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Handebol: uma visão político-crítica do
seu desenvolvimento como desporto

   
Laboratorio de Pesquisa Cientifica da Unipar
(Brasil)
 
 
Dr Robson Olivoto
robsonolivoto@unipar.br

 

 

 

 

 
    O handebol como desporto atinge estratos de massificação em Países Europeus, principalmente em paises escandinavos. No entanto em nosso País estamos longe de se atingir patamares que o deteminem como desporto massificado ou princípal desporto.
    O Handebol foi criado por um alemão chamado Karl Schellenz por volta de 1914, apartir de visitas, quando então marinheiro da frota alemã, por Países da América do Sul (Uruguai em especial, que possui um desporto chamado Balomano) e pela Tchecoslováquia onde deparou-se com um desporto chamado "Azena", encontrando formas novas e interessantes de desportos.
    Analisando os fundamentos históricos do Handebol, bem como a sua evolução desportiva, podemos afirmar que, como todos os desportos inseridos e praticados em uma sociedade capitalista e de certa forma canibalista predadora, este também é determinado, em suas bases, por setores da sociedade que o dominam com o intuito de promover espetáculo mesmo que ainda seja de uma forma quase que insignificativa em relação a desportos como o futebol por exemplo. Sua manipulação tende a atrair espectadores dispostos a investir monetariamente, seja através de míseros ingressos ou por meio de patrocínios lucrativos apenas para os promotores, revela a classe dominante enquanto rege as leis dentro desta sociedade capitalista.
    Esta monográfia de conclusão de curso tem como intuito princípal desvendar as relações de uma sociedade capitalista no desenvolvimento de um desporto, neste caso as formas capitalistas da sociedade Brasileira influindo no desenvolvimento do handebol como desporto.
    Não queremos co-determinar novas formas de desenvolvimento deste desporto mas sim desvendar e eluciadar as influências sofridas por este, bem como justificar a sua não massificação dentro da sociedade brasileira.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 9 - N° 67 - Diciembre de 2003

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Desenvolvimento

Handebol. Do nascimento à transformação em mercadoria

    As características especiais do handebol como forma de jogo associada a velocidade, energia e habilidade enquanto elementos valorizados em uma sociedade crescentemente industrializada, com a forma capitalista de organização social, parece explicar parte do pequeno atrativo que exerce nas camadas dominantes da população Brasileira.

    No Brasil, estas camadas dominantes, vivendo sob o "apogeu do milagre econômico na década de 70, quando: (..) em Brasília, participaram do Campeonato Estudantil Brasileiro, quatro equipes masculinas e duas femininas. "E em (...)" 1972 em Maceió, (...) vinte e uma equipes masculinas e dezesseis femininas(...)" (NETO, 1982, p. 27).

    O Handebol é a expressão atualizada e histórica de um processo cuja historicidade, enquanto elaboração social, não poderia ser negada já que no produzir humano assume formas profundamente marcadas pela história da Civilização Ocidental.

    O Handebol objetivado como desporto teve predominância, na sua criação, de uma espécie de mesclagem de pensamentos. Na sua organização houve uma união dos conhecimentos de um professor de educação física alemão. Este professor durante excursões a América do Sul em especial no Uruguai, teve a oportunidade de se defrontar com desportos nacionais e entre estes um desporto chamado "balomano". Um desporto jogado com as mãos. Na seqüência de sua viagem, num curto período na Tchecoslováquia, conheceu, dentre outros, um desporto chamado "azena". O esporte "azena", que como o balomano era jogado com as mãos. Reunindo esses conhecimentos o professor, Karl Schellenz, incentivado pela necessidade do povo alemão de ter um desporto tipico, criado para aquela nação, surgiu então o Handbal (expressão em inglês para mão e bola).

"(...) iniciado em 1914, pelo alemão, Karl Schellenz, (o handebol) (...) teve sua origem no jogo da Tchecoslováquia chamado Azena (...) suas primeiras partidas foram disputadas em Berlim (...). E no ano de (...) l927 foi criada a Federação Internacional de Handebol". (NETO, 1982, p. 19)

    As formas expressivamente históricas do Handebol, como jogo, 4não se evidenciam deslocadas das regras atuais do mercado internacional. Este mercado, desde a Segunda Grande Guerra Mundial, também se caracteriza por contínuos deslocamentos preferenciais de produção, regulamentada via acordos entre as grande nações.

    O Handebol é hoje difundido por quase todos os países do mundo, em especial, da Europa e Anglo-Saxões, e em menor número nas Americas e nos países Asiáticos. Vem expressar o sentido preferencial de desenvolvimento econômico, que associado a ocupação do tempo livre. O tempo livre é determinado como lazer, para as camadas sociais dominantes. Para os dominados existe o trabalho ofertado para a maioria da população:

"O esporte deixa de ser o jogo no qual acreditava Carl Diem, e nem mesmo seria o irmão do trabalho como pra Ortega y Gasset, ainda podiam classifica-lo, mas passaria a ser parte do mundo trabalhista, espelho de sua estrutura dominante, sob a aparência de jogo, a duplicação, a reprodução da força de trabalho - segundo Adorno - servindo de aptidão (fitnes) para o mundo trabalhista". (GRUPE, 1984, p. 26).

