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Formação profissional em educação física e
esporte no Brasil: propostas de mudança

   
Membro da Linha de Pesquisa em Educação Física e docente
da Univ. São Judas Tadeu e do UNIFIEO
 
 
Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva
sheila.silva@uol.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    Diante do amplo panorama de mudanças pelo qual passa o ensino superior brasileiro, este artigo aborda a formação inicial e continuada em Educação Física e Esporte apresentando o posicionamento de pessoas-chave presentes no II Fórum Nacional das Instituições de Ensino Superior em Educação Física, ocorrido em julho de 2002 no Rio de Janeiro, buscando apresentar elementos que possibilitem a reflexão da comunidade acadêmica a respeito do assunto.
    Unitermos: Formação profissional. Política educacional. Ensino superior. Educação Física. Esporte.

Abstract
    Before the wide panorama of changes by which goes the Brazilian Superior education, this article approaches the initial and continued formation in Physical Education and Sport presenting key-people positioning in II National Forum of the Superior Education Institutions in Physical Education, which happened in July of 2002 in Rio de Janeiro, looking forward to present elements that facilitate the reflection of the academic community regarding the subject.
    Keywords: Professional formation. Educational politics. Superior Education. Physical Education. Sport.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 58 - Marzo de 2003

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Introdução

    Os atuais cursos de formação inicial em Educação Física encontram seus parâmetros explicitados pela Res. CFE nº 03/87.

    Passados quinze anos da publicação desta Resolução e cerca de treze anos da implementação dos primeiros cursos de Bacharelado em Educação Física no país, nos deparamos, novamente, com grandes mobilizações nacionais (Encontros de Especialistas, Encontros de Dirigentes de Cursos Superiores de Educação Física, Congressos promovidos pelo CONFEF, Simpósios Universitários, entre outros) em torno do debate sobre a formação profissional e sobre o papel do profissional de Educação Física e Esporte no Brasil.

    A legitimidade destas reuniões encontra respaldo nas propostas de mudanças políticas, sociais e pedagógicas presentes na legislação e nos documentos e diretrizes educacionais publicadas durante os oito anos do Governo Fernando Henrique Cardoso (1996-2002).

    Neste artigo, apresentaremos o posicionamento de figuras importantes para o debate político e pedagógico no que se refere à formação profissional em Educação Física no Brasil presentes no II Fórum Nacional das Instituições de Ensino Superior em Educação Física ocorrido em julho de 2002 no Rio de Janeiro.

    Esperamos, com esta exposição, trazer elementos que possibilitem ao leitor uma reflexão sobre o assunto e o desencadear de propostas de aperfeiçoamento dos cursos de Graduação em Educação ou Motricidade Humana do nosso país.


Considerações a respeito da formação profissional

    Uma das formas de abordar o tema da formação profissional é através do posicionamento a respeito da finalidade dos cursos de graduação em relação ao papel que o graduado em Educação Física deve desempenhar na sociedade.

    Em relação à ingerência do poder público na intermediação entre as Instituições de Ensino Superior e a sociedade, STEINHILBER (2002)1 , afirma que, em todo o mundo, o Estado tem a responsabilidade de proteger a saúde de seu povo, preservar a qualidade do meio ambiente, regular as atividades comerciais, fiscalizar as profissões e promover a saúde, a segurança e o bem-estar público de seus cidadãos. Segundo ele, é essencial a ação estatal, em prol do bem-estar da sociedade no seu conjunto, quando responde a uma necessidade imperiosa, ainda que contrarie interesses particulares ou algumas posições ideológicas.

    Falando sobre a Universidade, defende que esta é parceira da sociedade por natureza, participando de todas as etapas de sua construção, manutenção e funcionamento. Em relação à participação do Sistema CONFEF/CREFs, órgão fiscalizador do exercício profissional e, consequentemente, defensor dos interesses da sociedade, utiliza como argumento a defesa do profissional de Educação Física cujo compromisso é contribuir para a melhoria da qualidade de vida, para a solução de problemas e conflitos sociais e para a construção compartilhada do consenso e da coesão sociais.

