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João Rehder Neto, o tigre brasileiro

   
Graduado em Educação Física
Mestrando em Motricidade Humana
Universidade Estadual Paulista - Campus de Rio Claro
 
 
Américo Valdanha Netto
valdanha@uol.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    O presente artigo reescreve o passado do esporte na cidade de Rio Claro inserida no seu desenvolvimento social, desde a chegada dos imigrantes que vieram de toda a Europa para trabalhar nas lavouras de café, passando pela instauração da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, marco do desenvolvimento do interior paulista. É partir deste contexto que se apresenta o atleta de maior expressão na história do esporte de Rio Claro, João Rehder Neto, que se confunde com a história da cidade ao tempo que é filho de imigrantes alemães e realizava seus treinamentos de maneira peculiar com os trens da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Rehder Neto, conhecido como "O Tigre Brasileiro", graças a seus feitos nos Jogos Sul Americanos de 1937, começou sua carreira como atleta ocasionalmente, lutou na Revolução Constitucionalista de 1932, e é reconhecido como o maior Decatleta do Brasil.
    Unitermos: Rio Claro. História. Esporte.

Assim, vinham paralelos a maquina e seu competidor, até o fim da reta,
quando o ferroviário alegremente apitava, continuando sua viagem até a estação.

Federação Paulista, 1983
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 96 - Mayo de 2006

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Rio Claro: raízes culturais e históricas

    Em 10 de Junho de 1827 foi fundada, sob a proteção do padroeiro São João Batista, a cidade de Rio Claro. Caminho de tropeiros que iam a busca de ouro no Estado de Minas Gerais, a cidade é marcada pela forte presença de imigrantes europeus que nela se instalaram, principalmente com o desenvolvimento da cafeicultura a partir de 1850, época de desenvolvimento do interior do Brasil, que abria suas portas para além das cidades portuárias.

    O café, partindo do Vale do Paraíba, passa, na primeira metade do século XIX, a substituir as plantações de cana de açúcar e foi o grande responsável pelo desenvolvimento da região de Rio Claro, devido à expansão de sua produção e sua comercialização no centro - sul do país. Para que esse desenvolvimento fosse viabilizado foram providenciais, entre outros fatores, duas participações de extrema importância: a primeira é o início da imigração, principalmente alemã nesse primeiro momento, como afirma BILAC (1978, p. 33):

Assim, em 1852, 80 famílias alemãs foram levadas para Ibicaba, no vizinho município de Limeira. Em 1855 Rio Claro já conta com três destas colônias.

    A segunda foi o desenvolvimento das linhas férreas para atenderem as necessidades dos produtores em enviarem sua produção para o porto de Santos, e por esta influência chegam à cidade de Rio Claro em 1876 os trilhos da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

    Tanto a imigração, tratada neste artigo principalmente por seu componente alemão, como a Companhia Paulista de Estrada de Ferro, tem parte em toda a história do desenvolvimento da cidade de Rio Claro, incluindo o esporte, que se tornou ao longo dos anos que se sucederam um importante fenômeno na vida social da cidade. Uma história repleta de personagens que alcançaram feitos significativos em diversas modalidades e que precisa ser resgatada como memória.

    Este artigo esbarrou, por diversas vezes, na dificuldade da ausência de referências ao esporte nas obras históricas e sociológicas sobre a cidade, e para que o mesmo pudesse ser concluído dentro do objetivo de resgatar a história do esporte de Rio Claro se fez necessário um levantamento de material nas instituições onde está presente o esporte. Para isso o material utilizado foram documentos esparsos encontrados no Arquivo Público do Município e em bibliotecas particulares, Jornais da cidade e outros específicos de esporte, além de matérias de revistas e documentos presentes nas instituições que fazem o esporte de Rio Claro. Assim, através de levantamentos em clubes, escolas e organizações sociais, se identificaram os personagens ilustres que fizeram com que Rio Claro estivesse presente no cenário das competições esportivas de alto rendimento, não somente no âmbito regional ou estadual, mas com destaque nacional e internacionalmente.


