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Aspectos da força muscular e suas possíveis
implicações na preparação dos jogadores do tênis de campo

   
Consultoria Esportiva Performance ONE
Pós-Graduado em Bases Fisiológicas e
Metodológicas do Treinamento Desportivo
Universidade Federal de São Paulo.
 
 
Adriano Vretaros
professorav@bol.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    O treinamento de força se faz preciso para potencializar a performance no tênis de campo competitivo. As manifestações da força no tênis de campo são interdependentes. Será através do conhecimento individual dos fatores que envolvem a força muscular (estrutura, arquitetura e hipertrofia) que se poderá elucidar alguns aspectos imprecisos durante a confecção dos programas de treinamento da força voltados especificamente para a preparação de tenistas.
    Unitermos: Tênis de campo. Treino de força. Força muscular. Estrutura muscular. Arquitetura muscular. Hipertrofia muscular.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 9 - N° 64 - Septiembre de 2003

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Introdução

    O músculo é considerado um tecido plástico, pois, pode sofrer adaptações funcionais, morfológicas e metabólicas conforme o tipo de treinamento físico ao qual é submetido (Maughan et alii, 2000). Segundo Bosco (1998), na ação humana esportiva, o músculo esquelético torna-se especializado e se modifica na sua capacidade de funcionamento em resposta ao treinamento.

    Na visão de Enoka (2000), os músculos podem ser considerados máquinas moleculares que convertem energia química, derivada dos alimentos, em força. O autor cita as principais propriedades do músculo, a saber: irritabilidade (habilidade para responder a um estímulo), condutividade (habilidade para propagar uma onda de excitação), contratilidade (habilidade para modificar seu comprimento) e adaptabilidade (um crescimento e uma capacidade regenerativa limitadas).

    Conforme Sale (1987) a otimização do sistema neuromuscular em determinados tipos de treinamento da força estão relacionados a uma apropriada ação muscular em conjunto com a ativação de unidades motoras. Complementado esta observação, Verkhoshanski (2001) reporta que a unidade motora se tornará ativa a partir da influência dos impulsos nervosos conduzidos pelo motoneurônio, mediante o qual a fibra muscular se contrai. Quanto maior a ativação de unidades motoras, maior será a tensão muscular. Analisando sob um prisma prático, Fleck & Kraemer (1999) apontam que a ordem do recrutamento neural afeta a capacidade de ativação das fibras musculares, pois, a ordem de recrutamento é considerada fixa para um movimento específico. Porém, se ocorrer uma mudança na posição do corpo, a ordem de recrutamento também mudará.

    Estudando as respostas eletromiográficas no treinamento e destreino da força, Häkkinen & Komi (1983) encontraram que no início dos programas ocorrem acréscimos da força de origem neural e, posteriormente, com o evoluir do treino ocorrem as manifestações hipertróficas. Sendo que, a magnitude dessas ocorrências estão correlacionadas com o nível e período de condicionamento, grupos musculares específicos e individuais, tipos de atletas avaliados e método de treinamento da força empregado.

    No tênis de campo, a força manifesta-se de diferentes maneiras: resistência muscular localizada, força máxima, resistência de força rápida e força explosiva (Vretaros, 2002). Tais expressões da força podem ser analisadas tanto em conjunto como individualmente, pois, de acordo com Komi (1984) a performance muscular é dependente de inúmeros fatores envolvidos no movimento humano.

    Com base nos relatos supra citados, esta pesquisa tem como objetivo rever os aspectos do treinamento da força através de uma revisão crítica de três componentes da força muscular: estrutura, arquitetura e hipertrofia muscular nas suas possíveis implicações durante a preparação de tenistas competitivos.


Estrutura muscular

    O sarcômero é considerado a estrutura funcional básica da fibra muscular (Wilmore & Costill, 2001). Existem três constituintes internos do sarcômero que são orientados longitudinalmente; a actina (filamentos finos), miosina (filamentos grossos) e titina (filamentos conectivos). Recentemente, evidências tem dado atenção a dois componentes importantes do sarcômero, a miosina e a titina. Sabe-se que a miosina-II é a proteína principal que se ocupa das contrações musculares. Contudo, pesquisas tem investigado a contribuição da miosina-V, um tipo não-convencional que se utiliza dos filamentos de actina e a energia da hidrólise do ATP (adenisina trifosfato) para desempenhar funções de motilidade celular, transporte de organelas e vesículas e também de mRNA (Molly & Veigel, 2003 ; Yildiz et alii, 2003). Qunato a titina, cuja função é manter constante a posição central da miosina, a mesma tem sido investigada sob uma ótica tridimensional (Knupp et alii, 2002).

    No conceito de Foss & Keteyian (2000), as fibras musculares esqueléticas são divididas em quatro tipos: tipo I (vermelhas, tônicas, contração lenta, oxidatiovas), tipoIIa (branca, fásica, rápida-oxidativa-glicolítica), IIb (branca, fásica, rápida-glicolítica) e tipo IIc (indiferenciada, não-classificada, interconexão). Os autores retratam que as fibras IIc são responsáveis pelo processo transacional de conversão e diferenciação maturacional que ocorre na passagem da vida intra-uterina para o nascimento. Após o nascimento, nota-se que no primeiro ano de vida, 50% das fibras correspondem ao do tipo I e, a medida que o sistema neurológico e muscular amadurecem, observa-se a distribuição nos outros tipos de fibras. Somando-se a isto, parece não existir diferenças no tamanho das fibras musculares entre meninos e meninas até aproximadamente os oito anos de idade. Sendo que o tamanho adulto das fibras é atingido por volta dos 12-15 anos de idade biológica.

