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O perfil do egresso do curso de Educação Física
do Centro Universitário Feevale

   
Professores do Curso de Educação Física do
Centro Universitário FEEVALE, Novo Hamburgo, RS
(Brasil)
 
 
João Carlos Jaccottet Piccoli, Ph.D.
jebpiccoli@brturbo.com.br
Esp. Francisco Carlos Lemes de Menezes
 

 

 

 

 
Resumo
    A presente investigação teve como finalidade traçar o perfil do egresso do Curso de Educação Física do Centro Universitário Feevale. Para que este objetivo fosse alcançado, estruturou-se esta investigação do tipo descritivo de corte transversal cuja amostra constou de 65 egressos do Curso de Educação Física no período de 1976 a 2000, escolhidos não probabilisticamente e por conveniência. Foi utilizado um questionário composto por 25 questões abertas e fechadas, validado e pré-testado. Para a tabulação dos dados utilizou-se o cálculo da média e do desvio-padrão para as questões abertas e numéricas, e para as questões fechadas, o cálculo percentual. Concluiu-se que os sujeitos eram originários das cidades de Novo Hamburgo e de São Leopoldo que freqüentaram o Curso cujo currículo era inicialmente baseado na Resolução 69 de 1969 cujo currículo enfatizava a dimensão biológica sendo seguida pelas dimensões gímnico desportiva e pedagógica. Com a Resolução No. 3 de 1987 houve um avanço curricular, com o acréscimo de disciplinas que contemplassem uma formação geral (humanística e técnica) e um aprofundamento de conhecimentos. Constatou-se, entretanto, que os sujeitos investigados demonstraram uma preocupação em saber-fazer para ensinar, em que a eficiência técnica, metodológica e instrumental eram os aspectos mais enfatizados. Os sujeitos de um modo geral atuavam em atividades fora do contexto escolar, embora, um pequeno número nele atuasse. Segundo o que foi constatado, a maioria dos sujeitos investigados não teve dificuldade em encontrar um emprego, após a conclusão do Curso de graduação em Educação Física, nele permanecendo por um período que variava de 6 a 20 anos. O fato de permanecerem por um período superior a 6 anos no emprego não significa dizer que os sujeitos estivessem satisfeitos com o salário que recebiam. Foi, então, constatado que os baixos salários levavam os profissionais a trabalharem em outros estabelecimentos formais e não formais de ensino. Apesar de ser observada uma certa incompatibilidade entre a situação profissional e o salário, a maioria dos sujeitos do estudo se sentia reconhecida como profissionais de Educação Física. Embora 72,3% dos sujeitos da amostra tenha participado de cursos de atualização, 41,5% freqüentaram cursos de pós-graduação em nível de especialização. Sabe-se que o profissional preparado e instigado pelo desejo de transformar precisa ser remunerado para que possa viver com dignidade, mas, por outro lado, precisa haver vontade para buscar essa preparação, pois competência não é sinônimo de ser portador de um diploma de curso superior. A competência puramente acadêmica, em que o diploma é enfatizado, está se transformando numa competência que segue uma formação continuada que atualize e aprimore o conhecimento do profissional de Educação Física.
    Unitermos: Educação Física. Perfil profissional. Centro Universitário Feevale.
 
Abstract
    This study had the purpose to determine the profile of undergraduate students who graduated from the Physical Education program at Feevale University Center (Centro Universitário Feevale). In order to have the objectives achieved a descriptive study was designed in which 65 undergraduate students who graduated from the studied Institution from 1976 to 2000 were chosen. A validated and pre-tested 25 item questionnaire was used to collect the data. For the analyses of the open and numerical ques-tions the mean and standard deviation were estimated, for the closed items data the percentage was calculated. It was concluded that the subjects of the study were particularly from the cities of Novo Hamburgo and São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brazil and finished their undergraduate program under the federal enactment - Resolution no. 69/1969 (Resolução CFE/MEC No. 69/1969) that em-phasized a curriculum based on the biological aspect of Physical Education. In 1987 this Resolution was replaced by another one (Resolução no. 3/1987) that introduced the need to have the humanistic aspect of the curriculum content of all programs of Physical Education in Brazil emphasized. It was observed that the sample students showed a need to learn how to do the activity in order to teach it. The technical, methodological, and instrumental aspects were then the main concern of the students. The majority of the sample students worked outside the school context although there was a small number that was a Physical Education school teacher. As far as getting a job after graduation was concerned it seemed that the subjects had no problem in getting it, in fact the number of years that they were hired ranged from 6 to 20 years. The reason that the students stayed longer than 6 years in their jobs it did not mean that they were satisfied with the salary they earned. It was then observed that low salaries caused the subjects to search for other job opportunities in the area of Physical Edu-cation besides school. Although the sample showed dissatisfaction to salary question they felt recog-nized as a Physical Education professional. It was observed that 72, 3% of the subjects participated in extension courses but only 41,5% finished a graduated program at the specialization level. It is known that a well prepared professional and eager to transform the world needs to have a compatible salary, but at the same time, it is also important to know that knowledge has to be improved after under-graduate studies. Competency is not a synonym for a diploma received in such program. Academic competency in which a diploma is the main aspect is transforming in a competency achieved through a continued education that will improve the knowledge of the Physical Education professionals.
    Keywords: Physical Education. Professional profile. Centro Universitário Feevale.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 98 - Julio de 2006

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Introdução

    Os Cursos de Educação Física estão sendo submetidos a avaliação pelo Ministério da Educação como forma de se melhorar a qualidade de sua oferta. As Instituições de Ensino Superior, em conseqüência, estão adequando a suas estruturas educacionais às exigências estabelecidas pelo órgão superior.