    Nesse contexto, o Handebol, vêm nos dias atuais expressar também como lazer. Sendo que já começa a assumir formas organizadas de expressão de interesses. Pela atividade desenvolvida associa e articula complexas hierarquias na produção capitalista, expressões das leis da troca no mercado.

    Desta maneira o Handebol, enquanto desporto introduziu-se no Brasil por volta de 1950. Foi sendo assimilado a sua prática nos clubes paulistas, o que a nosso ver tornou-se mais um obstáculo na sua expansão. Era praticado em primeira instância em campo aberto assemelhando-se ao futebol, sendo praticado apenas por pessoas ligadas aos clubes, dentre eles o clube Pinheiros e Sociedade Palestra Itália.

    O handebol exercendo forte atrativo na juventude que vive sob o avanço industrial brasileiro, hoje começa a ser dirigido e organizado por setores sociais dominantes e praticado por elementos da camada média. Estes elementos ao levarem o jogo à efeito, realizam para as camadas dominantes que o organizam, o trabalho necessário. Ainda que amadoristicamente, à produção do espetáculo que o mesmo proporciona. Tal realização faz circular a "moeda" e a produção via campeonatos Municípais, Estaduais e Internacionais que proporcionam impactos junto aos consumidores no caso espectadores.

    A forma esportiva do jogo realizando-se:

"(...) Sob os signos da competição e do rendimento (...) "torna-se (a partir dos séculos XVIII e XIX, na Inglaterra, revolucionáda pela indústria)" (...) da racionalização e controle da cientificização e do treinamento (...)."(BRACHT, 1989, p. 69)

    O Handebol objetivado como desporto passou por uma fase de assemelhação ao Europeu. Deixou de ser praticado em campo aberto para ser praticado em quadras. A prática nas quadras propicia um número maior de gols. O que antes era praticado com onze jogadores num espaço de 110 metros, passa a ser jogado com apenas 7 jogadores e em um espaço menor ( 40 X 20 metros). Desta forma aumenta-se o volume de jogadas e gols propiciando um espetáculo aos adeptos deste desporto no momento de criação, e conseqüentemente um aumento de adeptos devido ao espetáculo proporcionado agora.

"A UNESCO, reconhecendo a capacidade integradora do esporte para a atual "sociedade em mudança", passou então a difundí-lo (...). Tal posicionamento, colocou explicitamente o homem como objeto de mudança Social. Para o homem viver melhor é necessário, portanto, que se adapte constantemente as mudanças da sociedade que se realizam segundo os critérios estabelecidos pelo desenvolvimento econômico. (CAVALCANTI, 1984, p. 36).

    O Handebol, esporte de alto rendimento, esporte-espetáculo, esporte-velocidade, traduz, a nível do significado que adquire, o processo de diferenciação objetivada pelos quais passa sua expansão, enquanto desenvolve-se, assemelhando-se a forma capitalista de produção. Associando-se aos modos de produção da vida, o jogo logrou alcançar sua expressão histórica mais desenvolvida, e em especial no Leste Europeu que no início do nosso século vivia sob o efeito da Primeira Grande Guerra Mundial.

    Na atualidade, o handebol orientado em suas metodologias primeiras pela liberdade numérica de jogadores em campo e pela regra da bola em movimento, traduz bem os elementos associados às regras e à luta pela manutenção do equilíbrio e do domínio do alvo (bola) em movimento. O alvo se revela, tanto nas guerras como, nas concorrências modernas, pelo domínio do consumo e da moeda em permanente movimento no capitalismo produtivo e financeiro do nosso século.

    As mudanças por que passam os jogos, especialmente o handebol, segundo Jancalek (1905) tem sofrido alterações associadas à: "(...) enorme velocidade do jogo e das constantes alterações no marcador, proporcionando um espetáculo muito mais emotivo". (MACHADO. Diário Popular de Portugal, entrevista a Svatopluk Jancalek, jun. 1969)

    Tais mudanças traduzem bem as "regras do espetáculo", da maioria da população, e da moeda sujeita a constantes flutuações nas sociedades contemporâneas, vivendo sob a orientação de políticas monetárias variáveis e oscilantes.

    Neste momento cabe-se ressaltar que dados expostos por Neto (1982) levam-nos a crer que, durante a primeira Grande Guerra Mundial, praticas desportivas que assemelham-se as formas sistemáticas de praticar-se o handebol, eram utilizadas como forma de divertimento para os soldados alemães. Os soldados realizavam tais atividades, com intuito recreativo, nos pátios dos grandes quartéis militares, no entanto podemos crer que as formas lúdicas desta pratica desportiva possui o intuito de manutenção física para possíveis intervenções militares rápidas, bem como o objetivo de divertimento de seus superiores, que naquele momento, tornavam-se espectadores das pelejas.

"O progresso físico humano, sendo objetivado pelo progresso das atuações esportivas como progresso linear e ascendente e consistindo na permanente superação de recordes, transformou o esporte em ciência experimental do rendimento corporal. Tendo em vista que o princípio do rendimento no esporte constitui o modelo de todo comportamento orientado para o rendimento." (CAVALCANTI, 1984, p. 42)

    A aplicação objetivada desses princípios ao handebol como conhecemos hoje, ainda se encontra sujeita a novas elaborações, visto que este não atinge, dentro das determinações de uma sociedade capitalista, as formas sistemáticas do esporte profissional. Ou seja, não leva multidões aos ginásios, não é divulgado nos meios de comunicação, não traz dividendos significativos aos seus patrocinadores e sob estas restrições: busca-se elaborar, muitas vezes, uma outra identidade para que o handebol supere sua integração à sociedade de mercadorias.

