surgiu e toda sua transformação para entender o que estarão desenvolvendo durante minhas intervenções.

    As turmas que trabalhei eram bem distintas, foram três turmas, uma 5ª série, 6ª e 7ª série, todas estas tinham alunos com alguma deficiência. Alguns eram cadeirantes, uns com deficiência mental, e tentei introduzir todos os alunos em minhas aulas, porem certas vezes era difícil.

    Durante as intervenções houve três feriados emendados e outras impertinências, o que prejudicou o desenvolvimento do meu trabalho. Mas apesar do pouco tempo, consegui trabalhar as atividades referentes ao trabalho em grupo, respeito ao colega, às diferenças culturais e limitações de cada um.

    Trabalhei com a música da capoeira, ou melhor, os cânticos. Os cânticos podem ser produzidos individual e coletivamente Falcão (2003, pag. 83), normalmente as letras são feitas com acontecimentos diários ou de históricos passados. O movimento da capoeira articulado a musica possibilita o trabalho de questões como: a coordenação motora, a flexibilidade, reflexo, agilidade, equilíbrio, entre outros.

    Também através da ginga na capoeira que se essencial, os movimentos ganham mais significados.

    A roda de capoeira é um circulo onde os capoeiras ficam em pé para jogar. Mas a roda da capoeira não é apenas espaço físico. Segundo Falcão (2003, pag. 86) Trata-se de um pequeno universo que reflete a diversidade das relações de poder vigentes na sociedade. Desta maneira trabalhei com os alunos a vivencia da roda, e sua importância, trabalhando o respeito com o colega, o comportamento entre outros.

Contextualização do estudo

    Segundo Crabonell, apud Godson (2002, p. 109), “o ensino é uma profissão maravilhosa se conseguirmos equilibrar as competências técnicas com as sociais”.

    Com esta fala do autor também acredito que o professor deve articular os conhecimentos, conteúdos, com a vida social do aluno.

    A Educação Física proporciona ao aluno uma vivência da corporeidade, que segundo Marx in Gonçalves (1994), refere-se à corporal idade humana a partir de uma visão de totalidade. O homem é o seu corpo na medida em que se relaciona com os outros.

       Percebemos a importância da Educação Física escolar, e desta forma podemos fazer valer a reflexão de Gonçalves (1994, p.14), apud Ribeiro (s/d), que afirma que:

    ‘‘A Educação Física, lidando com a corporeidade e movimento, não tem diante de si um corpo simplesmente biológico, que será um instrumento da alma, não apenas um feixe de reações a estímulos externos ou internos, mas a exterioridade visível de uma unidade que se esconde e se revela no gesto e nas palavras. Conceber a corporeidade integrada na unidade do homem significa resgatar o sentido do sensível e do corpóreo na vida humana’’

    Para que se possa implantar um novo tema na educação física dos alunos, é imprescindível conhecer os escolares, e pude fazer isto na visita ao colégio, e na aula diagnóstica, onde pude fazer uma aula variada para saber como os alunos se comportavam. Na aula diagnóstica não levei o tema que trabalharia em meu estagio, e com uma aula variada, pude notar que a cultura de educação física dos alunos se resumia muito em futebol para os meninos, e vôlei para as meninas. E esta divisão de gênero era constante. Relato de aluno:

    “Há fazer com as meninas é um saco, elas são muito fracas e ruins, deixa os meninos jogar futebol sozinho e elas pulam corda’’ (aluno 1)”.

    O Brasil (1998) nos trazem algumas das causas da divisão de gênero pertencente nas escolas.

    Essa comunicação ocorre dentro de certos padrões estabelecidos pela própria cultural corporal do movimento, o que envolve valores, normas, atitudes, conceitos e, inevitavelmente, preconceitos. Outra questão presente no universo da cultura corporal de movimento e da sexualidade diz respeito a configurações de padrões de gênero homem e mulher e sua relação com o corpo e a motricidade, padrões que se constroem e que são cultivados desde a infância, pautados em referencias biológicas e socioculturais. Essa construção pode ser compreendida pala explicitação das atitudes cotidianas, muitas vezes inconscientes e automática, pautadas em valores preconceituosos. (p. 41).

    Essa observação feita por um aluno pode ser notada em muitas aulas, já que sempre havia uma divisão de gênero.

    Para o estágio utilizei alguns artifícios os quais são de suma importância para esta discussão, um deles foi o no livro de aula, utilizado como forma de avaliação, uma folha onde os alunos anotavam o que haviam achado da aula e o que poderia melhorar. Este artifício inicialmente foi mal visto pelos alunos, pois muitos achavam chato, no entanto após alguns dias de anotações, muitos alunos já se prontificavam a fazer sem que ao menos se pedisse.

