efdeportes.com

Informação verbal e visual na execução 

do salto horizontal de crianças

Información verbal y visual en la ejecución del salto horizontal en niños

Visual and verbal information in the execution of the long jump of children

 

*Mestre em Ciências do Movimento Humano

** Mestranda Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano

*** Prof. de Educação Física

**** Professor Doutor do Departamento de Educação Física

Laboratório de Biomecânica

Universidade do Estado de Santa Catarina, CEFID/UDESC

(Brasil)

Roberta Castilhos Detânico*

Josiele Vanessa Alves**

Renata Marcelino Schwinden***

Sebastião Iberes Lopes Melo****

Ruy Jornada Krebs****

josialves_ef@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          Neste estudo buscou-se verificar a influência do tipo de informação transmitida - verbal e visual - às crianças na execução do salto horizontal, sob enfoque qualitativo e quantitativo dos diferentes segmentos corporais. Para isso, comparou-se a distribuição dos estágios de desenvolvimento motor inicial, elementar e maduro e os valores angulares médios para os segmentos joelho, quadril, tronco e braço na transmissão da informação verbal e visual. Participaram 11 crianças (8,82±2,89 anos) de ambos os sexos, estudantes de escolas públicas de Florianópolis – SC. Como instrumentos de medida, utilizou-se uma câmera de vídeo à 60Hz; a matriz de avaliação qualitativa de Gallahue (1989) para o salto horizontal; e a sistemática criada por Estrázulas (2006) para a identificação dos instantes específicos do salto horizontal, permitindo a análise qualitativa (estágios de desenvolvimento motor por segmento corporal) e quantitativa (ângulos segmentares). O processamento dos dados foi feito no sistema Peak Motus e foi utilizado o filtro Butterworth de 4ª ordem passa baixa com freqüência de corte de 6 a 10 Hz, para minimizar os erros de digitalização. Utilizou-se a estatística descritiva (média, desvio padrão e distribuição de freqüências) e a estatística inferencial (Teste dos Sinais e Teste “t” de Student pareado). O nível de confiança adotado foi de 95%. Na análise qualitativa não se observou diferenças estatisticamente significativas nas distribuições dos estágios de desenvolvimento motor para todos os segmentos corporais entre a informação verbal e a visual. Já na análise quantitativa, verificou-se diferença estatisticamente significativa somente para a variável ângulo do quadril na fase de propulsão (p = 0,048), na qual houve uma maior flexão do quadril após a informação visual da tarefa. Com base nisso, pode-se dizer que a informação visual não influenciou a análise qualitativa e quantitativa neste estudo, demonstrando não ter grande relevância na melhora da execução do salto horizontal. A informação verbal parece ter sido suficiente para que as crianças deste estudo executassem com eficiência o movimento solicitado.

          Unitermos: Informação verbal. Informação visual. Salto horizontal

 

Abstract

          This study aims to verify the influence of different kinds of transmitted information – oral and visual – to children during long jump, concerning quantitative and qualitative features of different corporal parts. Therefore, a comparison of the distribution of motor development stages was made, relating initial, elementary and mature levels and the mean angular values of the knee, hip, trunk and arm in verbal and visual information transmission. The participants were 11 children (8,82±2,89 years) of both genders, students of public schools of Florianopolis – SC. The measuring instruments were a 60 Hz video camera, the qualitative evaluation matrix from Gallahue (1989) for long jump; and the systematization created by Estrázulas (2006) for the identification of specific moments of the long jump, which permits both qualitative (stages of motor development by part of body) and quantitative analyses (body part angles). Data were analyzed using Peak Motus System, in which the filter Butterworth of fourth order selects low frequency cuts from 6 to 10 Hz, in order to minimize the digitalizing errors. Descriptive statistics (mean, standard deviation and frequency distribution) as well as inferencial (Signal Test and Paired Sample “t” Test of Student) were performed. The adopted reliability was 95%. In qualitative analyses, differences were not statistically significant concerning the distribution of motor development stages for all body parts between oral and visual information. On the other hand, in quantitative analyses, a statistically significant difference was found only for the hip angle on propulsion phase (p= 0,048), in which a broader hip flexion was seen after the visual task information. In sum, the study illustrated that visual information did not influence either the qualitative or the quantitative analyses, showing a non-relevant improvement on long jump execution. Verbal information seems to have been sufficient for the children to execute the movement efficiently.