    O que deve-se entender neste momento é que o Handebol não logrou ainda ser um desporto de massa no Brasil devido à condição sócio-cultural e intelectual da população brasileira que ainda não compreende este desporto tão complexo, o que queremos dizer é que somente a poucos anos, cerca de vinte anos, é que o handebol deixou os clubes para se tornar um desporto praticado por escolares, atingindo desta forma todas as classes sociais. Isto não ocorre com o futebol, que é um desporto de pratica muito simples. Outro fator determinante na não expansão do Handebol é a condição sócio-ecônomica também da maioria da população que é de classe média-baixa. Sendo o handebol um desporto que depende de algum investimento por parte dos atletas para sua prática (tênis apropriado, tempo para treinamento, etc.), e que os clubes e escolas que propiciam a sua prática na grande maioria das vezes não tem subsídios para financiar os gastos de todos os atletas, desta forma estes não o praticam.

    A especialização esportiva é então a busca mais visível empreendida pelos treinadores de handebol, em todos países do mundo, já no Brasil a busca mais visível é pela transformação do handebol em um desporto massificado transformando em um desporto tido como nacional, já a especialização esportiva é feita acompanhando os desenvolvimentos europeus, visto que, na sua grande maioria, foram eles que introduziram o desporto no Brasil.

"Os imigrantes se encarregaram de trazer o handebol para o Brasil: Russos, Austríacos, Romenos, Alemães, Suecos, Coreanos e Noruegueses, por volta de 1930. Em 1972 a modalidade passou a fazer parte do programa oficial dos Jogos Olímpicos. Os suecos estabeleceram, maneiras rápidas de jogar, "hallen-handebol", e hoje para se ter uma idéia do rítmo, chegam a acontecer 25 gols, num jogo de uma hora, entre "profissionais"." (BASSANI, 1991, p. 47)

    Determinado, ou co determinado em sua interpretação de sentido, função e valores, pela situação sócio-cultural e econômica, coloca-se um sentido, a busca do alto nível, e um interesse crescente de chamar a si o entretenimento das massas, sujeita-se o handebol às exigências de se concretizar em formas melhoradas:

"Por essa razão alcança uma situação que se submete as mesmas condições válidas a outras áreas de entretenimento, como cinema, circo, etc. Toma o aspecto de mercadoria, tem seu mercado, depende de consumidores e dos espectadores, a não ser que goze de subvenção oficial por motivos nacionalistas." (DIECKERT, 1984, p. 32)

    Sob os auspícios do patriotismo nacionalista e do desenvolvimento de performances esportivas, os "atores" desse esporte são contemplados com funções surpreendentes, ou seja, o alcance de estandartes elevados: desafios a grandes feitos, mesmo em condições adversas, solicitação de novas imagens de projeção e identificação, capazes de os integrarem aos "heróis do esporte", transformando-os em:

"(...)fator altamente estilizado de prestígio quando a frieza política passa a usá-las como instrumento, ou quando os interesses mercantis descontrolados transformam atletas e espectadores em fantoches. (...) a super valorização do sistema burocrático e econômico e, finalmente a exploração da disposição de identificação de atletas com seus espectadores para fins políticos ou comerciais." (DIECKERT, 1984, p. 33)

    O processo de elevação do desporto no Brasil sofre, como sofreu nos Países onde este já se desenvolveu, restrições a seu desenvolvimento talvez por acomodamento profissional, por não conhecer o esporte ou mesmo por não gostar deste. Para tanta hà necessidade de se criar uma consciência evolutiva nos setores que produzem ou que induzem a integração e desenvolvimento dos desportos, já que tem-se a necessidade de uma nação não prender-se a apenas uma forma desportiva mais sim a ampliar este horizonte de conhecimentos, promovendo desta forma um desenvolvimento a outros desportos no

    Brasil, aos quais já atingiram patameres elevados em outros nos assim chamados Países de primeiro mundo.

    Sendo introduzido ou ainda assumindo totalmente este pensamento desenvolvimentista o próximo setor a ser trabalhado é o "econômico", ou seja, o investimento de setores empresariais no desenvolvimento de novos desportos, bem como o handebol.

"Cabe ressaltar o trabalho de divulgação que faz o professor Lincoln Raso em Belo Horizonte. (...) no Rio Grande do Sul, estamos em condições de descrever quase todo desenvolvimento do handebol (...). Nos destaques do nosso handebol citamos as quarenta equipes que participaram do torneio realizado na Vila Scharlau pois, hoje, temos este número duplicado e uma tendência de novos recordes de inscrições." (CAMARGO NETO, 1982, p. 28-29)

    Os envolvidos com o handebol, na maioria das vezes, são pessoas com grau de instrução superior que lhes permite entender a filosofia do desporto como prática sádia. Esses elementos ao passarem para as estruturas técno-racionais e tecno-econômicas, vão sustentar vertentes políticas ideológicas no handebol que ultrapassam as exigências do jogo como modalidade individual de regras, técnicas, específicas e auto definidoras.

    A especialização esportiva com a preocupação de melhorar cada vez mais o rendimento humano, distancia-se do jogo para se transformar numa atividade complexa de caráter econômico-político.