A Companhia Paulista de Estradas de Ferro e a Imigração Alemã: as raízes do esporte rioclarense

    A inauguração da estação ferroviária, em 1876, foi um marco para o município de Rio Claro. Além da praticidade no escoamento da produção de café as inovações tecnológicas trazidas pela Paulista (como era chamada a Companhia Paulista de Estradas de Ferro) fizeram da cidade pioneira em vários setores, como por exemplo, a chegada da energia elétrica em 1884, fazendo da cidade a primeira do Estado de São Paulo e a segunda do Brasil a contar com esse desenvolvimento. Novas influências culturais também são marcantes na influencia da Paulista, sendo que os funcionários do primeiro escalão da empresa eram ingleses que, entre tantos costumes, trouxeram consigo uma nova idéia de tempo livre, como afirma GARCIA (1992, p. 178):

Uma das preocupações da CPEF foi desenvolver, entre os ferroviários, formas de cultura e lazer.

    O modelo inglês trouxe para a cidade novas perspectivas de desenvolvimento para o esporte, como prova se tem à fundação do Grêmio Recreativo dos Funcionários da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, em 1896, clube que se tornou "celeiro" de inúmeros atletas e modalidades esportivas na cidade, onde atualmente ainda se encontra o maior conjunto de incentivo a pratica esportiva da cidade.

    A Paulista sempre buscou estimular o esporte de Rio Claro, seja com apoio às modalidades esportivas praticadas por seus funcionários, seja doando todo material e mão de obra necessária para a cobertura do Ginásio Municipal de Esportes em 1949, ou até mesmo quando se uniram a outra influência importante na cidade, os imigrantes alemães. Parceria que resultou na primeira piscina da cidade, em 1950 no Ginásio Koelle, toda construída com capital da Paulista dentro do colégio fundado em fins do século XIX pela família Koelle que contava inicialmente com uma proposta educacional nos moldes alemães. O colégio que se tornaria Instituto Koelle em 1914 teve dias de glória no Esporte nacional e internacional, principalmente com a natação onde formou grandes atletas. Entre 1950 e 1956 a equipe do Colégio Koelle conquistou grandes feitos, campeonatos brasileiros, recordes sul-americanos, entre outros.

    Ao longo de toda sua existência, Rio Claro, acompanharam o aparecimento de grandes atletas, pessoas que se destacaram no cenário esportivo do país e em diversas vezes fora do país. Mas nenhum provavelmente poderá ser comparado com um personagem como João Rehder Neto, considerado como um dos maiores nomes da história do atletismo brasileiro. Filho de imigrantes alemães, que se destacou principalmente no atletismo, em sua história se apresenta inúmeras particularidades que se não fossem reais poderiam estar facilmente escritas em algum fascinante e comovente livro de contos heróicos.


João Rehder Neto: o começo do campeão

    Em 19 de outubro de 1905 nascia João Rehder Neto, filho de imigrantes alemães que chegaram à cidade de Rio Claro, motivados pela forte presença de outros imigrantes alemães, para trabalhar na lavoura e também inspirados pela "Escola Alemã", posterior "Colégio Koelle", onde seus filhos teriam a oportunidade de estudar nos moldes alemães. "Foi nessa escola que Rehder Neto encontrou ambiente ideal para desenvolver suas aptidões" (REVISTA CONTRA O RELÓGIO, 1997, p. 40). Aos 15 anos praticava ciclismo, no Velo Clube de Rio Claro, com o passar dos anos mostrava habilidades para o Basquetebol e Futebol, mas se interessou pelo atletismo. Em 16 de março de 1930, influenciado por parentes inscreveu-se no Campeonato de Estreantes do Clube Campineiro de Regatas de Natação, no qual venceu sete provas. O interessante dessa competição fica por conta do trecho retirado do jornal "A gazeta Esportiva":