          Keywords: Information oral and visual. Long jump

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 133 - Junio de 2009

1 / 1

Introdução

    A aquisição e aprendizagem das habilidades motoras ocorre gradativamente com a maturação do SNC nas diferentes etapas do desenvolvimento da criança, estando diretamente relacionada com as experiências motoras vivenciadas por este indivíduo, através da transmissão de conhecimentos e informações. A aprendizagem de habilidades motoras, nos diferentes contextos, é um processo que envolve prática e informação através do feedback, da instrução verbal e demonstração (MANOEL, 1999). Segundo Publio, Tani e Manoel (1995), as formas mais populares usadas na transmissão da informação nos processos de aprendizagem relacionados às tarefas motoras são as verbais e visuais (demonstração). A primeira consiste na simples explicação verbal da tarefa a ser executada. Já a segunda pode ser por meio da demonstração anterior à execução do movimento – através de fotografias, filmes ou pela observação de um indivíduo com boa habilidade. A aprendizagem por observação, também conhecida por imitação ou modelação, tem sido foco de investigações em aprendizagem motora nos últimos anos e refere-se a um processo em que um observador adquire a capacidade de reproduzir as ações exibidas por um modelo (SCHMIDT; WRISBERG, 2001; TANI et al., 2004). O desempenho correto da habilidade pelo instrutor constitui o princípio básico desse tipo de aprendizagem (MAGILL, 2000). Avarena (1996) acrescenta que o foco dos estudos converge para o papel que o sistema visual desempenha na aquisição de habilidades motoras, sendo um dos centros de interesse dos pesquisadores das áreas da aprendizagem motora e desenvolvimento motor.

    As investigações a respeito de como a observação da demonstração influenciam a aprendizagem de uma tarefa têm sido realizadas, principalmente, com base na teoria de Bandura, referente ao modelamento e aprendizagem social. Essa teoria propõe que ao observar um modelo o aprendiz elabora referências, símbolos ou representações na memória acerca da habilidade a ser aprendida. Essa elaboração de referências envolve quatro processos: atenção, que determina o que é observado e qual informação é extraída da ação do modelo; retenção, que envolve transformar e reestruturar o que é observado em códigos simbólicos que são armazenados na memória como modelos internos de ação; reprodução do comportamento, que envolve a passagem da ação modelada para a ação física; e motivação, que envolve o incentivo ou motivo para o desempenho da ação modelada (MAGILL, 2000).

    Em complemento à teoria de Bandura, sabe-se que existe diferença entre instruções verbais enquanto descrição da tarefa a ser executada e instruções associadas à demonstração. Essas ativam a imagem mental do movimento a ser executado que deve ser retido na memória para posterior uso na produção e avaliação de ações motoras. Em crianças menores, cujas habilidades verbais acerca do movimento não estão desenvolvidas suficientemente a representação imaginária ou visual é especialmente importante. No caso da instrução verbal, o aprendiz precisa fazer a decodificação de uma série de informações oferecidas pelo orientador e transformá-las, posteriormente, em um código visual e proprioceptivo, sobre o qual está baseado o controle dos movimentos (TEIXEIRA, 2004). No entanto, a informação verbal, pode ainda ser utilizada juntamente com a demonstração visual de determinado movimento, servindo como informação complementar (MAGILL, 2000).