Tecnificação, hiper-especialização e sistema de hierarquiza

    A busca do rendimento como referencial metodológico de princípios fundamentais na economia político-burguesa ao exigir a educação técnica do corpo de forma a utilizar até sua menor parte racionalmente vai buscar elementos na ergometria, por meio da qual a racionalização biologica é seguida pela racionalização psicológica.

    O Handebol praticado na Europa, objetivado e organizado por setores produtivos da sociedade seja capitalista ou socialista, atinge formas de desenvolvimento que qualificam-no como desporto de rendimento e espetáculo. É conduzido aos moldes da sociedade ao ápice do desenvolvimento desportista.

    O Handebol praticado no Brasil, será determinado em suas metodologias primeiras pelas regras de alienação da força de trabalho. Estas forças são pertinentes à sociedade capitalista, que o condicionaram a formas de desporto de rendimento e espetáculo. Passará então pelo mesmo processo evolutivo que este desporto sofreu na Europa.

    A crescente submissão às leis de mercado de um lado e aos regimes políticos, que muitas vezes utilizam o desporto para auferir benefícios estabilizadores e legitimadores via representações nacionais (ou estaduais ou municípais), nutre-se da rivalidade simbólica promovida entre as nações. Tais categorias contém conotação política.

    Durante o período conhecido como "Revolução Industrial" a sociedade sofreu madanças rádicais com relação a produção do trabalho e modificações drásticas no tocante ao relacionamento trabalho-trabalhador-empregador.

    Até este perído o trabalhador detinha todo o processo de produção de um manufaturado qualquer, ou seja, construia-o totalmente. No entanto a revolução industrial, que segundo Aranha (1993), teve como percussor um homem chamado Henry Ford por ter introduzido um sistema de produção chamado "linha de montagem" na indústria automobilística Americana, que compreendia a divisão da montagem de um automóvel por vários trabalhadores, isso aumentava a produção e conseqüentemente o rendimento, sistema esse que passa a ser impregnado nas formas de produção do desporto, o atleta deixa de ser objetivo principal do desporto para tornar-se um meio para obtenção do objetivo real que é a "vitória" a qualquer custo e qualquer preço, mesmo que seja a destruição física de um ser humano.

    O desporto passa da prática lúdica para a comparação a uma máquina que é programada a produzir sem nenhuma objeção, submetendo-se ou tendo que se submeter às hierarquias pertinentes a pirâmide da sociedade.

"O indivíduo total está dividido, ou seja, transformado numa engrenagem automática de um trabalho parcial para atender às exigências do sistema esportivo. (...) tal como o operário acorrentado a sua máquina, lutando fisicamente para seguir o ritmo imposto pelo trabalho em cadeia, o atleta encontra essa mesma angústia, uma vez que sua atividade está profundamente ligada aos segundos que trasncorrem num circuito fechado, artificial e abstrato." (CAVALCANTI, 1984, p. 43)

    As relação de transformação do desporto em máquina administrativa podem ser mais evidênciadas num estudo da evolução política que sofreu as olímpiadas modernas. Quando fala-se em olímpida moderna lembra-se de "Horst Dassler" herdeiro do império Adidas e que de certa forma determinou a transformação dos jogos olímpicos em máquina administrativa.

    Segundo estudos realizados por SIMSON (1992) em "Os Senhores do Anéis", onde explicita as relações existentes entre os dirigentes do Comite Olímpico Internacional e Horst Dassler. Dassler foi o primeiro a perceber que seus produtos poderiam ser mais aceitos mundialmente se utilizados por altetas de expressão internacional, começa então a dominação e transformação de atletas em máquinas programadas a executar ações previamente estabelecidas, parte-se então de uma comparação entre as relações impregnadas por Dassler neste momento, com as relação introduzidas a sociedade durante a revolução industrial, onde o trabalho passava a ser dividido em etapas, e os trabalhores deixavam de ser o objetivo e passavam a meio para obtenção do objetivo, que agora era aumento da produção e lucros conseqüentemente.

    A atitude de Dassler de financiar atletas de destaque mundial, em troca de que utilizassem seus produtos durantes as conquistas, produziu desaprovação no C.O.I. daquele período. No entanto este não se deu por vencido utilizando novas formas de promoção de seus produtos, passando por um processo de alienação e manipulação de atletas, que utilizavam seu materiais esportivos até momentos antes de competir, o que mesmo assim produzia um efeito de marketing muito grande.(SIMSON, 1992)

    Começa neste momento a mercantilização do desporto e hierarquização de promotores e atletas, tornava-se necessário e predominante o sentimento de vitória, sucumbindo o sentido de apenas competir, visto que a vitória relaciona-se neste momento com o marketing proporcionado pela assenção da subida ao pôdium.

    Dassler ainda utilizou-se de sua influência para promoção de pessoas a altos escalões desportivos mundiais, como por exemplo Juan Antonio Samaranch, para o Comite Olimpico Internacional. Sua contribuição foi a nível de contactos com federações e confederações as quais Dassler contribuiu para formação e manutenção, juntamente com o apoio de Havelange que detinha a presidencia da FIFA e por conseqüencia um grande poder político internacional.(Simson, 1992)

    Torna-se então evidente a dominação do desporto amador e a incessante transformação em desporto dito como profissional e massificado, subsidiado pelo markiting que possa produzir.

