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As atividades aquáticas associadas ao processo
de bem-estar e qualidade de vida

   
* Mestre em Ciências da Motricidade e Bacharel em Educação Física,
ambas formações pela Universidade Estadual Paulista - UNESP/Rio Claro.
** Graduado em Educação Física, formado pela Universidade
Estadual Paulista - UNESP/Presidente Prudente.
*** Graduanda em Fisioterapia, pela Universidade
Federal de Juiz de Fora/MG.
 
 
Alexander Klein Tahara*  
Danilo Roberto Pereira Santiago**  
Ariany Klein Tahara***
alexipatinga@yahoo.com
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     O artigo trata da importância do meio líquido para os profissionais da área da saúde, especialmente educadores físicos e fisioterapeutas, no que tange à relevância das atividades realizadas na água associadas ao processo de bem-estar e melhoria da qualidade de vida em geral.
    Unitermos: Atividades aquáticas. Bem-estar. Qualidade de vida.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 103 - Diciembre de 2006

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Introdução

    Indubitavelmente, a utilização do meio aquático não constitui exclusividade dos tempos atuais, uma vez que o homem da pré-história já utilizava-se do ambiente aquático com muita frequência.

    De acordo com Skinner; Thomson (1985), há relatos de que há cerca de cinco mil anos, na Índia, já existiam piscinas de água quente onde figuras assírias de baixo relevo mostravam estilos rudimentares de natação. Além disso, em 460-375 a.C. Hipócrates usava água no tratamento de doenças e os romanos utilizavam os banhos com finalidades recreacionais e curativas.

    Hoje o interesse em relação às atividades na água aumentou entre estudiosos, professores e pesquisadores das diversas áreas de estudo, como exemplos a Educação Física e suas atividades físicas, a Fisioterapia e suas terapias aquáticas, entre outras, bem como elevados índices de procura e aceitação pela população em geral.

    As expectativas presentes no ser humano em busca de alternativas com maiores qualidades, frente à exacerbação centrada na cultura do trabalho e do consumo, podem recair sobre a crescente procura por vivências mais significativas, tornando as atividades aquáticas uma nova perspectiva, no sentido da tentativa de preenchimento desta inquietação humana em busca da melhoria da qualidade existencial.

    De acordo com Nahas (2001), no atual contexto das sociedades contemporâneas o estilo de vida ativo, hábitos saudáveis e a atividade física, podem, cada vez mais, representar fatores decisivos de qualidade de vida e sensação de bem-estar, entendendo que há múltiplos fatores intervenientes e determinantes na qualidade de vida da população, tais como satisfação no trabalho, prazer, relações familiares, entre outros, numa combinação que caracteriza os níveis qualitativos em que vive o homem contemporâneo.

    Parece ser fato consumado a idéia de que a vida moderna tende a ser pouco saudável, uma vez que provoca stress e estafa, alimentação inadequada e a não regularidade na prática de exercícios físicos. Com todos esses fatores mencionados, a qualidade de vida da população fica bastante abalada, tanto em nível físico quanto psicológico.

    Atualmente, cada vez mais pessoas no mundo são completamente sedentárias, sendo, justamente, estas as que mais teriam a ganhar com a prática regular de atividade física, seja como forma de prevenir doenças, promover saúde ou sentir-se melhor. E as atividades aquáticas podem representar possibilidades interessantes no que tange à prática de atividades físicas como coadjuvantes no processo de bem-estar e melhoria da vida como um todo.


Benefícios das Atividades Aquáticas

    O certo é que a água está em nosso corpo, na nossa vida e ocupa a maior parte de nosso planeta. Dentre outras inúmeras características do meio líquido, não menos importante seria sua relação com a Educação Física e a Fisioterapia, haja vista a vasta quantidade de atividades que podem ser realizadas em tal ambiente líquido. Para retratar melhor, perceba a existência da hidroginástica, do pólo aquático, da hidroterapia, da natação, entre outros.

    As atividades aquáticas vêm evoluindo de maneira satisfatória de acordo com as exigências da sociedade e do próprio ser humano, sendo uma das modalidades esportivas mais praticadas em academias, clubes, haja vista a quantidade de pessoas que adoram se exercitar em meio líquido.

    São inúmeros os benefícios das atividades aquáticas, em diferentes faixas-etárias e respeitando melhoria em diversos níveis:

    No que concerne ao aspecto físico, a possibilidade de realizar movimentos sem causar impacto às articulações e tendões, estimulação de toda a musculatura e manutenção do tônus muscular, efeitos benéficos sobre o sistema respiratório e cardiovascular, recuperação de enfermidades, entre outros.

    Em relação ao aspecto psicológico, tendência à elevação da auto-estima, alívio dos níveis de stress, maior disposição p/ enfrentar as atividades cotidianas, entre outros.

    No que tange ao aspecto social, é perceptível como há novas possibilidades de favorecimento das relações interpessoais e conseqüente aumento dos laços de amizade, interesse em compartilhar experiências e ideais, entre outros.

