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Licenciatura ou Bacharelado em Educação Física?
Opção de curso entre os últimos acadêmicos do currículo generalista

   
*Escola Superior de Educação Física.
Universidade Federal de Pelotas.
**Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia.
Universidade Federal de Pelotas
(Brasil)
 
 
Sílvia Teixeira de Pinho*  
Marcelo Zanusso Costa*  
Flávio Medeiros Pereira*  
Mario Renato de Azevedo Júnior**
silvia_esef@yahoo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     O objetivo deste trabalho foi identificar a opção dos acadêmicos do curso de Educação Física da UFPEL, pertencentes ao currículo antigo (generalista), entre os cursos de licenciatura e bacharelado. Todos os alunos matriculados e que estavam freqüentando o curso no segundo semestre letivo de 2005 foram convidados a participar do estudo (N=263). Os acadêmicos responderam perguntas sobre a opção de curso entre licenciatura e bacharelado caso fossem prestar novamente o vestibular. Foram entrevistados 221 acadêmicos, com média de idade foi de 22,2 anos (DP 3,1), sendo 47,5% do sexo masculino. A maioria dos homens optou pelo curso de bacharelado (72%). Entre as mulheres, houve maior equilíbrio: bacharelado (47%) e licenciatura (43%). O treinamento físico, esportivo e a atividade física voltada para a saúde têm sido alvos de muito interesse atualmente. Contudo, a carreira escolar ainda parece ser a opção de trabalho mais estável de emprego. Em meio a tudo isso, muitos jovens estão às portas do mercado de trabalho e, outros tantos em situação mais difícil, são obrigados a escolher já no vestibular sua opção acadêmica e profissional.
    Unitermos: Educação Física. Licenciatura. Bachalerado.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 108 - Mayo de 2007

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Introdução

    Escolher entre uma carreira de licenciatura ou bacharelado é muito mais do que escolher apenas uma modalidade de curso de graduação. Trata-se de uma escolha que tem muito a ver com a vocação.

    Nosso estudo surge da necessidade de descobrir as expectativas encontradas no meio acadêmico, onde desejamos saber dos estudantes qual a área do conhecimento que mais se identificam e que pretendem atuar. E mais do que isso, reflete um olhar dos acadêmicos frente às mudanças curriculares atuais e as perspectivas frente ao mercado de trabalho.

    A Educação Física apresenta características diferentes em cada área de atuação. Uma das características principais da licenciatura, é que ensina ao aluno, além das disciplinas inerentes ao curso escolhido, técnicas que o tornarão apto a transmitir o aprendizado, tornando-o um professor.

    No bacharelado, a formação proporcionada ao aluno é voltada para o mercado de trabalho, o que o torna apto apenas a desenvolver uma atividade em determinada área de atuação. É evidente que neste espaço acadêmico existem diversos interesses conflituosos que o envolvem. No entanto o conhecimento deve ser construído a partir da vivência do acadêmico.

    A maior parte dos cursos de licenciatura contemplava o bacharelado também. Nesses cursos mistos, o aluno tanto pode escolher uma modalidade e cursar as matérias específicas dela como fazer as duas. Entretanto, as recentes mudanças curriculares exigiram adequação dos cursos em duas possibilidades distintas: licenciatura e bacharelado.

    Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi identificar a opção dos acadêmicos do curso de Educação Física da UFPEL, pertencentes ao currículo antigo (generalista), diante da atual divisão dos cursos.


Metodologia

    Foi realizado um estudo com delineamento transversal. O Colegiado de Curso da ESEF/UFPEL forneceu uma listagem ao coordenador da pesquisa com todos os alunos matriculados no segundo semestre letivo de 2005. Nesta listagem havia o registro de 305 estudantes regularmente matriculados. Deste total, 42 acadêmicos não estavam freqüentando as aulas, sendo assim excluídos do estudo. Desta forma, o número total de acadêmicos elegíveis foi de 263.

    O anonimato dos dados individuais foi preservado. Quatorze entrevistadores foram responsáveis pela coleta de dados. Estes passaram por um treinamento rigoroso na aplicação e preenchimento do questionário. Cada entrevistador ficou responsável por entrevistar cerca de 20 alunos. As entrevistas foram realizadas individualmente, em local reservado. A aplicação do questionário demorava em média 20 minutos. Os dados foram coletados entre outubro de 2005 e abril de 2006. Todos os entrevistados assinaram um termo de consentimento e foram esclarecidos dos objetivos do estudo.