    Além dessa movimentação nacional e oficial em torno da área específica, também se desenvolve, em diferentes instâncias, uma discussão sobre a proposta de diretrizes curriculares para os cursos de graduação em Educação Física que está levando as Instituições Superiores de Ensino a repensarem o ensino de graduação em Educação Física no Brasil.

    O Curso de Licenciatura em Educação Física do Centro Universitário FEEVALE está envolvido nesse processo de avaliação através de reuniões de análise e de estudo de uma nova proposta curricular que certamente virá atender às necessidades de uma sociedade submetida às inovações de um novo tempo. Associado a esse estudo acredita-se ser relevante conhecer as características dos egressos do curso ao longo dos tempos, isto é da primeira turma até aqueles que concluíram o curso no ano de 2000.

    O contato com os egressos do Curso de Educação Física do Centro Universitário FEEVALE proporcionará subsídios importantes que muito contribuirão para os estudos que ora se realizam, e poderá oportunizar, também, uma maior interação entre esses profissionais e sua Instituição formadora. Assim a presente investigação tem por objetivo traçar o perfil dos egressos do Curso de Educação Física do Centro Universitário FEEVALE.


Curso de Educação Física do Centro Universitário Feevale

    O curso de Educação Física da denominada Escola de Educação Física da Federação dos Estabelecimentos de Ensino Superior em Novo Hamburgo, FEEVALE, tendo como mantenedora a Associação Pró-Ensino Superior em Novo Hamburgo, ASPEUR, Rio Grande do Sul, Brasil, através do Parecer do Conselho Federal de Educação - CFE ( atualmente, Conselho Nacional de Educação do Ministério da Educação ) Nº. 1.063 de 1973, em resposta aos processos do antigo Ministério da Educação e Cultura Nº. 233.379 de 1973 e processo do CFE Nº. 1.832 de 1972 e nos termos e para efeitos do artigo 14, do Decreto Lei Nº. 464 de 11 de fevereiro de 1969, foi homologada a autorização do funcionamento da Escola de Educação Física de Novo Hamburgo encarregada da implantação do Curso de Educação Física, com um total de 100 vagas anuais, tendo sido publicado no Diário Oficial da União do dia 17 de agosto de 1973.

     A autorização para o funcionamento da Escola de Educação Física ocorreu através do Decreto Nº 72.662 de 20 de agosto de 1973 do Presidente da Republica, tendo em vista o Parecer da Câmara Superior do Conselho Federal de Educação, publicado no Diário Oficial da União de 21 de agosto de 1973.

     Sob o Parecer Nº. 30/76, aprovado em 28 de janeiro de 1976 através do Processo Nº. 15.562/75, o Presidente da ASPEUR, requereu o reconhecimento do curso de Educação Física da Escola de Educação Física da FEEVALE, tendo o relator baixado o processo em diligência por despacho de 22 de dezembro de 1975, para que fossem corrigidas as falhas do Regimento apontadas em parecer respectivo. Após examinar o Regimento quanto às modificações solicitadas, o Relator deu o mesmo como aprovado e a diligência por cumprida. Nesse parecer foi, também, requerida e concedida a autorização para o funcionamento do Curso de Técnico em Desporto que já vinha sendo oferecido, baseado na decisão do Conselho Federal de Educação através do Parecer Nº. 4.495 de 1975 que exigia a autorização específica para funcionamento da mesma. As habilitações solicitadas pelo Curso de Educação Física foram: Basquetebol, Voleibol, Recreação, Atletismo, Futebol de Campo e Handebol, cada uma com uma carga horária de 180 horas aulas em um semestre letivo, sendo o corpo docente responsável, o mesmo aprovado para o Curso de Licenciatura. A habilitação de Técnico em Desporto aprovado era baseada no Parecer Nº 894 de 1969 que exigia dois desportos para que o Licenciado tivesse o direito ao Título de Técnico em Desporto. Assim, no dia 12 de abril de 1976, através do Decreto Nº. 77.424 e publicado no Diário Oficial da União em 13 de abril de 1976 o Curso de Educação Física ( Licenciatura e Técnico em Desporto ) foi reconhecido.

     O Parecer Nº. 53 de 25 de janeiro de 1982, aprovou as alterações no currículo Educação Física solicitados pelo Processo Nº. 1.007 de 1981, no Regimento Unificado das Federações de Ensino Superior em Novo Hamburgo. Tais alterações não se contrapunham ao currículo mínimo em vigor na época, resumindo-se na introdução, ou substituição de disciplinas existentes, bem como seus desdobramentos Os currículos que foram modificados constavam no regimento em vigor aprovado mediante o Parecer 1.158 de 5 de novembro de 1980.