    Tanto é verdade o discutido acima, que a orientação dada por diversos médicos, educadores físicos e fisioterapeutas é para que seus clientes optem pelos benefícios das atividades aquáticas como alternativa ao processo de recuperação de determinada enfermidade ou mesmo como forma de precaução aos diversos males.


Atividades Aquáticas para Grupos Especiais

    É inegável não percebermos a devida importância das atividades aquáticas mesmo para determinados grupos especiais, tais como gestantes, bebês, portadores de necessidades especiais, terceira idade, asmáticos e pessoas que necessitam de reabilitação postural, os quais tendem a sofrer positivamente com os inúmeros benefícios que a prática física em meio líquido pode proporcionar.

    Recomendada pela maioria dos médicos obstetras e outros especialistas, a natação e a hidroginástica trazem, comprovadamente, inúmeros benefícios à gestante, tais como o favorecimento da boa evolução da gravidez, ativação da circulação sanguínea, melhoria da oxigenação, melhor equilíbrio nervoso, boa disposição da mãe e da criança, sem fadiga, entre outros.

    Uma das áreas da natação que mais se desenvolveu nos últimos anos foi as atividades aquáticas para bebês. São inúmeras as vantagens que a natação pode oferecer nesta etapa: melhora o desenvolvimento neuromotor, fortifica a musculatura, estimula um sono mais tranqüilo, reforça o apetite, ativa e dá mais mobilidade às articulações, proporciona sociabilização, entre outros.

    A vida é uma dádiva preciosa que deve, ao máximo, ser preservada. Por isso, a prática de atividades físicas pela terceira idade deve ser incidente, haja vista o descenso das forças orgânicas, sensoriais e motoras nesta etapa da vida. E, no caso particular das atividades aquáticas, as mesmas oferecem a possibilidade de praticar uma atividade física mais segura, sem causar maiores riscos ou lesões às articulações e, ao mesmo tempo, capaz de proporcionar bem-estar físico e mental.

    A asma é um processo inflamatório da mucosa brônquica, o que leva a um estreitamento das vias respiratórias. A prática de atividades aquáticas têm muito a contribuir para os asmáticos, no sentido de haver expansão e melhoria da função pulmonar, possibilita um melhor ritmo respiratório, controlar e espaças as crises asmáticas, desenvolvimento da musculatura respiratória, grande realização emocional ao executar tarefas desafiadoras, entre outros.

    A natação e a hidroginástica, além dos benefícios proporcionados enquanto atividades físicas, tornam-se um dos meios mais eficazes para prevenção e correção de problemas posturais, principalmente os desvios da coluna vertebral. O trabalho simétrico proporcionado pela movimentação alternada de membros e sua tração sobre a musculatura paravertebral têm extraordinária eficácia na redução desses desvios, especialmente no que tange à estrutura dos pés, região lombo-pélvica e região dorsal superior e cervical.

    No caso dos portadores de necessidades especiais, basta atentar-se para o enorme sucesso da natação paraolímpica que fica mais fácil a compreensão de como as atividades aquáticas podem ser extremamente relevantes para o enredo físico e psicológico de tais indivíduos "especiais". A utilização terapêutica da água consiste na arte de combinar as muitas variáveis p/ produzir um resultado significativo, possibilitando aos indivíduos o prazer da vivência aquática. E os profissionais de Educação Física e Fisioterapia conscientes de seus papéis enquanto educadores, devem sempre acentuar e enaltecer as capacidades e virtudes e, não lamentar as eventuais deficiências e carências do indivíduo.


Hidroterapia: o papel dos fisioterapeutas

    A água é um meio maravilhoso para os exercícios e oferece oportunidades estimulantes para os movimentos que não estão dentro dos programas tradicionais de exercícios em solo. Desta forma, entra em cena um profissional da saúde capaz de contribuir substancialmente às deficiências da população em geral: o fisioterapeuta.

    O termo hidroterapia é derivado das palavras gregas hydor (água) e therapia (cura), sendo atualmente muito utilizada com o propósito de recuperação ou reabilitação de determinada lesão.

    Modalidade de Fisioterapia compreendendo exercícios, manipulações e mobilizações, utilizando técnicas cientificamente experimentadas. Estas técnicas baseiam-se em conceitos de Fisiologia do Exercício e Biomecânica e tomam partido das propriedades físicas da água, particularmente empuxo (efeito de flutuação), pressão hidrostática e turbulência, assim como a densidade substancialmente distinta daquela do ar. A eficácia do tratamento é plena quando a água é aquecida a uma temperatura agradável ao paciente, na faixa de 32 a 33°C (dependendo da temperatura exterior, propiciando um padrão de relaxamento neurológico e muscular e emocional).

    A Hidroterapia é eficaz em patologias neurológicas, músculo-esqueléticas e cardiorrespiratórias, buscando a recuperação funcional e a reeducação motora.

    Nas patologias neurológicas, utiliza os estímulos exteroceptivos gerados pela imersão em um meio (líquido) distinto daquele (gasoso) onde se desempenham habitualmente as atividades da vida diária. Corrige-se assim a propriocepção afetada e obtém-se a reeducação motora. Aumenta-se a confiança do paciente para explorar e desenvolver suas potencialidades, reforçada pela redução do temor de quedas ao solo, inexistentes na água.