    STEINHILBER (2002) manifesta que

"...não basta termos a profissão regulamentada legalmente. Sabemos que se trata de condição necessária, mas não suficiente para garantir nosso espaço profissional. A lei é um instrumento; o importante é a atuação profissional competente e a fiscalização efetiva desse exercício profissional de qualidade, tendo em mente garantir a segurança do beneficiário."

    Na sua visão, o foco de atenção da formação e do currículo da Educação Física está no estudo do Ser Humano, como indivíduo engajado em performances motoras requisitadas na vida diária e em outras performances que produzam valores estéticos, ou que sirvam de expressões da natureza física e competitiva de uma pessoa.

    Podemos considerar que a agilidade com que surgem novas necessidades na sociedade e no mercado de trabalho demanda a integração e a afinidade entre os diversos responsáveis pela formação profissional, tanto a inicial, quanto a formação continuada.

    O desenvolvimento científico-tecnológico mundial, as novas necessidades mercadológicas, as Diretrizes Curriculares publicadas para os cursos de Licenciatura e ainda não oficializadas para os cursos de Bacharelado, a Avaliação das Condições de Ensino realizadas pelo MEC/INEP, vêm levando as instituições universitárias no Brasil a um processo de revisão de seus conteúdos, metodologias e, fundamentalmente, de sua política de atuação.

    De acordo com SERPA2 (2002):

"Isso se fazia necessário, tendo em vista aquele ranço que ficava anos a fio, em que estávamos habituados aos currículos mínimos, cargas horárias pré-fixadas e divisão de disciplinas. É um pormenor muito grande de detalhes em que, digamos, a "autonomia acadêmica" de cada instituição era muito reduzida, quase nenhuma, o currículo mínimo, na verdade, era quase que um currículo pleno(...)"

    Podemos afirmar, de certa forma, que as Diretrizes Curriculares estão encaminhando mudanças significativas, tanto para a Licenciatura quanto para o Bacharelado, a exemplo da organização curricular a partir da definição das competências previstas para o profissional de Educação Física e do estímulo a arranjos curriculares interdisciplinares. A legislação que ora está posta, permite criatividade e ousadia por parte das instituições formadoras, permitem que as instituições de ensino superior não se limitem a adaptar suas grades, oferecendo a oportunidade de que amplas e substanciais transformações sejam propostas. Resta saber, no entanto, quantas e quais delas aceitarão o desafio da promoção de um ensino mais significativo para os alunos e engajado com as necessidades mais urgentes e importantes das comunidades a que atendem.

    Alerta-nos STEINHILBER (2002), que este momento de reflexão deve contemplar as discussões sobre revisão curricular, para evitar o risco de que as mudanças a serem implementadas sejam apenas formais:

"O valor científico, econômico, cultural e social que se agrega à coletividade, direta ou indiretamente, com a realização de pesquisas, com a formação de recursos humanos altamente qualificados e com a prestação de serviços destinados ao atendimento das demandas sociais, contribuirá para a elevação do status de nossa profissão e para seu reconhecimento na sociedade."

    Acrescentaríamos que a flexibilização possível nos cursos de formação inicial e a necessidade de significatividade dos conteúdos desenvolvidos é ainda maior quando se trata de propostas de formação continuada.


As alterações legais e as mudanças previstas

    A reforma dos cursos de Licenciatura no Brasil, se baseia legalmente na nova LDB, nos Pareceres CNE/CP 09, 27 e 28/01 e nas Resoluções CNE/CP 01 e 02/02.