Quando era jovem costuma Rehder Neto visitar sempre os familiares de sua mãe que moravam em Campinas, quando foi levado par alguns primos ao clube campineiro de regatas, e ficou entusiasmado pelo campeonato de atletismo que ocorreria alguns dias depois resolveu se inscrever em oito provas. Era um campeonato de estreantes, assim o fato despertou incredulidade em todos sobre a sua capacidade esportiva, uma vez que ele desconhecia a mais elementar regra e nada sabia da técnica de qualquer prova. Ele ganhou sete provas e classificou-se em segundo lugar em outra. (NETTO, 1975, p. Folha Solta)


João Rehder Neto: o atletismo e a peculiaridade dos treinamentos

    Considerado o esporte-base, por testar todas as características básicas do homem, o atletismo não se limita somente à resistência física, mas integra essa resistência à habilidade física. Comporta três conjuntos de provas, disputadas individualmente que são as corridas, os saltos e os lançamentos. Conforme as regras de cada jogo, as competições realizadas em equipes somam pontos que seus membros obtêm em cada uma das modalidades. A história do Atletismo começa com os primórdios de nossa civilização. O homem das cavernas, de forma natural, praticava uma série de movimentos, seja nas atividades de caça ou em sua defesa própria. Ele saltava, corria, lançava, enfim desenvolvia uma série de habilidades atualmente relacionadas com as diversas provas de uma competição de atletismo. Pode-se verificar que as provas de atletismo são atividades naturais e fundamentais do homem: o andar, o correr, o saltar e o arremessar.

    João Rehder Neto se dedicou ao decatlo, competição do atletismo composta por 10 provas que envolvem diferentes capacidades: corrida de 100m rasos, salto em distância, arremesso de peso, salto em altura, corrida de 400m rasos, arremesso de disco, corrida de 110m sob barreiras, salto com vara, arremesso de dardo e corrida de 1.500m rasos. O decatlo é um símbolo dos Jogos Olímpicos. A prova tem por objetivo apontar o atleta mais completo. É a mais estafante das competições. O que exige do atleta um forte e especializado treinamento.

    Nessa época, 1930, Rio Claro não contava com um campo próprio para treinamento do atletismo, tão pouco havia na cidade pessoas com conhecimento sobre treinamentos para melhora da performance de atletas. Distante das capitais, João Rehder Neto desenvolveu formas peculiares de treinamento, como afirma Roberto Palmari em seu discurso durante a abertura dos 51º Jogos Abertos do Interior, no ano de 1986, realizados em Rio Claro:

Para ganhar velocidade, corria ao lado de velhas locomotivas. Para saltar melhor, servia-se de abandonados barris em fundos de quintais, e, para arremessos mais firmes, empilhados tijolos. Ensinou-lhe agilidade o gato. Os segredos dos vôos, pássaros libertos, pois outros mestres não teve, nem lhe fora preciso. (PALMARI, 1986)

    As palavras de Roberto Palmari deixam muito clara a relação das técnicas de treinamento de Rehder Neto com o cotidiano em sua volta. Ele treinava seus arremessos e saltos no quintal do depósito de álcool e gás carbônico de seu pai, com quem trabalhava. As corridas eram feitas na estrada entre Rio Claro e Santa Gertrudes, onde ele "apostava" corrida com os trens de carga da antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

Acertava com os maquinistas (que ele conhecia por residirem em Rio Claro) e ficava a espera do trem que chega às 5 da tarde. O maquinista, já prevenido, na ultima curva para chegar à reta combinava, dava os apitos convencionais e acertava a velocidade do comboio. Assim vinham paralelos à locomotiva e o seu "competidor", até o fim da reta, quando o ferroviário alegremente apitava, continuando sua viagem. (JOÃO Rehder..., 1997, p.40)

    Os treinamentos de arremesso de dardo também eram realizados no quintal de sua casa. Famoso por sua pontaria sempre havia um amigo disposto a colocar uma lata de massa de tomate sob sua cabeça para que Rehder Neto arremessasse o dardo certeiro. Outra particularidade dos treinamentos com o dardo, eram os momentos que o mesmo tinha o desejo de enviar um bilhete para sua namorada que costumava esperar pela passagem da condução no portão do Horto Florestal de Rio Claro que não ficava muito distante do portão do quintal de sua casa, assim, Rehder Neto prendia um bilhete na ponta do dardo e o lançava em direção ao poste.