    Nas patologias do sistema cardiorrespiratório, trabalha com a resistência ao deslocamento exercida pela água, em intensidade marcantemente superior àquela exercida pelo ar, permitindo elevadas intensidades de exercícios sem aumento da freqüência cardíaca.

    As técnicas hidroterápicas principais são o Método Halliwick, o Método dos Anéis de Bad Ragaz e Técnicas de Relaxamento Aquático com Finalidades Fisioterápicas. Estas últimas empregam técnicas de relaxamento passivo derivadas do Watsu e de relaxamento ativo derivadas do Ai Chi, propiciando relaxamento muscular e emocional e tornando o organismo receptivo às atividades fisioterapeuticas que empregam manipulações derivadas dos Métodos Watsu e Ai Chi, com finalidades de reabilitação física e funcional.

    A popularidade e o valor crescente da hidroterapia parecem ser salientados por um aumento da pesquisa em muitos aspectos diferentes da água, como o estudo da fisiologia dos exercícios aquáticos (CAMPION, 2000).

    Um dos objetivos primordiais dos fisioterapeutas é o conhecimento do potencial da água de modo que as vantagens e benefícios da hidroterapia venham à tona, a fim de que a mesma possa ser encarada como uma modalidade de tratamento e reabilitação, alcançando altos níveis de difusão na sociedade.

    O reconhecimento dos tratamentos para os quais as características e propriedades da água podem ser utilizadas para criar técnicas que acentuem a atividade aquática como parte integral de todo tratamento físico e psicológico e das condições variadas de muitos irá assegurar o lugar da hidroterapia para a reabilitação total dos indivíduos.


Atividades Aquáticas na escola

    Mesmo em ambiente escolar parece que há uma tendência à inserção das atividades aquáticas como forma de viabilizar um processo educacional mais recorrente, com possibilidade de adquirir educação mediante a prática de atividades físicas em meio líquido.

    Percebe-se constantemente o grande interesse dos pais por escolas que oferecem tais atividades, as quais podem ser relevantes para o processo de desenvolvimento físico e psicológico de suas crianças. Convém ressaltar que nesse contato criança-piscina, especialmente em séries iniciais, há a necessidade da criança se integrar harmoniosamente com o meio em que se encontra, a fim de evitar possíveis problemas com as propriedades e particularidades da água, tais como o afogamento e o medo dela resultante.

    Pensando no aluno como ser humano único e singular e como ele é olhado por pais e professores, surge a necessidade de atentar para os problemas pelos quais passam algumas instituições educacionais, sobre a ênfase dada ao método e à técnica absoluta para alcançar os objetivos da aula, em detrimento da adoção de condutas e estratégias que valorizam o indivíduo como um todo e facilitam a aprendizagem, como por exemplo, as dinâmicas lúdicas.

    E, independentemente da existência de conflitos internos, carências e potencialidades, o aluno é capaz de desenvolver-se e adaptar-se ao meio líquido de acordo com seus limites e ritmo próprio, rompendo barreiras e abrindo possibilidades de receber uma educação baseada na valorização do desenvolvimento global do ser humano, levando em consideração as estruturas física, emocional e intelectual da criança.

    Portanto, no meio líquido, como um espaço educativo, é vital o papel do professor nesse processo, o qual deve acontecer de forma gradual e evolutiva, sem atropelar as expectativas da criança. Assim, tende-se a criar um espaço pedagógico e inclusivo, no sentido de facilitar aos alunos a vivência de experiências perceptivas e sensíveis, bem como um ensino-aprendizagem cada vez mais recorrentes.


Considerações finais

    Parece inegável não reconhecermos a importância do meio líquido em relação à vida das pessoas, assim os profissionais da área da saúde assumem papel fundamental neste processo.

    O que se objetiva é que possa ocorrer sintonia entre estes profissionais, no caso fisioterapeutas e educadores físicos, a fim de que as pessoas em geral consigam os benefícios oriundos dos diversos tipos de atividades realizadas na água.

    Espera-se que algumas parcelas da sociedade se tornem conscientes a respeito de que a condição de saúde e uma expectativa mais longa de vida são dependentes do comportamento individual e do estilo de vida. Desta forma, as atividades aquáticas teriam seu lugar de destaque, haja vista que, atualmente, são muito procuradas por indivíduos que querem aderir à prática de atividade física e, conseqüentemente, adquirir maiores condições de imprimir mais qualidade em suas vidas.


Referências

  • ASSOCIATION OF SWIMMING THERAPY Natação para deficientes. 2. ed. São Paulo: Manole, 2000.

  • CAMPION, M. R. Hidroterapia: princípios e prática. 1. ed. São Paulo: Manole, 2000.

  • KERBEJ, F. C. Natação: algo mais que 4 nados. São Paulo: Manole, 2002.

  • SKINNER, A. T.; Thomson, A. M. Duffield: exercícios na água. 3. ed. São Paulo: Manole, 1985.

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