    Os acadêmicos responderam a seguinte pergunta: Se tu fosses prestar vestibular hoje, escolherias o curso de licenciatura ou bacharelado? Após a resposta, os entrevistados eram perguntados sobre os motivos pela escolha.

    As variáveis independentes incluídas nesta análise foram: sexo e ano do aluno no curso. Os dados foram digitados no programa Epi-Info e, posteriormente, transferidos para o pacote estatístico Stata. Uma análise de inconsistências foi realizada na busca de combinações improváveis ou impossíveis nas respostas do questionário.

    A análise dos dados incluiu procedimentos de estatística descritiva com cálculo de proporções, médias e desvios-padrão.


Resultados

    De um total de 263 alunos elegíveis, 221 foram entrevistados, totalizando 16% de perdas e recusas. A média de idade foi de 22,2 anos (DP 3,1). A Tabela 1 descreve a amostra segundo variáveis sociodemográficas. Entre os 221 entrevistados, 47,5% eram do sexo masculino.

    As Figuras 1 e 2 descrevem a opção de curso entre acadêmicos dos sexos masculino e feminino, respectivamente. Caso fosse prestar novamente o vestibular para Educação Física, a grande maioria dos homens (Figura 1) optaria pelo curso de bacharelado (72%). Entre as mulheres (Figura 2), houve maior equilíbrio entre as opções pelo bacharelado (47%) e licenciatura (43%).

    De acordo com o ano de curso, se observa uma tendência de aumento na preferência pela licenciatura e diminuição pelo curso de bacharelado conforme aumentou o ano de curso entre os homens. Entre as mulheres, o curso de licenciatura obteve maior preferência entre acadêmicas do primeiro (51,6%) e terceiro ano (52,4%). O curso de bacharelado representou 63,9% da opção entre acadêmicas do segundo ano. Cabe destacar o aumento para 14,3% de mulheres do terceiro e quarto ano que não souberam escolher entre os dois cursos.

    A Tabela 3 descreve os motivos relatados pelos acadêmicos que optariam pelo curso de licenciatura. Entre as respostas, mais da metade (60%) relataram o desejo em ser professor como o principal motivo pela escolha.

    A Tabela 4 traz a descrição dos motivos relatados pelos acadêmicos que optariam pelo curso de bacharelado. Entre as respostas mais citadas destacam-se a preferência pelo treinamento físico e esportivo (41,4%) e o fato de não gostar da escola (21,1%).


Discussão

    É comum durante a formação profissional em Educação Física fazer-se um questionamento sobre a identidade do curso, ou seja, existe um grande campo de trabalho, reflexo da abrangência da mesma, porém há uma inquietude geral sobre a falta de uma estrutura curricular melhor organizada. Neste sentido, diversas críticas podem ser notadas no que se refere à situação da área, se é que podemos assim denominá-la, como uma área do conhecimento. Zeigler (1982) apud Chiviacowski (1995) pronuncia-se chamando a área de: inadequada, mal-entendida, confusa, sobrecarregada de trabalho, dividida, injuriada, perseverante, entre outros termos.

    Esta falta de identidade é conseqüência da falta de objetividade da Educação Física onde, na falta de um foco central, busca através do generalismo, intervir através de programas de atividades para alcançar valores sociais.

    Um dos contribuintes que agravam mais a situação é a estagnação que se encontrava até então, em relação a estrutura curricular dos cursos de formação, que no desejo de atender ao generalismo acabava, por conseqüência, denegrindo a imagem do próprio curso e, mesmo sendo generalista, era concebida como uma matéria puramente escolar, centralizada no processo de ensino-aprendizagem de atividades.

    As recentes modificações curriculares, advindas inclusive das novas demandas do mercado de trabalho e regulamentação da profissão de Educação Física, obrigam os acadêmicos da área a escolherem entre mais de uma opção de curso, e por conseqüência, seu campo de atuação profissional. Àqueles que optarem pela licenciatura, o campo escolar será a possibilidade de trabalho, enquanto que para os acadêmicos do bacharelado, todo o mercado extra-escola poderá ser explorado. Devido ao pouco tempo para as recentes mudanças, se percebe ainda algumas dúvidas entre quem presta o vestibular e entre aqueles que ainda estão no currículo generalista.