    A demonstração facilita a instrução, pois, ao fornecer a informação verbal e em seguida demonstrar, evitam-se instruções complexas, favorecendo a transmissão de informações acerca da meta a ser atingida na ação (TONELLO; PELLEGRINI, 1998). Dessa maneira é possível identificar a importância da informação visual frente à informação verbal. A demonstração transmite ao observador características espaciais e temporais do movimento que o ajudam a desenvolver uma representação cognitiva da ação, que é usada na produção do movimento e serve como padrão para detecção de erros (BRUZI et al., 2006). Assim, o sistema visual fornece ao indivíduo muitos dos sinais necessários para a execução da resposta motora mais eficiente (AVARENA, 1996).

    Sabe-se que a aprendizagem motora refere-se ao processo em que uma habilidade motora pode ser adquirida por meio da prática sistemática, por informações externas sobre a habilidade (instrução verbal ou visual) ou ainda sobre a própria execução (feedback) (MANOEL, 1999). O foco dos estudos convergem para o tipo e freqüência do feedback, usado para estabelecer a relação entre o resultado obtido e a ação motora executada (BARROCAL et al., 2006), guiando o aprendiz na execução correta da tarefa ou para reforçar o desempenho (HOFFMAN; HARRIS, 2002). Portanto, o feedkback se refere a uma informação transmitida para um mecanismo que usa essa informação para corrigir os erros (Magill, 2000). Nesse aspecto encontra-se a principal diferença entre a demonstração da tarefa e o feedback. Enquanto a primeira tem como objetivo demonstrar a tarefa antes da execução, a segunda tem por finalidade corrigir os erros, já que após a execução são fornecidas informações sobre o desempenho, a fim de que o executante corrija os erros.

    No que diz respeito ao desenvolvimento motor, sabe-se da importância, dos padrões fundamentais de movimento, sejam eles, locomotores, manipulativos ou estabilizadores, e ainda, que as mudanças nos estágios de desenvolvimento motor ocorrem de forma segmentar e não em mudanças no corpo todo. Isso significa que os estágios e idades não têm regras fixas e a partir disso os princípios de desenvolvimento – da individualidade biológica, da progressividade e da continuidade – têm grande importância (ROBERTON apud OLIVEIRA, 2002).

    A partir da utilização de recursos da biomecânica como instrumento de análises mais precisas do movimento e de complementação da avaliação qualitativa e com base no exposto, buscou-se nesse estudo verificar a influência do tipo de informação transmitida – verbal e visual – às crianças na execução de um padrão motor complexo: o salto horizontal, sob enfoque qualitativo e quantitativo dos diferentes segmentos corporais. De forma mais específica: 1) comparar a distribuição dos estágios de desenvolvimento motor inicial, elementar e maduro para os diferentes segmentos corporais na transmissão da informação verbal e visual; 2) comparar os valores angulares médios de joelho, quadril, tronco e braços na transmissão de informação verbal e visual.

Materiais e métodos

    Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UDESC, sob processo nº 023/06.

    Participaram deste estudo descritivo exploratório 11 crianças de ambos os sexos, sendo 7 meninos com média de idade de 9,57±3,04 anos e 4 meninas com média de idade de 7,5±2,38 anos, estudantes de escolas públicas de Florianópolis-SC.

    Como instrumentos de medida utilizou-se uma câmera de vídeo da Peak Performance System, modelo HSC-180 para a aquisição das imagens e a matriz de avaliação qualitativa proposta por Gallahue (1989) para a classificação das crianças em estágios de desenvolvimento motor para a tarefa motora do salto horizontal. Através de uma detalhada análise observacional de inúmeras execuções de saltos horizontais, a partir da matriz analítica de Gallahue (Gallahue, 1989), foi construída no estudo de Estrázulas (2006) uma sistemática para a avaliação qualitativa e quantitativa dessa tarefa motora, através da qual é possível identificar instantes específicos do salto horizontal, obtendo maior precisão para as futuras quantificações dos parâmetros cinemáticos.

    Para tanto, foram selecionadas e destacadas da matriz analítica 3 instantes fundamentais que melhor representam a tarefa motora do salto horizontal, sendo um instante em cada fase do salto – propulsão, vôo e aterrissagem – conforme pode ser visualizado na Figura 1 a seguir.

a. Primeira fase – fase de propulsão

 

b. Segunda fase – fase aérea

 

c. Terceira fase – fase de aterrissagem

 

Figura 1. Fases do salto horizontal: a) primeira fase – fase de propulsão; 

b) segunda fase – fase aérea; c) terceira fase – fase de aterrissagem.

