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A psicologia do esporte no tênis de campo:
uma análise da variável motivação

   
Membros do LEPESPE - Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte
*Bacharel em Educação Física na Unesp/Rio Claro
Mestrando em Pedagogia da Motricidade Humana na Unesp/Rio Claro
**Professor adjunto na UNESP; coordenador do LEPESPE
Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista
"Júlio de Mesquita Filho" - UNESP - Campus de Rio Claro, SP
 
 
Ricardo Macedo Moreno*
Afonso Antonio Machado**

ricardomacmor@ig.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    Este trabalho utilizou entrevistas semi-estruturadas para analisar e avaliar o perfil psicológico de tenistas de campo, mais precisamente a motivação dos mesmos em situações próprias da modalidade. Cinco tenistas que participam de competições de âmbito nacional foram entrevistados comprovando que a motivação tem valor decisivo no rendimento em treinamentos e em competições, além de aumentar a aderência no esporte.
    Unitermos: Motivação. Psicologia do esporte. Tênis de campo.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 88 - Setiembre de 2005

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Introdução

    Esse trabalho teve como objetivo verificar o perfil psicológico de atletas de Tênis de Campo que disputam campeonatos filiados a Federação Paulista de Tênis (FPT) e Confederação Brasileira de Tênis (CBT) , com idade entre 16 e 22 anos. A análise se prendeu mais precisamente a motivação dentro do contexto e de situações próprias da modalidade, relacionando os dados obtidos com as perspectivas da Psicologia do Esporte.


História do tênis

    Muitas são as alternativas pelas quais passou o tênis, por isso que sua origem é polêmica e pouco conhecida. A Escócia se considerava o primeiro país que jogou tênis, mas na realidade o esporte surgiu do jogo do balão (HARPASTUM) praticado pelos romanos, que o levaram para todas as regiões do mundo. O Harpastum foi adaptado no País Basco e recebeu o nome de jeu de paume, porque a bola era batida com a palma da mão contra um muro, mais ou menos o que ocorre hoje com a Pelota Basca (HISTÓRIA..., 2004).

    Segundo a Confederação Brasileira de Tênis (2004) o tênis chegou no Brasil pelas mãos dos engenheiros ingleses que vinham trabalhar nas empresas de energia elétrica e nas estradas de ferro do país no final do século passado. O primeiro clube que iniciou a prática foi o Club Blitz de Ciclismo, fundado no dia 15 de outubro de 1898, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

    Atualmente o tênis deixa de ser um simples esporte para se tornar um acontecimento internacional, através dos diversos torneios disputados pelo mundo, acompanhados por milhões de pessoas. Os prêmios, patrocinadores e tenistas (verdadeiras personalidades internacionais) também colaboram para a difusão e popularização do esporte em todo o mundo.


Motivação

    Para Vallerand e Fortier (1998), o estudo sobre motivação contribui para um melhor entendimento dos processos psicológicos dentro do esporte e da atividade física, além de proporcionar um acúmulo de informações necessárias para a validação das teorias psicológicas. Essas informações podem gerar um conhecimento que permita alterar o ambiente e a motivação dos participantes.

    Butt (1987) observa que os estudos feitos na Psicologia do Esporte foram motivados por questões como: importância dos modelos de atletas para futuros talentos esportivos; persistência de atletas em continuar participando de competições, mesmo em circunstâncias desfavoráveis; comportamentos diferentes dentro do ambiente esportivo e fora dele; os motivos que levam milhares de torcedores ao campo.

    Os pesquisadores estudam a motivação de diversas formas, considerando variações nos distúrbios hormonais, neurofisiológicas, na aprendizagem e na moral sobre o comportamento humano (BUTT, 1987). Não há respostas para todas as perguntas, pois as teorias e hipóteses devem ser flexíveis e compreensíveis, a fim de que se possa entender a complexidade das ações humanas.

    Gouvea (1997) afirma que, em qualquer momento na relação entre ensino-aprendizagem, a motivação pode ser um elemento determinante para que se atinja um bom desempenho. Ele afirma que quanto maior for o estímulo, maior será a motivação.