     Conforme Parecer da Secretaria do Ensino Superior - SESU do Ministério da Educação e Cultura de No. 834 de 12 de outubro de 1990, foi aprovado o novo currículo pleno do curso de Educação Física, solicitado pela Federação de Ensino Superior em Novo Hamburgo , tendo em vista o que estabelecia a Resolução - CFE No. 3 de 1987. O processo inicialmente baixou em diligência por solicitação da Assessoria Jurídica do Conselho Federal de Educação (CAJ) para que fosse alterado. Com o cumprimento das exigências pela Instituição, o processo encontrou-se em condições de ser examinado, pois contemplava o Parecer No. 215 de 1987 e Resolução No. 3 de 1987 ( BRASIL, 1990 ).

     Novas alterações curriculares no Curso de Graduação em Educação Física foram observadas através do Parecer CFE/SESU No. 840 aprovado em 9 de dezembro de 1993 e incorporadas ao regimento da FEEVALE, aprovado pelo Parecer CFE No. 834 de 1990 (BRASIL, 1990).

     Cabe aqui apresentar uma sinopse da evolução e alterações ocorridas no curso de Educação Física da Escola de Educação Física da FEEVALE desde a sua criação até o ano de 2000. Todas as modificações ocorridas sempre tiveram o objetivo principal a formação do acadêmico, adequando o currículo dentro das normas legais exigidas e a adequação do mesmo às exigências do mercado de trabalho no qual o egresso está inserido.

     Em pesquisas realizadas nos Guias Acadêmicos do Centro Universitário Feevale de 1975, ano de sua primeira publicação, pode-se observar a evolução do Curso de Licenciatura em Educação Física e de Técnico em Desporto da Escola de Educação Física de Novo Hamburgo, e sua adequação às necessidades do mercado crescente de trabalho para o profissional dessa área de conhecimento. O carga horário inicial do curso foi de 1800 horas distribuídas em 120 créditos exigidos pela legislação, já no ano de 1976, foi retirada a disciplina de Monitoral, suibstituída por Ginástica VI (Ginástica de aparelhos). A disciplina de Monitoral, passou a compreender a participação em eventos esportivos, na sua organização e na arbitragem dos mesmos perfazendo um mínimo de 60 horas, a serem integralizadas ao longo do Curso de Educação Física, condição necessária para o estágio supervisionado. Enquanto que os acadêmicos ingressantes em 1976 se mantiveram no currículo de origem, os de 1977 se depararam com um currículo em reformulação, com a oferta de um curso de 2.070 horas, 138 créditos, e a adição das disciplinas de Anatomia II, Atletismo IV, Futebol III, Rítmica III e Handebol II. A Natação V foi retirada do currículo e seu conteúdo distribuído entre as disciplinas de Natação I, II e III.

     Em 1983, os currículos do Curso de Educação Física, habilitação Licenciatura e Técnico em Desporto, tiveram novamente um acréscimo de disciplinas e uma adequação nas existentes, passando para 160 créditos, distribuídos em 2.400 horas e integralizados num mínimo de oito semestres. Dentre as disciplinas acrescidas ao currículo cita-se: Sociologia Geral, Psicologia Geral, Português, Psicomotricidade, Bioestatística, Psicologia Esportiva, Organização Desportiva e Metodologia Científica. Ainda em 1987 o currículo sofreu alterações no que se refere à disposições das disciplinas na tábua curricular, visando adequação de pré- requisitos.

     Embora o curso de Educação Física, desde a sua proposta inicial, tenha oferecido a formação de Técnico em Desporto, além da Licenciatura, nunca foi formada uma turma sequer nessa habilitação. Com a nova legislação, a partir de 1990, o Curso de Técnico em Desportos foi extinto.

     Com o Parecer No. 215 e a Resolução No. 3, ambas de 1987, o Curso de Educação Física, a partir de 1990, passou a ser estruturado por área de conhecimento, apresentando uma carga horária de 3.090 horas a ser integralizadas em 10 semestres letivos, distribuídas em 1.080 em conhecimento humanístico, 1.620 horas em conhecimento técnico, 300 horas no aprofundamento do conhecimento e 90 horas de disciplinas obrigatórias por lei. No ano de 1994, o curso seguindo os preceitos da Resolução No. 3 de 1987 concluiu a sua implementação e formou sua primeira turma.

     No ano de 2000, o Curso de Educação Física estava inserido no Instituto de Ciências Humanas, Letras e Artes, hoje, em 2004, encontra-se inserido no Instituto de Ciências da Saúde do Centro Universitário Feevale.


Materiais e métodos

    A presente investigação teve uma característica descritiva, pois se buscou descobrir e observar os fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los sem manipulá-los (RUDIO, 1999). Assim, a investigação em questão teve a finalidade conhecer a natureza, a composição e os processos que compõem o fenômeno objeto do estudo possibilitando uma análise qualitativa e quantitativa dos dados coletados.

