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Causas e conseqüências de quedas em idosos como

indicadores para implementação de programas 

de exercício físico

Causas y consecuencias de caídas em personas de la tercera edad como 

indicadores para la implementación de programas de ejercicio físico

 

*Graduado em Fisioterapia pela Universidade Federal dos Vales

do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM

Mestrando em Biologia Celular e Estrutural pela

Universidade Federal de Viçosa - UFV

**Graduadas em Fisioterapia pela UFVJM

***Graduada em Fisioterapia pela UFVJM

Mestranda em Infectologia e Medicina Tropical pela

Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

****Graduada em Nutrição pela Universidade Federal Fluminense

Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo

Docente do Curso de Nutrição da UFVJM.

Rômulo Dias Novaes*

Eliziária Cardoso dos Santos**

Aline Silva de Miranda***

Kedma Teixeira Lopes**

Tânia Regina Riul****

romuonovaes@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. Esse fato trouxe à tona a discussão a respeito de eventos incapacitantes comuns em grupos de idosos, entre os quais destaca-se a ocorrência de quedas. Os objetivos do presente estudo foram investigar as causas e conseqüências mais freqüentes de acidentes por quedas em idosos e utilizar essa informação como indicador para determinar a necessidade da implementação de programas de exercícios físicos voltados para prevenção de quedas nessa população. Foram aplicados questionários estruturados contendo questões de característica recordatória a 40 indivíduos sedentários com idade superior a 60 anos. O estudo foi realizado em clínicas e hospitais de uma cidade do norte de Minas Gerais, Brasil. A análise dos dados demonstrou que a maior incidência de quedas ocorreu nas ruas (60,0%), sendo hematomas e fraturas (42,5%) as principais conseqüências desse evento. Além disso, 62,5% dos idosos tiveram algum nível de prejuízos na realização de suas atividades diárias em decorrência das quedas. De acordo com as informações coletadas, percebeu-se a necessidade da implementação de um programa de atividade física para prevenção de quedas nessa população. A literatura fornece evidências de que a prevenção e/ou minimização desses acidentes podem ser alcançados com a prática regular de exercícios que enfoquem o aprimoramento da marcha, força muscular, equilíbrio, flexibilidade e coordenação.

          Unitermos: Quedas. Idosos. Incapacidade.

 

Abstract

          Population aging is a worldwide phenomenon. This fact brought discussion about common disability events in elderly people, among which stands out the occurrence of falls. The aim of this study were investigate the more frequent falls accident causes and consequences in elderly people and using this information to determinate the necessity of physical exercise programs implementation to prevent falls in this population. Structured questionnaires with reminder questions were applied to 40 sedentary individuals above 60 years old. The study was done in clinicals and hospitals of north town in Minas Gerais, Brazil. The data analyze showed that the most falls incidence occurs in the streets (60,0) with bruises and fractures (42,5%) the mainly consequences of this event. Nevertheless, 62,5% of elderly people had some impairment level in the conduct of their daily activities as a result of falls. In agreement with the collected information it is necessary a physical activity program implementation to prevent falls in this population. It is clear in the literature that falls prevent and decrease could be achieved with regular exercise practice that focus in the improvement of gait, muscular strength, balance, flexibility and coordination.

          Keywords: Falls. Elderly. Disability.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 131 - Abril de 2009

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Introdução

    O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. No Brasil, indivíduos com 60 anos ou mais representavam 5,0% da população geral na década de 40 e segundo o Instituto Brasileiro de Geografia estatística (IBGE) a população de idosos passou de 6,1% em 1980 para 7,3 em 1991. Estima-se que em 2025 essa população seja de 14,0%.14 O aumento da proporção de idosos na população brasileira traz à tona a discussão a respeito de eventos incapacitantes nessa faixa etária, dos quais destaca-se a ocorrência de quedas, bastante comum e temida pela maioria das pessoas idosas por suas conseqüências limitantes.5-7,10

    A queda pode ser definida como um evento não intencional que tem como resultado a mudança de posição do indivíduo para um nível mais baixo, em relação a sua posição inicial.11 A queda se dá em decorrência da perda total do equilíbrio postural, e pode relacionar-se à insuficiência súbita dos mecanismos neurais e osteoarticulares envolvidos na manutenção da postura. Em idosos, as quedas repetidas e sem causa óbvia, já deixaram de ser aceitas como apenas conseqüências da idade, e atualmente caracterizam-se como sinais de distúrbios orgânicos relacionados principalmente ao sistema musculoesquelético e aos centros nervosos de integração sensorial e controle da locomoção.11

