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Exercícios compensatórios laborais nos operadores
de 'checkout' de um supermercado de Goiânia

   
*Fisioterapeutas
**Fisioterapeuta, Mestre em Fisioterapia UNITRI,
Prof. do curso de Fisioterapia da UCG.
(Brasil)
 
 
Thaís Bandeira Riesco*
Vanessa Kappes*
Renato Alves Sandoval**

rasterapia@ig.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
    Objetivos: Verificar a eficácia dos exercícios compensatórios laborais na prevenção dos DORT's e melhorar o quadro álgico e a qualidade de vida dos operadores de "checkout" de um supermercado da cidade de Goiânia, situado no estado de Goiás. Casuística e métodos: Realizou-se um estudo experimental intervencionista em uma amostra de 10 colaboradores de um supermercado da cidade de Goiânia, onde foram aplicados exercícios laborais, questionários, orientações e palestras. Resultados: Observou-se uma significativa melhora do quadro álgico dos colaboradores no que diz respeito às regiões corporais acometidas. Os indivíduos da amostra apresentaram um elevado nível de estresse, que ao final da terapia permaneceu ainda elevado, mesmo após os resultados finais terem sido satisfatórios em relação aos aspectos físicos e comportamentais. Conclusão: Obteve-se alterações significativamente importantes no que diz respeito às regiões nas quais a dor era mais freqüente, comprovando assim, o índice de ausência de dor (64%) relatado pelos colaboradores ao final das terapias.Entretanto apesar da pesquisa ter comprovado a eficácia da terapia no quadro álgico dos trabalhadores, não foi possível alcançar um resultado positivo em relação aos índices de estresse desses trabalhadores que mesmo ao final do programa continuaram muito elevados, salientando assim que fatores psicosociais muitas vezes não tem correlação com os fatores físicos.
    Unitermos: Cinesioterapia laboral, checkout, fisioterapia preventiva.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 92 - Enero de 2006

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Introdução

    O índice de doenças músculo-esqueléticas, relacionadas ao trabalho, vem crescendo exageradamente nos últimos anos, tendo como causas mais freqüentes atividades repetitivas ou esforços exagerados sobre determinados grupos musculares ou ainda posturas inadequadas adotadas durante a maior parte do trabalho [1].

    Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) são definidos como um conjunto de afecções que podem acometer tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias e ligamentos, isolados ou associadamente, com ou sem degeneração de tecidos, atingem principalmente os membros superiores, região escapular e pescoço, sendo de origem ocupacional [2].

    Ao contrário do que muitos pensam, esta não é uma patologia da vida moderna, o primeiro diagnóstico de DORT data de 1700, na Itália por Bernardino Ramazzini, o pai da Medicina do Trabalho. Furth, comenta que esta doença foi observada em escribas e logo em seguida em lavadeiras, tecedores de redes de pesca, e outros. Estas lesões foram bastante observadas no Japão a partir de 1957, porém, no Brasil, somente em 1987 o INSS as reconheceu como doença ocupacional. Segundo Ribeiro, esta é uma doença genérica que afeta qualquer profissional que exerça movimentos contínuos, o que a relaciona com o trabalho exaustivo oriundo da busca pela produtividade em um mundo globalizado dependente da força tecnológica [3].

    No Brasil, o DORT representa mais da metade das doenças ocupacionais, contabilizando em 2001, segundo o Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador (CESAT), 65% dos casos de diagnósticos de doenças ocupacionais. A incidência é maior entre os trabalhadores jovens e as mulheres são as mais atingidas, justificada por questões hormonais, pela dupla jornada de trabalho, pela falta de preparo muscular para determinadas tarefas e também por ter aumentado significativamente o número de mulheres no mercado de trabalho [4,5,6].

    A incidência de DORT é comum em várias atividades profissionais, incluindo os operadores de caixas de supermercado (checkout). Nessa categoria profissional o DORT, geralmente está relacionado com a introdução de novas tecnologias, como a informática e a leitura óptica, sem a adaptação dos postos e do ritmo de trabalho à nova situação [2].

    Objetivando o bem estar desses trabalhadores e a promoção da qualidade de vida, as empresas perceberam a importância da implantação de programas de fisioterapia preventiva, afim de evitar e combater os DORT's. Esta atuação nas empresas manifesta-se inicialmente através da análise dos fatores de risco predisponentes e a partir daí poderá ser implantado um programa preventivo direcionado às afecções musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho [6].

    Os exercícios compensatórios surgem como alívio para estas sobrecargas do sistema osteomuscular, advindas de posturas estáticas por período prolongado e padrões de movimentos da alta repetitividade. Consistem em exercícios específicos que são realizados no próprio local de trabalho, atuando de forma preventiva e terapêutica, não levando o trabalhador ao cansaço [7]. Leve e de curta duração, a ginástica laboral visa diminuir o risco de acidentes de trabalho, prevenir doenças por traumas cumulativos, prevenir a fadiga muscular, corrigir vícios posturais, aumentar a disposição do funcionário ao iniciar e retornar ao trabalho e promover maior integração no ambiente de trabalho. [8].