    A população do presente estudo foi composta por 600 egressos do Curso de Licenciatura em Educação Física do Centro Universitário FEEVALE no período de 1976 a 2000. A amostra, do tipo não probabilística e por conveniência, foi composta por 65 sujeitos. Assim, os resultados obtidos apontam tendências para o universo de egressos do Curso em questão.

     A coleta dos dados foi obtida através de um questionário composto por questões abertas e fechadas (tricotômicas) num total de 25 itens, respondido pelos sujeitos da investigação.

    O processo de coleta de dados foi executado pela equipe do Centro de Pesquisa e Planejamento do Centro Universitário Feevale sob a supervisão dos pesquisadores deste estudo, através do serviço de Cartão-Resposta e pela equipe do Instituto de Ciências Humanas Letras e Artes, através da entrega direta do instrumento ou via e-mail, no período de setembro de 2001 a novembro de 2002.

    Com o objetivo de se verificar em que proporção os itens selecionados representavam todas as facetas importantes do conceito a ser medido, em outras palavras, verificasse a coerência aparente que existia entre o que se queria verificar e o instrumento em questão (CONTANDRIOPOULOS et al., 1999) submeteu-se o mesmo à validade de conteúdo a qual foi obtida através de parecer sobre a adequação aparente entre o instrumento proposto e a construção a ser medida.

    Para se verificar a sua fidedignidade, isto é, a capacidade de se reproduzir um resultado de forma consistente no tempo e no espaço, ou com observadores diferentes quando fosse utilizado dentro das mesmas condições de aplicação, o instrumento foi pré-testado pelo Centro de Pesquisa e Planejamento num grupo de egressos do Curso de Educação Física do Centro Universitário Feevale. Este procedimento permitiu identificar possíveis distorções nas respostas permitindo ao investigador reestruturar os itens a elas relacionados.

    Para a tabulação e análise dos resultados, foram utilizados os seguintes procedimentos: a) para as questões abertas numéricas, utilizou-se o cálculo da média e desvio-padrão; b) nas questões fechadas, tanto do tipo de escolha única ou múltipla, procedeu-se a utilização do tratamento percentual, seguido de uma classificação crescente ou decrescente, de acordo com a característica da variável em análise; c) nas questões abertas do tipo texto, utilizou-se a análise lexical, através do sistema "Le Sphinx Léxica", seguido de uma transformação das citações em questão fechada, para posterior tabulação e análise, aplicando-lhes um tratamento percentual; d) nas questões de escolha ordenada, utilizou-se o cálculo da soma ponderada e) e nas questões escalares, o cálculo de média aritmética.


Discussão dos resultados

    A investigação revelou que os egressos do Curso de Educação Física que responderam ao instrumento enviado eram originários das cidades de: Novo Hamburgo (32,8%), São Leopoldo (18,5%), Sapiranga (6,2%), Nova Petrópolis, Canoas e Taquara (4,6% respectivamente), Ivoti, Caxias do Sul, Porto Alegre, Campo Bom e São Sebastião do Caí ( 3,1% respectivamente), Montenegro, Igrejinha, Nova Santa Rita, Gramado, Gravataí, Tibaú do Sul, Três de Maio e Vacaria (1,5% respectivamente). Observou-se que 60% dos sujeitos eram do sexo masculino e 40%, do feminino. Dentre os respondentes, 96,9% eram originários de cidades localizadas no estado do Rio Grande do Sul e 1,5%, do estado do Rio Grande do Norte.

Tabela 1. Distribuição da freqüência e taxas frequenciais dos sujeitos de acordo
com o ano de conclusão do Curso de Licenciatura em Educação Física do
Centro Universitário Feevale (n= 65)

    A divisão dos egressos nos períodos de 1976 a 1987 e de 1988 a 2002 (TABELA 1), deu-se pelo fato de que no primeiro, o teor curricular baseava-se no Parecer no. 298, de 17 de novembro de 1962 que estabelecia os currículos e a duração mínima de 3 anos para os Cursos de Educação Física e Desportos no Brasil e na Resolução no. 69, do antigo Conselho Federal de Educação (CFE), aprovada em 6 de novembro de 1969, que estabelecia os currículos mínimos e duração a serem observados na organização nos mesmos Cursos (BRASIL, 1969).

    O período de 1988 a 2002 é caracterizado por um currículo norteado pela Resolução no. 3 do CFE, de 16 de junho de 1987 que revogou a Resolução no. 69/1969. Assim, a nova norma estabelecia uma inovação: a passagem de um currículo mínimo de padrão nacional para um currículo estabelecido por cada Instituição de Ensino Superior, levando-se em consideração as peculiaridades regionais, o contexto institucional e as características, interesses e necessidades da comunidade escolar, tanto no plano docente quanto discente (BRASIL, 1987).