    A probabilidade de queda aumenta com o avançar da idade.11 Aproximadamente 30,0% das pessoas de 65 anos ou mais, caem pelo menos uma vez por ano.10 Estima-se que 30,0% dos idosos que caem apresentam idade entre 60 e 65 anos e 40,0% encontram-se entre 80 e 85 anos de idade. 7,14

    As causas associadas às quedas podem ser classificadas como intrínsecas, ou seja, decorrentes de alterações fisiológicas relacionadas ao envelhecimento, às doenças e efeitos causados por uso de fármacos, bem como extrínsecas, relacionadas a fatores sociais e ambientais. 6,7

    Algumas quedas acontecem quando a atividade exige do indivíduo mais atenção do que normalmente, como na marcha em terrenos acidentados ou pedregosos. Pesquisas realizadas com idosos demonstraram que aproximadamente 40,0% das quedas ocorreram na própria residência durante o exercício de atividades diárias. 6,11

    Dentre os fatores intrínsecos, o surgimento de doenças que ocasionem redução da capacidade física pode acarretar efeitos sobre o controle postural do indivíduo ou ter ação negativa sobre o equilíbrio. As principais condições patológicas que predispõem as quedas são as doenças cardiovasculares, neurológicas, endocrinológicas, osteomusculares e sensoriais. 6 A diminuição da força muscular e o subseqüente comprometimento da função motora aumentam o risco de queda. 2,5,7,8 Além disso, o uso de medicamentos como ansiolíticos, antidepressivos, anticonvulsivantes e anti-hipertensivos, prescritos comumente a idosos, podem estar associados à ocorrência de quedas. 3,9

    As conseqüências das quedas para os idosos podem ser bastante limitantes e, em alguns casos, até fatais.7 Os principais problemas decorrentes são fraturas, Traumatismo craniano, cortes, ansiedade, depressão e o chamado “medo de cair” também conhecido como ptofobia.1,6 Como freqüência, uma única queda resulta em medo de cair, o que leva a uma perda da confiança na capacidade de realizar tarefas cotidianas com conseqüente restrição das atividades, isolamento social e dependência aumentada de cuidadores. 6,7

    Além das possíveis fraturas e o risco de óbito, a restrição de atividades, o declínio na saúde e o aumento do risco de institucionalização geram não apenas prejuízo físico e psicológico, mas também aumento dos custos com os cuidados de saúde, expressos pela utilização de diversos serviços especializados e, principalmente, pelo aumento das hospitalizações. 7,10,13

Exercício físico e quedas

    Atualmente, é amplamente aceito que a prática regular de exercícios físicos é um fator determinante de um processo de senescência bem sucedido. 19,20 Ao longo desse processo, há uma freqüentemente associação entre prática de exercícios e a redução do risco de quedas em indivíduos idosos.24-27 Isso se dá devido a capacidade que o exercício físico possui de minimizar ou retardar as inúmeras alterações orgânicas que ocorrem com o envelhecimento, como as mudanças na composição corporal que apresentam-se associadas a redução da massa magra com atrofia muscular, aumento de gordura corporal, redução da densidade mineral óssea, declínio da capacidade dos sistemas sensoriais de captar os estímulos do ambiente, alterações posturais, de marcha e equilíbrio. A atividade física é descrita como uma modalidade de promoção, prevenção e tratamento em saúde que apresenta importante impacto na melhora da mobilidade física e da estabilidade postural, que estão diretamente relacionadas à diminuição de quedas.14,22

    Há evidências de que os exercícios físicos atuam na prevenção de quedas principalmente por meio do aprimoramento das funções dos sistemas musculoesquelético, cardiovascular e nervoso.19-21 Entretanto, devido a influência sobre todos os outros sistemas orgânicos em diferentes níveis, a prática regular de atividades físicas contribui para melhoria da saúde global do idoso, devendo ser freqüentemente estimulada.3 Além disso, o exercício proporciona aumento da participação e integração do idoso na sociedade, melhora a saúde física e mental, diminui os riscos de doenças crônicas, estimula a performance funcional e conseqüentemente aumenta a autonomia e qualidade de vida do idoso. 9,22