    A pergunta pertinente é: qual a utilização dessas informações no treinamento de força em tenistas? Podemos especular que tais constatações científicas sirvam de parâmetros para seleção e detectação de talentos. Explico: desenvolvendo futuras pesquisas que envolvam análise das fibras musculares por biópsia nos tenistas adultos e em fase de crescimento poderíamos identificar o tipo predominante de fibra e sua pré-disposição para a performance muscular no tênis de campo. Vale ressaltar que não foram encontradas na literatura dados que envolvam análise por biópsia nas fibras musculares e tenistas. Surgiria, a partir disto, uma lacuna a ser preenchida pelos pesquisadores no qual poderiam contribuir com os futuros programas de preparação dos tenistas competitivos.


Arquitetura muscular

    Segundo Hamill & Knutzen (1999) será através do formato e do arranjo das fibras musculares é que se determinará a capacidade do músculo de gerar grandes quantidades de força. A combinação das características da arquitetura muscular e biomecânica em estudos animais apontam largas diferenças na força, velocidade máxima de alongamento, e potência muscular (Edgerton et alii, 1986).

    Ao estudar a arquitetura muscular do membro dominante em jogadores de futebol, Kearns et alii (2001) encontraram diferenças no músculo gastrocnêmio da perna dominante quando comparado com o membro contralateral. Os autores especulam a existência de uma relação na influência do treinamento físico, com a arquitetura muscular e o ângulo de penação do músculo.

    Em outra pesquisa sobre arquitetura muscular, Abe et alii (1999) investigaram a influência da raça branca e negra. Com este objetivo, compararam 13 jogadores negros de futebol americano com 31 jogadores da raça branca. O estudo se deu através de 13 regiões anatômicas utilizando-se análise através da ultrasonografia. Encontraram diferenças musculares maiores nos jogadores negros: 30% quadríceps (p<0,05), 30% isquiotibias (p<0,05), bíceps (p<0,01) e abdome (p<0,01). Concluíram que as diferenças entre raças é independente da arquitetura muscular e, podem estar mais relacionadas com a estatura anatômica.

    No tênis de campo, levando em consideração a pesquisa de Kearns et alii (2001) sobre membro inferior dominante de jogadores de futebol, podemos especular que o membro superior dominante de tenistas e alguns músculos do tronco, pela elevada solicitação nos treinos e competições, com aproximadamente uma média de 1100 batidas por partida conforme o tempo de duração e tipo de piso (Skorodumova, 1998), devam possuir características de arquitetura muscular diferenciada em relação ao membro não-dominante. Seria um fator que merece maior atenção nos estudos sobre preparação física no tênis de campo.


Hipertrofia muscular

    O treinamento de força objetivando a hipertrofia muscular é usualmente associado no aumento do material miofibrilar. Com esse acréscimo no tamanho de miofibrilas, suas implicações resultam em fibras musculares com maiores volumes (Komi, 1986).

    Conforme Antonio & Gonyea (1993), a hipertrofia muscular é bastante encontrada em pesquisas envolvendo animais e humanos. Em contraste, são poucas evidências científicas da hiperplasia em seres humanos. Contudo, os autores especulam que certos protocolos de treinamento da hipertrofia poderiam resultar em hipertrofia e/ou hiperplasia muscular, assim como ocorrem em estudos envolvendo musculatura de animais.

    Existem diferentes graus de hipertrofia muscular conforme a modalidade desportiva. Neste aspecto, Manso (1999) cita três modalidades e seus respectivos graus de hipertrofia: fisiculturista (hipertrofia geral), fundista (hipertrofia seletiva confirmativa de fibras lentas) e velocista (hipertrofia seletiva de fibras rápidas).

    Porém, em algumas modalidades de desporto a hipertrofia acentuada não é apropriada. Podemos especular que no tênis de campo seria necessário controlar tal grau de hipertrofia. Uma das formas de controle da hipertrofia muscular é conhecendo o somatotipo da modalidade.

    Neste sentido, Solanellas et alii (1996) estudaram o somatotipo de 540 tenista espanhóis (270 tenista masculinos e 270 tenistas femininos) de diferentes categorias. Os resultados indicaram um aumento na mesomorfia e um descenso na ectomorfia entre o final da adolescencia e a idade adulta em tenistas espanhóis. No geral, em tenistas masculinos o somatotipo predominante se identifica como ectomesomórfico onde a mesomorfia é dominante e a ectomorfia é maior que a endomorfia. Nas tenistas femininas, com o crescimento e a maturação, as mesmas ganham em endomorfia e perdem em ectomorfia e não existem tendências para mesomorfia.

    Portanto, em tenistas o controle do índice de muscularidade e somatotipo se faz preciso para evitar o efeito de uma hipertrofia acentuada que possa comprometer a performance geral de força e coordenação de movimentos.


Conclusão

    Esta pesquisa de revisão acerca dos tipos da força muscular envolvidos no tênis de campo, permitiu-nos chegar as seguintes conclusões:

  • A estrutura, arquitetura e hipertrofia muscular influenciam em diferentes graus no desenvolvimento dos programas de treinamento da força em tenistas.

  • Na estrutura muscular podemos interpretar a predominância do tipo de fibra muscular. O conhecimento desta variável poderia influenciar na identificação e seleção de futuros talentos.

  • A arquitetura muscular carece de estudos sobre o tênis de campo e poderia ser melhor explorada estudando o seu efeito no membro superior dominante de tenistas.

  • A hipertrofia muscular em tenistas deve ser seletiva e controlada por meio do índice de muscularidade e o somatotipo.

  • São necessários pesquisas adicionais sobre estes tópicos da força muscular através do desenvolvimento de estudos direcionados especificamente para o tênis de campo.


Referências bibliográficas

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