    O Curso de Licenciatura em Educação Física do Centro Universitário Feevale, através do Decreto No. 77.424, de 12 de abril de 1976, teve seu curso reconhecido, com um currículo baseado na Resolução no. 69 de 1969 que estabelecia uma formação mínima de 1800 horas-aula ministradas no mínimo em 3 e no máximo em 5 anos. Segundo a Resolução no. 69 de 1969, as Instituições de Ensino Superior poderiam oferecer apenas o curso de licenciatura em Educação Física, deixando de incluir dois desportos exigidos para o título de Técnico Desportivo. Ao acadêmico era facultado escolher apenas pelo curso de licenciatura embora a Instituição oferecesse a possibilidade de obtenção do título de Técnico Desportivo (BRASIL, 1969).

    Através do Parecer no. 834 da Câmara de Ensino Superior do CFE, aprovado em 12 de outubro de 1990, foi aprovado a modificação curricular, instituindo a formação de um profissional de Educação Física que demonstrasse competência técnica e que construísse um novo saber de forma crítica (FEEVALE, 1990). Observa-se, então, que o novo currículo obteve uma conotação humanística e técnica, com a possibilidade de um aprofundamento de conhecimentos, desta feita, amparado pela Resolução No. 3 de 1987. Com uma carga horária de 3090 horas-aula, das quais, 1080 h/a contemplavam o conhecimento humanístico, 1620 h/a, o conhecimento técnico e 90 h/a, Estudos de Problemas Brasileiros (na época, exigido das Instituições de Ensino Superior), os acadêmicos deveriam integralizar o Curso em 10 semestres letivos (BRASIL, 1990).

    A modificação ocorrida em 1990 deu-se pela necessidade de se transpor a barreira de um currículo caracterizado por apenas um rol de disciplinas a ser integralizado em apenas 3 anos de duração num mínimo de 1800 horas-aula, caracterizado pela Resolução no. 69 de 1969, para um outro que possibilitasse formar um profissional com forte embasamento humanístico com aprofundamentos que atendessem às suas potencialidades e possibilitassem capacitá-lo para estudos em nível de pós-graduação, prerrogativa da Resolução No. 3 de 1987.

     Um aspecto que se observa no cotidiano dos profissionais de Educação é o comportamento discriminatório em relação a esta profissão. Assim, procurou-se investigar se existia algum preconceito entre amigos e familiares dos sujeitos, ao se inscreverem para o processo seletivo do Curso de Educação Física do Centro Universitário Feevale. Apesar de a maioria dos respondentes, 73,8% não ter observado tal discriminação, 26,2% dos mesmos informaram que familiares e amigos tinham uma percepção negativa sobre esta profissão. Tal atitude reforça a afirmação de Montenegro (1994) e de Ghilardi (1998) de que a Educação Física ainda apresenta um baixo status na sociedade brasileira.

    Um outro aspecto investigado foi saber se os sujeitos investigados ao concluírem o Curso tiveram as suas expectativas iniciais alcançadas, isto é, no momento do ingresso no Curso. Dentre os respondentes, 75,4% consideraram que suas expectativas foram alcançadas plenamente. Por apresentarem uma variedade de justificativas, apresentou-se algumas consideras mais relevantes: "A minha expectativa até foi superada, pois, hoje sou técnico de equipe, além de ser professor"; "O meu grande objetivo era trabalhar no desporto, o que me foi permitido a partir da graduação em Educação Física"; "Entrei no curso com 17 anos e com o objetivo de ser preparador físico de futebol, o que alcancei em 1996, pois até hoje trabalho no futebol profissional"; "As minhas expectativas foram alcançadas através dos ensinamentos de meus professores pelas pesquisas realizadas no curso e pelas atividades práticas proporcionadas"; "O Curso de Educação Física forneceu-me um conhecimento básico satisfatório que deverá ser ampliado através de cursos de extensão"; "Obtive um conhecimento satisfatório que me proporcionou oportunidade de trabalho" e "Minhas expectativas foram alcançadas, pois queria atuar em escola".

    Um posicionamento contrário, isto é, as expectativas iniciais não foram plenamente alcançadas, foi informado por 20% dos sujeitos do estudo. Para se compreender as razões que os levaram a tal atitude, cita-se os seguintes depoimentos: "O Curso de Educação Física só não nos preparou para trabalhar com alunos de Educação Infantil e de 1ª. a 4ª. séries do Ensino Fundamental"; "Muitas informações tiveram de ser buscadas em cursos fora da Instituição, já que não foram oportunizadas nas disciplinas do Curso"; "O Curso dava muito enfoque para a área escolar e nenhum para as outras áreas de atuação"; "Gostaria que o Curso proporcionasse disciplinas referentes ao esporte competitivo, preparação física, pois trabalho nesta área"; "Sempre gostei de Educação Física Infantil e pouca base obtive"; "Pensava que fosse obter um conhecimento sólido e suficiente para atuar em academias, mas isto não ocorreu, pois não foi suficientemente trabalhado" e "Esperava concluir o Curso com uma especialização ou aprofundamento em uma deter minada área".

    Analisando-se os depoimentos favoráveis e desfavoráveis dos sujeitos do estudo, observou-se que os mesmos demonstraram um certo desconhecimento sobre a finalidade original dos cursos de licenciatura plena que era formar um professor que atuasse na escola, embora é sabido que os profissionais com tal habilitação atuem, também, na área não escolar.

