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Variáveis influenciando e sendo influenciadas
pela ansiedade-traço pré-competitiva: um estudo com judocas

   
* Acadêmica do Curso de Educação Física - DEF/CDS/UFSC
** Profª Drª do Departamento de Educação Fisica da
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
(Brasil)
 
 
Daniele Detanico*
danieledetanico@hotmail.com  
Saray Giovana dos Santos**
saray@cds.ufsc.br
 

 

 

 

 
Resumo
    Este estudo descritivo diagnóstico, teve como objetivo identificar os níveis de ansiedade-traço pré-competitiva dos judocas participantes dos 44º Jogos Abertos de Santa Catarina e analisar a interferência de algumas variáveis nos referidos níveis. Como instrumento de medida utilizou-se o Sport Competition Anxiety Test (SCAT) de Martens (1982) e os dados foram coletados durante os jogos, minutos antes dos confrontos dos judocas e tratados com estatística descritiva e teste Qui-Quadrado. Os resultados mostraram que: as judocas tiveram índices de ansiedade maiores do que os judocas; os judocas mais velhos obtiveram níveis de ansiedade menores que os mais jovens; não houve relação estatisticamente significativa entre o tempo de prática e a colocação obtida na competição com os níveis de ansiedade dos judocas. Pode-se concluir que os níveis de ansiedade pré-competitiva não estão associados ao tempo de prática e à colocação dos judocas na competição; por outro lado, tanto o sexo quanto a idade mostraram interferir nos níveis de ansiedade traço pré-competitiva desses judocas.
    Unitermos: Judô. Ansiedade. Competição.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 90 - Noviembre de 2005

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Introdução

    Antes da competição, o esportista encontra-se em um estado de intensa carga psíquica (estresse psíquico), que tem sido denominado de "ansiedade-traço pré-competitiva" (SAMULSKI, 2002). Sob o ponto de vista psicológico, esse estado é caracterizado pelo período que antecede a competição, e conseqüentemente prevê as oportunidades, os riscos e as conseqüências. Nesta fase intervêm freqüentemente medos e temores, que não só se manifestam em processos cognitivos, mas também podem produzir reações vegetativas, motoras e emocionais.

    No que concerne à prática de judô, este esporte pode ser considerado diferenciado na medida que integra arte e filosofia, possibilitando ao praticante um desenvolvimento do caráter, da moral, enfim, um autoconhecimento permitindo que este identifique seus limites e tente superar os obstáculos, tanto na prática quanto no cotidiano.

    Deste modo, com base na literatura, e tendo em vista que teoricamente, os judocas tendem a apresentar um maior auto-domínio, resultando em menores níveis de ansiedade, é que procurou-se com este estudo responder as seguintes questões: será que os níveis de ansiedade-traço pré-competitiva de judocas estão associados a: idade, sexo, tempo de prática e colocação obtida na competição?

    Para responder a questão do estudo, objetivou-se identificar os níveis de ansiedade-traço pré-competitiva dos judocas participantes dos 44º Jogos Abertos de Santa Catarina e associar os referidos níveis com: idade, sexo, tempo de prática e colocação obtida na competição.


Materiais e métodos

    Participaram deste estudo de característica descritiva do tipo diagnóstico, 122 judocas, sendo 65 atletas do sexo masculino e 57 do sexo feminino, participantes dos Jogos Abertos de Santa Catarina em 2004.

    Como instrumento de medida foi utilizado o "Sport Competition Anxiety Test" - SCAT, desenvolvido por Martens (1982), cuja classificação é dada em escores, sendo: de 10 a 12 pontos, ansiedade baixa; de 13 a 16 pontos, média baixa; de 17 a 23 pontos, média; de 24 a 27 pontos, média alta e acima de 28 pontos, ansiedade alta.

    A coleta de dados foi efetuada no local da competição, com o consentimento antecipado dos organizadores e consentimento orientado dos judocas. A administração da escala SCAT foi efetuada individualmente, minutos antes dos confrontos.