    Segundo Samulsky (1992), a motivação é caracterizada como um processo ativo, intencional, que pode ser direcionado a uma meta. O nível de motivação de cada um depende da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos).

    Segundo Machado (apud GOUVEA, 1997), a pessoa que é motivada pelo sucesso tem um nível de exigência executável, realista e de tipo mediano, demonstrando uma conduta corajosa para atingir sua meta, considerando como causa do seu fracasso motivos externos (motivação extrínseca) ou falta de esforço (motivação intrínseca); enquanto que aqueles que são motivados pelo fracasso fixam um nível de exigência muito alto, irreal, ou excessivamente baixo, e mostram tendência para uma conduta sumamente fraca ou carente de adequado valor e atribuem seu fracasso à falta de talento.

    Na relação entre motivação e treinador, Samulski (1992) afirma que o treinador deve motivar seu atleta para buscar uma motivação intrínseca, a fim de conseguir alcançar um nível de cooperação e procurar por uma orientação normativa.

    Ao longo dos anos, esses estudos têm tentado demonstrar que a queda da motivação intrínseca se deve a vários fatores sociais (VALLERAND e FORTIER, 1998). A teoria de autopercepção atribui a motivação intrínseca de um indivíduo a fatores externos (motivação extrínseca). Isso pode ocorrer, por exemplo, quando uma pessoa resolve se envolver em uma atividade esperando ser recompensada por elogios vindos de outras pessoas. Neste caso há uma diminuição da motivação intrínseca.


Metodologia

    Aplicou-se entrevista semi-estruturada em cinco atletas, sexo masculino, faixa etária entre 16- 22 anos, participantes de campeonatos da Federação Paulista de Tênis, durante um encontro individual com cada atleta. Gravaram-se os dados que foram analisados por categorias.


Dados coletados e análise

    A grande maioria dos atletas admite que sua motivação é maior em campeonato, o que pode ser explicado por se tratar de uma situação de caráter puramente competitivo (onde a busca pela vitória é constante) e que sai da rotina normal de treinos (no caso) do dia-a-dia. Além disto, os atletas são treinados para a competição, este é o alvo dos cronogramas e das etapas que antecedem todo o ponto final do treinamento: o auge, por assim dizer; entendemos que isso apenas justifique os períodos preparatórios.

    A maioria dos atletas sente que tanto a torcida a favor quanto a contra interfere positivamente em suas performances. A motivação e vontade de vencer aumentam por querer exibir sua performance à torcida que está a favor (como amigos e parentes) que, como mostrado, podem também aumentar a pressão, situação comum quando pais que cobram muito dos filhos vão assisti-los jogar e o filho se sente pressionado a fazer o melhor. A torcida contra mexe com o amor-próprio, com a auto-estima do atleta que se sente obrigado a mostrar o contrário como manifestação de bravura.

    Para alguns tenistas essa motivação para virar o jogo depende da situação do placar, dele na partida (de acordo com sua performance) e do adversário, onde se o adversário jogar bem eles consideram essa virada como impossível e entregam o jogo, talvez por não se sentirem confiantes em si mesmo e em sua própria performance.

     Os atletas quando enfrentam jogadores de melhor ranking, na maioria dos casos passa a responsabilidade de vitória para o jogador de melhor ranking e jogam sem pressão, pois acreditam que melhor ranking é sinal de melhor performance e a derrota no caso não seria inesperada. Em algumas ocasiões se sentem motivados a jogar uma vez que acreditam que a diferença de performance não é tão grande e que a vitória pode acontecer e que ganhar de um jogador de melhor ranking aumenta a auto-estima e a confiança em si.

     Analisando a qualidade técnica dos adversários, quando os atletas jogam contra atletas de qualidade técnica inferior a sua se sentem pressionados e obrigados a vencer visto que comparam sua performance com a do adversário e se acham superiores não sendo admissível a derrota, além de sentirem envergonhados quando pensam na possibilidade de derrota para tal adversário. Alguns atletas se sentem mais confiantes por analisarem o adversário e sentirem que é boa a probabilidade de vitória, outros se sentem desmotivados a jogar por acharem que a vitória está garantida, sentem-se confiantes e já pensam no próximo jogo, entram na quadra por obrigação.