    Até 1990, o Curso de Educação Física do Centro Universitário Feevale, possuía um currículo que conferia o título de Técnico em Desportos formando professores de Educação Física especializados em modalidades desportivas. Assim, todo o licenciado que completasse mais de 450 horas-aula, após a licenciatura, recebia o título de Licenciado em Educação Física e Técnico em Desportos. A partir de 1983, com a adequação curricular efetuada, o Curso de Educação Física modificou a carga horária do curso de licenciatura de 2070 para 2400 horas-aula e do Técnico de Desporto, para 2640 horas-aula.

    Comparando-se as opiniões de 54% dos egressos do Curso de Educação Física no período de 1976 a 1987, conforme a TABELA 1, e a evolução curricular, foram observados posicionamentos demonstrando a ausência de ensinamentos sobre preparação física, esporte competitivo, atividade física para academias de ginástica, entre outros. Por outro lado, constatou-se uma certa insatisfação entre os sujeitos, pois, o Curso enfatizava apenas a área escolar, não preparava o futuro profissional para atuar no ensino das quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, como também, na Educação Infantil.

    Salienta-se, também, que apesar de se notar uma certa tendência ao ensino do desporto não formal entre os sujeitos do estudo, até 1990, não foi conferido sequer, um título de Técnico de Desportos no Centro Universitário Feevale, apenas graduaram-se acadêmicos da habilitação de licenciatura. Os posicionamentos observados na investigação são reflexos de um curso de licenciatura plena que formava profissionais para atuar no ensino formal e que, aparentemente, também, tentava preencher lacunas existentes na área, fora desse contexto. Notou-se um certo desconhecimento por parte dos sujeitos do estudo quanto ao perfil de saída do Curso, um profissional apto para atuar no ensino da Educação Física na Educação Básica, prioritariamente.

     Enquanto se analisava a questão sobre as expectativas dos egressos em relação ao Curso de Educação Física, foram observados os seguintes posicionamentos: "Minha expectativa foi de recolher conhecimento e título para atuar na área que tanto sonhava", "Queria ser professora de Educação Física, aprender o que dar e como dar e isto eu aprendi", "Quando fui para o Curso de Educação Física, foi por gostar de esportes. Não pretendia, ou não via um futuro profissional, pois ao me comparar com os atletas do Curso, não me sentia em condições para competir com meus colegas. Mas o futuro me mostrou o contrário, pois muitos deles nunca atuaram na área", "Quando fiz o vestibular de Educação Física tinha a expectativa de aprender dentro da área de minha atuação e tudo que foi passado na Feevale tentei por em prática e obtive excelentes resultados, qualificando ainda mais o meu trabalho"; "Mudei de profissão.!; "Pretendia trabalhar no ramo, só que não consegui".

    Tais afirmações são associadas ao posicionamento de Darido (1995) quando argumentava que a formação do profissional de Educação Física acontecia acriticamente, com uma ênfase na formação esportiva ligada ao rendimento máximo, seleção dos mais habilidosos, numa perspectiva do saber-fazer para ensinar. Ghilardi (1998), concordando com Darido (1995), não concebe uma formação profissional baseada na execução de habilidades motoras e na reprodução de movimentos e aulas já programadas e elaboradas.

    Buscando-se, ainda, uma explicação para as justificativas dos egressos, faz-se alusão a Betti e Betti (1996) quando argumentam sobre o currículo tradicional-esportivo, caracterizado pelas disciplinas intituladas de práticas (especialmente as esportivas) em que a demonstração e a execução por parte do acadêmico era o eixo norteador. Observa-se uma separação entre teoria e prática: a primeira, conteúdo apresentado na sala de aula, com ênfase nas disciplinas das áreas biológica e psicológica e a segunda, atividade na quadra, pista, campo e em outros ambientes.

    Constatou-se que os argumentos apresentados pelos egressos demonstraram uma preocupação em saber-fazer para ensinar, em que a eficiência técnica, metodológica e instrucional eram os aspectos mais enfatizados. Acredita-se que o profissional deveria ter um conhecimento que possibilitasse a compreensão do homem em movimento nos seus mais variados contextos, compreendendo as suas fases de desenvolvimento, suas necessidades, suas limitações e anseios, não se fundamentando apenas na prática pela prática. Como afirmou Piccoli (2002), cabe à Educação fazer com que o indivíduo domine o seu próprio desenvolvimento, isto é, tome o seu destino nas mãos e contribua para o progresso da sociedade em que vive, participando dela ativamente e de forma responsável.

    Quando se examina o GRÁFICO 1, observou-se que apenas 21,5% dos sujeitos investigados atuavam na escola e 84,6%, em outras atividades. Cabe salientar que alguns dos sujeitos enquadrados na categoria "outras atividades", além da escola atuavam, também, em outras atividades não formais.


Gráfico 1. Distribuição* em percentuais das atividades ministradas pelos egressos do Curso de Educação Física do Centro Universitário Feevale (n= 65).
* O número de atividades desenvolvidas foi superior ao número total de casos examinados (n=65) devidos as respostas múltiplas.