    As formas de modificação eram denominadas de acordo com o poder de massificação e conseqüentemente poder de marketing que possuia o desporto.

    Há no desporto de massas, uma hierarquização das diferentes modalidades de jogo colocada como estritamente técnica:

"Quase nenhum jogo além do futebol, teve dentro de pouco tempo uma ascensão tão rápida, como o handebol. Ainda em seu início gerado do basquetebol e futebol. (...) Em pouco tempo, reconheceu-se o handebol também como jogo de luta, próprio pra homens e aqui devemos citar o nome de Karl Schellens que dedicou muita atenção a esse jogo." (KLEIN, 1950, p. 9)

    Tais práticas elaboradas e elaborando meios de afirmação profissional e consagrando o êxito individual e social, produzem uma hierarquia de esportes e apontam para o completo descaso de cada categoria em relação às regras e a natureza dos esportes praticados por outras categorias.

    Sendo determinado por formas dominativas, de produção de espetáculo, elaboradas por setores produtivos da sociedade faz auferir ao handebol o título de desporto de combatividade que lhe é pertinente segundo suas características próprias de contacto corpo a corpo dos atletas. Isto proporciona um espetáculo emotivo, podendo ser comparado neste momento à Grécia antiga. Na Grécia haviam disputas gloriosas proporcionadas pelos gladiadores do imperador que não passavam de atletas dominados pelo sistema autocrático daquela época, e que lutavam pela própria vida para divertimento da sociedade burguesa Grega presente nas arenas de jogos, sendo comparada a sistemas onde "(...) a hierarquia de performances como substrato para o funcionamento da instituição esportiva, (...) não é um sistema democrático (...) mas sistema autocrático e tecnocrático." (CAVALCANTI,1984, p. 44)

    Num sistema autocrático e tecnocrático a hierarquia esportiva ocorre como uma forma de hierarquia social estável, rígida e cristalizada. Paradoxalmente tal hierarquia é contraditória com a necessária flexibilidade aberta à fluidez característica dos jogos, cuja elaboração vem historicamente associada à criação de novos esquemas e ao movimento.

    A complexidade do esporte, enquanto objeto de investigação científica, coloca-se toda sua potencialidade, como um legítimo produto da sociedade industrial:

"(...) o esporte de alto-rendimento ou espetáculo, (...) imediatamente transformado em mercadoria, tende a nosso ver, assumir (...) as caraterísticas dos empreendimentos do setor produtivo ou de prestações de serviços capitalistas, ou seja, empreendimentos com fins lucrativos, com proprietários e vendedores da força de trabalho, submetida as leis do mercado".(...) (BRACHT, 1989, p. 70)

    Traduzindo as formas objetivadas de exploração dos desportos em geral colocamos o Handebol, como uma destas formas, é objetivado e sistematizado em primeira instância pelas formas capitalista de desenvolvimento, ou seja, de transformação do desporto em mercadoria para posterior manipulação de suas formas primeiras. Desta maneira passa agora o Handebol a ter seu desenvolvimento determinado por estas formas capitalistas de transformação. A partir de então os handebolistas deixam de ser atletas para tornarem-se maquinas. Há cada vez mais a inversão de fim para meio, de consumidor para consumo. Resumindo, de Ser livre para Ser dominado. Para tanto utilizam-se formas de treinamento sistematizadas que levam em conta apenas a obtenção do resultado sem levar em consideração o ser humano. Este Ser não se opõe por não se encontrar devidamente organizado. Sua alienação lhe impõe que seja apenas um dente da engrenagem.

"A razão de uma preparação física está diretamente ligada ao tempo de frequência dos jogos. Em apenas uma hora o praticante realiza uma grande série de movimentos. (...) O esforço excessivo é que predispõe a lesões e acidentes, bem como a um stress psicológico, que pode fazer parecer um esporte violento." (BASSANI, 1991, p. 47)

    O emprego do tempo regulamentado de mão-de-obra, no quadro da industrialização e do avanço das formas produtivas e das relações de produção, vem a ser fator determinante de hegemonia entre as diferentes modalidades de jogo, como atividades institucionais e práticas sociais. Este fator influência o nível de desenvolvimento em que se encontra o handebol brasileiro. Sem o patrocínio necessário não há possibilidade de pagamento dos atletas, por isso estes não podem dedicar-se totalmente a sua prática. O número de handebolistas que se dedicam exclusivamente ao handebol podendo sobreviver com os ganhos derivados da prática deste desporto vem aumentando. Não se comparando ainda com alguns outros desportos mas sim com o grau de aceitação no qual se encontra. Cresce gradativamente de acordo com o crescimento de seus simpatizantes.

