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O desinteresse pela Educação Física no ensino médio

   
UNILASALLE/FEEVALE/RS
(Brasil)
 
 
Acad. Pedro Celso de Almeida  
Dra. Maria Teresa Cauduro
maite@feevale.br
 

 

 

 

 
Resumo
     O presente estudo é fruto de uma pesquisa que tem como tema central o desinteresse da Educação Física no ensino médio. A curiosidade deste tema surgiu a partir das vivências das aulas ministradas na prática de ensino supervisionado.Teve como objetivo o de conhecer os motivos que levam os alunos do ensino médio a se desinteressarem pelas aulas de Educação Física escolar. Para poder entender os sentidos e significados desta prática, recorre-se a literatura para fundamentar o ensino médio, as tendências na Educação Física e suas diferentes visões, a formação de professores e suas implicações, bem como a adolescência e suas transformações. A metodologia utilizada baseou-se no paradigma descritivo e interpretativo qualitativo com estudo de caso. Para isso, analisou-se o contexto escolar, coletaram-se as informações através de documentos oficiais, diário de campo e entrevistas. O critério de rigor e credibilidade se deu através da triangulação de fontes, da teórica, metodológica e reflexiva. Estas triangulações foram realizadas em três níveis de análise. Os resultados das análises interpretativas procedentes de uma grande categoria levantada e 4 subcategorias do problema investigado. Proporcionou algumas evidências significativas acerca do desinteresse dos alunos do ensino médio pelas aulas de Educação Física, como a metodologia utilizada pelo professor, a escola, o relacionamento entre professor e aluno e os conteúdos ministrados. Foi possível abrir algumas possibilidades para rever o papel da Educação Física escolares.
    Unitermos: Desinteresse. Educação Física. Ensino médio.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 106 - Marzo de 2007

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Introdução

    Durante os quatro anos e meio que freqüentei o Curso de Educação Física do Centro Universitário Lasalle, sempre questionei o verdadeiro papel da Educação Física escolar, principalmente, a sua relação no processo ensino aprendizagem. Percebi, durante o Curso, a importância das atividades físicas educativas, não apenas sobre o desenvolvimento do corpo, mas, sobretudo sobre o desenvolvimento integral do aluno, devendo ser assumida pela escola, como condição de sua competência na formação do aluno.

    Nos últimos anos, tem-se observado que o número de alunos que se desobrigam da freqüência às aulas de Educação Física, através do pedido de dispensa, tem aumentado, caracterizando assim, um visível desinteresse pela disciplina. Atualmente se pode assegurar que o número de reais participantes, em relação ao número de alunos matriculados, é bastante pequeno para um componente curricular que se diz obrigatório por lei.

    Acredita-se que existem outras evidências, para além dos dispositivos legais, que fazem com que ocorra um esvaziamento das aulas de Educação Física.

    Sou formando, estagiário em uma Escola Estadual de Ensino Médio e durante as práticas, observo que, de uma forma geral, os alunos são desinteressados e não valorizam as aulas como deveriam.

    Neste sentido, o declínio da Educação Física escolar, reflete uma tendência global, apontada por Medina (1989), quando diz que a maioria dos professores não se encontra preparados para trabalhar com esse nível de ensino, tendo em decorrência, um baixo prestígio desta disciplina. Esse fato apresentado tem colaborado para que a educação física escolar não seja um componente curricular tão importante quanto os outros.

    Por outro lado, considero que esta fase relacionada ao ensino médio, é extremamente importante na formação da personalidade do aluno, através da definição de valores. Esta é a razão pela qual fundamento a preocupação em investigar o porquê de tantos alunos se desinteressarem pelas aulas de Educação Física.

    Cabe salientar ainda, que tais acontecimentos permitem que muitos alunos substituam as aulas de Educação Física pela prática de esportes ou outras atividades, em academias, clubes, associações, etc., fazendo com que esta se torne desacreditada e desnecessária dentro do contexto escolar.

    Como se pode constatar, este tema representa um desafio em função de sua característica devendo ser amplamente debatido, questionado pela comunidade escolar.

    Sendo assim, quero colaborar para mudar este quadro que hora se apresenta, sabendo que o professor é o maior responsável em motivar a prática de atividade física, fazendo com que o aluno leve este hábito para a vida adulta, pois todo o cidadão passa pela escola. E o que se percebe é que já na adolescência, acabam desistindo.

    Breve, serei professor de Educação Física. Sou sabedor da responsabilidade que tenho para motivar a prática desta disciplina e quero mostrar a importância das aulas para os alunos.

    O estudo se propôs investigar os motivos que levam os alunos do ensino médio a se desinteressarem pelas aulas de Educação Física escolar, pois, de uma forma ou de outra os problemas dos desinteresses destes jovens, nas aulas de Educação Física, são uma realidade escolar que merece ser estudada. Justifica-se, pois, pela expectativa de desenvolvimento de uma Educação Física, que vise à melhoria da ação docente, para que avancem em direção as transformações da realidade social atual. O objetivo de estudo foi Identificar e analisar os motivos que levam os alunos do Ensino Médio da Escola Estadual de Ensino Médio Bento Gonçalves a se desinteressarem pelas aulas de Educação Física escolar.


Metodologia

    A metodologia utilizada baseou-se no paradigma descritivo e interpretativo qualitativo com estudo de caso. Para isso, analisou-se o contexto escolar, coletaram-se as informações através de documentos oficiais, diário de campo e entrevistas.