    Para análise dos dados foram utilizadas técnicas estatísticas descritivas em termos de média, desvio-padrão, máximo, mínimo e, estatística não-paramétrica com utilização do teste Qui-Quadrado a p < 0,05.


Resultados e discussão

    As características, os níveis de ansiedade-traço pré-competitiva, assim como as variáveis investigadas dos judocas estão contidas no Quadro 1.

Quadro 1: Características gerais dos judocas

     Observando o Quadro 1 verifica-se que os 122 judocas participantes do estudo apresentam média de idade de 21,7 ± 5,7 anos e média de tempo de prática de 9,2 ± 6,7 anos. Em relação à ansiedade, 9 atletas caracterizam-se por apresentar ansiedade média baixa (13 a 16 pontos), 58 ansiedade média (17 a 23 pontos), 37 ansiedade média alta (24 a 27 pontos) e 18 atletas ansiedade alta (acima de 28 pontos).

    Com relação à graduação, 8 judocas estão no 6º kyu (faixa branca); 20 no 5º kyu (faixa amarela); 12 no 4º kyu (faixa laranja); 9 no 3º kyu (faixa verde); 18 no 2º kyu (faixa roxa); 30 no 1º kyu (faixa marrom) e 25 com diferentes Dan (faixas pretas). No que diz respeito à colocação obtida nos jogos, 6 judocas obteram o 1º lugar; 6 o 2º lugar; 18 o 3º lugar e os demais (92) não foram medalhistas.

    Atendendo aos objetivos específicos do estudo, associou-se os níveis de ansiedade-traço pré-competitiva com as variáveis idade, sexo, tempo de prática, e colocação nos jogos, mediante o teste Qui-Quadrado, com o nível de significância de 0,05, conforme resultados apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 - Associação dos níveis de ansiedade-traço pré-competitiva dos judocas com as variáveis:
idade, sexo, tempo de prática e colocação nos jogos 44º JASC.


p<0,05

    No que concerne a idade, verifica-se que houve associação significativa com a ansiedade-traço pré-competitiva. Tais achados são confirmados pela literatura, na medida que com o passar da idade a tendência é de redução dos níveis de ansiedade. Cratty (1984) coloca que o fenômeno ansiedade aumenta principalmente na fase da adolescência, diminuindo na idade adulta. As causas da ansiedade no adolescente são essencialmente a falta de ajustamento de seu papel de vida, refletindo incertezas, dúvidas e ansiedade. Já na idade adulta aparece o período de consolidação máxima em desenvolvimento, e inclui a consecução de interdependência emocional, social e econômica.

    Com relação à associação entre sexo e níveis de ansiedade, observando a Tabela 1, verifica-se que houve associação significativa, resultado este que confirma que as mulheres judocas participantes deste estudo possuem índices ansiogênicos mais elevados do que os índices encontrados no sexo masculino. Vários estudos comprovam esta tendência, não só em lutas, mas em outros esportes como no voleibol (STEFANELLO, 1990), no atletismo (DE ROSE JUNIOR e VASCONCELLOS, 1997) e, Ucha et al. (2001), pesquisaram 11 modalidades, nas quais as mulheres também apresentaram índices de ansiedade mais elevados que os homens.

     Dando continuidade ao estudo, associou-se tempo de prática do judô com os níveis de ansiedade. Visualizando a Tabela 1, verifica-se que não se encontrou associação significativa entre a variável tempo de prática e ansiedade (c2c = 5,82; p=0,44). Uma das justificativas do achado, pode ser pelo fato dos ideais filosóficos do judô não estarem sendo trabalhados durante o treinamento e, dessa forma, os atletas não teriam desenvolvido um equilíbrio emocional diante das competições.

    Quando se refere a uma prática embasada em pressupostos teóricos filosóficos, enfatiza-se o desenvolvimento das sessões de aulas e/ou treinamento, nos quais estão embutidos valores que reforçam o auto-domínio, o auto-conhecimento e a superação, entre outros. Tal aprendizado compreendido e introjetado pelo judoca, tende a auxiliar na redução das reações ansiógenas normalmente proporcionadas frente à competição.