    Em 1935, com ajuda dos amigos construiu, em espaço cedido pelo Velo Clube, antiga equipe de ciclismo que nesse período se dedicava unicamente ao futebol, uma caixa de areia para treino dos saltos. Local que permanece até os dias atuais sendo utilizado pelos atletas da equipe de futebol do Velo Clube.


João Rehder Neto: de atleta amador a revolucionário; o início no clube Germânia

    Após sua estréia em 1930, na competição de estreantes na cidade de Campinas, Rehder Neto participa do Campeonato Paulista de estreantes da Federação Paulista de Atletismo, onde ganha os títulos das modalidades de salto em extensão e salto em altura. Esta competição também marca sua primeira participação no Decatlo. Em 1931, representa o Brasil nos Jogos Sul Americanos da Argentina, em Buenos Aires, onde alcança o quatro lugar do salto triplo.

    Logo no início teve de interromper sua carreira de atleta, devido o seu alistamento voluntário Revolução Constitucionalista de 1932.

A Revolução Constitucionalista de 1932 veio interromper as competições esportivas e a nossa juventude partiu para os "fronts" na defesa dos ideais paulistas. João Rehder Neto e seu irmão Walter alistam-se como voluntários. (NETTO, 1975, p. Folha Solta)

Terminada a Revolução, de volta à ativa no esporte, Rehder Neto, em 1933, passa a competir pelo Esporte Clube Germânia, hoje conhecido como Esporte Clube Pinheiros, da cidade de São Paulo. Sua primeira competição pelo novo clube é um desafio entre Brasil e Japão e ao final do desafio, João Rehder Neto é considerado o melhor saltador brasileiro da época.

    Defendendo o clube Germânia, porém vivendo e treinando em Rio Claro, Rehder Neto começa a colher resultados expressivos: em 1933 faz o recorde brasileiro de salto triplo com a marca de 13,15 m durante o campeonato paulista. Em 1934 marca o recorde brasileiro de salto em extensão em 7,22 m durante o "troféu Prado Junior" realizado no Clube Paulistano. No Chile, em 1935, vence o título sul americano de salto em extensão. Durante campeonato estadual em 1936 bate seu próprio recorde do salto triplo, atingindo a marca de 13,80 m.


João Rehder Neto: nome nacional

    Os resultados conquistados nos últimos anos, desde que iniciou os trabalhos no clube Germânia, principalmente durante os jogos sul americanos no Chile, levaram João Rehder Neto às páginas dos principais Jornais Esportivos da época. Sua presença nos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936 era dada como certa:

Entretanto isto não aconteceu, porque nas ultimas eliminatórias ele sofreu um acidente no pé esquerdo, que o reteve por dois meses dor das pistas, ocasião em que o próprio médico opinou que ele não voltaria a ter condições para o atletismo. (NETTO, 1975, p. Folha Solta)

    De volta a Rio Claro, após se recuperar começa a insistir em treinos leves, e, assim como até o final de sua vida, mantêm um trabalho de recuperação com o uso da bicicleta, uma de suas paixões. Retorna ao cenário das competições de atletismo no ano de 1937, um retorno consagrador, pois além de vitórias nos campeonatos nacionais é o maior destaque do Brasil nos X Jogos Sul Americanos de Atletismo, realizados em São Paulo. João Rehder Neto se consagrava como o maior decatleta do Brasil, para a alegria da cidade de Rio Claro que comemorava ao ver na capa de todos os jornais esportivos da época as fotos de Rehder Neto ao lado de seu irmão Walter Rehder campeão da prova de salto com vara no mesmo evento. Enquanto Rehder Neto saltava para superar novamente seu próprio recorde na prova de salto triplo com a marca de 14,59m, além da vitória na prova de salto em extensão o que somando a outros resultados lhe conferiu o título do Decatlo.