    Optei por uma pesquisa de corte qualitativo, que busca compreender os fenômenos nas suas origens, nas suas especificidades e na perspectiva dos atores observados.

Pesquisa qualitativa é aquela que procura explorar a fundo conceitos, atitudes, comportamentos, opiniões e atributos do universo pesquisado, avaliando aspectos emocionais e intencionais, implícitos nas opiniões dos sujeitos da pesquisa, utilizando entrevistas individuais, técnicas de discussão em grupo, observações e estudo documental. É fundamentalmente subjetiva (CAUDURO, 2004, p. 20).

    Fizeram parte deste estudo, os alunos que se dispuseram voluntariamente a conceder entrevista, juntamente com um professor. O critério de seleção foi feito da seguinte maneira.

    Solicitei uma autorização na supervisão da Escola, para intervir junto às aulas e entrar em contato com os alunos. Foi feito um levantamento com 7 turmas (do nº 101 a 107), no total de 298 alunos. Logo, foram separados aqueles alunos que não participavam das aulas de Educação Física, num total de 67 alunos.

    Critério utilizado: por que foram dispensados?

  • Trabalham - 25 alunos;

  • Motivo de Saúde - 10 alunos;

  • Fazem curso - 13 alunos;

  • Cuida do irmão - 4 alunos.

  • Mora longe - 1 aluno;

  • Dispensado para jogar - 1 aluno.

  • Não gostam de Educação Física - 13 Alunos:

    Foram selecionados a fazer parte da pesquisa, somente os alunos que não gostam de Educação Física, num total de 13 alunos, entre os quais, 8 se dispuseram a participar da pesquisa.


Análise e Interpretação dos dados

    Após a análise do material coletado chegou-se a uma categoria e quatro subcategorias assim representadas.


Metodologia do professor

    Começo por este tema por acreditar que seja de suma importância na relação do aluno com o seu desinteresse durante as aulas de Educação Física.

    Nas entrevistas realizadas com os oito alunos, quando questionados sobre, como o professor deve trabalhar nas aulas de Educação Física, as opiniões variaram de aluno para aluno, mas o ressaltado é que o importante seja que o professor ensine e não simplesmente cobre o que não ensinou.

    Os alunos querem também um professor que seja respeitador quanto ao limite de cada um, e que entenda o que o aluno gosta de fazer como se observa nas entrevistas realizadas a seguir:

Ai, acho que ele tem que ensinar, e assim, ele não pode cobrar o que não, ele não ensina né, eu acho que é isso ensinar e depois cobrar né (EA2).
Ensinar a jogar, fazer treinos, né (EA5).
Eu acho que ele deve pelo menos respeitar o que cada um qué, né faze, e eu acho que "pô" se a pessoa tem problema, ele coloca a pessoa em outra coisa que a pessoa possa fazer, que a pessoa goste (EA8).
Eu acho que ele tem que respeitar assim muito a pessoa, a pessoa assim, tem pessoas que tem mais, como é que eu posso dizer, não agüentam mais assim, às vezes eles não entendem sabe, porque eles pensam que todo mundo é igual, daí, ele manda fazer uma coisa que as pessoas não conseguem. Daí (EA3)
.

    Muitas atitudes dos alunos, em relação aos métodos adotados para se trabalhar durante a aula, refletem a atuação do professor. Em suas falas é visível certa passividade em suas atitudes, suas tarefas parecem ser, basicamente, ouvir o professor e fazer o que ele determina, porém visualizam-se alguns sinais de "desencantamento" provocado pelo conhecimento da situação em que se encontra a Educação Física.

    Segue o depoimento de um aluno, após a realização de uma entrevista, já com o gravador desligado:

Não gosto das aulas de Educação Física. Na verdade, não concordo como são dadas essas aulas, onde o aluno é forçado a realizar apoios que, passam do seu limite. O aluno aponta para o ombro e cita um dia em que foi obrigado a fazer uma quantidade a mais de exercícios e ficou todo dolorido durante vários dias (D.C. 31/05/05).

    Na revisão de literatura, mais precisamente na segunda tendência da educação física (militarista), buscou-se um entendimento para o que ainda hoje presenciamos em nossas escolas.

    Neste período, não se resumia apenas a prática militar de preparo físico, mais que isso, visava impor a sociedade padrões de comportamento estereotipado, fruto da conduta disciplinar própria do regime de caserna.

    A escola preparava o aluno nos moldes militaristas, onde a marcha fazia parte das práticas obrigatórias da Educação Física. Quem ministrava as aulas eram os instrutores ao exército. Mais tarde denominados professores, tendo sua formação nas escolas militaristas.

    Castellani Filho (1998) relata que, no que se refere à metodologia de ensino, embora tenha sido revogada a obrigatoriedade do método francês na rede escolar, a Educação Física permaneceu impregnada dos procedimentos militares autoritários, caracterizando o "fazer pelo fazer".

    A concepção tecnicista da educação, predominante na época, que se encarregou dos pacotes prontos para as escolas, foi também responsável por esse processo que despersonalizou o ato educativo, desobrigando o professor a pensar, criar e planejar o seu trabalho. Somente após os anos 80, com o enfraquecimento do sistema militar, é que se começou a rediscutir o papel de Educação Física na sociedade brasileira, bem como, questões ligadas à prática efetiva nas aulas de Educação Física.