    Mesmo que estudiosos da área, tais como De Rose Junior e Vasconcellos (1997), Samulski (2002) e Barreto (2003), afirmem que quanto maior a experiência do atleta, menor são os níveis de ansiedade, e, ainda que em um estudo com judocas, Santos e Detanico (2004) tenham encontrado diferença significativa entre os níveis de ansiedade de judocas iniciantes frente a primeira competição esportiva com judocas experientes, neste estudo não conseguiu-se tal associação, mesmo porque nenhum deles estava participando de uma competição pela primeira vez.

    Por fim, objetivou-se associar o nível de ansiedade traço pré-competitiva com a colocação obtida nos Jogos e, conforme Tabela 1, também não se encontrou associação estatisticamente significativa (X2c = 4,42; p=0,61).

    A literatura sugere que em relação a performance, atletas com um maior controle emocional terão melhores resultados na hora da competição (MORAES, 1990; STEFANELLO, 1990; BRANDÃO, 1993; BARRETO, 2003), pois, níveis muito altos de ansiedade podem inibir o desempenho atlético, na medida que podem distorcer a percepção externa, causando reações adversas em momentos decisivos, principalmente em esportes de combate, no qual o tempo de reação do atleta e tomada de decisão são incisivos no resultado.


Conclusões

    Com base nos resultados obtidos e respeitando os pressupostos teóricos pesquisado, conclui-se que:

  • O nível de ansiedade traço pré-competitiva dos judocas que participaram dos 44º JASC, pode ser considerado como médio, mesmo que alguns judocas tenham apresentado o nível máximo proposto pelo protocolo;

  • As mulheres judocas mostraram-se mais ansiosas que os homens;

  • A ansiedade dos judocas participantes dos 44º JASC tem associação com a idade, ou seja, quanto maior a idade menos ansiosos os judocas se mostraram;

  • Parece que os níveis de ansiedade traço pré-competitiva apresentados pelos judocas nos jogos não foram influenciados pelo tempo de prática;

  • Da mesma forma, os níveis de ansiedade traço pré-competitiva apresentados pelos judocas medalhistas, não influenciaram a colocação obtida nos 44º JASC pelos mesmos.


Referências bibliográficas

  • BARRETO, J.A. Psicologia do esporte para o atleta de alto rendimento. Rio de Janeiro: Shape. 2003.

  • BRANDÃO, M.R.F. Perfil psicológico: uma proposta para avaliar atletas. Revista Brasileira de Ciência do Movimento. 7(2):16-27, abr. 1993.

  • CRATTY, B.J. Psicologia do Esporte. 2. ed. Rio de Janeiro: Prentice - Hall do Brasil, 1984.

  • DE ROSE JUNIOR, D.; VASCONCELLOS, E.G. Ansiedade-traço competitiva e atletismo: um estudo com atletas infanto-juvenis. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo. 11(2):148-54, jul./dez. 1997.

  • MARTENS, R. Sport competition anxiety test. 2. ed. Champaign Human Kinetics Publishers, 1982.

  • SAMULSKI, D. Psicologia do Esporte. 1 ed. Manole:São Paulo, 2002.

  • SANTOS, S. G. dos; DETANICO, D. Nível de ansiedade-traço pré-competitiva de judocas mediante a primeira experiência competitiva. In: SEPEX, 2004, Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC, 2004.

  • STEFANELLO, J. M. F. Ansiedade competitiva e os fatores de personalidade de adolescentes que praticam voleibol: um estudo causal comparativo. Santa Maria. Kinesis, v.6 n.2 p.203-24, 1990.

  • UCHA, F.G. et al. Ansiedad e indicadores de rendimiento em deportistas. Revista Digital. Buenos Aires, ano 6, n. 33, mar. 2001.

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