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A formação do atleta no contexto histórico da educação física
e do treinamento esportivo no Brasil

   
Mestres em Ciências Aplicadas a Atividade Física e ao Esporte
Universidade de Córdoba - Espanha
(Brasil)
 
 
Prof. Ms. Rodrigo Rother
Prof. Ms. Carlos Franzen

rodrigorother@bol.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
    No contexto atual do esporte de alto rendimento, as maneiras com que são realizadas a formação de um atleta percorrem um caminho que foi iniciado a muitos anos. No Brasil, o modelo de treinamento historicamente nasceu desvinculado de seu propósito e necessitou modificar-se para manter-se útil, embora ainda se percebam alguns traços de referências já superadas pelo tempo. As capacidades físicas dos atletas eram trabalhadas sem considerar suas capacidades mentais, já hoje, a sua autonomia, reflexão e tomada de decisão são muito mais valorizadas.
    Unitermos: Formação. História. Educação Física. Treinamento desportivo.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 87 - Agosto de 2005

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Introdução

    No contexto atual do esporte de alto rendimento, as maneiras com que são realizadas a formação de um atleta percorrem um caminho que foi iniciado a muitos anos. As exigências por resultados são cada vez maiores, e, conseqüentemente, as ferramentas utilizadas para atingir tais metas acompanham esta tendência, precisando agregar novos conhecimentos e descobertas para chegar ao limite máximo. Assim, não só os atletas, figuras centrais do esporte, como também os técnicos, necessitam acompanhar as evoluções e adequar-se as novas exigências melhorando em todos os aspectos que podem interferir na performance.


Objetivo

    Os autores pretendem analisar a maneira como se formavam e se formam atletas de acordo com o contexto histórico ao qual se inseriram ou estão inseridos.


Metodologia

    Foi revisada a literatura especializada no tema.


Discução

    Considerando a história do treinamento esportivo, encontramos uma significativa diferença entre as condições necessárias para formar um atleta de ponta e as condições apresentadas para tanto. No Brasil, o modelo de treinamento historicamente nasceu desvinculado de seu propósito e necessitou modificar-se para manter-se útil, embora ainda se percebam alguns traços de referências já superadas pelo tempo. Segundo Ghiraldelli (1991) a Educação Física Militarista predominou no Brasil entre 1930 e 1945, e influenciou na concepção de treinamento para o esporte de rendimento. Tendo a coragem, a vitalidade, o heroísmo e a disciplina exacerbada como sua plataforma básica, a concepção de treinamento referida pelo autor, visava impor a toda sociedade padrões de comportamento estereotipados. Seu objetivo era a obtenção de uma juventude capaz de suportar o combate, a luta e a guerra, colaborando assim, no processo de seleção natural, eliminando os fracos e premiando os fortes.

    Outra visão para a Educação Física, segundo Ghiraldelli (1991), foi a chamada Educação Física Competitivista, nos anos pós-revolução de 64. Seu objetivo principal, e desejado para toda sociedade moderna, foi a caracterização da competição e da superação individual. Percebemos assim, uma transformação dos princípios gerais da Educação Física, vinculando-a ao rendimento e tornando-a tão associada ao esporte que, ao invés do último servir como ferramenta do primeiro, os dois tornaram-se praticamente a mesma coisa. Naquela situação, a prática desportiva deveria ser massificada, para poder brotar os expoentes capazes de brindar o país com medalhas olímpicas.

    Na concepção do atleta atual, há uma nova perspectiva no que se refere às suas qualidades físicas e mentais. Vários autores têm dito que o atleta necessita lidar com a percepção de si, com seus desejos e impulsos, com seus objetos internos, seu poder de analisar os sinais do meio e sua inteligência para interpretar e tomar diferentes soluções motoras associadas a suas necessidades e interesses (Martens, 1995; Weinberg e Gould, 2001; Williams, 1991).

    No que diz respeito ao seu corpo, na concepção de Fontanella (1995), ele é o âmbito da ação. Recusando as concepções dicotômicas, que separam mente e corpo, que relegam ao corpo a objetividade e a mente a realidade subjetiva (Víctora, Kanauth, Hassen, 2000), ou ainda a concepção que descreve Gaiarsa (1986), salientando que há verdade e mentira em termos de corpo e mente, onde é verdade que o corpo obedece em matéria de movimentos, gestos e habilidades manuais e mentira que tenhamos poder nas emoções, desejos e temores.