    Este é um indício de que o interesse por outras atividades não formais ocorre pela diversificação do mercado de trabalho, já não mais restrito à escola. Molina Neto (1997) destaca que o ensino organizado composto por um grande número de disciplinas, manteve o enfoque acadêmico-enciclopédico e a perspectiva técnica na formação dos professores. Assim, a inclusão de novas disciplinas vinculadas às práticas esportivas emergentes evidencia uma tendência de subordinação do currículo aos interesses do mercado.

    A grande maioria (80%) da amostra envolvida no estudo não teve dificuldades em encontrar um emprego após concluído o Curso de Graduação em Educação Física, entretanto, ao se examinar o GRÁFICO 2, observou-se que os sujeitos revelaram permanecerem mais tempo no emprego, já que 76,9 dos sujeitos estavam empregados num período que se estendia de 6 a 20 anos.


Gráfico 2. Distribuição do tempo de permanência no emprego em anos e percentuais dos egressos do Curso de Educação Física do Centro Universitário Feevale (n= 65).

    O fato de 76,9% dos sujeitos estarem empregados há mais de 6 anos, 58,5% dos respondentes afirmaram que o cargo ocupado não era compatível com o salário recebido, levando o profissional a atuar em vários locais: escolas, academias de ginástica, entre outros (GRÁFICO 3). Dias et al. (1999) analisando o perfil do professor de Educação Física no Estado do Espírito Santo constataram que 55,6% dos entrevistados atuavam, também, em outros estabelecimentos além da escola. Os baixos salários, como pode ser comprovado nas redes de ensino estadual e municipal do Rio Grande do Sul, levavam os profissionais a trabalharem em outros estabelecimentos formais e não formais, como também, a abandonarem a profissão para se dedicarem a outras que oportunizassem um maior retorno financeiro.


Gráfico 3. Distribuição em percentuais das respostas dos egressos do Curso de
Educação Física do Centro Universitário Feevale no que se refere a relação cargo profissional
ocupado e salário recebido (n= 65).

    Mesmo observando-se, segundo o GRÁFICO 3, uma certa incompatibilidade entre a situação profissional e o salário dos sujeitos, 72,3% deles se sentem reconhecidos como profissionais de Educação Física, não sendo, entretanto,observado o mesmo por 15,4% dos respondentes. Dentre as justificativas para tal procedimento citam-se as seguintes: "O magistério não é uma categoria reconhecida pelo sistema", "Temos reconhecimento dos colegas, faculdade e antigos mestres, mas nos locais de trabalho não", "O maior reconhecimento é dado pelo aluno que gosta da Educação Física. É a disciplina que o aluno mais gosta e o professor de Educação Física é o mais querido da escola".

    Buscando-se um entendimento sobre os aspectos que geravam insatisfação do professor, Farias, Shigunov e Nascimento (2001), também, verificaram que o salário dos professores incluídos na amostra da pesquisa que realizaram não correspondia ao trabalho desempenhado pelo docente. Foi observado que muitos professores, na busca de melhores condições financeiras abandonavam a carreira docente. O estudo diagnosticou, então, que 96,1% dos professores investigados concordaram que a principal desilusão na carreira docente é a falta de apoio ao magistério. Shigunov, Farias e Nascimento (2002) constataram, num outro estudo realizado que o salário mensal era uma das maiores fontes de reclamação dos professores que reivindicavam uma maior valorização da carreira docente.

    Werneck (2003) referindo-se ao profissional do magistério no século XXI, afirmou que a sociedade, diante de um professor preparado e instigado pelo desejo de transformar, precisaria ser remunerado de tal forma que repusesse seu conhecimento de modo a acompanhar as mudanças dos tempos e vivesse com dignidade.

    Dentre os sujeitos da amostra, 72,3% participaram em cursos de atualização e 24,6% se abstiveram de freqüentá-los. Hoje em dia, ser competente não significa ser portador de um diploma de curso de graduação, mas ter domínio sobre algum campo do saber. Assim, a competência puramente acadêmica, em que o diploma é enfatizado, está se transformando numa competência que segue uma formação continuada.

    A formação continuada em Educação Física, conforme Barros (2002) visa atender à necessidade de o profissional entender a natureza dinâmica do conhecimento especializado e obter a competência do desenvolvimento intelectual e profissional autônomo e permanente. O mesmo autor assevera, também, que tal competência deve possibilitar a continuidade do processo de formação profissional inicial que não se encerra após a colação de grau, necessita, pois, de uma constante atualização e aprimoramento.

    Uma outra modalidade de formação continuada, os cursos de pós-graduação, tem a finalidade de desenvolver e aperfeiçoar a formação adquirida no âmbito da graduação, conferindo, formalmente ao estudante um grau acadêmico. A presente investigação revelou que 41,5% dos sujeitos freqüentaram cursos de pós-graduação em nível de especialização nas áreas de: ciência do movimento humano, psicomotricidade, administração desportiva, ciência do esporte, futebol, dança, treinamento desportivo, metodologia do ensino da Educação Física, pedagogia empresarial, supervisão escolar, handebol, voleibol, arte e educação e ergonomia. Dentre os sujeitos do estudo, 35,4% deles não havia cursado tais cursos, mas demonstraram iniciativa em cursá-los e 23,1% deles não havia cursado nem pretendiam cursá-los (GRÁFICO 4).