    Portanto, o que se percebe é a permanência do método militarista, que ainda hoje continua forte junto na Educação Física atual. Mas não só este método como podemos observar:

A Educação Física, pra mim Educação Física é o esporte é o incentivo é competição é tudo. O que a Educação Física precisava, é renovando ídolos. No atletismo Joaquim Cruz, né, então, a gente precisa de ídolos, e pra ter ídolos pra incentivar o pessoal a praticar precisa ter alguém, algum órgão que proporcione isso aí (Professor Leão).

    Na concepção competitivista, segundo Ghiraldelli Junior (1988, p. 20), se confirma o que ainda hoje está impregnado na mentalidade dos nossos educadores.

Como a Educação Física militarista, a Educação Física Competitivista também está a serviço de uma hierarquização e elitização social. Seu objetivo fundamental é a caracterização da competição e da superação individual como valores fundamentais e desejados para uma sociedade moderna. A Educação Física Competitivista volta-se, então, para o culto do atleta-herói; aquele que a despeito de todas as dificuldades chegou ao podium.
Aqui a Educação Física fica reduzida ao "desporto de alto nível". A prática desportiva deve ser "massificada", para daí poder brotar os expoentes capazes de brindar o país com medalhas olímpicas. No âmbito da Educação Física Competitivista, a ginástica, o treinamento, os jogos recreativos etc. ficam submetidos ao desporto de elite. Desenvolve-se assim o Treinamento Desportivo baseado nos avançados estudos da Fisiologia do Esforço e da Biomecânica, capazes de melhorar a técnica desportiva. A Educação Física é sinônimo de desporto, e este, sinônimo de verificação de performance.
Analisando a visão filosófica, no Projeto Político Pedagógico da Escola, constatei o seguinte: "O processo pedagógico prioriza as situações de aprendizagem pelo desenvolvimento progressivo e contextualizado dos sujeitos envolvidos no processo ensino aprendizagem"
(Doc. 1).

    Por outro lado, o Projeto Político Pedagógico no mesmo (Doc. 1) mostra que:

A prática escolar está centrada na realidade do aluno, sendo o professor o agente mediador e desafiador da aprendizagem. Assim sendo, queremos que o aluno desenvolva sua capacidade crítica, embasada numa visão ética - cidadã, exercendo a liberdade com responsabilidade, tornando-se apto a enfrentar os problemas do contexto social.

    Neste caso, as evidências que são mostradas, refletem que não vêm sendo seguidas as situações colocadas pelo Projeto Político Pedagógico da Escola.

    Conforme está escrito, o processo pedagógico prioriza as situações de aprendizagens pelo desenvolvimento progressivo. Durante as falas dos alunos, ficou constatado de que não há esse desenvolvimento, principalmente, quando a questão é o método de trabalho utilizado pelo professor, onde os próprios alunos relatam em suas entrevistas, já mencionadas no início deste tema, o seu descontentamento em relação a esse aspecto.

    Nota-se também, descontentamento por parte de alguns alunos, em relação à separação que há dentro das modalidades, na qual os considerados bons participam mais, enquanto que os menos habilidosos ficam olhando os outros jogarem.

[...] Depende, tem um grupo que joga vôlei, daí, senão só fica jogando aquele joguinho, esperando numa rodinha e são poucos, só os que sabem jogar mesmo vôlei, eu acho que eles têm que ensinar todo mundo a jogar, não separar uns dos outros (Ea2) .
[...] Pude perceber nesta aula que só os melhores jogam, enquanto os outros ficam olhando, sentados no chão e conversando sobre outras coisas e completamente desligados das atividades, com um visível desinteresse (D.C. 26/04/05).

    No Projeto Político Pedagógico da Escola, constatei o seguinte:

Ambiente escolar será um espaço que permita a educandos e educadores, estabelecer relações de respeito mútuo, cooperação, solidariedade, compreensão, diálogo, fraternidade, integração e oportunidade para expressão de idéias, sentimentos e valores, para a prática do amor universal, em igualdade de condições (Doc. 1).

    Portanto, qualquer tipo de divisão ou separação que vier a acontecer no ambiente desta Escola, irá ferir a visão filosófica do Projeto Político Pedagógico.

    Na revisão de literatura, reforço o que foi exposto até agora, fazendo uma reflexão sobre o que já acontecia no período referente à segunda tendência da Educação Física (militarista), onde o papel da Educação Física era o de colaboração no processo de seleção natural, eliminando os fracos e premiando os fortes.

    Na concepção competitivista, a Educação Física é reduzida ao desporto de alto nível, competição. Portanto, percebe-se que há dicotomia entre a ação do professor e o Projeto Político Pedagógico, seria necessária uma reflexão e uma aproximação filosófica.

    Existem também, aqueles alunos que queriam que o professor utilizasse métodos diferentes em suas aulas, não simplesmente a mesma coisa. O fato de largar a bola, não os agrada.

    Sobre este assunto, seguem alguns depoimentos:

Assim antes os professores, eles pegavam e entregavam a bola e falavam, agora faz o que tu quiser, isso eu achava chato né, bom, que que a gente vai fazer né, ai a gente ficava parado, a gente não tinha o que fazer né, ai, a gente ficava parado assim, eles não falavam nada, saiam, iam conversar, lanchar, mais assim, nunca assim, nunca atividades assim nunca deram, assim sabe pra, agora eles tão dando, mas antes não. Sempre a mesma coisa, futibol, vôlei, acho que tem que ter alguma coisa diferente também, né (Ea4) .