    Não são raros os estudos que têm examinado os efeitos do exercício em relação a melhora na força muscular, equilíbrio corporal, desempenho físico e estabilidade postural.19-21 Por outro lado, poucos estudos investigaram os subseqüentes efeitos dos exercícios físicos na freqüência e conseqüência das quedas ocorridas durante a realização de atividades diárias na população idosa. 24,27 Entretanto, há indícios que programas de exercícios físicos de intensidade leve e moderada que enfocam o sistema musculoesquelético por meio de atividades específicas para aprimorar a força muscular global, flexibilidade de membros inferiores e mobilidade geral, postura corporal e padrões de marcha são extremamente benéficos na prevenção do risco de quedas. 19-21

    Embora em muitos casos a prática de exercícios físicos não conduza aos tradicionais benefícios nos indicadores de desempenho físico, como distância percorrida em testes padronizados, aumento do consumo máximo de oxigênio e da capacidade metabólica muscular, o American College of Sports Medicine (1998)22 preconiza que essa prática estimula o aumento do status de saúde, reduzindo os fatores de risco para doenças crônico-degenerativas ao mesmo tempo em que mantêm a capacidade funcional.20-22 Além disso, afirma que, atualmente, está comprovado que quanto mais ativa é uma pessoa, menos limitações físicas ela desenvolve.21-22

    De forma contraria, o sedentarismo acelera o curso do envelhecimento, o que leva a alterações morfológicas, fisiológicas e psicológicas observadas no idoso e contribui ainda mais para a propensão à quedas. Além das perdas físicas decorrentes do sedentarismo, o isolamento social prejudica a saúde mental do idoso, com impacto negativo sobre a auto-estima, percepção e práticas de saúde. Esses fatores também podem contribuir para dificultar a execução de atividades que requerem maiores níveis de atenção, dessa forma, favorecendo a ocorrência de quedas e outros acidentes.19-21

    Nesse contexto, os objetivos do presente estudo foram investigar as causas e conseqüências mais freqüentes de acidentes por quedas em idosos e utilizar essa informação como indicador para determinar a necessidade da implementação de programas de exercícios físicos voltados para essa população. Além disso, foi foco de discussão as alterações orgânicas descritas na literatura que fundamentam a ocorrência de quedas na população idosa e a possível influência dos exercícios físicos sobre essas alterações.

Procedimento metodológico

    Trata-se de um estudo transversal descritivo de caráter exploratório em que foram investigados 40 indivíduos com idade acima de 60 anos, sedentários, residentes em uma cidade do norte de Minas Gerais - Brasil, que haviam sofrido ao menos uma queda em um período máximo de seis meses antecedentes ao estudo. Foram excluídos da pesquisa indivíduos que não compreenderam as perguntas realizadas pelos investigadores. Os dados foram coletados em clínicas e hospitais por meio da utilização de um questionário estruturado, de característica recordatória, adaptado de estudos prévios.17,18,23,25 Foram investigadas questões referentes à idade, local e conseqüência da queda, prejuízo na realização de atividades diárias e nível de dependência para cuidados pessoais. Os indivíduos investigados foram selecionados aleatoriamente, sem distinção de gênero, raça ou renda salarial.

    Todos os indivíduos receberam orientações verbalmente e por escrito a respeito do objetivo do presente estudo. Em seguida, um termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado pelo participante ou por seu cuidador responsável quando necessário. Todo o estudo foi conduzido de acordo com os princípios éticos regidos pelas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, segundo a resolução 196/1996 do Conselho nacional de Saúde, Brasil.16

    Os dados coletados foram tabulados no programa Epi Info para auxiliar na construção dos gráficos que refletiram os resultados obtidos na pesquisa. Os resultados foram descritos com valores percentuais médios para traçar o perfil da amostra investigada.

Resultados

    Dos 40 indivíduos que participaram do estudo (n=40), 7,5% (3) apresentaram idade entre 60 e 65 anos, 25,0% (n=10) entre 66 e 70 anos, 25,0% (n=10) entre 71 e 75 anos, e os outros 45,5% (n=17) acima de 75 anos. Em relação aos locais da queda, 40,0% (n=16) dos idosos responderam que ocorreu no ambiente domiciliar e 56,0% (n=24) relataram que o evento aconteceu fora do domicilio. Para aqueles que relataram quedas no ambiente domiciliar (n=16), 37,5% (n=6) afirmaram terem caído em escadas, 6,13% (n=1) associam a queda com a presença de tapetes e 56,3% (n=9) caíram devido a pisos escorregadios, cadeira e áreas externas da residência. Em relação aos idosos que caíram nas ruas, 8,3% (n=2) afirmaram que esse evento ocorreu em ambientes em aclive, 58,3% (n=14) em ambientes em declive e os outros 33,3% (8) relataram quedas em terreno plano (Tabela 1).

