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Uma comparação dos níveis de ansiedade - estrado
pré-competitiva, entre atletas de futsal da categoria
juvenil, com diferentes cargas de treinamento semanais

   
Instituição Educacional São Judas Tadeu
Porto Alegre - RS
 
 
Ricardo Valente
edfisica@saojudastadeu.com.br
(Brasil)
 

 

 

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 9 - N° 59 - Abril de 2003

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1. Introdução

    A cada ano o esporte torna-se mais competitivo, movendo uma série de interesses. Os clubes organizam-se de maneira profissional, mesmo em esportes que recebem ainda a conotação de amadores, como o futsal. Com isso, o estudo das variáveis que interferem diretamente no resultado e na performance da equipe e do atleta, recebem significativa atenção dos pesquisadores e estudiosos. Sabe-se que estas variáveis não estão somente ligadas aos aspectos técnico/tático e físico, mas também ao psicológico que tem relação direta com o rendimento. Segundo Becker Jr. & Samulki, 1998 apesar de bem treinados técnica/tática e fisicamente os atletas respondem diferentemente aos estímulos externos durante uma competição, pois a pressão transfere-se para área emocional , assim atletas bem preparados podem apresentar transtornos de rendimento ao longo da competição quando exercida uma grande pressão (Recio & Balaña 1997), outros podem crescer de rendimento quando esta se apresenta, isto está relacionado como nível de ansiedade adequado a cada indivíduo, citado por Haris & Haris como níveis ideais de ansiedade. As alterações produzidas pela ansiedade antes da competição, podem trazer diversas conseqüências para os atletas (Buceta apud Recio & Balanã,1997), se dentro de níveis normais, estes efeitos podem ser positivos, mas se ultrapassam estes níveis podem ocasionar, reações emocionais graves e inclusive a queda do rendimento

    A pesquisa tem por objetivo, verificar se a carga de treinamento semanal está diretamente relacionada com o nível de ansiedade de estado (A-estado) pré-competitiva apresentado por atletas de futsal, da categoria juvenil. Seguindo esta linha teórica, temos o seguinte problema: a carga semanal de treinamento técnico, tático e físico estará diretamente relacionada com a ansiedade de estado (A-estado) pré - competitiva ?

    Como forma de medida da A-estado nos atletas de futsal, foi utilizado o inventário de ansiedade traço - estado (IDATE) de Spielberg (1970). O IDATE, foi aplicado nos Grupo A e B cinco vezes durante a competição. O Grupo A é composto por atletas que treinam durante 8 horas semanais e o Grupo B é composto por atletas que treinam 03 horas semanais.

    Partindo desta diferença na carga semanal de treinamento dos dois grupos, Grupo A - 8h e Grupo B - 3h, vamos verificar as seguintes hipóteses:

    1ª. - os indivíduos que compõe o Grupo A apresentam menor A-estado.

    2ª. - os indivíduos que compões o Grupo A apresentam maior A-estado.


2. Metodologia

2.1. caracterização da pesquisa

    O trabalho é um estudo do tipo expost facto, caracterizado por uma pesquisa quantitativa com abordagem comparativa, situado na área do desporto de rendimento. Sendo operacionalizada através da aplicação do IDATE (Inventário de ansiedade traço-estado), em dois grupos de atletas na modalidade futsal, da categoria juvenil.

2.2. População e amostra

    Utilizou-se duas equipes de futsal da categoria juvenil, com carga de treinamento diferentes, em um total de 24 atletas participantes, na faixa etária de 16 a 19 anos de idade (nasc. entre os anos de 1983 e 1980), sendo todos do sexo masculino. O grupo de atletas foram informados da importância da pesquisa e da honestidade que deveriam responder as questões. GRUPO A (Clube dos funcionários da Petrobrás - CEPE) e GRUPO B (Col. São Judas Tadeu), o grupo tinha como carga horária 8h semanais, e o grupo B 3h semanais de treinos.

2.3. Instrumento de medida

    Para a obtenção dos resultados, de nível de ansiedade estado de cada atleta, utilizou-se " O INVENTÁRIO DE ANSIEDADE TRAÇO E ESTADO DE SPIELBERGER - IDATE", composto de 20 afirmações, que tem sido usadas para descrever sentimentos pessoais. Conforme o grau de bem estar existe uma opção , para cada questão quatro alternativas.