    Seguem fragmentos sobre o depoimento de uma aluna que tão logo terminou a entrevista, ao se dirigir até a porta falou:

Alguma coisa é deixado de lado, e isto acaba desmotivando o aluno, pois ao voltar só para a aula de Educação Física, teria que valer a pena e não só ficar lá fazendo umas coisinhas de sempre (D.C. 30.05.05).

    Relendo a revisão de literatura, percebi uma colocação interessante de Luckesi (2005), sobre a realidade do Ensino Médio. Diz o autor que o conhecimento, em primeiro lugar e antes de tudo, é uma forma teórica-prática de compreensão do mundo. Segue o autor, dizendo que isso nos permite avaliar a prática escolar que está muito mais preocupada com a repetição de conhecimentos já envelhecidos do que em orientar e estimular a criatividade construtiva dos educadores.

    Esta colocação referente às idéias de Luckesi sobre a realidade do Ensino Médio pode ser observada através da opinião relatada a seguir:

[...] Eu só acho que tem que melhorar alguma coisa, né, agora assim tu vai na 5º, não tem atividades, eles não tem, porque, quando eu tava na 4º e 5º, é como eu ti falei né, eles dão a bola, um bambolê, ti vira, eu acho que isso tinha que melhorar um pouco. Dar mais atividades né (Ea4) .

    No meu diário encontrei a seguinte observação:

[...] A prática da turma restringia-se em executar o toque no futsal, sem qualquer interferência do professor que passava a ter apenas a função de controlador dos alunos para que estes primeiramente não perturbassem a organização estrutural é funcional do espaço utilizado. Percebi, nesta aula, que alguns alunos ficavam sentados, conversando. Essa auto-exclusão do aluno pode estar relacionada à sua desmotivação em aprender determinado esporte, ou, até mesmo, pelas próprias dificuldades motoras. O "não participar por não gostar", pode ser também resultado de frustrações vividas pelo aluno, em uma tentativa de êxito mal sucedido durante a execução de determinada atividade, em que o professor não estava presente, fica caracterizado, neste caso, o motivo pelo desinteresse do aluno nas aulas de Educação Física (D.C. 09.05.05).

    Portanto o aluno quando solicita uma melhora, com aplicação de mais atividades, percebe-se que está de um modo geral, fazendo a sua parte no processo de efetivação de uma Educação Física mais qualificada.

    No diário de campo foi registrado que não há um maior comprometimento do professor em relação do aluno. Enquanto que no Projeto Político Pedagógico da escola, nos informa de que o professor deve ser o agente mediador e desafiador da aprendizagem, para que o aluno desenvolva sua capacidade crítica. Acontece que o professor muitas vezes não está presente, e quando está simplesmente exerce a função de controlador dos alunos, para que os mesmos não perturbem.

    Cabe salientar, que os procedimentos didáticos pedagógicos do professor, também influenciam sobre a qualidade das aulas e, conseqüentemente, sobre a motivação do aluno. O professor que leva a sério o que faz que alie à sua competência técnica ao compromisso de ensinar, que desperta a criatividade e conduz os alunos à reflexão, certamente não terá alunos desinteressados ou desanimados, mesmo porque, o professor leva grande vantagem sobre os demais componentes curriculares, pois a Educação Física, por si só é uma prática motivadora.


Conteúdos ministrados

    Os conteúdos são instrumentos importantes na Educação Física, e sua utilização servem para que o professor chegue aos objetivos desejados, através de variações como forma de planejamento das aulas.

    Para alguns alunos é importante que os conteúdos não sejam pautados apenas nos jogos, como seguem os depoimentos.

[...] Sempre a mesma coisa, futibol vôlei, sempre a mesma coisa [...] (Ea4).
[...] As aulas também, bastante conteúdos uma coisa que eu acho legal de fazer é o step. É porque mexe com dança, é uma coisa que eu gosto. Gosto de dançar, é uma coisa que eu gosto. Gosto de academia, só que daí não tem na escola, né, mas é um tipo de exercício que eu gosto [...] (Ea3).
[...] Como o professor havia me dito que direcionava os alunos para os jogos, tudo ficou esclarecido
(D.C. 30/05/05).

    Nos planos de aula:

Analisando os objetivos da disciplina, em relação aos conteúdos, observei que as aulas são pautadas em "esportes, ginástica e condicionamento físico" (Doc. 2).

    No Projeto Político Pedagógico:

O Projeto Político Pedagógico da escola, tem como princípios norteadores, a formação do sujeito pleno, desenvolvendo todas as suas dimensões, mudando o foco central de [...]"ensinar conteúdos" para, através destes conteúdos desenvolver habilidades que tornem a pessoa competente [...] (Doc. 1).

    Observa-se que não há coerência entre a prática ministrada e o plano do professor com o que norteia as diretrizes do Projeto Político Pedagógico da Escola.

    Segundo o Coletivo de Autores (1992) um dos motivos para não estar ocorrendo o desencadeamento de mudanças, pode ser o fato de os próprios educadores se oporem as novas dinâmicas, parecendo que a forma tradicional e tecnicista ainda é o jeito "mais fácil" de ensinar.