Tabela 1. Ocorrência de quedas em idosos segundo faixa etária, prejuízo nas atividades diárias, ambiente e especificação do local.

Variável

Categoria

N

%

Total

N

Idade (anos)

60 - 65

3

7,50

40

66 -70

10

25,00

71 -75

10

25,00

Acima de 75

17

42,50

Ambiente

Domicilio

16

40,00

40

Fora Domicilio

24

60,00

Local no domicílio

Escadas

6

37,50

16

Tapetes

1

6,30

Outros

9

56,30

Local fora do domicilio

Aclive

2

8,30

24

Declive

14

58,33

Plano

8

33,33

Prejuízo nas AVDs

Alto

11

27,50

40

Baixo

9

22,50

Moderado

5

12,50

Nenhum

15

37,50

    As causas das quedas relatadas pelos sujeitos do estudo (n=40), mostram que 5,0% (n=2) dos idosos atribuem ao Acidente Vascular Encefálico como causador das quedas, 5,0% (n=2) ao uso de medicamentos, 5,0% (n=2) a Osteoporose, 15,0% (n=6) a alterações visuais (glaucoma), vestibulares (labirintites) e hipertensão (tonturas), outros 70,0% (28) não associam as quedas com patologias (Gráfico 1).

Gráfico 1. Porcentagem de idosos (n=40) de acordo com as causas intrínsecas associadas às quedas

    Entre todos os investigados, 10,0% (n=4) sofreram entorses e luxação, 42,5% (n=17) hematomas e fraturas, 37,5% (n=15) impacto e escoriações e 10,0% (n=4) relataram trombose, franqueza muscular, edema e dores após as quedas (Gráfico 2).

Gráfico 2. Porcentagem de idosos (n=40) de acordo com a conseqüência das quedas

    Em relação ao nível de dependência dos idosos de familiares e/ou cuidadores, 20,0% (n=6) disseram que a queda aumentou a dependência em curto prazo, 10,0% (n=4) relataram dependência em longo prazo, 30,0% (n=12) dos sujeitos mantiveram o grau de dependência, e para 40,0% (n=16) dos indivíduos a queda não causou nenhum tipo de dependência (Gráfico 3).

Gráfico 3. Porcentagem de idosos (n=40) de acordo com o nível de dependência relacionado as quedas

    Altos níveis de prejuízos na execução de atividades diárias após as quedas foram relatados por 27,5% (n=11) dos idosos, para 12,5% (n=5) prejuízos moderados, 22,5% (n=9) indicaram baixo nível de prejuízo, e 37,5% (n=15), afirmaram que não ocorreu nenhum tipo de prejuízo (Tabela 1).

Discussão

    Entre os indivíduos pesquisados, a maior parte apresentou idade superior a 75 anos e segundo Pickles et al., (2000), a probabilidade de quedas aumenta em idades avançadas. Grande parte dessas quedas pode ser atribuída a modificações estruturais das fibras musculares, perda gradual de força muscular ao longo do processo de envelhecimento e alterações dos sistemas visual, vestibular e somatossensorial que são responsáveis pelo controle da postura e equilíbrio 2,5,7,8.

    Nesse estudo, identificou-se que a maior parte dos idosos pesquisados apresentou quedas fora de seus domicílios devido a acidentes ocorridos nas ruas. Isso pode ser devido ao relevo acidentado do município investigado, uma vez que, segundo Pickles et al. (2000), algumas quedas ocorrem quando a atividade, como a marcha em terrenos acidentados ou pedregosos, exige maior esforço dos indivíduos idosos.11 Fora do domicilio do idoso, a maior incidência das quedas foi verificada em terrenos em declive. Esse comportamento é elucidado por Davini e Nunes (2003);5 Quintas, Rodrigues & Jin (2000),12 que estabelecem como fatores predisponentes a quedas decorrentes do envelhecimento, a redução da área de seção transversa das fibras do músculo esquelético associada à substituição celular por tecido fibrogorduroso. Essas alterações histológicas poderiam provocar quedas nos terrenos em declive, uma vez que a tarefa demanda maior esforço muscular excêntrico por parte dos idosos, o que exigiria maior equilíbrio.

