Lecturas: Educación Física y Deportes. Revista Digital

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OS INDICADORES ESTATÍSTICOS QUE MAIS CONTRIBUEM
PARA DESFECHO FINAL DOS JOGOS DE BASQUETEBOL

António Jaime Sampaio (Portugal)
ajaime@utad.pt

Obras Sanitarias vs. GyE (Comodoro Rivadavia), Buenos Aires, Dez. '97 Resumo
O presente estudo emergiu da necessidade marcar o contributo dos indicadores do jogo de Basquetebol no desfecho final das competições. Neste sentido, foram definidos os seguintes objectivos: (i) identificar e hierarquizar os indicadores do jogo que diferenciam as equipas vencedoras das equipas vencidas e (ii) avaliar o poder discriminatório e reclassificativo dos indicadores do jogo face à vitória ou derrota nas competições.
A amostra foi constituída por 485 jogos do Campeonato Nacional da 1ª Divisão e da Liga Portuguesa de Basquetebol, respeitantes às épocas de 1994-95 e de 1995-96. A recolha de dados, centrada nos registos estatísticos das competições, contemplou os seguintes indicadores do jogo: assistências, desarmes de lançamento, intercepções, faltas cometidas, percentagens de eficácia nos lançamentos de 2 pontos, percentagens de eficácia nos lançamentos de 3 pontos, percentagens de eficácia nos lances-livres, roubos de bola, ressaltos ofensivos, ressaltos defensivos e turn-overs.
Posteriormente, a amostra foi subdividida em 2 grupos, face à vitória ou derrota nas competições, sendo consideradas para análise posterior as seguintes categorias: (i) jogos equilibrados (JE), com diferenças no resultado final inferiores ou iguais a 3 pontos; (ii) jogos normais (JN), com diferenças no resultado final superiores a 3 pontos e inferiores ou iguais a 10 pontos e (iii) jogos desequilibrados (JD), com diferenças no resultado final superiores a 10 pontos. Para a comparação dos valores médios de cada indicador, face à vitória ou derrota, nas categorias de jogos aprioristicamente definidas recorremos ao teste-t para medidas independentes. Posteriormente, recorreu-se à função discriminante no sentido de identificar, através dos coeficientes canónicos estruturais (CCE), os indicadores que separavam maximalmente os grupos, em cada categoria de jogos. Por fim, através das matrizes de confusão, testou-se a qualidade do ajuste das funções lineares encontradas. Consideramos como relevantes para o compósito linear os |CCE| ( 0,30. O nível de significância foi mantido em 5%.
As principais conclusões evidenciaram que o desfecho final dos jogos analisados, em todas as categorias de análise, foi consequência de uma contribuição associada das percentagens de eficácia nos lançamentos de dois pontos (CCEJE=0,63; CCEJN=0,31; CCEJD=0,46) e dos ressaltos defensivos (CCEJE=0,33; CCEJN=0,37; CCEJD=0,49). Aliadas aos indicadores anteriormente referidos, as percentagens de eficácia nos lançamentos de três pontos contribuíram significativamente para desequilibrar o resultado final dos jogos (CCEJD=0,30). Em jogos normais, as faltas cometidas pelas equipas discriminaram significativamente as equipas vencedoras das equipas vencidas (CCEJN=-0,31). As percentagens de eficácia nos lances-livres contribuíram significativamente para decidir o desfecho final dos jogos equilibrados (CCEJE=0,34). A precisão das análises realizadas foi elevada para os jogos desequilibrados (95,12%) e normais (76,71%) e moderada para os jogos equilibrados (66,7%).
Unitermos: Basquetebol. Estatísticas. Sucesso.


Introdução
A análise quantitativa do jogo de Basquetebol é um processo fundamental na clarificação dos factores que concorrem para o sucesso desportivo. A avaliação da performance através dos indicadores do jogo, recolhidos nas competições, constitui um método válido, fiável e objectivo, quer do ponto de vista do atleta, quer do ponto de vista da equipa.

O presente trabalho emerge da necessidade de aprofundar os conhecimentos disponíveis referentes ao contributo dos indicadores do jogo na performance diferencial, no sentido de identificar o seu poder discriminatório, hierárquico e reclassificativo. Mais especificamente, poder-se-á perguntar o que justifica a vitória/derrota de uma equipa? O que distinguiu de forma determinante a prestação das duas equipas? E ainda, será que os indicadores em estudo assumem organizações idênticas face à diferença pontual dos jogos? Provavelmente, o sucesso nas competições é determinado pelo domínio de uma das equipas num constructo de indicadores, que podem assumir organizações distintas face à diferença pontual dos jogos, i.e., em jogos equilibrados (diferenças pontuais abaixo de 3 pontos), normais (diferenças pontuais entre 4 e 10 pontos) e desequilibrados (diferenças pontuais acima de 10 pontos).

Os estudos disponíveis respeitantes ao contributo dos indicadores do jogo para a vitória ou derrota nas competições permitiram-nos situar o estado actual do conhecimento científico: Os lançamentos de dois pontos são aceites consensualmente pela generalidade dos treinadores e investigadores, como um dos factores mais importantes na determinação das vitórias nos jogos. De um modo geral, as equipas que vencem os jogos convertem mais lançamentos de dois pontos e conseguem melhores percentagens de eficácia. Não se tornou evidente nenhuma associação entre o número de lançamentos tentados e as vitórias nos jogos. Os lançamentos de três pontos, pela sua recente inclusão no jogo, não foram registados na grande maioria dos estudos disponíveis. Este facto, não nos permite realizar qualquer tipo de inferências.

