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Metodologia de investigação em desporto.
A importância da escolha de um tema

   
Escola Superior de Educação da Guarda
Departamento de Ciências do Desporto e Educação Física
 
 
Luís Cid
luis.cid@ipg.pt
(Portugal)
 

 

 

 

 
"Investigar inicia-se com uma interrogação" (Sobral, 1993: 15)
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 9 - N° 66 - Noviembre de 2003

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    Toda e qualquer investigação científica consiste no processo da procura metodológica de um problema, visando a sua resolução e o consequente alargamento dos horizontes do conhecimento (Sobral, 1993). A origem da iniciativa científica reside na curiosidade humana em tentar saber e compreender o porquê das coisas. Podemos, até certo ponto, comparar a investigação a um exercício de pontaria, uma vez que "o problema é o alvo" (Sobral, 1993: 16). No entanto, a colocação deste não é a primeira fase do processo.

    Na opinião de vários autores (Cervo e Bervian, 1989, Barros e Lehfeld, 1989, Lakatos e Marconi, 1989 e Bell, 1997), a escolha do tema é o primeiro passo de uma investigação científica, podendo a sua selecção ser realizada basicamente através de duas formas: a primeira, no caso da decisão da escolha não ser tomada por quem vai investigar, havendo uma atribuição prévia do tema de estudo (Bell, 1997); a segunda, no caso da livre escolha por parte do investigador, havendo portanto, uma maior liberdade de opções. É sobre esta última que recaiem, nos momentos de decidir, as "verdadeiras angústias" (Cervo e Bervian, 1989: 73). - O que escolher!? O que fazer!?

    Apesar de ser o primeiro passo, a escolha do tema não é de todo o mais fácil. Assuntos para pesquisar não faltam, a dificuldade está na tomada de decisão em partido de um deles. Seleccionar um tema, equivale a eliminar todos os outros passíveis de serem investigados. Assim sendo, é forçoso definir critérios de selecção e estabelecer prioridades de acordo com as nossas necessidades.

    Segundo Cervo e Bervian (1989), tais critérios são de extrema importância uma vez que podem desempenhar a função de guia metodológico, orientando assim o sujeito em direcção ao assunto prioritário, e posteriormente, ao longo de todo o processo.

    As razões que levam o indivíduo a optar, por um ou outro tema, podem ser de várias ordens, tais como:

  • Intelectuais - baseadas apenas no desejo de conhecer ou compreender algo (Cervo e Bervian, 1989);

  • Práticas - baseadas no desejo de conhecer para realizar algo (Idem, ibidem);

  • Interesse - gosto particular ou profissional em estudar um assunto específico (Sobral, 1993, Barros e Lehfeld, 1989 e Cervo e Bervian, 1989).

    A "liberdade nesta escolha" (Barros e Lehfeld, 1989), seja ela de que ordem for, deve repousar nos interesses, preocupações e gosto do sujeito que vai investigar algo. Acima de tudo, deve proporcionar experiências positivas e enriquecedoras, e contribuir de alguma forma para o progresso científico. Para que tal aconteça é necessário cumprir determinados requisitos.

    Em primeiro lugar, o tema deve ser adequado à capacidade e à formação do investigador, ou seja, o estudo deve ser realizado numa área para a qual o sujeito deseja orientar as suas preocupações. Em segundo lugar, deverá corresponder às suas possibilidades, no que se refere ao tempo, recursos materiais, humanos e económicos (Cervo e Brevian, 1989). Por outro lado, deve-se ainda ter em linha de conta a existência ou não de material bibliográfico sobre o assunto, tornando-se fundamental a realização prévia de uma análise, exploração e consulta bibliográfica (Barros e Lehfeld, 1989).

    Os factores apontados tornam-se, na maioria dos casos, elementos impeditivos da execução de um estudo em determinada área do nosso agrado ou interesse. Assim sendo, é cada vez mais frequente, optar pela escolha de temas já existentes e largamente estudados, cuja replicação injustificável conduz à realização de temas fáceis e sem interesse que não compensam o esforço exigido (Cervo e Brevian, 1989) - é o fazer por fazer!

    Segundo Kundera, citado por Sobral (1993: 27) "não é difícil arranjar um tema, porque basta glosar o que já foi dito. E como tudo pode ser glosado, há um número infinito de temas", o que conduz a uma falta de originalidade. No entanto, examinar e desenvolver um tema original, nem sempre se mostra exequível, uma vez que o tempo útil concedido para a sua realização pode não o proporcionar. A solução mais acessível e frequente está em duplicar trabalhos, que aplicados a contextos diferentes se revestem de uma identidade essencial (Sobral, 1993) - são as chamadas replicações diferenciadas.

    Apesar do que foi escrito, a replicação de estudos não pode ser visto como um procedimento negativo. A sua realização, permite o controlo de qualidade dos processos de conhecimento científico sobre uma determinada problemática, assim como, uma análise multivariada sobre um determinado tema. Não nos podemos esquecer que um determinado assunto pode ser abordado sob várias perspectivas.

    Em suma, a selecção de um tema é mais difícil do que pode parecer à primeira vista. Numa luta contra-relógio, aliado às incertezas da escolha, a tentação de decidir, sem realizar um trabalho preliminar (fazer leituras, anotar ideias, discutir tópicos, etc.), é enorme (Bell, 1997). No entanto, devemos estar conscientes do seguinte: após a escolha do tema e a correcta delimitação do seu campo, a fase seguinte é a sua transformação em problema, ou seja, "descobrir os problemas que o assunto envolve, identificar as dificuldades que ele sugere, formular perguntas ou levantar hipóteses significa abrir a porta, através da qual o pesquisador penetrará no terreno do conhecimento científico" (Cervo e Bervian, 1989: 76). E, como dizia frequentemente Einstien (o maior génio da humanidade), - "a formulação correcta de um problema é mais importante que a sua resolução" (Sobral, 1993: 31).


Bibliografia

  • Barros, A. e Lehfeld, N. - Fundamentos de metodologia. São Paulo: McGraw-Hill, 1989

  • Bell, J. - Como realizar um projecto de investigação. Lisboa: Gradiva, 1997

  • Cervo, A. e Bervian, P. - Metodologia científica. São Paulo: McGraw-Hill, 1989

  • Gewandsznajder, F. - O que é o método científico. São Paulo: Livraria Pioneiro Editora, 1989

  • Lakatos, E. e Marconi, M. - Metodologia científica. São Paulo: Editora Atlas S.A., 1989

  • Lakatos, E. e Marconi, M. - Fundamentos de metodologia científica. São Paulo S.A., 1990

  • Marconi, M. e Lakatos, E. - Técnicas de pesquisa. São Paulo: Editora Atlas S.A., 1990

  • Sobral, F. - Sobre a atitude e o método em ciências do desporto. Lisboa: FMH, 1993

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