    Durante o campeonato recebe da imprensa sul americana o apelido de "El Tigre Brasileño" (JOÃO Rehder..., p. 40). O Jornal A Gazeta Esportiva apresenta em sua capa do dia 31 de Maio de 1937 uma foto inteira de João Rehder Neto juntamente com um suplemento especial sobre o atleta rioclarense.

    Após essa participação, por se sentir muito velho, aos 32 anos, Rehder Neto abandona as competições do atletismo. Passa parte do ano de 1937 e o ano todo de 1938 sem aparecer em nenhum evento. Vivia ainda marcado pela frustração de não ter participado das Olimpíadas de Berlim em 1936. Porém a esperança de participar em uma Olimpíada em 1940 o levou a aceitar o convite da Federação Paulista de Atletismo para representar o Brasil na XI edição dos Jogos Sul Americanos de Atletismo em Lima no Peru. Por estar parado há muito tempo foi treinando nos estádios das cidades portuárias e exercitando-se no próprio navio. Mesmo assim Rehder Neto se destaca na competição, pela segunda vez consecutiva, e o Brasil vence o campeonato de campo e de pista, graças aos esforços de João Rehder Neto, rei do decatlo de 1937, que se colocou em segundo lugar naquela prova (decatlo) (NETTO, 1975, p. Folha Solta).

    A segunda guerra mundial tirou do mundo as esperanças da realização de uma nova Olimpíada. João Rehder Neto se afastou de vez do atletismo após sua ultima competição sul americana, considerada por muitos um fecho de ouro para sua carreira.


João Rehder Neto: O atleta lavrador

    Pouco tempo depois de abandonar o esporte Rehder Neto casou-se em 14 de Dezembro de 1947, teve dois filhos. Passou a dedicar-se à lavoura de sua fazenda que ficava entre Rio Claro e a cidade de Piracicaba. Sobre sua vida cotidiana na cidade existe um registro:

Na Cidade Azul é uma das pessoas mais conhecidas; é bem humorado, não fuma, não usa bebidas alcoólicas e não deixa sua bicicleta. Está sempre recordando com saudades de seus tempos de atletismo, dizendo que foram as melhores coisas de sua vida. (NETTO, 1975, p. Folha Solta)

    Sempre ligado ao esporte Rehder Neto treinou atletas para o Velo Clube Rioclarense e encaminhou alguns deles para seu antigo clube, o Esporte Clube Germânia, atual Pinheiros, na cidade de São Paulo. Por muitos anos integrou a diretoria da Comissão Central de Esportes de Rio Claro. Morre no dia 8 de Julho de 1979, aos 73 anos, vitima de complicações de um acidente, mesmo após passar por inúmeras cirurgias.

Teve seu caixão velado pela bandeira do Velo Clube Rioclarense, clube de sua predileção, que lhe franqueara a pista desde adolescente para as corridas de bicicleta e depois para os saltos. (JOÃO Rehder..., 1997, p. 41)

    No discurso de Roberto Palmari poucas palavras que expressam quem foi João Rehder Neto: No peito uma medalha de ouro. Na ponta do dardo um bilhete de amor. Sim! Imbatível e duro. Mas humano. (PALMARI, 1986)


João Rehder Neto: uma palavra final

    A cidade de Rio Claro sempre se mostrou receptiva ao esporte Nos dias atuais a cidade respira com a esperança do retorno de um passado recente de conquistas ,proporcionado pelas suas equipes de basquetebol. As duas equipes de futebol da cidade, o Velo Clube Rioclarense e o Rio Claro Futebol Clube, apesar das dificuldades financeiras, estão passando por uma boa fase em seus campeonatos prestes a conseguir a ascensão para uma série melhor no campeonato paulista de futebol. O Grêmio Recreativo exerce, desde sua fundação, o papel de maior instituição do tempo livre do rioclarense, mas também carrega em sua história grandes feitos no esporte profissional. Uma cidade como Rio Claro necessita manter viva suas raízes históricas para que os jovens possam conhecer aqueles que trilharam os caminhos que levaram a cidade a ser conhecida no "cobiçado mundo esportivo".