    Segue o depoimento do professor em relação ao conteúdo utilizado:

[...] eu gosto de trabalhar o esporte coletivo, eu gosto de trabalhar mais o futsal, handebol, o vôlei, o basquete eu não trabalho por que não tem recurso pra basquete a que na nossa escola, mas eu trabalho alguma coisa de atletismo que eu gosto, corrida atletismo, tem uma equipe de step, também, que com dança com coreografia, com expressão corporal, é interessante. A gente trabalha os fundamentos básicos, todas as modalidades, caso vôlei, futsal, handebol, mas existe uma seqüência que a gente combina com os outros professores, na, como a escola pública não tem material, por exemplo, pra ter três aulas de Handebol ao mesmo tempo, se um professor começa com uma turma com handebol, naquele mesmo horário outro tem que começar com a turma de futsal, e o outro vôlei, por causa do material, e ai vai seguindo e a gente troca, inverte para então, tem que adaptar, mas agente procura passar o básico de cada um assim, a partir da 5º série, 6º, 7º, 8º eles tem que passar pelo máximo de experiência possível em todas as modalidades, para eles saberem o que, que eles gostam mais (EP) .

    Portanto, faz-se necessária a revisão dos objetivos, do professor com a filosofia da escola a fim de que contribuam como elementos norteadores no desenvolvimento das aulas, tornando-as mais atraentes para os alunos.

    Partindo deste pressuposto, é oportuno aqui colocar que, em relação aos conteúdos, desde o ensino fundamental vem-se aprendendo a prática dos esportes, e no ensino médio, tenho a impressão que esses conteúdos já não são tão interessantes para o aluno, levando-o ao desinteresse pelas aulas.


Relacionamento professor-aluno

    Um fator importante para o aluno que estuda no Ensino Médio, é o relacionamento, e sua aceitação junto ao grupo. Este aluno passa por mudanças físicas e psicológicas, sentindo necessidade de estar inserido e aceito no meio em que vive.

    Durante a aula de Educação Física, este aluno tem a oportunidade de trabalhar, através dos esportes e atividades propostas, as suas potencialidades, podendo, com isso, ser aceito. Contudo, para que isso possa acontecer é importante o relacionamento entre o professor e o aluno, o que podemos perceber no depoimento dos mesmos:

[...] Exigente, amigo [...] (Ea1).
[...] Deve ser legal, camarada [...] (Ea6).
[...] Tem que ser comunicativo, principalmente [...] (Ea7).
[...] Tem que ser legal com os alunos [...] (Ea5).
[...] Ser amigo, ser exigente na hora certa, conversar, para poder cobrar [...] (Ea2).
[...] Eu acho que ele tem que respeitar, assim, muito a pessoa. Observar as diferenças. Deve ser amigo do aluno, respeitar as diferenças Ea3)
.

    Quanto ao relacionamento com os alunos o professor entrevistado tem a seguinte visão:

Eu me vejo como um incentivador, né, os alunos não só prática, como a competir, então eu to sempre botando eles na competição, jogando preparando a equipe, não porque a vida depois vai ser uma competição, eles vão competir no mercado de trabalho, né, eles vão competir na vida, né, então eles, eu ensino eles a competir e na competição existem as regras, né, todas as competições têm suas regras seus regulamentos, tem regra de jogo, e aí eles aprendem que, também competindo tu tem regras a respeitar, tu pode ser expulso, tu pode levar um cartão amarelo uma advertência, e na vida da gente no mercado de trabalho ta trabalhando numa empresa é a mesma coisa, tu ta competindo com outras pessoas, tu ta produzindo, tentando produzir agregar um cargo melhor no local de trabalho e ao mesmo tempo tu pode tomar uma punição uma advertência, tu pode fugir das regras (EP) .

    As diretrizes apontam:

No projeto político da escola, estabelece que deve existir um relacionamento participativo, democrático e responsável através da descentralização da autonomia e participação efetiva. A escola para os alunos deve ser inclusiva e solidária (Doc. 1).

    Para os PCNs (Brasil,1999) o professor deve cumprir o seu papel de mediador, adotando a postura de interlocutor de mensagens e informações; sendo flexível no tocante as mudanças do planejamento e do programa de curso; mostrando aos alunos que aquele é um espaço de aprendizagem e procurando entender e aceitar as relações corporais existentes no mundo humano para o bom desempenho do seu papel de educador.

    Com relação a outros tipos de relacionamentos, houve os seguintes depoimentos:

[...] Eu não me dou bem com todo mundo, ai eu não venho [...] (Ea2).
[...] Não tenho muito entrosamento com os amigos [...] (Ea6).
[...] As aulas de Educação Física são legais, até que eu gosto de vim, só que eu não venho quase, por causa que, as minhas amigas assim, não vem, entendeu, aí as gurias eu não me dou bem com elas, aí eu não venho, pra não me aborrecer. Eu fiquei meio fora assim, e as gurias até assim não me tratam bem [...] (Ea7)
.

    O relacionamento e o companheirismo entre os alunos são importantes nesta fase da formação pessoal, e a aula de Educação Física é um bom momento para que isso ocorra.