     Alguns atletas atingem esse ponto máximo influenciado por fatores extra-quadra, como público e seu comportamento e mesmo o placar adverso, estes parecem encarar seu jogo como um show onde eles parecem jogar não pela vitória mas pelo gosto do público.


Conclusão

    A interferência dos fatores extrínsecos foi observada quando as torcidas a favor e contra estavam presentes. A torcida a favor aumentou a motivação dos atletas pelo nível biológico, por aumentar a vontade de vencer, além de aumentar pelo nível de reforço vindo do ambiente podendo ser externa (posição, status, aplauso, etc) ou interna (auto-estima, alegria, satisfação, etc) como relatado por Butt (1987). Essa motivação extrínseca também foi responsável pelo aumento da pressão nos atletas, que se sentiam cobrados a atingir as metas para conseguir a aprovação social (VALLERAND e FORTIER, 1998).

    A torcida contra aumentou a motivação pelo nível psicológico, por se tratarem de atletas com personalidade agressiva, estes voltavam sua energia contra o público que não queria seu sucesso, querendo mostrar para os mesmos força e poder (BUTT, 1987).

    Ainda foi observado que os atletas sentiam a necessidade de dominar, de se auto-afirmar, de ganhar reconhecimento, de adquirir status, de evitar humilhação, esses e outros motivos que alteraram o comportamento dos atletas (MURRAY, apud CRATTY, 1984) em situações como: quando a torcida estava a favor ou contra, quando jogavam contra atletas de melhor ranking e quando jogavam com atletas de qualidade técnica inferior.

    A maioria dos atletas se mostrou motivado a virar uma partida com placar amplamente desfavorável, pela atratividade da atividade e o nível de desafio, que possivelmente foi considerado pelos atletas como sendo uma tarefa de dificuldade média, sendo nesses casos onde a motivação máxima é atingida (SAMULSKY, 1992).

    Uma observação pertinente é que os atletas com idade maior apresentavam um controle emocional e motivação maiores, adquiridos pela experiência vivida no esporte e pelas horas de quadra a mais que possuíam. Sugere-se que o estudo seja feito com um número maior de participantes e com uma divisão etária que respeite mais as características de cada fase.

    Considerando a importância da motivação para o processo de ensino-aprendizagem e para o desempenho, sugere-se que as academias e os clubes tenham cada vez mais profissionais da área de Psicologia do Esporte qualificados para ajudar os atletas a potencializar seu jogo como um todo, pois o que foi até agora exposto é que difere os atletas vencedores dos perdedores.


Referências bibliográficas

  • BUTT, D. S. Psychology of Sport: The Behavior, Motivation, Personality, and Performance of Athletes. 2.ed. New York: Van Nostrand Reinhold Company, 1987.

  • CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE TÊNIS. História: O Tênis no Brasil. Apresenta informações sobre o tênis. Disponível em: http://www.cbtenis.com.br/ index.asp?Page=TenisnoBrasil. Acesso em: 4 dez. 2004.

  • CRATTY, B. J. Psicologia do Esporte. 2.ed.. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil, 1984.

  • GOUVÊA, F. C. A motivação e o Esporte: uma análise inicial. In: BURITI, M. de A. Psicologia do Esporte. Campinas: Alínea, 1997b, cap.9, p. 149-173.

  • GOUVÊA, F. C. Motivação e Atividade Esportiva. In: MACHADO, A. A. Psicologia do Esporte: temas emergentes . Jundiaí, Fontoura, 1997, cap. 9, p.167-191.

  • HISTÓRIA do tênis. Apresenta informações sobre o tênis. Disponível em: http://www.matchpoint.com.br/historia_principal.html. Acesso em: 4 dez. 2004.

  • SAMULSKY, D. Psicologia do Esporte: Teoria e Aplicação Prática. Belo Horizonte: Imprensa Universitária/UFMG, 1992.

  • VALLERAND, R. J.; FORTIER, M. S. Measurement of Intrinsic and Extrinsic Motivation in Sport and Phisical Activity: A Review and Critique. In: DUDA, J. L. Advances in Sport and Exercise Psychology Measurement. Purdue University: Book Crafters, 1998. Cap.1, p. 81-101.

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