Fonte: ESTRÁZULAS (2006)

    Para as análises qualitativa, na qual os diferentes segmentos corporais são classificados em estágios, e quantitativa, na qual são capturados os valores angulares correspondentes, foram considerados especificamente os seguintes instantes em cada uma das fases acima destacadas:

1.     Fase de propulsão: dois instantes de análise:

  1. máxima extensão do ombro, instante no qual foi capturado o ângulo de membro superior;

  2. máxima flexão de joelhos, instante no qual foram capturados os ângulos de joelho, quadril e tronco;

2.     Fase de vôo: início da fase de vôo, correspondente ao instante de 0,33s após a perda de contato com o solo, tempo que se refere ao terceiro quadro após a perda de contato com o solo, quando adquirido a uma freqüência de amostragem de 60Hz. Foram capturados os ângulos de joelho, quadril, tronco e membro superior;

    Torna-se importante destacar que na fase aérea a posição analisada foi no instante de 0,33s após a perda de contato com o solo por dois aspectos: análise do estudo piloto e descrição contida na matriz de análise de Gallahue, que mostram figuras na subida da fase aérea, que foram as analisadas no presente estudo (ESTRÁZULAS, 2006).

3.     Fase de aterrissagem: máxima flexão de joelho, instante no qual foram capturados os ângulos de joelho, quadril, tronco e membro superior;

    Na análise qualitativa, ou seja, para a classificação em estágios, foi avaliado o posicionamento dos segmentos corporais: membros inferiores, tronco e membros superiores.

    Preliminarmente à coleta de dados foi realizado o contato com os pais ou responsáveis através do envio de um material explicativo sobre os procedimentos do estudo juntamente com o termo de consentimento livre esclarecido por intermédio das crianças e da escola, para que fosse corretamente preenchido e assinado pelos pais ou responsáveis.

    No dia agendado as crianças foram encaminhadas ao Laboratório de Biomecânica do CEFID/UDESC, onde passaram por um período de familiarização com o ambiente e com os pesquisadores. Primeiramente foi preenchida a ficha de identificação das crianças contendo data de nascimento, medidas antropométricas de estatura e massa e um código a fim de garantir o anonimato dos sujeitos. Em seguida fez-se a colocação dos marcadores refletivos nas referências anatômicas de interesse, conforme o modelo antropométrico adaptado de Kalfhues apud Riehle (1976). A aquisição das imagens foi realizada a uma freqüência de amostragem de 60 Hz.

    Num primeiro momento da aquisição foi instruído à criança que executasse 5 saltos horizontais a partir de posição estática, com instrução verbal da tarefa, explicando-se apenas: “saltar para frente, com os pés juntos, tentando alcançar a maior distância possível”. Ao comando de voz do pesquisador (“pode saltar”) foi iniciada a aquisição das imagens, onde a criança realizou cinco saltos horizontais, considerados válidos, ou seja, dentro do espaço delimitado e iniciando e finalizando com ambos os pés.

    Num segundo momento, foi fornecida a informação visual da tarefa através de um vídeo padrão, mostrando a imagem do movimento três vezes para as crianças e, em seguida, ao comando de voz do pesquisador (“pode saltar”) foi iniciada a aquisição das imagens, em que a criança realizou cinco saltos horizontais, também considerados válidos.

    O processamento dos dados foi realizado no sistema Peak Motus. Utilizou-se o filtro Butterworth de 4ª ordem passa baixa com freqüência de corte variando entre 6 e 10 Hz para tentar eliminar possíveis ruídos de falha do instrumento e, principalmente, os erros de digitalização.

    Foram selecionadas as seguintes variáveis cinemáticas: ângulo do joelho (α), ângulo do quadril (β), ângulo do tronco (γ) e ângulo do membro superior (θ) (Figura 2), nas fases de propulsão, vôo e aterrissagem do salto horizontal.