    Porém não é o que se observa, nos depoimentos acima, no qual a maioria dos alunos tem certa dificuldade no relacionamento, como aponta também a literatura, na autora Zagury (2002), dizendo que no relacionamento do aluno, é comum períodos de serenidade sucederam-se a outros de extrema fragilidade emocional, com demonstrações freqüentes de instabilidade.

    Neira (2003)cita os Parâmetros Curriculares Nacionais, e nos faz entender o que esperar do aluno e seu relacionamento:

Espera-se que no final do ciclo os alunos sejam capazes de participar de diferentes atividades corporais, procurando adotar uma atitude cooperativa e solidária, sem discriminar os colegas pelo desempenho ou por razões sociais, físicas, sexuais ou culturais. (NEIRA, 2003 p.42)

    Analisando o processo pedagógico da Escola, verifiquei que:

A escola pretende estabelecer relações interpessoais que oportunizem a construção do conhecimento intelectual contextualizado e a formação integral de indivíduos conscientes, responsáveis e preparados conscientes, responsáveis e preparados para enfrentar a realidade e transformá-la (Doc. 1).

    Neste contexto, percebe-se que a escola está comprometida com o aluno, inclusive no que diz respeito ao seu relacionamento no contexto escolar. Sabemos da importância do relacionamento entre os alunos, como também, entre o professor e o aluno, para que assim, possa haver uma aprendizagem perfeita, conforme é a intenção da escola.


Desinteresse

    No mesmo dia da aceitação da realização da pesquisa, em conversa informal com a diretora, comecei a mapear algumas questões como a forma de organização e funcionamento da escola hoje.

    Nesta conversa, e mais tarde com a leitura do Projeto Político Pedagógico da escola, pude constatar que alguns aspectos têm ampliado o desinteresse dos alunos. A obrigatoriedade de o aluno comparecer as aulas de Educação Física em turno oposto, dificulta o aceso à outras atividades extracurriculares. Há também os problemas financeiros para quem depende de ônibus. Os depoimentos confirmam os exemplos acima.

Imagina é ruim, ter que vim de longe, mas aí é ruim ter que vim de tarde aqui pa fazer. Enquanto isso eu posso ta estudando, ai me desmotiva. É isso ai mesmo, eu acho que eu faria Educação Física se fosse de manhã mesmo, durante as aulas porque, não tem jeito pra vim, de tarde fica difícil (Ea8).
A, é que era no mesmo turno, não era em turno inverso. Antes era assim, por causa que tinha matemática e Educação Física, com Educação Física sempre no final das aulas e agora não, é no turno inverso. É mais cansativo, no final tu chega em casa e tem que voltar (Ea2).
Eu só perdi a vontade porque é di tardi, ai é ruim né. Porque é di manhã, também lá no outro colégio que eu estudava, lá não, lá as aulas de Educação Física ra de manhã, ai que era bom, é di tarde, di tarde fica ruim (Ea5).

    Analisando os depoimentos, em função do turno inverso, observa-se que este é um dos principais motivos dos alunos solicitarem a dispensa das aulas de Educação Física, através do atestado de trabalho. Porém, este desinteresse não é culpa do professor, ou melhor, não somente do professor.

    O jovem atual possui outras prioridades, e muitas ocupações, principalmente, na adolescência que é uma fase difícil da vida. E é na adolescência que ele tem a obrigação de decidir seu futuro. A sociedade é muitas vezes cruel neste sentido, a própria situação econômica dos pais e do mundo influi nestas decisões.

Por alguns minutos fiquei pensando e logo percebi que o fato da Educação Física ser em horário diferenciado das demais disciplinas, a torna desinteressante e excludente, pois realmente nesta fase da vida, os alunos já estão preocupados com o futuro e não titubeiam em eleger outras atividades que consideram mais relevantes e realmente abandonam as aulas de Educação Física (D.C. 02/06/05).

    Na evidência de uma situação sócio-econômica desfavorável, o aluno é forçado a participar nas forças de trabalho, tendo que se afastar das aulas de Educação Física, quando a mesma é ministrada em turnos opostos aos das outras disciplinas. Ao analisar o Projeto Político Pedagógico da Escola, reforço o que foi exposto até o momento.

A escola está inserida num bairro com grande número de habitantes na sua maioria de baixa renda e poucas perspectivas de ingresso no mercado de trabalho. No momento a proposta é a busca do reconhecimento e do resgate da dignidade humana, a promoção de seus direitos fundamentais, defendendo a justiça e os menos favorecidos (Doc. 1).

    Destaca-se, que a escola ao elaborar a proposta curricular, considere o contexto escolar colocado no Projeto Político Pedagógico, inclusive pensar os alunos que dependem de transporte escolar. Que a carga horária da base curricular possa ser ministrada em um único turno, principalmente, a Educação Física. Isto porque a ausência desta disciplina acarreta lacuna na formação do educando, pois este perde uma excelente oportunidade de desenvolvimento nos aspectos físico e mental.

    No que se refere à Escola pesquisada, conforme depoimentos de alguns alunos, percebi que a Educação Física, ao contrário de outras disciplinas que compõem o currículo do ensino médio hoje, necessita ainda conquistar o seu espaço no campo legal que legitima sua inclusão obrigatória na grade curricular.