    Os principais fatores extrínsecos (ambientais) associados às quedas no ambiente domiciliar foram cadeiras, pisos escorregadios e áreas externas do domicílio (outros), seguido por quedas em escadas. Esses fatores corroboram achados prévios, ao apontar os fatores extrínsecos como principais causadores de quedas.11 Fatores intrínsecos aos idosos como doenças e efeitos medicamentosos não mostraram-se relacionados com as quedas neste estudo, o que difere dos resultados encontrados por Chamowicz, Ferreira & Miguel, (2002);9 Pereira, Vecchi & Baptista, (2004),3 que atribuem a ocorrência de quedas principalmente a doenças como AVE e osteoporose e aos efeitos medicamentosos de alguns ansiolíticos.

    As principais conseqüências de quedas encontradas foram hematomas e fraturas.4,6,10 No entanto, Guccione (2000)7 afirma que a maioria das quedas em idosos resulta em lesões menores ou em nenhuma lesão. Tais conseqüências menos graves, apesar de não se destacar como principais nesse estudo, ainda foram consistentes devido a elevada proporção de idosos (37.5%) que sofreram apenas escoriações como conseqüência do impacto provocado pela queda.

    As quedas não influenciaram na autonomia, representada pelo nível de dependência dos idosos de cuidadores, uma vez que a maior parte dos idosos relatou manter a independência após as quedas e outra grande parte manteve o nível de dependência de cuidadores. Tal resultado possivelmente deve-se ao grupo de idosos em que a queda não repercutiu em conseqüências graves que viessem a comprometer a autonomia e gerar dependência de cuidados. Alguns autores,6,7 contudo, encontraram aumento da dependência dos idosos de cuidadores após quedas ao demonstrar que estas, além de produzirem importante perda da autonomia e da qualidade de vida entre idosos, podem também repercutir entre seus cuidadores, que passam a mobilizar-se em torno de cuidados especiais, adaptando sua rotina em função da recuperação ou adaptação do idoso após a queda.1

    A execução de atividades diárias foi influenciada pelas quedas uma vez que a maior parte dos investigados relatou algum nível de prejuízos nessas atividades. De acordo com alguns estudos, 6,7 a execução de atividades diárias como caminhar, deitar / levantar e tomar banho as quais passam a oferecer maior dificuldade aos idosos após uma queda e as atividades que antes não eram realizadas com tanta dificuldade tornam-se limitantes. A incapacidade para execução das atividades diárias advindas de imobilidade provocada pela queda pode trazer, em longo prazo, não apenas conseqüências aos idosos, mas também a toda sua estrutura familiar. 1

    O envelhecimento acarreta redução da amplitude de movimentos de forma geral. A diminuição da flexibilidade está associada à ocorrência de quedas no idoso, principalmente devido à perda de mobilidade das articulações do quadril, joelhos, tornozelos e coluna vertebral, o que gera alterações no padrão de marcha e dificuldades no desempenho de tarefas cotidianas, como utilizar transportes públicos, transpor desníveis no solo como calçadas e escadas ou simplesmente caminhar. Além disso, há uma tendência de alargamento da base de apoio, encurtamento e lentificação dos passos e flexão anterior do tronco para aumentar a estabilidade postural. Em adição, há limitação da amplitude de dorsiflexão dos tornozelos, o que aumenta a chance de tropeços e conseqüentes quedas.