Figura 2. Ângulos segmentares: α - ângulo do joelho; β - ângulo do quadril; γ - ângulo do tronco; θ - ângulo do membro superior.

    A análise dos dados foi composta de duas etapas:

1a)     Análise qualitativa: consistiu na verificação das características do posicionamento dos segmentos corporais – membros inferiores, tronco-quadril e membros superiores – nos três instantes selecionados de acordo com a sistemática proposta por Estrázulas (2006) e classificação isolada de tais segmentos corporais nos estágios motores: inicial, elementar e maduro, considerando as descrições propostas na matriz analítica de Gallahue (Gallahue, 1989).

2a)     Análise quantitativa: consistiu na captura dos valores de ângulos nos instantes selecionados de acordo com Estrázulas (2006), anteriormente descrita neste capítulo.

    É importante ressaltar que o ângulo do membro superior com sinal negativo indica que, a partir da posição neutra, ou seja, a partir da linha do tronco, os membros superiores encontram-se em extensão.

    Na análise qualitativa foram consideradas as 5 tentativas de execução. Já para a análise quantitativa foi utilizada a média das 5 tentativas.

    O tratamento estatístico foi realizado no programa Statística versão 5.0. Foi utilizada a estatística descritiva: média (), desvio padrão (s) e distribuição de freqüências e a estatística inferencial: Teste dos Sinais, para comparar as distribuições dos diferentes estágios de desenvolvimento motor (inicial, elementar e maduro) para os diferentes segmentos corporais na transmissão de informação verbal e visual da tarefa; e o Teste “t” de Student pareado para comparar as médias angulares dos segmentos corporais analisados na transmissão de informação verbal e visual da tarefa. O nível de confiança adotado foi de 95%.

Resultados e discussão

    A fim de responder ao primeiro objetivo do estudo, que foi comparar a distribuição dos estágios de desenvolvimento motor para os diferentes segmentos corporais nos dois tipos de transmissão da informação, foram classificados os segmentos corporais em estágios inicial, elementar e maduro durante as três fases do salto horizontal. Após foram verificadas as modificações na classificação referentes à análise qualitativa. Nas Tabelas 1, 2 e 3, a seguir, são apresentados os resultados da comparação da distribuição dos estágios de desenvolvimento motor entre a informação verbal e visual para cada estágio e segmento corporal após análise qualitativa.

Tabela 1. Comparação da distribuição dos estágios de desenvolvimento motor após análise 

qualitativa do segmento corporal joelho entre a informação verbal e visual

Variável-Fase

Tipo de informação

Estágios

Z

p

Inicial

Elementar

Maduro

Joelho

Propulsão

Verbal

-

32

23

0,603

0,546

Visual

-

35

20

Joelho

Vôo

Verbal

-

34

21

0,353

0,723

Visual

-

36

19

Joelho

Queda

Verbal

5

27

23

0,707

0,479

Visual

4

25

26

*p≤0,05

 

Tabela 2. Comparação da distribuição dos estágios de desenvolvimento motor após análise 

qualitativa do segmento corporal quadril-tronco entre a informação verbal e visual

Variável-Fase

Tipo de informação

Estágios

Z

p

Inicial

Elementar

Maduro

Quadril-Tronco Propulsão

Verbal

-

13

42

0,5

0,617

Visual

-

11

44

Quadril-Tronco

Vôo

Verbal

01

42

12

0,5

0,617

Visual

-

46

09

Quadril-Tronco

Queda

Verbal

09

25

21

0,554

0,579

Visual

07

29

19

*p≤0,05

 

Tabela 3. Comparação da distribuição dos estágios de desenvolvimento motor após análise 

qualitativa do segmento corporal membro superior entre a informação verbal e visual