    Os depoimentos permitem-me identificar que, neste contexto investigado, possa dizer que a Educação Física tem um espaço legal, mas que não é legitimado, pois não conseguiu ainda esse espaço na prática escolar. Os próprios atores não possuem clareza do significado, do objetivo e da importância da Educação Física como as demais disciplinas, tornando assim substituível ou dispensável, como nos mostram os depoimentos a seguir:

[...] eu não vinha na Educação Física porque eu não queria vim, eu não gosto. No ano passado eu já não gostava muito de vim, até vinha às vezes, algumas aulas, nos exercícios no dia mesmo. Eu não gosto. Vai de quem quer vim (Ea1).
[...] Nunca fui muito chegada a Educação Física, porque é uma coisa muito da pessoa, a pessoa gosta, a pessoa quer fazer ela faz, porque se é uma coisa obrigada, daí fica incomodado, não fica muito bem, ser obrigado a fazer uma coisa que não gosta (Ea3).
[...] Sei lá, eu acho que a escolha é de cada um né, cada um gosta de um jeito [...] (Ea8)
.

    Observa-se uma rotina freqüente, onde os alunos são vitimas da cultura da improvisação, do espontaneísmo, do fatalismo e da fragmentação da ação. Para compreender esta cultura do não planejamento na escola, Neto (1996) diz que os professores com mais experiências de escola, com o tempo de prática que possuem, não sentem mais a necessidade de planejar, escrever, porque as coisas se repetem e isso ficou confirmado nos relatos de alguns alunos.

[...] Só fica jogando aquele joguinho, esperando numa rodinha, ele tem que ensinar todo mundo [...] (Ea2).
[...] Acho que realmente dar atividades né porque sempre a mesma coisa, futibol, vôlei, sempre a mesma coisa, eu acho que tem que ter alguma coisa diferente, também né. Os professores, eles pegavam e entregavam a bola e falavam, agora faz o que tu quizer. A gente ficava parado, a gente não tinha o que fazer. Acho que tem que melhorar alguma coisa, eles dão a bola, um bambolê, ti vira, eu acho que tem que melhorar um pouco (Ae4).
[...] ensinar a fazer treinos né, assim, tem que ensinar bem também né (Ae5).
Percebi, nesta aula, que alguns alunos ficavam sentados, conversando. Essa auto exclusão do aluno pode estar relacionada à sua desmotivação em aprender determinado esporte, ou, até mesmo pelas próprias dificuldades motoras. A prática da turma restringia-se em executar o toque no futsal, sem qualquer interferência do professor
(D.C. 09/05/05).

    No Projeto Político Pedagógico da Escola, quanto ao procedimento técnico metodológico e práticas, consta que:

Cada professor de nossa escola realiza anualmente à luz do Projeto Político Pedagógico o planejamento referente a disciplina que ministra. Assim também os diferentes setores da escola, tendo como norteador o Projeto Político Pedagógico, elabora o seu planejamento anual das atividades a serem incluídas no plano global (Doc. 1).

    Portanto, o planejamento consta no Projeto Político Pedagógico da Escola, só que, segundo depoimentos dos alunos, há evidencias de que os mesmos não são devidamente seguidos pelos professores.

    Cabe salientar, que os procedimentos didático-pedagógicos do professor, também influenciam sobre a qualidade das aulas e, conseqüentemente, sobre a motivação dos alunos.

    O professor que leva a sério o que faz que alia à sua competência técnica o compromisso de ensinar, que parte da experiência dos alunos, que permite o diálogo, que desperta a criatividade e conduz os alunos a reflexão, certamente não terá alunos desinteressados ou desanimados; mesmo porque, o professor leva grande vantagem sobre os demais componentes curriculares, pois a Educação Física, por si só é uma prática motivadora.

    O desinteresse mostrado nas falas, na visão dos alunos é:

[...] A, é eu, gosto de ficar em casa, fazendo nada, eu não gosto de Educação Física, é que, é muita gente sabe e eu não gosto disso. É por causa do meu signo, eu sou tímida mesmo [...] (Ae1).
[...] eu só acho que tem que ser justo com todo mundo, isto desmotiva muito o aluno [...] (Ae2).
[...] eu não faço Educação Física porque não tenho tempo, minha mãe trabalha fora, eu fico cuidando da casa (Ea3).
[...] Vim umas três vezes na aula, a professora não veio três vezes, ai eu desisti [...] (Ea4)
.

    Na visão do professor:

Acho que o desmotivo dos alunos é muito assim ó, a alguma coisa vem de casa né, a situação deles, a, né, a criação não tem incentivo dos pais, os pais já não praticam, tem casos é, pais fumantes, pais que às vezes uma cervejinha a mais na podada do fim de semana, né, e não tem o hábito de praticar esportes com roda de amigos e os próprios filhos já não tem o estímulo, depois vem estímulo na, depois vem o estimulo do, da própria escola que não proporciona o espaço físico, tem escolas que não tem ginásio pra eles praticar, a aula tem que ser improvisada em pracinha, às vezes não tem o material, ai tu que fazer aula de futebol chega os alunos na hora, a bola ali furada, rasgada, não tem como motivar os alunos, então a maioria do desmotivo dos alunos, não por culpa deles, é por culpa de todo um contexto que envolve eles que vem desde casa, até dentro da própria escola, os recursos materiais, os recursos que a escola proporciona, que o governo que mantém a escola proporciona que acaba desmotivando a participação deles (EP) .