"Atualmente a federação promove o Campeonato inter-clubes nas categorias infanto-juvenil, juvenil e adulta, masculino e feminino (...), no intuito de ampliar sua ação, a Federação organizou cursos de arbitragem (...). Em Santa Maria o professor Pedro Lang, da Universidade Federal de Santa Maria é o responsável pelo sucesso do Handebol, que (...) despertou o interesse de colegas de todo o Brasil." (CAMARGO NETO, 1982, p. 29)

    No handebol, a historiografia tem dado conta de destacar novas metodologias em especial associadas a: Transformação do jogo do campo aberto para os salões fechados, a redução do número de jogadores, a definição do sexo dos jogadores, as adaptações técnica e instrumental a idades de jogadores e a ampliação do jogo em relação ao futebol clássico e ao voleibol. (CAMARGO NETO, 1982), bem como "(...) medidas de treinamento organizadas a longo prazo, (...) métodos e processos que visem a economia, racionalidade e técnica no preparo e na realização desta "performance", exigindo do atleta imensa dose de tempo (...)." (DIECKERT, 1984, p. 31)

    Abordado por vertentes mais ou menos reducionistas dos discursos sobre o corpo, o handebol aparece dependente da alta performance dos seus jogadores e em especial, como forma metódica de aquisição e prática de princípios corporais apolíticos, em contraposição a política que seria a corporal.

    Nos discursos sobre o corpo, o handebol recebe destaque quanto a velocidade sensório-motora que desenvolve, as condições de equilíbrio que produz e a noção de ordenamento e limite a que induz.

    Situado nas concepções de progresso típico-ideais, o handebol e a sua prática foram colocados diante da necessidade de orientar-se pelo princípio ordenador racional, de um mundo cartesianamente funcional, tal como o traduziu Descartes (1856 - 1950) funcionando a semelhança das máquinas, nas quais "(...) o movimento é produzido por entrechoques entre corpos (...) resulta das leis matemáticas (...) objetivadas, existentes fora e independente do pensamento. E tal realidade, possui uma estrutura quantitativa: extensão e transformação da extensão." (SEVERINO, 1984, p. 76)

    A via etnocêntrica também fornece princípios para a construção de um "ethos" corporal de poder, reconhece diferenças entre seus praticantes, nega-as pela classificação de quem não se encaixa aos seus padrões sexuais, corporais e espaço-temporal, conotando a partir de hierarquias que remontam aos primeiros movimentos de colonização europeia:

"No primeiro momento foram os europeus que se viam diante de povos "diferentes". Diferentes (...) e que foram considerados "atrasados", "infantis", as quais se precisava levar o desenvolvimento europeu. (...) E hoje faz-e a antropologia das diferenças antes colonizadas." (KOFES, 1985, p. 50-51)

    A produção do espetáculo segue, através de hierarquias étnicas, e se desenvolve pela diferenciação crescente intra-jogo e entre jogos um crescente que atinge a diferenciação e a complexidade hoje posta a organização do trabalho.


A produção do espetáculo e a organização racional do trabalho

    O jogo, quando caracterizado como uma produção de homens e destinado ao desenvolvimento das capacidades físicas e mentais desse mesmo homem, introduz a idéia de rendimento, ou tempo de trabalho e de produção, em uma dinâmica cuja significância também encontra uma vertente no esporte.

    Quando da caracterização do jogo como produção de homens esta presente não só no desporto profissional mas, também nas formas nas quais o objetivo é simplesmente a obtenção de resultados a partir de qualquer esforço a qualquer custo, faz-nos acreditar ainda mais na otimização do handebol como desporto de rendimento.

    O fato de ainda não ser um desporto com o poder de arrastar multidões a estádios ou ginásios fechados e por consequência não ser um desporto que proporcione dividendos é que em nossa opinião torna-se um obstáculo para o total desenvolvimento do desporto, HANDEBOL, em nosso País.

    Mesmo com todas essas dificuldades o Handebol desenvolve-se a todo vapor graças a grupos de empresarios, mesmo que ainda em pequena escala, e pessoas amantes do desporto que sacrificam-se para que este desenvolvimento chegue a patamares elevados dentro da sociedade Brasileira.

    A prática do handebol enquanto desporto amador, em clubes e escolas, faz com que afirmemos que a alienação e a organização do trabalho partem também da formação de base. Desde os primeiros passos o atleta já se encontra dominado pelo desejo, de um grupo de pessoas, de alcançar propósitos aos quais ele é apenas o meio e não o fim.

    O atleta (ser humano) é comparado a uma máquina, com engrenágens que trabalham ou são orientadas a trabalhar repetidamente da mesma forma afim de produzir cada vez, propiciando assim o chamado lucro a seus promotores. Torna-se então um ser dominado e alienado pelas regras à ele impostas e que lhe transforma em uma marionete disposta a cumprir e fazer cumprir estas regras.

    A transformação do desporto em máquina adminstrativa, dominada por propósitos de rendimento, a qualquer custo, produz uma relação que assemelha-se a transformação capitalista sofrida pelo trabalhador, iniciada junta a revolução industrial (mencionada no capítulo anterior), tranformou o trabalhador não mais no objetivo mas sim no meio para obtenção do objetivo, e que modifica as relações desportivas não mais objetivando o atleta como centro da prática, mas o lucro (ascensão dentro do desporto que proporciona o marketing) que este possa produzir, não importando se o método utilizado possa produzir maleficios a este atleta.

    O desporto levado a efeito através da ação direta de atletas, técnicos e espectadores torna-se uma fonte de renda ou um negócio que proporciona lucros. O lucro transforma o desporto em uma máquina administrada por pessoas pertencentes a classe dominante de uma sociedade capitalista (subdesenvolvida).