Variável-Fase

Tipo de informação

Estágios

Z

p

Inicial

Elementar

Maduro

Pêndulo Braço

Propulsão

Verbal

-

08

47

0,408

0,683

Visual

-

06

49

Pêndulo Braço

Vôo

Verbal

14

28

13

0,267

0,789

Visual

09

36

10

Pêndulo Braço

Queda

Verbal

05

26

24

1,650

0,099

Visual

04

18

33

*p≤0,05

    Ao observar as comparações contidas nas Tabelas 1, 2 e 3, verifica-se que para os 3 segmentos corporais analisados durante as fases de propulsão, vôo e aterrissagem do salto horizontal não houveram diferenças estatisticamente significativas entre as distribuições. Classificações semelhantes foram identificadas entre os estágios inicial, elementar e maduro, para a execução do salto horizontal a partir de informações verbais e visuais da tarefa, demonstrando que o tipo de informação não foi determinante para causar mudanças na classificação do estágio de desenvolvimento motor dos segmentos corporais das crianças. Diferentemente do estudo de Publio, Tani e Manoel (1995), em que foram identificadas diferenças estatisticamente significativas entre o grupo que recebeu informação verbal e o que observou a demonstração dos movimentos típicos da ginástica olímpica.

    Embora não significativa, pode-se verificar que após a demonstração houve modificações qualitativas dos estágios para a maioria das variáveis, entre os três estágios. Esses resultados foram semelhantes aos encontrados por Bruzi et al. (2006), que identificaram a demonstração como variável de efetiva potência no padrão de movimento do arremesso de dardo de salão. Contudo, para o estágio inicial a demonstração pareceu ser mais representativa, visto que após a informação visual a freqüência de segmentos corporais nesse estágio diminuiu em todos os casos analisados. Em concordância Bandura, (PROCURAR ORIGINAL) citado por Publio, Tani e Manoel (1995), expõe que a representação imaginária ou visual pode ser especialmente importante em crianças menores quando habilidades verbais acerca dos movimentos ainda não estão suficientemente desenvolvidas para que seus aspectos espaciais e temporais possam ser adequadamente representados verbalmente.

    Nem todas as crianças conseguem perceber as atitudes e estratégias que devem ser utilizadas para atingir melhor desempenho no salto. Isso é facilmente percebido entre uma criança que se encontra no estágio inicial de desenvolvimento motor e outra no estágio maduro. A informação verbal para a criança do estágio inicial pode não ser suficiente, pois ela não alcançou o estágio no qual consegue discernir que para atingir uma distância maior terá que usar o movimento dos braços. Enquanto a primeira apresenta movimentos sem harmonia entre os segmentos, a última apresenta equilíbrio, sincronia nos gestos e controle corporal, resultando num salto com boa execução. A informação verbal “saltar o mais longe possível” pode causar diferentes interpretações pelas crianças, pois cada uma vai executar o salto baseada na sua vivência motora. Assim, a demonstração segundo Tonello e Pellegrini (1998), mostra pecualiaridades úteis para a aprendizagem de uma habilidade, reduzindo a incerteza da criança sobre como deve ser realizada.

    Respondendo o segundo objetivo do estudo que foi comparar a influência entre a informação verbal e visual transmitidas às crianças na execução do salto horizontal, foi feita a análise quantitativa dos parâmetros angulares, conforme pode ser visualizado na Tabela 4, a seguir.

Tabela 4. Comparação dos valores médios dos parâmetros angulares em todas as fases do salto executado a partir de informação verbal ou visual