    Na primeira intervenção, pude notar uma pequena falta de interesse de boa parte dos alunos diante desta nossa proposta (a Capoeira). Para tanto, pode-se analisar que a adaptação dos alunos a novas aulas de Educação Física em certos momentos pode ser difícil, mas não impossível, pois se conseguir passar os conteúdos de maneira interativa e comunicativa assim como nos mostra a abordagem crítico-emancipatória, onde a competência comunicativa se faz importante, então os alunos podem começar a tomar gosto pela prática. Pois para esta abordagem saber se comunicar e entender o que o outro quer dizer é um processo de reflexão que desencadeia ação de um pensamento crítico. Desta maneira aconteceu conforme o decorrer das aulas, muito alunos que no inicio não tinham interesse, começaram a tomar gosto pelas aulas.

    Partindo desta ótica critica, visando o estágio a ser realizado com o tema Capoeira em uma abordagem crítico-emancipatória, o coletivo de autores (2003, p.39) diz que “a escola deve trabalhar a capoeira por sua importância social, situando-a como um movimento do/ os negros/ as na luta por sua liberdade, na relação com seus opressores, refletindo o sistema escravocrata”. (Secretária Municipal de Educação 2003.) Sendo assim ao utilizar esta abordagem em meu estagio pude trazer a capoeira a partir de ''uma visão de âmbito social, ou seja, na construção social do individuo, também englobando questões políticas e de pluralidade social, onde os escolares devem compreender e respeitar as diferentes culturas, religiões etnias, entre outras características particulares'' parâmetros curriculares nacionais (Brasil 1998, p.64)..

    Essas questões sociais foram em todas as aulas ressaltadas, utilizando sempre uma didática pedagógica de trabalho em grupo, sempre enfatizava a importância deste para a vida social. Mas nem sempre era fácil o trabalho em grupo, relato de aluno:

    ‘‘Gostei da atividade, mas não consegui fazer direito, porque os meus colegas de grupo ficavam o tempo todo bagunçando’’. (aluno 2).

    Em uma das aulas onde foram trabalhados os golpes básicos da capoeira, e novamente foi realizada uma atividade em grupo, com apresentação da atividade por partes dos alunos, alguns grupos das salas conseguiram demonstrar os golpes, porem em certos momentos tanto na elaboração da apresentação quanto na própria apresentação, alguns grupos estavam meio dispersos, pois alguns participavam e outros não estavam muito a fim de compartilhar suas práticas. Relato de aluno:

“Não deu pra fazer direito a atividade, um monte de gente só queria avacalhar.’’ (aluno 3).

    Mesmo com estas dificuldades por parte do trabalho em grupo dos educandos, muitas vezes o resultado do trabalho era gratificante, tanto para mim como para os alunos. Nesta mesma atividade a apresentação de alguns grupos me chamou atenção, os alunos conseguiram demonstrar juntamente com a ginga os golpes que haviam aprendido de forma elaborada, nem todos é claro, porem este não era o objetivo principal, com uma organização muito boa os alunos fizeram ótimas apresentações, e elaboraram conceitos a partir do que haviam aprendido nas outras aulas.

    Outro fator que sempre enfatizei era da prática de capoeira também, numa visão de saúde, onde quem a pratica pode ter uma gama muito grande de movimentos À capoeira possui diversos movimentos que mesmo sendo iguais permitem a liberdade e a expressão do corpo da criança, do jovem ou do adulto. É pelo meio desta prática que conseguimos desenvolver a nossa liberdade de movimentos e sentimentos. Na escola desenvolvemos a capoeira com a noção desta modalidade ser inofensiva e trazer muita movimentação do corpo e do respeito com os colegas.

    Alguns alunos relataram em seu livro de aula a importância da capoeira para a saúde da seguinte maneira:

“Eu achava que era só luta mais agora a capoeira também é muito boa pra saúde’’ (aluno 4)”.

“A capoeira trabalha o corpo e também ajuda a ter amizade com os colegas’’ (aluno 5)”.

    Um dos pontos que devo ressaltar é a do numero de alunos por sala, pois posso constatar que este fator é de grande interferência nas aulas, pois nas turmas que trabalhei a turma com maior numero de alunos a 6ª C, que tinham em torno de trinta e seis alunos, as aulas eram bem conturbadas, em uma analise superficial logo no inicio observei que esta turma, tinha um grande problema de indisciplina, e que em certos momentos eram de extrema dificuldade o trabalho por este motivo. Alguns alunos da própria sala reclamavam dos colegas durante, e após as aulas. Relato de aluno

    “A aula foi uma bagunça geral, tem um monte de gente que não quer fazer nada e só atrapalha. O professor também não conseguiu fazer os bagunceiros ficar em silencio’’ (aluno 6)”.