    O grande salto do esporte de Rio Claro acontece entre 1930 e 1950, momento em que os clubes de futebol começam a se destacar, grupos de jovens se unem e formam novas agremiações, são construídos o primeiro ginásio da cidade e a primeira piscina, novas modalidades esportivas são atreladas ao cotidiano da sociedade, bem como grandes nomes do esporte de Rio Claro começam a se destacar no cenário nacional e internacional.

    No artigo é dado destaque especial a João Rehder Neto, atleta que construiu uma bela historia de vitórias e de particularidades relacionadas a seus treinamentos. Figura sempre carismática era admirado por muitos na época em que competia, e passou a ser idolatrado pelas ruas da cidade mesmo após sua morte. Na cidade existem hoje poucos registros sobre João Rehder Neto. Destaco como exemplo um Centro Social Urbano que atende uma grande faixa da população de Rio Claro e que leva o nome do atleta em seus portões. Porém são raras as pessoas que relacionam o nome do atleta com sua importância na história do esporte de Rio Claro.

    A carência de material para referencia é fato marcante confirmado durante a realização deste artigo. O que se encontra é uma riqueza infinita de contos presentes nas conversas dos moradores mais velhos da cidade, sempre dispostos a narrar com evidente saudosismo ufanista. É assim que este artigo se construiu, a partir da evidente necessidade de escrever a história que é contada, de coletar os materiais existentes e organizá-los.

    Da importância de João Rehder Neto, além das citações de Roberto Palmari retiradas de seu discurso na abertura dos Jogos Abertos do Interior em 1986, existem tantas outras passagens, mas a saudade de muitos aperta quando se lembram das palavras que ouviam no radio durante as transmissões do X Campeonato Sul Americano de Atletismo realizado em São Paulo em 1937, momentos que antecederam seu novo recorde brasileiro do salto triplo. Momento como este narrado pelo radialista SPEAKER e transcrito no artigo do Jornal "A Gazeta Esportiva".

Rehder vai saltar. Agora acaricia o chão de sua terra onde deixará a marca de seu salto! (depois o locutor coloca o microfone no chão e grita) Senhores! Escutem as passadas do Tigre! Lá vai ele correndo, lá vai ele passando. (NETTO, 1975, p. Folha Solta)


Referências bibliográficas

  • BILAC, E. D., Família de trabalhadores: estratégias de sobrevivência, 1ª edição, São Paulo, Símbolo, 157p.

  • FEDERAÇÃO paulista de atletismo. Federação Paulista de Atletismo, São Paulo, 30 de Jan. 1983.

  • GARCIA, L. B. R., Rio Claro e as oficinas da Companhia Paulista de Estradas de Ferro: trabalho e vida operária 1930 - 1940. 1992. 1 v. Tese de Doutorado - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Campinas, Campinas, 1992.

  • JOÃO Rehder Neto "O tigre brasileiro", Contra o Relógio, São Paulo, v. 5, n. 45, p. 40-41, 1997.

  • NETTO, R., Bilhetes de amor na ponta do dardo, A Gazeta Esportiva, São Paulo, 31 maio 1937, Folha Solta, 1-5.

  • PALMARI, R., No peito uma medalha de ouro, na ponta do dardo um bilhete de amor, Diário de Rio Claro, Rio Claro, 07 Jun. 1986, p. 8.

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revista digital · Año 11 · N° 96 | Buenos Aires, Mayo 2006  
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