    Bara Filho et al (2001) estudaram a área de interesse dos acadêmicos de Educação Física da Universidade Federal de Juiz de Fora. Entre seus achados, e que corroboram os resultados apresentados no presente estudo, destaca-se o maior interesse pela área "não-escolar" (69,5%). Além disso, entre os motivos apresentados para justificar o ingresso no curso de Educação Física, os mais citados foram a realização profissional, gosto pela atividade física e esporte e a experiência como atleta. Além disso, apenas 2,3% dos acadêmicos relatou a influência positiva das aulas de Educação Física na escola como fator importante na opção profissional.

    Luguetti et al (2005) avaliaram a opção de curso entre acadêmicos do primeiro e último ano de curso em 2003 e 2004. Como já citado anteriormente em outros estudos, o curso de bacharelado representa a maior parte da preferência dos acadêmicos, tanto entre os homens (51,9%) como entre as mulheres (61,6%). Além disso, o curso de bacharelado em esportes é citado como sendo a segunda opção (34,2%). A licenciatura entre as mulheres (20,0%) foi a opção seguinte.

    As preferências pela licenciatura têm se mostrado muito baixas. Tal descaso com a Educação Física escolar parece ser fruto da aparente falta de valorização do professor e da disciplina como um todo. Segundo GO TANI (1991), "na Educação Física escolar existe uma indefinição constante sobre o real papel desta e o conteúdo por ela desenvolvido e embora ela exista como ensino qual seria a área de conhecimento correspondente e qual seria o seu conteúdo?"

    Em contrapartida, o mercado de trabalho para o professor de Educação Física na escola ainda parece ser o mais estável. Acaba sendo esta, mesmo com o pouco interesse, a opção de trabalho de muitos profissionais, pois o mercado extra-escolar, apesar de amplo e diversificado em possibilidades, tem se mostrado extremamente competitivo. Em conseqüência da diversidade de campos de atuação, os cursos de graduação acabam se comparti mentalizando em pequenas subáreas onde o esporte de rendimento é restrito a poucos profissionais, sendo estes "aprovados" no mercado pelo resultado que objetivaram durante sua carreira, ou seja, somente ingressa nesta área aquele profissional que já tinha um certo vínculo com o esporte durante seu curso de graduação. De outro lado, temos a área da atividade física e qualidade de vida que é o grande mercado do momento, onde a grande maioria dos estudantes de educação física pretende ingressar nesta área, que fala a linguagem da segurança, das companhias de seguro e das políticas publicas e privadas de saúde. Porém, nem sempre falando a mesma linguagem, nas academias presenciam-se os modeladores de corpos, onde em alguns momentos o bem-estar é deixado de lado em busca de um corpo esteticamente bonito.

    Portanto, a Educação Física tem se caracterizado por um amplo e atrativo campo de trabalho. O esporte ainda parece ser o grande incentivador para a opção profissional de muitos jovens. Por outro lado, o treinamento físico e a atividade física voltada para a saúde têm sido alvos de muito interesse atualmente. Contudo, a carreira escolar ainda parece ser a opção de trabalho mais estável de emprego. Em meio a tudo isso, muitos jovens estão às portas do mercado de trabalho e, outros tantos em situação mais difícil, são obrigados a escolher já no vestibular sua opção acadêmica e profissional.


Referências bibliográficas

  • BARA FILHO, M. G., et al. A formação do profissional de educação física: um estudo com acadêmicos da Faculdade de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Juiz de Fora. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 12., 2001, Caxambu. Sociedade, ciência e ética: desafios para a educação física/ciências do esporte. Anais. Caxambu: Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, 2001.

  • CHIVIACOWSKY. Caracterização acadêmica e profissional da Educação Física. In: MELO, V. A. & Randeantony, C. N. O Papel dos Militares no Desenvolvimento da Formação Profissional na Educação Física Brasileira.

  • LUGUETTI, C. N., et al. Perspectivas dos futuros profissionais da Faculdade de Educação Física de Santos-SP: novas tendências. Conexões, Campinas, v. 3, n. 1, p. 58-71, 2005.

  • TANI, G. Perspectivas para a Educação Física Escolar. IN: Revista Paulista de educação física, São Paulo, 5(1/2): 61-69, jan/dez. 1991.

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