    Outro fato a ser discutido, diz respeito às atividades propriamente ditas, muitas vezes as atividades elaboradas com a primeira turma eram modificadas em seguida com as outras turmas, já que o planejamento é flexível, faziam-se necessárias estas mudanças para um melhor aproveitamento das aulas.

    Em uma de minhas intervenções onde fui demonstrar a ginga, tive de fazer adaptações de localização de espaços conforme cada turma.

    Na penúltima aula, onde foi trabalhada a questão das músicas na capoeira, trouxe alguns instrumentos de percussão adaptados, para que todos os alunos tivessem uma vivência com os ritmos da capoeira. Também trouxe um cd, para mostrar os vários instrumentos que eram utilizados nesta manifestação. E quando os alunos fizeram cantigas de capoeira em roda pude notar que isto era novo e instigava muitos deles. Segundo Falcão a sensação resultante da cantiga construída, ao vivo, pelas vozes dos capoeiras (alunos) presentes numa roda é bem diferente de uma música que se ouve através de um aparelho estereofônico. Relato de aluno:

“Foi muito divertida esta aula, porque eu e meus amigos fizemos musica juntos e batemos nos instrumentos’’(aluno 7)”.

    Pode-se analisar que a sonoridade na capoeira faz-se fundamental, pois ao cantar o sujeito esta também praticando uma ação comunicativa interativa que, certamente, é responsável pelo frenesi que, freqüentemente, toma conta dos capoeiras na roda, independente de seu estilo, vertente ou ‘’linguagem’’ (Falcão 2005).

    Nesta aula assim como em outras pude novamente fazer com que a aluna cadeirante participasse ativamente, a educanda se envolveu nos ritmos e trabalhou com vários instrumentos adaptados, como já havia sido feito em outras aulas ela sempre participava neste sentido, com sua participação nas aulas, conforme sua necessidade posso constatar que um simples tocar pandeiro, ou um “balde”, faz com que este aluno se sinta integrado e participativo, ou seja, que se sinta útil junto aos outros que o cerca.

    Para concluir as intervenções, foi realizado um apanhado de tudo o que se havia visto até então. A atividade era novamente em grupo, onde um grupo deveria mostrar a história da Capoeira, e o outro a Capoeira na escola, esta atividade foi realizado por todas as salas de maneira agitada assim posso dizer, no entanto todas as turmas e todos os grupos conseguiram demonstrar em forma de apresentações o que lhes havia sido pedido, com a utilização da ginga, dos golpes, e do jogo em roda.

    Foi feita após o término das atividades a problematização do que havia sido feito, tendo discutido com os alunos a transcendência da capoeira de sua origem, até os dias em que ela é abordada na escola. Esta atividade novamente veio a ressaltar a questão de comunicação e interação entre os alunos. Assim como Kunz apud Shafer e Schaler (1982) diz que, descontando algumas necessidades básicas como a fome e a sede, as outras necessidades e os outros interesses são adquiridos comunicativamente e dependem da cultura na qual o individuo vive e que ele aprende.

Considerações finais

    O estudo realizado procurou a implantação de uma proposta inovadora de conteúdo, ainda pouco vinculada no contexto escolar. Alguns obstáculos foram encontrados decorrentes da opção que foi escolhida, devido à cultura dos alunos em suas aulas de Educação Física já impregnadas em seus contextos. Posso relatar com destaque o desfio que aceitei ao escolher este tema.

    O resultado que consegui obter pode não ter sido como o desejado para o presente projeto, nas questões de atingir a todos os alunos. No entanto muitos foram os objetivos alcançados através deste trabalho. As vivencias dos alunos nos trabalhos em grupo, o conhecimento dos escolares de uma manifestação de grande amplitude cultural, e é claro a apropriação de muitos alunos de uma nova pratica corporal, através do trabalho envolvendo relações sócio-culturais.

    Observando as intervenções e analisando as mesmas, posso compreender que a utilização de uma abordagem, e especificamente a que utilizei é muito interessante, já que podemos abrir um leque maior em nossas ações, logo que a abordagem em questão se resume em três competências para os alunos: objetiva, social e comunicativa. Estas por sua vez têm por finalidade a articulação da cultura do movimento com os pontos que envolvem a comunicação e interação com os demais.

    A importância do estágio para a formação docente se dá a partir do momento que se vê a prática como uma constante mudança, sempre pensando no processo de aprendizagem do aluno. Com estágio, se faz pensar, refletir e reesignifcar as ações docentes, com isso estar-se-á construindo e aprimorando a formação docente, já que esta será uma constante na vida.

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