    Este trabalho teve como objetivos: verificar a eficácia dos exercícios compensatórios laborais na prevenção dos DORT's, melhorar o quadro álgico e a qualidade de vida dos operadores de "checkout" de um supermercado da cidade de Goiânia, situado no estado de Goiás.


Casuística e métodos

    Estudo experimental intervencionista com aplicação de exercícios laborais, questionários, orientações e palestras.

    A amostra foi composta por 10 (dez) operadores de "checkout", sendo 6 (seis) do sexo feminino (60%) e 4 (quatro) do sexo masculino (40%), com idade variando entre 19 (dezenove) e 50 (cinqüenta) anos com média de 25,80 e desvio padrão de 9,25.

    Foram excluídos deste protocolo todos os trabalhadores que estavam realizando algum tratamento clínico e/ou fisioterapêutico específico para alívio do quadro álgico ou que possuíam algum comprometimento funcional que os impedissem de realizar as atividades propostas.

    O instrumento de coleta de dados consistiu na aplicação de questionários referentes a dados ocupacionais e organizacionais da função exercida pelo trabalhador, escala de estresse percebido de Cohen e Willianson, questionário sobre estresse ocupacional, queixas de dor e Escala Visual Analógica da dor. Foram realizadas palestras educativas antes de iniciar o tratamento preventivo, com o propósito de enfocar assuntos como ergonomia, DORT, cuidados posturais, importância da atividade física; além da elaboração de folhetos informativos abordando os benefícios da fisioterapia preventiva para a empresa e para o empregado [8,9].

    Os recursos materiais utilizados no tratamento preventivo englobaram, bolas de tamanhos variados, bastões e colchonetes. O programa de exercícios compensatórios foi realizado em uma pequena sala cedida pelo próprio local de trabalho durante o período de fevereiro a abril de 2005, sendo realizado 3 vezes por semana com duração de 20 minutos.

    O programa das sessões de Fisioterapia Preventiva tiveram como protocolo técnicas de alongamento global; técnicas terapêuticas, sendo utilizadas técnicas de Iso Stretching e de Ginástica Holística; técnicas de relaxamento muscular global; exercícios lúdicos e dinâmicas de grupo.

    Ao final das terapias foram feitas reavaliações com os mesmos princípios da avaliação inicial, incluindo ainda um questionário referente à opinião dos trabalhadores sobre o programa aplicado.


Resultados

    O tempo de atividade profissional variou de três meses a quatro anos. A média encontrada foi de 17,92 meses e desvio padrão de 14,99. Dos operadores de "checkout", 53,85% encontram-se na função a mais de 11 meses e 46,15% a menos de dez meses.

Tabela 1 - Distribuição em porcentagem do tempo na função de checkout.

    Em relação às regiões anatômicas mais acometidas antes do inicio da terapia, foi observado: coluna (24%), ombros (18%), antebraço (14%), sendo que perna, coxa, joelho, punho, mão, calcanhar, pé e braço somaram 44%. Ao término da pesquisa foi observado que 64% dos colaboradores relataram ausência de dor, 18% relataram dor na coluna e 18% referiram dor em antebraço.


Figura 1 - Distribuição por regiões corporais mais acometidas antes da terapia.


Figura 2 - Distribuição por regiões corporais acometidas após a terapia.

    Na Escala Visual Analógica aplicada no início da terapia foi verificado que um colaborador classificou a dor como 8, quatro colaboradores como 6, três colaboradores como 4, um colaborador como 2 e um colaborador como 1.


Figura 3 - Escala visual analógica de dor (EVA).

    O questionário para identificar o estresse geral dos sujeitos indicou níveis elevados de estresse em todos os trabalhadores.

     De acordo com as respostas do questionário de estresse ocupacional, os principais agentes estressores manifestam-se através da imprevisibilidade no trabalho, ocorrendo às vezes (40%) ou freqüentemente (50%) "ajustes de última hora", do contato com o público, que às vezes é agressivo (40%) e também pelas mudanças organizacionais nos últimos 12 meses (40%).

    As conseqüências destes estresses emergem através de índices relativamente elevados de enxaquecas, câimbras, insônia e fadiga muscular.

    De acordo com o questionário sobre a opinião dos colaboradores em relação à fisioterapia preventiva, todos responderam que o programa de exercícios ajudou a melhorar seu bem estar diário e gostariam que o mesmo continuasse. Já 90% acreditam que tal programa alterou para melhorar seu estilo de vida, 40% afirmaram que passaram a se exercitar com mais freqüência; 50% passaram a realizar exercícios específicos do programa de terapia e 80% passaram a se alongar mais em casa, após exercícios físicos e/ou quando sentiam dores musculares.


Figura 4 - Opinião dos colaboradores em relação ao programa de exercícios laborais.

    Apesar dos resultados finais terem sido satisfatórios em relação aos aspectos físicos e comportamentais, os índices de estresse na avaliação final continuaram elevados.


Discussão

    De acordo com a literatura pesquisada, verificou-se que a profissão de checkout é uma das mais acometidas por queixas e/ou distúrbios relacionados ao trabalho. Segundo Estill, Kroemer e Mackay apud Trelha [10], o setor de caixas apresenta um índice de lesões músculo-esqueléticas de 2 a 3 vezes maiores que outros setores em supermercados.