Os lances-livres também foram identificados como um dos indicadores mais associados às vitórias ou derrotas nos jogos. Os estudos consultados referem ainda que os lances-livres assumem particular relevância nos momentos finais dos jogos equilibrados. As equipas que vencem mais jogos convertem mais lances-livres, como consequência de maiores percentagens de eficácia. Não se tornou evidente nenhuma associação entre o número de lances-livres tentados e as vitórias nos jogos.

Em parceria com os lançamentos de dois pontos, os ressaltos são também considerados, pela grande maioria de treinadores e investigadores, como um dos melhores indicadores do sucesso das equipas. Os estudos disponíveis são consensuais e levam-nos a concluir que as equipas que vencem mais jogos recuperam mais ressaltos defensivos e/ou ofensivos.

De um modo geral, as equipas que vencem mais jogos cometem menos faltas.

Apesar dos treinadores associarem as performances das melhores equipas a um reduzido número de turn-overs, os estudos disponíveis são escassos e divergentes. Neste sentido, a relação entre os turn-overs e as vitórias ou derrotas não se tornou evidente. As assistências, as intercepções e os desarmes de lançamento são indicadores do jogo que os treinadores habitualmente associam às vitórias ou derrotas nos jogos. No entanto, não estão disponíveis estudos que comprovem tal relação. Nas análises multivariadas aos jogos desequilibrados os estudos disponíveis são relativamente consensuais e identificaram um contributo associado dos ressaltos e das percentagens de eficácia nos lançamentos de dois pontos para as vitórias ou derrotas nos jogos. Nas análises multivariadas aos jogos equilibrados, o reduzido número de estudos não nos permitiu estabelecer conclusões sólidas.


Material e Métodos
Para a realização do presente estudo recorremos às estatísticas de 485 jogos de Basquetebol, respeitantes a duas épocas desportivas:


Recolha de dados
Os dados utilizados neste estudo são secundários. Foram recolhidos e compilados por técnicos da empresa InforDESPORTO, especializada neste tipo de procedimentos.

Procedimentos estatísticos
Em primeiro lugar, procedeu-se à análise da função discriminante (FD) no sentido de identificar, através dos coeficientes canónicos estruturais (CCE), os indicadores que mais contribuem para separar maximalmente as vitórias ou derrotas em cada categoria de jogos. Posteriormente, pelas matrizes de confusão, foi testada a qualidade do ajustamento das funções lineares encontradas. Consideramos como relevantes para interpretação do compósito linear os |CCE| ( 0.30 (Tabachnick & Fidell, 1989). O nível de significância foi mantido em 5%.

Resultados
Os Quadros 1 e 2 expressam, respectivamente, os principais resultados da FD e dos CCE das funções encontradas para jogos equilibrados, normais e desequilibrados. Em todas as categorias foram encontradas funções capazes de diferenciar os registos estatísticos das equipas que venceram das equipas que saíram derrotadas dos jogos (ver Quadro 1).

Quadro 1. Resultados da Função discriminante en jogos equilibrados, normais e desequilibrados.
Categoria Precisão da Análise Rc X2 p
Jogos Equilibrados67,71 %0,3823,330,025x
Jogos Normais76,71 %0,60127,010,000x
Jogos Desequilibrados95,12 %0,85645,830,000x
xp<0,05 Rc - coeficiente de correlação canónica, X2

As funções encontradas são constituídas por combinações lineares de indicadores, cujo poder discriminatório (para a vitória ou derrota) é expresso nos CCE (ver Quadro 2).

Quadro 2. Valores dos CCE das funções discriminantes para los jogos equilibrados (JE), jogos normais (JN) e jogos desequilibrados (JD).
Indicadores (JE) CCE Indicadores (JN) CCE Indicadores (JD) CCE
% Lançamento de 2 pontos0,63 Ressaltos defensivos0,37 Ressaltos defensivos0,49
% Lances-livres0,34 Faltas cometidas-0,31 % Lançamento de 2 pontos0,46
Ressaltos defensivos0,33 % Lançamento de 2 pontos0,31 % Lançamento de 3 pontos0,30
Intercepções0,29 Assistências0,18 Assistências0,26
Assistências0,23 Desarmes de lançamento0,16 Desarmes de lançamento0,16
Ressaltos ofensivos-0,16 % Lançamento de 3 pontos0,15 Faltas cometidas-0,13
Roubos de bola0,14 Ressaltos ofensivos0,15 % Lances-livres0,01
Turn-overs-0,13 Roubos de bola0,11 Roubos de bola0,01
Desarmes de lançamento-0,08 Intercepções0,08 Turn-overs-0,04
% Lançamento de 3 pontos0,04 % Lances-livres0,06 Intercepções-0,01
Faltas cometidas-0,02 Turn-overs-0,03 Ressaltos ofensivos0,01
Valor discriminatório CCE > ó = a |0,30|


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Foto: Liga Nacional Argentina do Basquetebol.
Obras Sanitarias de la Nación vs. Gimnasia y Esgrima de Comodoro Rivadavia.
Estadio Obras. Buenos Aires, Dezembro 1997

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Año 3. Nº 11. Buenos Aires, Octubre 1998.