    Segundo CURY3 (2002) ,

"...a reforma das licenciaturas se impôs como uma necessidade face aos novos tempos que vivemos e face a uma demanda interna da área educacional. De um lado, estamos diante de uma ruptura epistemológica pela qual caem as fronteiras estanques entre as diversas áreas de conhecimento. De outro lado, deslocam-se também as fronteiras geográfico-planetárias. Além disso, há uma busca identitária do professor(a) enquanto docente. Tais realidades impuseram o repensar do famoso esquema 3 + 1 que fazia do professor(a) um apêndice do bacharelado. O que se pretende é formar o professor como docente da educação básica. "

    Cabe lembrar que, além de atender a esta legislação comum às licenciaturas, os cursos de Educação Física devem atender aos pareceres e resoluções da Câmara de Educação Superior e do Conselho Nacional de Educação específicos da área .

    Para a Educação Física não é apenas essa reforma dos cursos de Licenciatura que afeta a formação profissional, uma vez que desde 1987 (Res. CFE nº 03/87) além desta modalidade de graduação, também são oferecidos cursos de Bacharelado na área.

    Mesmo ainda não tendo sido oficializada a Resolução que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares para os cursos de Bacharelado, SERPA (2002) nos permite maior esclarecimento sobre o assunto ao realizar um breve histórico do processo de elaboração das Diretrizes para o Bacharelado em Educação Física:

"...A Lei nº 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, determina, em seu inciso II, do artigo 53, como atribuição da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, deliberar sobre as Diretrizes Curriculares para o Ensino Superior. Assim, o CNE baixou orientações para que as mesmas fossem elaboradas de forma a estarem compatíveis com a atual conjuntura acadêmica, profissional e as rápidas transformações técnicas e sociais do país, bem como nos perfis profissionais."

    Na continuidade de seu texto, esclarece que as Diretrizes Curriculares foram pautadas em um modelo comum para todas as áreas, encaminhadas à SESu, para que as respectivas Comissões de Especialistas confeccionassem suas propostas.

" No caso específico da Educação Física havia uma enorme concordância, naquela época, em torno daquilo que tinha sido produzido pela Comissão de Especialistas da SESu/MEC, ou seja, uma formação genérica, generalista que abrigava os diversos campos de atuação da Educação Física." (SERPA, 2002)

    Chegou-se ao consenso, portanto, que a respeito dos cursos de Licenciatura já se possuía discussão e maturidade suficiente para subsidiar as Diretrizes Curriculares, emanando do Conselho Nacional de Educação/ Conselho Pleno o Parecer nº 09/2001, publicado em maio do mesmo ano, regulando como se devia fazer e processar a formação do professor no Brasil, de todas as áreas, em nível superior.

    No entanto, segundo SERPA (2002), o processo de discussão não parou por aí porque o Parecer suscitou muitas dúvidas, tendo que haver uma fase de esclarecimentos por parte do Conselho Nacional de Educação.

    Foi promovida, então, uma Audiência Pública, em Junho de 2001, para algumas carreiras, incluindo a Educação Física, na qual compareceram diversos interessados, principalmente o Conselho Federal de Educação Física que, nas palavras de SERPA (2002), procurou " sempre colocar em primeiro lugar a importância da formação e não do exercício profissional, o que agradou muito a este Relator".

"Houve ao final dessa Audiência Pública uma solicitação, do Conselho Federal de Educação Física, para adiar um pouco o relato dessa Diretriz Curricular, até pelo menos o mês de Setembro, porque seria necessário um tempo para reunir em diversos Fóruns Regionais, que se pretendia realizar com as Faculdades de Educação Física e Cursos de Educação Física de todo país, para que se tirasse uma nova posição, tendo em vista, as explicações que foram dadas na Audiência Pública." (SERPA, 2002).

    Depois que tais fóruns de dirigentes de instituições de ensino superior em Educação Física foram realizados durante os meses de Julho e Agosto, as Diretrizes Curriculares para o Bacharelado em Educação Física são publicadas em outubro, recebendo homologação em janeiro de 2002.