    No compromisso de anunciar evidências encontradas, partindo das falas dos alunos, vejo que os mesmos, por vezes, não só analisam criticamente determinada situação, a forma de trabalho ou dificuldades do professor, como também apontam para uma nova forma, uma outra possibilidade. Nos seus relatos, revelam um pouco das suas expectativas e desejos em relação a esta disciplina.

    Percebi aqui, não apenas denúncia do aluno ou sua falta de vontade, como pode parecer num primeiro momento. Observei nesses depoimentos situações limite, ou se refaz a prática docente ou este aluno se desinteressará por completo pelo estudo desta disciplina. O desânimo dele já é uma forma de resistência a "chatice" das aulas.

    Para que esses depoimentos sirvam como ponto de partida para tornar a Educação Física inclusiva faz-se necessária uma gestão escolar e uma postura profissional que dê espaço para o diálogo, que os educadores saibam interpretar e refletir sobre o cotidiano escolar, compreender o que a prática pedagógica tem a dizer.


Considerações finais

    Ao finalizar a trajetória acadêmica, realizei este estudo com o objetivo de concluir o curso de graduação, cumprindo a última etapa do percurso.

    Os resultados deste estudo que partiu da minha prática de ensino supervisionado demonstram que a realidade encontrada na escola em relação à Educação Física no ensino médio, não é muito animadora. Encontrei, através das respostas dos alunos entrevistados, dados importantes para que se possa modificar essa realidade.

    Constatei, através dos momentos de reflexão, que o aluno do Ensino Médio é crítico contestador e busca uma educação com qualidade. Tem interesse em que haja uma educação melhor, diferenciada e com acompanhamento de um professor qualificado e motivado.

    Para chegar a algumas considerações, tive que reler cada capítulo deste trabalho, perguntando-me: "o que de novo trouxe?" "O que tem a contribuir as discussões em torno da Educação Física no ensino médio?".

    À primeira vista, a sensação que tive, é que poderia ter avançado mais em muitas reflexões, serem mais aprofundadas, pois tenho a certeza de que favoreceria a descoberta e a compreensão de elementos mais novos em relação a esta problemática. Percebi, de forma íntima, através dos depoimentos dos alunos, que estes não se conformam com o que estão vivenciando, pretendem mudanças em curto prazo, para que haja uma melhora significativa nesta disciplina.

    Mesmo com esse inconformismo e com essas contestações, poucas foram as alternativas, as saídas para repensar o problema em questão, de como compreendê-lo e solucioná-lo.

    Enquanto ouvia as queixas e os descontentamentos por parte dos informantes, detectei através das evidências, ansiedade e uma preocupação; no entanto, parece não haver algo concreto para mudar a situação.

    No compromisso de anunciar evidências encontradas e, também de responder as perguntas que norteiam meu estudo, considero necessário destacar algumas reflexões.

    Acredito que um dos reflexos do desinteresse se dá em função das atividades, privilegiando apenas o esporte durante as aulas, isto é, sempre o mesmo conteúdo em várias séries, a mesma aula, durante vários anos. Jogo é importante sim, mas não é tudo. Portanto, é uma questão básica, a de que deveria haver uma diferenciação em termos de conteúdo, para que as aulas não se tornassem repetitivas, monótonas e, conseqüentemente, desinteressantes.

    Pelo que pude perceber durante a pesquisa de campo, apesar de existir uma situação de insatisfação, queixas, nenhum tipo de orientação ou estímulo é oferecido pela escola ao aluno que não comparece nas aulas, os alunos falam em indiferença. Desse modo, ao elaborar nova proposta curricular, sugiro que seja considerado o diálogo ou outra forma de reverter a situação do aluno que não comparece nas aulas. A ausência da Educação Física, como componente curricular, gera prejuízos na formação do aluno, uma vez que este perde uma excelente oportunidade de desenvolvimento integral.

    Outra evidência é o horário da disciplina fora do período regular do turno em que o aluno está matriculado; até mesmo, e como ficou evidente através das entrevistas analisadas, o concorrido mercado de trabalho exige cada vez mais preparo e qualificação e acaba por retirar o aluno das aulas de Educação Física, seja para fazer cursos de computação, pré-vestibular, o que favorece a entrada no mercado de trabalho e a concorrida vaga no ensino superior.

    Questiono, pois, "por que não tentar adequar o horário das aulas de Educação Física no turno regular de matrícula dos alunos?".

    Por todas as evidências aqui mostradas, e para tornar a Educação Física inclusiva, faz-se necessário uma gestão escolar e uma postura profissional que dê espaço para o diálogo, onde os educadores saibam interpretar e refletir sobre o cotidiano escolar, compreender o que a prática pedagógica tem a dizer.

    Portanto, é necessário que se reestruture a forma como são dadas as aulas de Educação Física, juntamente com os professores de outras disciplinas e a escola em si tome outra postura em relação à disciplina, aprofundando seus estudos.

    Diante desse quadro, é necessário que a escola repense a prática da Educação Física como professores reflexivos. Entendo que o professor tem um papel fundamental na reversão deste processo, pois, além de estar no foco do problema, ele detém uma grande oportunidade para conscientizar os alunos, e tem um espaço de autonomia relativa que permite ensaiar movimentos de mudança e transformação.

    Essas mudanças são difíceis, mas necessárias, para que possamos, em um futuro próximo, poder estar oferecendo uma Educação Física com maior qualidade, comprometimento e profissionalismo aos nossos alunos.


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