    Sabemos que a transformação capitalista do trabalho baseou-se pela alienação do trabalhador por meio do trabalho, sucumbindo-o aos desejos do provedor do trabalho, ou seja, do patrão. As formas atuais de produção do desporto fazem nos acreditar que este sofre o mesmo processo evolutivo, partindo da dominação do atleta por meio do desporto, alienando-o a obtenção de resultados que trazem-lhe "fama e reconhecimento social" no entanto o tranformam em uma engranagem de um processo produção do capital atravéz do marketing oferecido aos detentores dos meios de produção.

"(...) vimos que o surgimento do capitalismo determina a intensificação da procura do lucro e confina o operário a fábrica, retirando dele a posse do produto. (...) Ele proóprio deixa de ser o centro de si mesmo. Não escolhe seu salário, não escolhe horário (...), passa ser comandado de fora, por forças estranhas a ele." (Aranha, 1986, pg. 60)

    Com a transformação do desporto em máquina adminstrativa torna-se necessário a introdução de formas associadas a produção do trabalho como a administração ciêntifica e planejamento de meios para a obtenção dos objetivos.

    O desporto passa agora a assumir formas capitalistas de produção tendo como objeto o atleta, que assume obrigações semelhantes aos operários de uma fábrica. Passa agora a sofrer alienação dos processos burocráticos que envolvem a produção do espetáculo.

    A necessidade de se esclarecer que a denominação de burocráta segundo Aranha (1986), são especialistas na administração de coisas e de homens, estabelecendo e justificando a hierarquia e a impessoalidade das normas. A burocracia e o planejamento se apresentam com uma imagem de neutralidade e eficácia da organização, baseando-se num saber objetivo, competente, desinteressado. Mas é apenas uma imagem, que mascara o conteúdo ideológico eminentemente político: na verdade trata-se de uma técnica social de dominação.

    A elaboração de uma equipe, seja ela de um clube famoso ou não, de um colégio ou instituição qualquer, requer investimento de algum setor. Este setor não é necessariamente um patrocinador empresa ou empresario não ligado a instituição desportiva, mas uma diretoria que com recursos próprios, na maioria das vezes, possibilita a formação de um grupo de pessoas. Elas serão levadas a alcançar um objetivo determinado pelos próprios promotores a fim de elevar o nome da instituição ao lugar mais alto do pódium. Esta ação é uma transformação alienante do desporto com o intuito político de ascensão no meio em que encontra-se esta instituição.

"O progresso físico humano, sendo objetivado pelo progresso das atuações esportivas como progresso linear e ascendente e constituído na permanente superação de recordes, inclui o esporte na ciência experimental do rendimento corporal."(BROHM, 1976, p. 46)

    O campeão fabricado, a imagem e a semelhança do trabalhador, na atividade esportiva busca a produção pela racionalização, e pelo cálculo sistemático, e através disso aproxima os movimentos do corpo aos deslocamentos combinados da máquina.

    Necessariamente esta transformação não ocorre quando do desporto profissional, o desporto que arrasta multidões, mas também quando do desporto praticado com o intuito de resultados que levaram alguém a uma ascensão. O handebol, como qualquer outra atividade desportiva praticada com o intuito de rendimento, de alguma forma torna-se assim uma máquina controlada deixando de ser conhecida como forma lúdica de lazer.

    Para CAVALCANTI (1984), o desporto de rendimento é o processo físico humano objetivado pelo processo das atuações esportivas como progresso linear e ascendente e consistindo na permanente superação de recordes, faz com que o esporte torne-se uma ciência experimental.

    A otimização da atividade corporal no esporte, posto como finalidade última, sistematiza hierarquias de rendimento e estabelece metas de cooperação por justaposição hierárquica de competência e responsabilidade.

"(...) regras detalham as tarefas de cada um a maneira pela qual devem ser desempenhadas, a competência e suas funções. O superior a que deve estar subordinado "(...) e cuja (... ) "burocracia é recompensada por um tratamento estável após o estabelecimento de suas normas."(BROHM, 1976, p. 50)

    A competição, as regras, os treinamentos, os recordes, representam o espetáculo de uma organização técnica na qual os indivíduos são reduzidos à objetivos da administração.

    O handebol, mesmo sem ter logrado ainda seu lugar na sociedade Brasileira como na Sociedade Europeia, faz-se também organizar-se em formas diferenciadas. É desporto de rendimento, que ainda não proporciona grandes espetáculos que chamem a atenção de grandes insvestidores.

"(...) o esporte produtivo transforma-se em esporte administrativo regulamentado e planificado (...) e comporta várias instâncias e estratos (...) confederações, federações, clubes, infra-estrutura técnica de gestão e de animação do processo esportivo propriamente dito que constitui o suporte material da competição.(CAVALCANTI, 1984, p. 46)

    No Handebol, instrumentos de trabalho diferenciados: redes, diferentes tipos de bolas, uniformes e calçados , distribuição especial, cronômetros e balanças, instrumentos de medição de performance biométrica, escalonamentos temporais e um complexo arsenal de ataques e defesas instrumentais, realizam o espetáculo das performances humanas.

    As batalhas, levadas a efeito pelos promotores de handebol, são exemplo especial do "poder da empresa" para selecionar e incluir - excluir, mudar e promover outras metodologias que crescentemente conduzem-no para a comercialização mercantil.