    O trabalho de checkout é desenvolvido em posição ortostática e estática, associada a movimentos de rotação, inclinação lateral e anterior do tronco. Segundo Diniz e Ferreira apud Trelha [10], a prevalência de sintomas músculo-esqueléticos está relacionada a: 1) necessidade de movimentos amplos para o alcance de mercadorias; 2) necessidade de trabalho estático para a sustentação de peso; 3) incapacidade de alternar as posturas em pé e sentada; 4) posturas desequilibradas com rotação e inclinação lateral de tronco; 5) ausência de pausas programadas; 6) densidade de trabalho irregular com picos de sobrecarga em fins de semana e véspera de feriado; 7) ausência de alternância de tarefas.

    Dias apud Martins [8] acredita que muitos empresários brasileiros ainda vêem a ginástica laboral como uma perda de tempo e produtividade, pois não conseguem enxergar benefícios empresariais provenientes da implantação de tal ginástica.

    Contradizendo Dias apud Martins [8], Pompeo apud Trelha [10] afirma que a ginástica laboral vem se desenvolvendo nas empresas significativamente, diminuindo o absenteísmo e melhorando o desempenho dos colaboradores, o que pode ser comprovado neste trabalho, que apesar do curto tempo de aplicação dos exercícios laborais, a remissão de dor foi de 64%, o que promove um melhor desempenho dos trabalhadores.

     Discordando de Lundberg apud Trelha [10], que em um de seus trabalhos sugeriu que a sintomatologia músculo-esquelética poderia estar relacionada ao estresse, foi observado nesta pesquisa que os níveis de estresse continuaram elevados mesmo após o término do programa de exercícios laborais, enquanto os sintomas músculo-esqueléticos diminuíram significativamente, talvez devido ao curto prazo da aplicação dos exercícios laborais, e também devido ao uso de uma só técnica para alterar os níveis de estresse dos colaboradores.


Conclusão

    Os resultados apresentados em dois meses de programa de exercícios compensatórios, durante quinze minutos, realizada três vezes por semana levam à crer que ocasionaram alterações significativamente importantes no que diz respeito as regiões nas quais a dor era mais freqüente e de alta intensidade, comprovando assim, o índice de ausência de dor (64%) relatado pelos colaboradores ao final das terapias.

    Entretanto apesar da pesquisa ter comprovado a eficácia da terapia no quadro álgico dos trabalhadores, não foi possível alcançar um resultado positivo em relação aos índices de estresse desses trabalhadores que mesmo ao final do programa continuaram muito elevados, salientando assim que fatores psicosociais muitas vezes não têm correlação com os fatores físicos, talvez porque a única alternativa usada (Ginástica Laboral) não tenha sido suficiente para diminuir o nível de estresse.

    Ao término da pesquisa também foi verificada a opinião dos trabalhadores em relação a fisioterapia preventiva através de um questionário e todos relataram o interesse na continuação do programa de exercícios, sendo confirmada mais uma vez a necessidade da implantação de programas de fisioterapia preventiva nas empresas.


Referências

  1. Nascimento NM, Moraes RAS. Fisioterapia nas Empresas. Rio de Janeiro: Taba Cultural, 2000.

  2. Nascimento NM, Moraes RAS. Empresas Despertam para a Ação Preventiva da Fisioterapia. O Coffito, n 3, 26-30, jun. Rio de Janeiro: 1999.

  3. Deliberato PCP. Fisioterapia Preventiva: fundamentos e aplicações. São Paulo: Manole, 2002.

  4. Casellato TFL, Veiga AC, Veiga ML. Análise Prospectiva da Ocorrência de LER/DORT em Empresas da Cidade de São Paulo. Reabilitar, v 5, n 2, 94-103, jul. São Paulo: 2002.

  5. Mota SO. Os Benefícios dos Exercícios Compensatórios Laborais na Empresa. Monografia de Graduação - Faculdade de Fisioterapia, Universidade Católica de Goiás, Goiânia: 2004.

  6. Miyamoto ST, Salmaso C, Mehanna A, Batistela AE, Sato T, Grego ML. Fisioterapia preventiva atuando na ergonomia e no stress no trabalho. Revista Fisioterapia Universidade São Paulo, v 6, n 1, 83-91, jan/jun 1999.

  7. Przysiezny WL. Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho: um enfoque ergonômico. Disponível em: http://www.eps.ufsc.br. Acesso em: 08 setembro, 2004.

  8. Martins CO. Efeitos da Ginástica Laboral em servidores da reitoria da UFSC. Disponível em: http://www.teses.eps.ufsc.br. Acesso em: 04 setembro, 2004.

  9. Prentice WE, Voight ML. Técnicas em Reabilitação Musculoesquelética. São Paulo: Artmed, 2003.

  10. Trelha CSVC, Cunha ACV, Silva DW, Lopes AR, Parra KC, Citadini JM, et al. LER/DORT em operadores de checkout: um estudo de prevalência. Disponível em: http://www.bireme.br. Acesso em: 08 setembro, 2004.

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