2.4. Procedimentos

    Os testes (IDATE) foram aplicados durante duas competições importantes no cenário do futsal, o Grupo A foi avaliado durante a primeira, e segunda fase do campeonato estadual de futsal, da categoria juvenil, e o Grupo B na Curitiba Internacional Futsal Cup.

    No processo de avaliação levou-se em consideração, o nível de importância das partidas, no caso de serem classificatórias ou não. O período transcorreu de maio de a setembro de 1999, nas cidades de Canoas, Porto Alegre, Curitiba, Pelotas, e Caxias do Sul conforme o local das partidas dos grupos envolvidos na pesquisa.

    Após coletados todos os dados, realizou-se a tabulação dos resultados, em forma de média simples de cada indivíduo e de cada grupo, utilizando-se da comparação simples, estabelecendo-se os resultados.

    Estabelecendo-se assim os resultado e as discussões necessárias para elaboração das conclusões e observações pertinentes.


3. Apresentação dos resultados

    Os resultados obtidos com a aplicação do Inventário de Ansiedade Traço e Estado (IDATE), nos Grupo A, atletas do Clube dos Funcionários da Petrobrás (CEPE), e B atletas do Colégio São Judas Tadeu em um total de 24 (vinte e quatro), nas respectivas competições já citadas no capítulo anterior, estão aqui apresentados e discutidos, como forma de avaliação para futuro aprofundamento do tema. Os níveis de ansiedade estado apresentados nos leva a conclusões e discussões pertinentes ao assunto apresentado.

3.1. Escores ansiedade estado do Grupo A

    Conforme gráfico I, o Grupo A apresentou no decorrer dos cinco jogos, uma média de ansiedade estado dentro dos padrões normais no esporte. Alguns atletas obtiveram escores bem elevados quase atingindo 60 pontos, resultado que elevou um pouco a média do grupo em alguns jogos, escore individual considerado bastante inadequado para os padrões (Spielberger, 1970 ).

    Conforme tabela 1(anexo 3), os resultados do Grupo A ficaram entre 36 e 55 pontos de escore, atingindo uma média de 43,54 pontos. Em alguns jogos, verificar Gráfico 1, os atletas demonstraram certa elevação de A-estado, a partida decisiva da fase, foi onde ocorreu o maior escore de A-estado, levando-se em consideração o local da partida (na cidade do adversário) e a importância para, considera-se como normal tal ocorrido.

Gráfico I

Média do Grupo A cada partida avaliada.

Jogo 1 - 43,66
Jogo 2 - 42,58
Jogo 3 - 44,33 (partida classificatória)
Jogo 4 - 43,41
Jogo 5 - 43,75

3.2. Escores de ansiedade estado do Grupo B

    O Grupo B, obteve escores entre 40 e 53 pontos em média individual, atingindo no grupo uma média 45,13 pontos, conforme tabela II, em anexo.

    Este grupo teve escores mais equilibrados, porém mais elevados do que o grupo anterior. Em alguns jogos, decisivos os escores elevaram-se de maneira considerável em relação aos apresentados em jogos dentro de uma fase de classificação, fato não ocorrido no Grupo A .

Gráfico II

Média do Grupo B a cada partida avaliada

Jogo 1 - 45,75 (estréia)
Jogo 2 - 44,25
Jogo 3 - 45,50 (classificatória)
Jogo 4 - 44,83
Jogo 5 - 45,33


3.3. comparação e discussão dos resultados dos Grupos A e B

    A diferença da média de escores dos Grupo A e B, foi de 1,59 pontos. Tendo como escores máximos de média entre os grupo, 44,33 e 45,75 dos grupos A e B respectivamente, e escores mínimos de média 42,58 e 44,25, a média dos grupos foi de 44,33 e 45,13 (A e B). Esta diferença é desprezível matematicamente, mas observa-se que os níveis de A - estado, verificados estão dentro dos padrões normais segundo Spielberger, levando-se em consideração a idade dos indivíduos da amostra que naturalmente, no período pubertário, tem índices até certo ponto mais elevados de A - estado, Cratty (1984). Tendo o Grupo A médias sempre inferiores aos resultados do Grupo B, verifica-se uma certa tendência que pode responder uma das hipóteses previstas.