    Por ocasião do II Fórum Nacional de Instituições de Ensino Superior em Educação Física, ocorrido no Rio de Janeiro de Julho de 2002, o relator Serpa publica uma visão bastante otimista a respeito dos efeitos benéficos da atuação deste profissional na sociedade, argumentando sobre a "riqueza" de tais diretrizes, visto que respeitam a "... diversidade de possibilidades de formação de cursos em todo Brasil"

    Neste mesmo Fórum, apresentando uma visão bem mais analítica e objetiva sobre o assunto, presenciamos a participação do Professor Dr. Juarez Nascimento4 , da UFSC.

    Em sua exposição, NASCIMENTO (2002) elencou alguns pontos nos quais visualiza mudanças através das Diretrizes propostas para a formação superior em Educação Física, mencionados a seguir:

  • a dinamicidade e complexidade do mercado de trabalho na área revelam a necessidade deste profissional assumir um novo papel na sociedade;

  • visualiza-se um empreendedor em Educação Física, vendendo serviços e gerenciando o seu próprio desenvolvimento no mercado de trabalho, deixando de lado a posição cômoda e estável de assalariado;

  • na condição de profissional liberal, aumenta sua preocupação com a qualidade do serviço prestado,

  • na condição de profissional liberal, convive com riscos e desafios provocados pela velocidade cada vez maior das mudanças da sociedade.

    Sendo assim, considera que a formação profissional deve contemplar alguns pontos fundamentais:

  • versatilidade = garantida através da implantação de diferentes habilitações;

  • adaptabilidade = preparar o profissional para adaptar-se às múltiplas situações de trabalho que ainda não são conhecidas;

  • terminalidade e integralidade próprias = diferenciação entre as duas opções de formação inicial, Licenciatura e Bacharelado, que deverão constituir-se a partir de projetos específicos.

    Na continuidade de sua análise, destacou que a elaboração de novas diretrizes curriculares para os cursos de graduação direciona a formação inicial para três categorias de carreiras:

  • bacharelado acadêmico, (ao qual não teceu qualquer comentário),

  • bacharelado profissionalizante (formação para atender diferentes postos de trabalho, exceto o ensino de Educação Física) e

  • licenciatura, (formação para atender o ensino de Educação Física na educação básica da rede escolar de ensino).

    NASCIMENTO (2002) nos faz lembrar que a Educação Física é classificada como um curso da área de Ciências Biológicas e Saúde a cujas diretrizes curriculares também deve se submeter. Quanto a isso, destaca que as diretrizes dos cursos da área de Ciências Biológicas e da Saúde já foram aprovadas pelo CNE, porém, mesmo considerando que as competências gerais sejam similares para os cursos desta área, "...observa-se diferenciação nas diretrizes aprovadas quanto às habilitações e ênfases (bacharelado profissionalizante, licenciatura, formação generalista, formação especialista,...), conteúdos curriculares (áreas temáticas, ciclos de formação,...) e estágio curricular (duração, percentuais,...)", quando comparadas às propostas em pauta para a Educação Física.

    NASCIMENTO (2002), afirma que o debate sobre o objeto de estudo da Educação Física ainda não encontra definições, uma vez que as Diretrizes mencionam indiscriminadamente, os termos "atividade física", "movimento humano" e "motricidade humana":

" (...) as novas diretrizes curriculares caracterizam a Educação Física como um campo de intervenção profissional que trata de diferentes manifestações e expressões da atividade física/movimento humano/motricidade humana para prestar serviços à sociedade no alcance de objetivos educacionais, de saúde, de prática esportiva e expressão corporal."

    Mesmo que tal definição possa parecer para alguns, irrelevante, concordamos que a clareza a respeito das distinções a respeito destes fenômenos mencionados fornece o substrato teórico para as intervenções profissionais conscientes e conseqüentes, como também para a elaboração e implementação de propostas coerentes de formação inicial e continuada nesta área.


