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Esporte, lazer, ciência e tecnologia:
indicadores para uma politica nacional

   
* Professora do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina,
Doutora em Ciências Humanas e Presidenta do Colégio Brasileiro
de Ciências do Esporte (2003/2005).
** Professora da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Doutora em Educação e Vice-Presidenta do Colégio Brasileiro de
Ciências do Esporte (2003-2005).
 
 
Ana Márcia Silva
Silvana Villodre Goellne

anamarcia@cds.ufsc.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    Procuramos, neste texto, indicar alguns elementos que avaliamos como fundamentais para a estruturação de uma Política Nacional para o setor, centrando-nos nas questões relativas a ciência e a tecnologia.
    Unitermos: Esporte. Lazer. Ciência. Tecnologia.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 92 - Enero de 2006

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    Discutir uma política nacional que envolva o esporte, o lazer, a ciência e a tecnologia no Brasil pressupõe, primeiramente, considerar seu contexto histórico em relação à produção e socialização do conhecimento. Pressupõe, sobretudo, um comprometimento público e também privado com os destinos do saber produzido e socializado e aqui estamos fazendo referência à contribuição deste saber para a garantia da vida em sociedade e a conseqüente ampliação dos direitos civis dos sujeitos que a compõe.

    Iniciamos enfatizando que a ciência e a tecnologia no Brasil, como em quase todos os paises chamados "periféricos", ocorre quase que integralmente nas universidades e pelas universidades, especialmente as públicas. Neste sentido, a defesa intransigente da universidade pública é, não só a defesa de um patrimônio fundamental para a população brasileira, como condição primeira para a produção do conhecimento em Educação Física, Esporte e Lazer, como também para as demais áreas. O Sistema Brasileiro de Instituições Públicas de Ensino Superior constitui-se, portanto, como um locus prioritário para os investimentos e as ações relativas à ciência e à tecnologia, parte essencial de uma Política Nacional de Esporte e Lazer (PNEL), dada a sua condição de racionalizar os recursos públicos e garantir que sejam investidos a partir de demandas de interesses públicos.

    Diante das complexas relações entre países e continentes e, fundamentalmente, destes com as corporações transnacionais cujos objetivos, por vezes, não é o de socializar senão capitalizar o conhecimento, fazer ciência e tecnologia representa, em última instância, construir a soberania nacional. Por certo não há independência na produção do conhecimento em âmbito internacional, no entanto, se faz imperiosa a necessidade de um redimensionamento das políticas científicas e tecnológicas, sobretudo dos países periféricos, direcionando-as para a construção de uma autonomia crítica e consciente, dado que os problemas a serem enfrentados partem de um contexto muito peculiar, cujo processo de "colonização científica" precisa e pode ser evitado.

    Nesse sentido se faz fundamental o incentivo à produção e socialização do conhecimento, visto que promover o acesso à Educação Física, ao Esporte e ao Lazer é condição primeira para a construção da soberania científica nestas áreas, além, de se traduzirem em direito e condição de cidadania dos sujeitos que constroem uma Nação. Construídas e significadas na cultura, essas áreas integram o desenvolvimento humano bem como representam experiências insubstituíveis no que respeita ao exercício da liberdade e da sociabilidade entre indivíduos e grupos de diferentes matizes culturais.

    Construir a soberania, assegurar os direitos de cidadania, liberdade e sociabilidade implica admitir que o esporte e o lazer em construção precisam estar pautados por uma lógica que possibilite a inclusão e afirmação de princípios éticos. Nesse sentido, torna-se importante rever alguns dos pressupostos que orientam essas práticas de modo que possam convergir para a efetiva construção uma sociedade menos competitiva e individualizante e mais solidária a justa. Dentre eles, destacamos a concepção tradicional de ciência, fundamentalmente, porque esta tem se mostrado pouco adequada para analisar e, sobretudo, apontar perspectivas de intervenção à políticas públicas que englobam grandes populações, cuja composição apresenta grupos com diferenças de geração, gênero, religião, classe social e etnia.

    Nesse particular torna-se pertinente rever a contínua fragmentação do processo de construção do conhecimento bem como o distanciamento deste processo com os problemas concretos enfrentados na vida em sociedade o que tem propiciado, como algumas de suas conseqüências, o afastamento tanto da reflexão ética, como da consideração das subjetividades humanas e do compromisso com as questões sociais.

    Uma Política Nacional de Esporte e Lazer capaz de, efetivamente, divulgar e socializar o conhecimento produzido deve primar pela inclusão de uma política nacional que articule redes de cooperação, centros de memória, centros de informação, universidades, bases de pesquisa, periódicos e eventos de qualidade. Entendemos serem estes indicadores cruciais para uma política efetiva neste setor porque é visível, no Brasil, a carência de recursos destinados a esse fim, recursos estes, vale referir, não são apenas de ordem financeira. Uma rede de cooperação pode colaborar, de forma imediata, com a minimização das distâncias regionais, visto que, no âmbito brasileiro, as distâncias e disparidades geográficas, dentre outros elementos de caráter político, têm historicamente dificultado o acesso democrático ao conhecimento, especialmente aquele produzido com recursos públicos. Ressaltamos a urgência de delinear políticas que advoguem nesse sentido porque acreditamos ser essencial, ao pensarmos na soberania de uma cultura, considerar que o conhecimento se constitui como um patrimônio público a ser socializado e disponibilizado para diferentes grupos sociais.

    Uma Política Nacional de Esporte e Lazer deve, portanto, indicar que a ciência e a tecnologia sejam pensadas e construídas a partir de um movimento de articulação com os países da América Latina e do Caribe objetivando formas de resistência ao processo internacional de desconsideração da cultura e da ciência de países considerados como "periféricos". Deve, sobretudo, ter um caráter propositivo direcionado para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, pautando-se pelo respeito à autonomia e pelo espírito de colaboração.

    Esse, sem dúvidas, é um dos grandes desafios do século que se inicia. Acreditamos que, como pesquisadores/as e cidadãos/ãs precisamos, urgentemente, contribuir para a construção de um espaço de direito nas atividades de esporte e lazer e na sociedade, no qual as relações humanas possam ser emancipatórias e emancipadoras.

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revista digital · Año 10 · N° 92 | Buenos Aires, Enero 2006  
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