"(...) a grande concorrência do futebol (praticado no mesmo campo), a maior facilidade da prática da variante de sete (recintos mais acessíveis e inferiores despesas gerais). O handebol dos sete - impôs-se definitivamente a mercê da grande velocidade do jogo e das constantes alterações do marcador, proporcionando um espetáculo bem mais emotivo (...) relegou o handebol dos onze a história." (JANCALEK, 1969, IN. Camargo Neto, 1982, p. 18).

    As evoluções de metodologias alternativas, postas pela concorrência, pela distribuição especial e despesas financeiras, que facilitam o espetáculo e o realizam.

    O ponto negativo, do desenvolvimento do handebol como desporto de massas, é o fator financeiro que não é adequado para a promoção de eventos de grande impacto. Tais eventos promoveriam este desporto de forma ascendente e dominadora, visto que o handebol possui requisitos para tanto. Este ponto esta sendo sanado, aos poucos, sendo que instituições, ainda em número pequeno, interessaram-se mais pela prática deste desporto. O handebol possui maior simpatia nos Estados de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina; reforçando ainda mais a tese de atraso social como ponto de não massificação do desporto no País. É sabido que os Estados citados como promotores do Handebol possuem um nível social médio superior que os demais estados.

    A variedade e a dominância, como princípios finalistas de hierarquias piramidais entre modalidades esportivas, escalona níveis verticais e determina a modalidade horizontal interna de métodos e instrumentos, na sustentação da competição.

    A regulamentação legal do espetáculo, compreende um sistema complexo de seleção de Confederações municípais, estaduais, nacionais e internacionais e federações seletoras de regenciamento de atletas, regras e regulamentos, princípios de classificação e de distribuição de apresentações encarregam-se de promover (...) "a vasta organização de engrenagens complexas." (BROHM, 1976, p.51)

    A propaganda e a publicidade, promovendo a necessária difusão de regras e esquemas de negociação e distribuição comercial da promoção, realiza a hierarquização dos mercados e dos fornecedores, assim como, garante-lhe o poder.

"(...) Sem jamais por em questão a ordem estabelecida, o papel do esporte consiste em inculcar o espírito da disciplina, de obediência (...) uma manifestação política espetacular uma glorificação da ordem estabelecida, contentando-se em celebrar e não em contestar."(SERGIO, 1976, p. 113)

    Ao domesticar a ação e a criatividade, o esporte, coloca-se a serviço da manutenção do status que nutre o homem. O atleta passa de fim a meio, de sujeito a objeto, de homem a coisa num maniqueísmo potente como só acontece para promover o espetáculo...


Conclusão

    O desporto Handebol juntamente com outros desportos que se desenvolveram na sociedade capitalista transformam-se através da manipulação em, máquina administrativa coordenada por setores produtivos da sociedade, que o dominam por meio de regras as quais são elaboradas e feitas cumprir por estes setores.

    O desporto quando levado a efeito transformando as características naturais dos homens para que estes promovam o espetáculo necessário para atrair o interesse de multidões, seja através da transformação das formas de trabalho ou pela transformação do próprio homem, quer dizer, transformação das características físicas do homem.

    Desta forma o Handebol tendo iniciado sua transformação em empresa com máquinas que funcionam com o intuito único de produção de dividendos para seu proprietário (detentores do poder capitalista), desvirtuar-se de suas características primeiras que era de uma ocupação do tempo livre ou ócio, ou seja, lazer, socialização, para tornar-se agora não mais um meio de se propiciar o lazer mas de promover espetáculo. O Handebol passa de fim a meio, perdendo suas bases lúdicas.

    Agora o atleta pode ser comparado com um produto de uma fábrica qualquer, porque neste momento ele passa de praticante para praticado, ou seja, não é mais graças a si próprio que torna-se um atleta mas sim por uma manipulação a que recebe, e que o transforma em um campeão fabricado aos moldes necessários para a produção do espetáculo que leva a efeito o sentimento capitalista de criar dividendos aos promotores.

    A utilização das qualidades físicas dos desportistas utilizadas sistematicamente como finalidade última para a obtenção do objetivo final, o rendimento, faz ainda mais do ser uma máquina com deslocamentos combinados e já determinados tirando assim todo o sentimento de auto iniciativa, tal sentimento a partir de então foi substituído por regras estabelecidas previamente de forma que não se pode fazer de outra forma se não a daquela determinada.

    Com esta pesquisa bibliográfica podemos confirmar que não só o desporto Handebol mas todas as práticas desportivas que promovam espetáculo, e conseqüentemente rendimento, dentro de uma sociedade capitalista, são determinadas pelas regras vigentes no contexto desta.

    Nosso objetivo principal com está pesquisa foi mostrar as relações dominativas existentes no Handebol, decorrentes do sistema de organização da sociedade capitalista vigente no País. Não queremos dizer que pode existir o Handebol sem a força capitalista, o que queremos com este trabalho é desvendar os fatores que determinam o desenvolvimento ou não de um desporto inserido numa sociedade capitalista.

    Com este estudo podemos comprovar a hipótese dois, visto que o desenvolvimento do handebol em desporto massificado no Brasil ainda não se deu, por este ainda não ter logrado formas objetivadas de obtenção de lucro.

    Até este momento, podemos afirmar que o handebol, na sociedade brasileira, desenvolveu-se como desporto de rendimento determinado pela necessidade capitalista de afirmação social dentro de uma crescente sociedade capitalista.


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revista digital · Año 9 · N° 67 | Buenos Aires, Diciembre 2003  
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