    Entendendo as necessidades do atleta como indivíduo detentor de todas essas qualidades físicas e mentais e integrante de um ser "único" (corpo e mente juntos) parece lógico e necessário ver a Educação Física e o Treinamento Desportivo de uma maneira moderna, lidando com a formação de atletas de uma maneira integral e plural, voltada para atender todas as suas necessidades psicofísicas, diferente de como a visão unilateral e singular da Educação Física Militarista e Competitivista faziam.

    Os professores e técnicos desportivos das épocas citadas tinham uma atitude rígida e reprodutora, onde o atleta não deveria pensar e questionar, mas sim, obedecer ordens (Tubino, 1992). Santin (2000) explica que os resultados que essa metodologia de formação implicavam eram muito bons tecnicamente, mas desconsideravam a autonomia nas tomadas de decisão por parte dos atletas e pregava a responsabilidade pelo medo das punições e não pela consciência.

    Como se pode conceber a formação do atleta autônomo, capaz de reconhecer sua totalidade, no incurso da sua realidade objetiva de corpo, na atuação do esporte, se a sua formação e seu treinamento é baseado em uma formação sem autonomia e sem englobar sua totalidade?

    Numa análise fria do esporte, simplificando ao máximo nossa reflexão, parece apropriado que, não só para a adequada e total formação do atleta, como para seu melhor rendimento, a autonomia e as tomadas de decisão devem ser instigadas pois, dentro da quadra, quem terá que decidir em uma fração de segundo e agir será o atleta. O paradigma contraditório é que o indivíduo treine seu automatismo, para a precisão de seus atos motores, mas o que faria a diferença seria sua atitude autônoma, sua interpretação objetiva e subjetiva do contexto. Como é possível treinar para reproduzir e ser exigido para criar? Submeter-se a situações rígidas em treinamento e flexíveis na competição?

    A discussão que nos parece apropriada a fazer é questionar se aprendemos com a metodologia do treinamento do corpo, da corporeidade, utilizadas no passado recente, não só com o que se deve fazer na formação do atleta para que ele chegue ao seu melhor, mas também com o que não se deve fazer nesta formação. Se considerarmos a necessidade de atletas dotados de qualidade técnica, de performance de nível alto para a prática do desporto, devemos entender o que isto implica, em uma concepção moderna, subjetiva e objetiva em uníssono (Víctora, Kanauth, Hassen, 2000), que considera como necessário o conhecimento dos impulsos e necessidades que são manifestados pelo corpo (Carravetta, 2001) bem como dos aspectos coordenativos e habilidades do corpo físico, para a correta interpretação das situações pelas quais passa o atleta.

    Nosso entendimento passa pelo próprio entendimento do contexto histórico por que passou a Educação Física e o Treinamento Esportivo, dos objetivos enunciados explícitos e implícitos e a sua realidade na competição. Com isso, ao levantarmos a discussão sobre como era tratada a formação de atletas no nosso passado recente, os modelos que foram seguidos e os que deveriam ser seguidos, pretendemos iniciar uma nova discussão, de como o técnico desportivo, enquanto líder e influenciador dos seus atletas, é responsável direto pela formação integrada dos mesmos e indireto por levá-los aos seus sonhos.


Referências bibliográficas

  • CARRAVETTA, E. S. P. O Jogador de futebol: técnicas, treinamento e rendimento. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2001.

  • FONTANELLA, F. C. O Corpo no limiar da subjetividade. Piracicaba: Ed. Unimep, 1995.

  • GAIARSA, J. O que é corpo. São Paulo: Ed. Brasiliense S. A. 1º edição, 1986.

  • GHIRALDELLI, P. Educação Física Progressista. São Paulo: Edições Loyola, 1991.

  • MARTENS, Rainer.; et al. El Entrenador. Barcelona, Hispano Europea - 1995.

  • SANTIN, Silvio. Educação física: da alegria do lúdico à opressão do rendimento. Porto Alegre - RS: Est Edições, 1994.

  • TUBINO, M. J. Gomes. Uma visão paradigmática das perspectivas do esporte para o século XXI. in GEBARA, Ademir...et al; MOREIRA, W. Wey (org.). Educação física e esportes: perspectivas para o século XXI. Campinas - SP: Papirus, 1992.

  • VÍCTORA, C.; KANAUTH, D. R.; HASSEN, M. N. A. Pesquisa Qualitativa em Saúde: uma introdução ao tema. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2000.

  • WEINBERG, Robert & GOULD, Daniel. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. 2° Ed. - Porto alegre: Artmed Editora, 2001.

  • WILLIAMS, Jean M. Psicologia Aplicada al Deporte. Biblioteca Nueva. Almagro, Madrid, 1991.

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