    As equipes durante as partidas observadas, mantiveram sempre o equilíbrio necessário para o desenvolvimento normal da partida, isto é não demonstraram, estar desequilibradas na relação com seus adversários e as ocorrências normais de uma partida de futsal, na faixa etária estabelecida. As tensões pertinentes ao tipo de competição, foi fundamental à análise aqui proposta. Momentos de grande tensão, como em jogos decisivos refletem diretamente nos escores observados. A estréia em uma competição, bem como jogos semi finais e finais, também geram uma certa aflição nos indivíduos avaliados., que demonstram a elevação da ansiedade nas respostas efetuadas no questionário.


Gráfico III

    A cada partida verifica-se que o GRUPO A sempre obteve escores menores, que o GRUPO B, estabelecendo-se como maior diferença 3,19 entre o minímo escore obtido pelo grupo A (42,58) e o maior resultado obtido pelo grupo B (45,75). O resultado da partida, onde o maior verificou-se o maior escore da amostra, o grupo B foi derrotado de maneira bastante fácil, no caso da partida do grupo A o empate foi o resultado.


3.4. Considerações finais

    Ao concluir a pesquisa de comparação dos níveis de ansiedade estado pré competitiva em atletas de futsal da categoria juvenil, com diferentes cargas semanais de treinamento, observa-se que existe uma pequena diferença entre os escores observados nos dois grupos. O suporte teórico utilizado como auxílio na confecção do trabalho e o disponível à consulta nas universidades trata do tema ansiedade sob o aspecto geral de definições, principalmente dos efeitos causadores e dos fatores que elevam os níveis de ansiedade, em desportistas, como pressão de torcida, arbitragem, adversário, imprensa. A relação de auto confiança do atleta, atingido através de um programa de treinamento técnico, tático, e físico é pouco considerado pelos autores e pesquisadores.

    As questões levantadas no trabalho, se o grupo A com mais horas de treinamento, tem um menor índice de A-estado, ou se o Grupo A tem maior índice de A estado em comparação ao Grupo B, com menos horas de treinamento, são respondidas da seguinte forma: Observando-se os escores obtidos na tabulação dos questionários respondidos, a hipótese 1 (os indivíduos do grupo A tem menor

    A-estado) mesmo que a diferença encontrada entre os dois grupo seja desprezível matematicamente, fica mais próxima de ser verificada. Mas tanto hipótese 1 e 2 (Grupo a apresenta maior A-estado), são consideradas nulas, pois não apresentaram dados suficientes para sua verificação.

    Talvez os dados obtidos sejam insuficientes, para obter-mos conclusões mais definitivas sobre o tema pesquisado, consequentemente um aprofundamento seja o adequado, na solução dos problemas propostos.

     O tema serve de marco neste processo de qualificação e aprimoramento, estamos no início de uma "caminhada" onde a busca do saber e do conhecimento é a mola propulsora para uma capacitação profissional de qualidade, e acreditamos que muito ainda deva ser feito na área do comportamento emocional do atleta, que somente os aspectos técnicos e táticos, bem como físicos não sustentam-se somente, que a preparação psicológica faz-se necessário, tanto ao ponto do COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO (COB), com uma iniciativa inédita leva para próxima olimpíada um especialista em motivação, o que ainda não é o ideal, mas mostra-se preocupado com o estado emocional de nossos atletas, abrindo portas í sim para o profissional especializado, psicólogo do esporte.

    O papel do psicólogo do esporte é de fundamental importância na preparação completa do atleta. Os clubes, federações e confederações começam a traçar os rumos destes profissionais valorizando sua atuação e atribuindo-lhe a atenção devida. Na certeza de que estamos apenas no início, mas com a certeza de que este é o caminho adequado, sinto-me estimulado a continuar inclusive na busca de novos horizontes, como o mestrado na área da Psicologia do Esporte.


Referências bibliográficas

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  • MACHADO, Afonso Antônio. Psicologia do Esporte - Temas Emergentes I. Jundiaí-SP. Editora: Ápice. 1997

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  • SINGER, R. N.: Psicologia dos Esportes - Verdades e Mitos; São Paulo; Harbra, 1978. 2ª ed.

  • SPIELBERGER, C., GORSUCH, R. J. & LUSHENE, R. E. IDATE DE
    Inventário de ansiedade traço-estado. Manual de Psicologia Aplicada. RIO JANEIRO: CEPA, 1979.

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