Gráfico 4. Distribuição em percentuais* das respostas dos egressos do Curso de Educação Física do Centro Universitário Feevale que freqüentaram cursos de
pós-graduação em nível de especialização (n= 65).
* O número de atividades desenvolvidas foi superior ao número total de casos examinados (n=65) devido as respostas múltiplas.

    Em estudo semelhante, Dias et al. (1999) detectou que 51% dos sujeitos da investigação realizada no Estado do Espírito Santo havia cursado pós-graduação em nível de especialização e 5,4% encontrava-se em processo de realização de tais cursos. Shigunov, Farias e Nascimento, diagnosticaram que 60% dos professores com formação inicial que participaram do estudo que realizaram, havia cursado o curso de pós-graduação em nível de especialização direcionado para sua atuação.

    Considerando-se como atividades de formação continuada os programas de pós-graduação (lato e stricto sensu), congressos, seminários, encontros, cursos de extensão que totalizem um mínimo de horas previstas nas normas administrativas para o seu reconhecimento nos planos de carreira, entre outras, a formação profissional supõe um continuum no qual durante a carreira docente, fases de trabalho devem ser alternadas com fases de formação contínua. Segundo Tardif (2002), percebe-se quatro fases de formação para a profissão, cronologicamente distintas e apontando para a aquisição de saberes e de competências distintas. Tais etapas se expressam na duração e na variedade da formação dos professores iniciada antes da universidade, durante a formação escolar anterior que se transforma na formação universitária inicial, validando-se no momento do ingresso na profissão, nos primeiros anos de carreira e prosseguindo durante a vida profissional docente.


Conclusão

    Buscando-se traçar o perfil dos egressos do Curso de Educação Física do Centro Universitário Feevale, pode-se observar que os sujeitos eram originários das cidades de Novo Hamburgo e de São Leopoldo que freqüentaram o Curso cujo currículo era inicialmente baseado na Resolução 69 de 1969 que estabelecia uma duração mínima de 3 e máxima de 5 anos a serem integralizadas em no mínima em 1800 horas-aula. Cabe ressaltar que neste período o currículo mínimo passou a ser constituído por matérias básicas como a Biologia, a Anatomia, a Fisiologia, a Cinesiologia, a Biometria: profissionais, como, Socorros Urgentes< ginástica, Rítmica, Natação, Atletismo e Recreação e matérias pedagógicas, a Didática Geral e Didática da Educação Física. Assim, na ótica do currículo inicial do Curso de Educação Física da Feevale, a dimensão biológica era considerada fundamental sendo seguida pelas dimensões gímnico desportiva e pedagógica. Com a Resolução No. 3 de 1987 houve um avanço curricular, com o acréscimo de disciplinas que contemplassem uma formação geral (humanística e técnica) e um aprofundamento de conhecimentos.

    Constatou-se, entretanto, que os sujeitos investigados demonstraram uma preocupação em saber-fazer para ensinar, em que a eficiência técnica, metodológica e instrumental eram os aspectos mais enfatizados. Acredita-se que o profissional deveria ter um conhecimento que possibilitasse a compreensão do homem em movimento nos seus mais variados contextos, compreendendo as suas fases de desenvolvimento, suas necessidades, suas limitações e anseios, não se fundamentando apenas na prática pela prática.

     Observou-se que os sujeitos de um modo geral atuavam em atividades fora do contexto escolar, embora, um pequeno número nele atuasse. Segundo o que foi constatado, a maioria dos sujeitos investigados não teve dificuldade em encontrar um emprego, após a conclusão do Curso de graduação em Educação Física, nele permanecendo por um período que variava de 6 a 20 anos.

    O fato de permanecerem por um período superior a 6 anos no emprego não significa dizer que os sujeitos estivessem satisfeitos com o salário que recebiam. Foi, então, constatado que os baixos salários levavam os profissionais a trabalharem em outros estabelecimentos formais e não formais de ensino. Apesar de ser observada uma certa incompatibilidade entre a situação profissional e o salário, a maioria dos sujeitos do estudo se sentia reconhecida como profissionais de Educação Física.

    Embora 72,3% dos sujeitos da amostra tenha participado de cursos de atualização, 41,5% freqüentaram cursos de pós-graduação em nível de especialização. Sabe-se que o profissional preparado e instigado pelo desejo de transformar precisa ser remunerado para que possa viver com dignidade, mas, por outro lado, precisa haver vontade para buscar essa preparação, pois competência não é sinônimo de ser portador de um diploma de curso superior. A competência puramente acadêmica, em que o diploma é enfatizado, está se transformando numa competência que segue uma formação continuada que atualize e aprimore o conhecimento do profissional de Educação Física.


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revista digital · Año 11 · N° 98 | Buenos Aires, Julio 2006  
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