Estruturação de currículos para formação de profissionais de educação física

    Diante deste panorama de evolução da formação profissional, dirigentes de cursos de Educação Física se deparam com a tarefa de organizar o corpo docente para que procedam à avaliação e reformulação necessárias às suas propostas pedagógicas. Neste sentido, é importante possuir alguns parâmetros para a organização curricular. NASCIMENTO (2002) nos remete a alguns: eixos curriculares, ciclos ou áreas de formação, conteúdos curriculares.

    Segundo ele, no que diz respeito aos conteúdos curriculares, as novas diretrizes procuram superar a visão determinista de um currículo mínimo (composto por matérias que agregam diferentes disciplinas curriculares) e incorporar o conceito de áreas temáticas (conjunto de matérias ou de grupos de conteúdos temáticos comuns que compõem os diferentes campos de saber de um curso).

    Entre as possibilidade de encarar de forma diferente a elaboração curricular, é reconhecível a existência de eixos curriculares (agrupamentos de disciplinas afins que criam espaço de ação deixando transparecer a relação entre a teoria e a prática, a forma e o conteúdo, o saber e o fazer) que possam auxiliar na harmonização e na construção de identidades regionais próprias para as propostas curriculares.

    Destaca que, num país tão extenso e com a multiculturalidade que nos é característica, estas Diretrizes não apontam para qualquer pretensão de estabelecimento de uma "base comum nacional".

    Quanto a organização curricular, tarefa e responsabilidade dos colegiados de curso, deverá permitir o desenvolvimento dos cursos em ciclos ou áreas de formação geral e específica. Os ciclos ou áreas de formação, por sua vez, deverão estabelecer padrões de organização e visão articulada das áreas temáticas dos conteúdos curriculares. Ainda que não apresente uma defesa explícita da proposta tradicional "3 + 1" (três anos de formação básica e um de especialização no interior dos cursos de Graduação) , destaca o princípio de autonomia das instituições de ensino superior universitárias que poderão propor uma formação geral sólida similar para os cursos de bacharelado profissionalizante e de licenciatura, acrescida de projetos específicos com terminalidade e integralidade próprias de cada modalidade de curso.

    Outro aspecto importante das novas diretrizes é o que se refere aos estágios curriculares.

    Se outrora, a Prática de Ensino podia ser desenvolvida "sob a forma de Estágio Supervisionado", agora Prática e Estágio representam momentos distintos, ou seja, passam a ser cumpridos pelos alunos em duas modalidades: as práticas pedagógicas e o estágio profissional supervisionado.

    As práticas pedagógicas , com o objetivo de promoção do desenvolvimento e amadurecimento pessoal do estudante, bem como sua sensibilização para as atividades profissionais da área, poderão ser inseridas nas disciplinas curriculares e desenvolvidas ao longo do curso, ou seja, do primeiro ao último ano do curso.

    Por outro lado, o estágio profissional supervisionado, "caracterizado como processo de transição profissional que procura ligar duas lógicas (educação e trabalho)" (NASCIMENTO, 2002), deve proporcionar ao estudante a oportunidade de demonstrar conhecimentos e habilidades adquiridas e treinar as competências que já detém sob a supervisão de um profissional da área, devendo ser realizadas no final do curso.

    Além dos estudos das áreas temáticas e da realização dos estágios, a formação profissional proposta passa a contemplar o que se denominou de atividades complementares.

    As atividades complementares que podem ser realizadas sob a forma de monitorias e estágios no interior da faculdade; programas de iniciação científica; programas de extensão; estudos complementares; cursos realizados em áreas afins, deverão ser incrementadas durante toda a formação inicial.

    A exigência de elaboração e defesa de trabalho de conclusão sob orientação docente são outros aspectos a contemplar nos projetos pedagógicos.