    O equilíbrio também apresenta deterioração progressiva com o envelhecimento. Entre os fatores que concorrem para isso, podem ser citados a perda progressiva das células nervosas, diminuição da função proprioceptiva das articulações, processos degenerativos de estruturas do ouvido interno e enfraquecimento muscular.25-27 Com isso, reduz-se a habilidade para controlar os movimentos corporais, inclusive os movimentos corretivos necessários quando o centro de gravidade é deslocado por uma força externa.25 Os sistemas somatossensorial, visual e vestibular demonstram alterações com o envelhecimento e podem fornecer feedback reduzido ou inapropriado para os centros de controle postural. Similarmente, os músculos efetores podem perder a capacidade para responder apropriadamente aos distúrbios na postura.26 Com isso, as respostas de correção à perda do equilíbrio são iniciadas mais lentamente e ao se desequilibrarem os idosos falham na seleção das respostas, especialmente as mais complexas, que requerem velocidade e precisão. Problemas de equilíbrio dinâmico têm sido considerados como causas de quedas em idosos. Aproximadamente 50% das quedas ocorrem durante alguma forma de locomoção, cuja tarefa exige bom equilíbrio estático e/ou dinâmico.5,10,25 As desordens de equilíbrio e inabilidade sensorial em captar informações do meio ambiente são também apontadas como fatores de risco para a ocorrência das quedas.23

    Há evidências consistentes, da associação entre os níveis de força e flexibilidade com o padrão de marcha do indivíduo e, conseqüentemente, com a possibilidade de quedas.18,24-27 A força muscular, essencial para a saúde e função fisiológica ótimas, apresenta destaque especial para o idoso, devido sua relação com o equilíbrio, resistência muscular à fadiga, mobilidade e locomoção, execução das tarefas cotidianas básicas e, finalmente, com a diminuição do risco de quedas. Dentre os tipos de força dinâmica, é sugerido que a potência muscular é especialmente afetada pelo processo de envelhecimento.11,18 Descreve-se que esse tipo de força tem importante papel em situação de queda iminente, uma vez que o restabelecimento do equilíbrio normalmente depende da rápida ação da musculatura de membros inferiores. A fraqueza nos membros inferiores é comum nos idosos e tem sido identificada como a segunda maior causa de quedas.12,15,18

    De acordo com Stalenhoef et al., (2000),23 um modelo de risco para quedas recorrentes em indivíduos com 70 anos ou mais podem ser construídos mediante avaliação da força muscular segmentar e amplitude articular. Essa relação é reforçada pelos achados de Brandon et al., (2000),24 que demonstraram que a diminuição da força de membros inferiores com o envelhecimento diminui a mobilidade funcional e aumenta a propensão a quedas em indivíduos idosos.

    Nesse contexto, sugere-se que as quedas, suas causas e conseqüências, ou seja, resultado das disfunções nos diversos sistemas orgânicos decorrentes do envelhecimento, podem ser utilizadas como indicadores da necessidade da implementação de programas de saúde voltados para reestruturação das alterações na estrutura e função corporal, de modo a influenciar diretamente a atividade e participação social de indivíduos acima de 60 anos.

    A fundamentação que justifica a necessidade de programas de exercícios físicos como estratégia de saúde e prevenção de quedas em idosos, em especial para a população investigada, decorre da capacidade dos exercícios físicos em aprimorar a função de todos os sistemas corporais que tornam-se deficientes ao longo do envelhecimento, de modo a minimizar os riscos de quedas nessa população. Além disso, os exercícios físicos podem reduzir conseqüências negativas das quedas nos idosos conduzindo repercussões de saúde menos graves, o que pode reduzir a necessidade de acompanhamento externo, gastos com cuidados médicos e sobrecarga dos serviços de saúde.

Conclusão

    Concluiu-se que a maioria das causas de quedas em idosos foi decorrente de acidentes ambientais, tendo como local do evento as ruas com relevo em declive. Já para o ambiente domiciliar, a maior incidência foi em áreas externas da casa e devido a pisos escorregadios. As principais conseqüências das quedas para os idosos foram hematomas, fraturas, impactos e escoriações trazendo algum tipo de prejuízo e dependência de cuidadores para execução das atividades diárias.

    Os dados encontrados sugerem a necessidade da implementação de estratégias preventivas para reduzir a ocorrência de quedas em idosos. Programas estruturados de exercício físico são relatados na literatura como ideais para reduzir os riscos de quedas devido a sua influência sobre todos os sistemas corporais que tendem a declinar ao longo do processo de senescência. Sendo assim, exercícios físicos podem ser utilizados como uma importante ferramenta na redução da prevalência de quedas de modo a minimizar as suas conseqüências, que em muitos casos podem ser incapacitantes. Deste modo, os exercícios físicos podem atuar na redução do nível de dependência do idoso por cuidados externos uma vez que tende a aumentar a autonomia e qualidade de vida dessa população.

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revista digital · Año 14 · N° 131 | Buenos Aires, Abril de 2009  
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