Fase

Segmento

Informação

n

s

t

p

PROPULSÃO

Joelho

Verbal

11

99.03

8.25

1.151

0.276

Visual

11

97.52

7.17

Quadril

Verbal

11

87.82

10.62

2.258

0.048*

Visual

11

84.62

11.15

Tronco

Verbal

11

62.09

6.22

-0.850

0.415

Visual

11

63.19

6.80

Braço

Verbal

11

-57.63

22.54

1.102

0.296

Visual

11

-63.00

23.97

VÔO

Joelho

Verbal

11

144.22

15.34

2.161

0.056

Visual

11

138.55

18.09

Quadril

Verbal

11

179.34

11.47

-0.003

0.998

Visual

11

179.34

14.02

Tronco

Verbal

11

29.01

14.02

1.599

0.141

Visual

11

19.73

8.56

Braço

Verbal

11

134.87

41.16

1.161

0.273

Visual

11

118.85

38.58

QUEDA

Joelho

Verbal

11

77.69

23.78

1.309

0.220

Visual

11

72.44

19.70

Quadril

Verbal

11

70.88

35.71

0.678

0.513

Visual

11

68.20

34.12

Tronco

Verbal

11

34.42

19.05

0.372

0.717

Visual

11

33.78

19.55

Braço

Verbal

11

40.46

42.52

-1.274

0.231

Visual

11

48.20

38.02

*p≤0,05

    Ao observar os dados expostos na Tabela 4 pode-se verificar que houve diferença estatisticamente significativa apenas para a variável ângulo de quadril na fase de propulsão (p=0,048), com valores angulares ligeiramente menores (84,62°±11,15°) após a informação visual quando comparados aos valores de ângulos após a informação verbal (87,82°±10,62°). Assim, em média, as crianças apresentaram maior flexão de quadril após a demonstração da tarefa na fase de propulsão do salto, o que tecnicamente indica uma mecânica de execução mais eficiente para o salto horizontal, visto que o objetivo é o maior alcance em distância.

    Para as demais variáveis, no entanto, a informação visual da tarefa não teve influência significativa para os parâmetros angulares analisados. Tanto na análise quantitativa como na qualitativa a informação visual pareceu não ser uma variável determinante para causar modificações na execução do salto horizontal. O que pode ser explicado por duas razões: por se tratar de um padrão motor fundamental, o que indica relação com fatores intrínsecos como o nível de maturação das crianças; e, segundo, pela alta complexidade motora exigida na execução dos movimentos de saltos, que requerem a utilização do ciclo de alongamento-encurtamento muscular, em sincronismo com movimentos coordenados de membros superiores e inferiores.

    Em adição, considerando a controversa contribuição da informação verbal no aprendizado de movimentos complexos, no estudo de Haguenauer et al. (2005), a informação verbal pareceu não ter grande efetividade no aprendizado de um movimento de salto específico da patinação. Nesse trabalho, que utilizou a biomecânica como ferramenta de avaliação, os autores expõem que a demonstração da tarefa somada às repetições do movimento parecem contribuir para um melhor aprendizado do movimento, especialmente quando se tratam de indivíduos iniciantes.

    No presente estudo utilizaram-se informações verbais e visuais separadamente na execução de uma tarefa motora verificadas apenas numa situação de avaliação. Similarmente, alguns estudos (MCCULLAGH, WEISS e ROSS, 1989; PÚBLIO, TANI e MANOEL, 1995; ADAMS, 2001) buscaram avaliar a influência de ambas formas de instrução, porém no processo de aprendizagem motora, verificando que a associação da informação verbal e visual foi mais efetiva para a aprendizagem se comparadas ao seu uso isolado.

Conclusões

    De acordo com os resultados obtidos, a informação visual não influenciou a análise quantitativa e qualitativa, demonstrando não ter grande relevância na execução do salto horizontal a fim de melhorar a execução da tarefa.

    Quanto à informação verbal, os trabalhos pesquisados afirmam ser controversa a influência desse tipo de informação isolada. Contudo, nesse estudo, a informação verbal mostrou-se suficiente para que as crianças executassem com eficiência a tarefa solicitada. Isso, possivelmente seja em razão do salto horizontal, apesar de complexo, ser um movimento comum e largamente utilizado pelas crianças em atividades cotidianas. E ainda, por se tratar de crianças que apresentam um largo espectro de experiências motoras tanto na escola como também em atividades extra-classe, mesmo que sem orientação profissional.

    Sob outro aspecto, quando se trata de trabalhos científicos, cuja demonstração de determinado movimento deve ser igual para todos os indivíduos, torna-se importante e útil a informação visual através de um vídeo ou de qualquer outro recurso. Esses meios podem contribuir para uma menor variabilidade de execução, ou seja, a padronização da demonstração para efeitos de comparações.