"...Os colegiados dos cursos de graduação, além de refletirem e decidirem sobre a organização curricular e sobre o sistema de ensino a ser adotado (unidades temáticas, matrícula por disciplina, seriado misto, seriado anual), deverão posicionar-se sobre o perfil e respectivo certificado do futuro profissional (bacharel generalista ou bacharel em Educação Física com habilitação em determinado campo de intervenção profissional da área)." NASCIMENTO (2002)


Formação continuada em educação física

    Uma vez expostas as diretrizes para a formação inicial em Educação Física, não poderíamos deixar de mencionar a necessidade permanente de atualização profissional.

    As transformações socioculturais da sociedade vem provocando profundas mudanças e alterando as necessidades da população brasileira. Esse fenômeno provocou uma rápida expansão e diversificação dos campos de atuação profissional relacionados à tradição da educação física nas perspectivas da educação, da prática esportiva, do exercício corporal para a saúde/qualidade de vida e do lazer. O campo de atuação do profissional será delimitado por sua competência e comprometimento ético. Hoje, a atividade física, a prática esportiva formal e informal são direitos dos cidadãos definidos na Constituição e constituem-se num meio efetivo para a conquista de um estilo de vida ativo dos seres humanos, reconhecido como importante fator para a qualidade de vida de toda a população.

    Segundo BARROS5 (2002), a formação continuada em Educação Física, deverá atender à necessidade do profissional compreender a natureza dinâmica do conhecimento especializado e obter a competência do desenvolvimento intelectual e profissional autônomo e permanente e destaca, ainda, que

"...esta competência deve permitir a continuidade do processo de formação profissional que não termina com o diploma e a colação de grau. Isto, além de ser uma orientação das novas diretrizes e necessidade imposta pelo mercado de trabalho é, também, um dever lembrado no Código de Ética Profissional."

    Considerando essa necessidade de constante atualização e aprimoramento, o compromisso da formação inicial é preparar "...para enfrentar os desafios das rápidas transformações da sociedade, do mercado de trabalho e das condições do exercício profissional." (BARROS, 2002), estabelecendo, assim, um elo com a formação continuada.

    A consciência de que o exercício profissional competente exige atualização de conhecimentos e preparação contínua deve ser alertada durante os cursos de graduação. Além de ser uma exigência do mercado de trabalho, a constante atualização no seu campo profissional, é um dever ético para com a profissão.

    Desta forma, destaca que as novas diretrizes sinalizam para a preparação de um profissional com as seguintes características:

  • adaptável a situações novas e emergentes,

  • com progressiva autonomia profissional e

  • com condições para contribuir na produção de conhecimentos.

    Aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser são termos utilizados na linguagem das diretrizes que buscam referenciar a preparação do profissional.

    Neste entendimento, não é demais repetir que a organização do currículo deve ser concebida com o propósito de estabelecer um perfil do formado no qual a graduação constitui apenas uma etapa inicial da formação profissional num processo de educação autônomo e continuado. Assim, espera-se que o egresso possua uma sólida formação na área de conhecimento da Educação Física oriunda de sua formação profissional fundamentada na competência teórico-prática de acordo com um perfil adaptável às novas e emergentes demandas sociais no seu campo, para cujo desafio deverá estar apto. Em outras palavras, além do domínio de conhecimentos, técnicas e habilidades que servem de base para a intervenção profissional, o egresso deverá ser preparado para sua educação autônoma e continuada.

    BARROS (2002) defende o encorajamento à realização de estudos independentes, visando uma progressiva autonomia profissional e intelectual do aluno, o que requer, no seu ponto de vista, incrementar a organização curricular dos cursos com a oferta de cursos seqüenciais complementares, previstos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, como uma das modalidades de educação continuada. Enfatize, também, que as decisões a este respeito deverão estar muito claras nos projetos pedagógicos.

    De uma maneira geral, a educação continuada parte do desenvolvimento de um estado de alerta proporcionado ao aluno ainda na formação inicial, quanto à dinâmica da produção do conhecimento técnico e científico, fator que caracteriza os cursos de graduação como o passo inicial de uma longa caminhada de formação profissional.