    E ainda, deve-se considerar a larga utilização da demonstração visual dos mais variados movimentos básicos e gestos esportivos pelos professores de educação física e treinadores no processo de ensino-aprendizagem. Enfatiza-se também, a importância da aplicação de diferentes estratégias de aprendizagem neste processo, entre elas: informação visual, informação verbal e informação tátil. Independente do tipo, a informação transmitida é vital para o avanço em direção aos estágios superiores de aprendizagem.

Referências

  • AVARENA, C. O. Percepção visual e atenção na aquisição de habilidades motoras. Revista da Educação Física/UEM. v. 7, n. 1, p. 53-61, 1996.

  • BARROCAL, R. M. et al. Faixa de amplitude de conhecimento de resultados e processo adaptativo na aquisição de controle da força manual. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. v. 20, n. 2, p. 111-19, abr-jun 2006.

  • BRUZI, A. et al. Efeito do número de demonstrações na aquisição de uma habilidade motora: um estudo exploratório. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto. v. 6, n. 2, p. 179-187, 2006.

  • ESTRÁZULAS, J. A. Características biomecânicas do salto horizontal de crianças em diferentes estágios de desenvolvimento motor. 2006. 135f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano) – Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis. 2006.

  • GALLAHUE, D. Understanding motor development: infants, children, adolescents: 2.ed. Indiane, Benchmark, 1989.

  • HAGUENAUER, M.; FARGIER, P.; LEGRENEUR, P.; COGERINO, A. D. G.; BEGON, M. e MONTEIL, K. M. Short-term effects of using verbal instructions and demonstration at the beginning of learning a complex skill in figure skating. Perceptual and motor skills. v. 100. p. 179-191. 2005.

  • HOFFMAN, J. S.; HARRIS, C. J. Comportamento motor. In: THOMAS, R. T.; THOMAS, K. T. Cinesiologia: O Estudo da Atividade Física. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  • MAGILL, R. A. Aprendizagem motora – conceitos e aplicações. São Paulo: Edgard Blucher, 2000.369 p.

  • MANOEL, E. de J. A dinámica do estudo do comportamento motor. Revista Paulista de Educação Física. v. 13, p. 52-61, dez, 1999.

  • OLIVEIRA, J. A. de. Padrões fundamentais: implicações e aplicações na educação física infantil. Revista Interação. ano 2. v. 6. n. 6. p.37-42. dez. 2002.

  • PÚBLIO, N.S.; TANI, G.; MANOEL, E.J. Efeitos da demonstração e instrução verbal na aprendizagem de habilidades motoras da ginástica olímpica. Revista Paulista de Educação Física, v.9, n.2, p.111-24, 1995.

  • RIEHLE, H. Introdução na Biomecânica do Esporte. I parte. Universidade Federal de Santa Maria, 1976. Notas de aula.

  • SCHMIDT, R. A. e WRISBERG, C. A. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. 352 p.

  • TANI, G.; FREUDENHEIM, A. M.; MEIRA JúNIOR, C. M.; CORREA, U. C. Aprendizagem motora: tendências, perspectivas e aplicações. Revista Paulista de Educação Física. v. 18. Número especial. São Paulo. p.55-72. ago. 2004.

  • TEIXEIRA, A. L. Aprendizagem de habilidades motoras na ginástica artística. In. NUNOMURA, M.; NISTA-PICCOLO, V. L. (Eds). Compreendendo a ginástica artística. São Paulo: Phorte, 2004. p. 77-106.

  • TONELLO, M. G. M.; PELLEGRINI, A. M. A utilização da demonstração para a aprendizagem de habilidades motoras em aulas de Educação Física. Revista Paulista de Educação Física. v.12, n. 2, p. 107-14, jul-dez 1998

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 14 · N° 133 | Buenos Aires, Junio de 2009  
© 1997-2009 Derechos reservados