Conclusão

    Através da reunião destas informações a respeito do panorama atual das discussões em torno da formação profissional no Brasil, nossa reflexão aponta para alguns aspectos:

  1. a tarefa do docente não se esgota e não se limita à preocupação estrita com a disciplina que ministra e com sua relação particular com os alunos, mas é primordial sua participação na discussão e redação dos projetos pedagógicos coletivamente, com todo o corpo docente e órgãos colegiados de seu curso;

  2. o trabalho dos docentes do Ensino Superior dificilmente atingirá os objetivos pretendidos e expressos nas discussões apresentadas e legislação nacional sem um trabalho integrado com os dirigentes de Instituições de Ensino Superior (incluídos coordenadores, diretores e reitores);

  3. a atualização dos conteúdos e programas das disciplinas não envolve apenas a inclusão ou retirada de assuntos ou temas, mas uma revisão profunda da forma do próprio docente encarar o processo de construção e transmissão do conhecimento, inserindo tal entendimento, e as atitudes daí decorrentes, nas estratégias de ensino adotadas para sua disciplina;

  4. o discernimento entre as áreas de intervenção profissional (Escolar, Lazer e Recreação, Esporte, Administração Esportiva, Treinamento Personalizado) deve ser ampliado no corpo docente no sentido de serem estabelecidos objetivos e estratégias de avaliações condizentes e coerentes;

  5. a revisão das atitudes docentes em relação ao ensino deveria orientar-se para o atendimento de uma população mais esclarecida sobre suas necessidades e seus direitos, devendo ser a tônica do processo de formação profissio

    Para finalizar, vencer o "comodismo" das aulas ministradas e restritas a "quatro paredes" é um dos grandes desafios do momento, tanto para os professores, quanto para as instituições de ensino.


Notas

  1. Presidente do Conselho Federal de Educação Física, órgão promotor do Fórum.

  2. Relator da proposta de Diretrizes Curriculares para os cursos de Graduação em Educação Física.

  3. Membro do Conselho Nacional de Educação.

  4. Coordenador da Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina e membro da CAPES.

  5. 1º Vice-Presidente do Conselho Regional de Educação Física, São Paulo, e docente da UNESP-Rio Claro.


Referências bibliográficas

  • BARROS, J.M.C. A responsabilidade pela preparação profissional continuada em Educação Física in II Fórum Nacional das Instituições de Ensino Superior em Educação Física, Rio de Janeiro, 18 a 20/07/2002, CD-ROM.

  • Conselho Federal de Educação. Resolução nº 03, Brasilia-DF. 1987.

  • Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP 09, Brasilia-DF. 2001.

  • ________. Parecer CNE/CP 27, Brasilia-DF. 2001.

  • ________. Parecer CNE/CP 28, Brasilia-DF. 2001.

  • ________. Resolução CNE/CP 01, Brasília-DF, 2002.

  • ________. Resolução CNE/CP 02, Brasília-DF, 2002.

  • CURY, C.J. Licenciatura; formação para professores do Ensino Básico in II Fórum Nacional das Instituições de Ensino Superior em Educação Física, Rio de Janeiro, 18 a 20/07/2002, CD-ROM.

  • NASCIMENTO, J. Novas Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação em Educação Física in II Fórum Nacional das Instituições de Ensino Superior em Educação Física, Rio de Janeiro, 18 a 20/07/2002, CD-ROM.

  • SERPA, C. Diretrizes Curriculares de Educação Física in II Fórum Nacional das Instituições de Ensino Superior em Educação Física, Rio de Janeiro, 18 a 20/07/2002, CD-ROM.

  • STEINHILBER, J. A Postura Profissional Ética: a contribuição do Sistema CONFEF/CREFs in II Fórum Nacional das Instituições de Ensino Superior em Educação Física, Rio de Janeiro, 18 a 20/07/2002, CD-ROM.

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