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A influência dos pais no rendimento da criança em competições
Daniel Leite Portella

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 57 - Febrero de 2003

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    Pode-se observar assim, que os pais através do modo como mantém o contato com os filhos, marca o relacionamento social e o desenvolvimento emocional da criança posteriormente, portanto a criança sofre uma influência de primeira instância dos pais dentro de casa em relação a sua integração na sociedade (MACHADO 1997), o que poderá afetar seus relacionamentos mais tarde com companheiros na convivência social.

    CRATTY (1984) diz que o pai constitui um agente facilitador das tendências biológicas à masculinidade para o menino, e a mãe um agente facilitador das tendências biológicas à feminilidade para a menina, ou seja os pais tornam-se um espelho para os filhos.

    As observações de diferentes grupos de uma determinada sociedade (diferença essa que pode ter diversas origens, como por exemplo, nível sócio econômico ), mostra que a relação dos pais com os filhos, difere bastante, em vários aspectos, segundo POSTER (1979), em qualquer cultura o tipo de educação que cada pai confere a seu filho, acaba interferindo e se correlacionando com a personalidade da criança, sendo alguns pais autoritários, outros liberais, e assim por diante.

    OLIVEIRA (1994), cita diversos estilos educativos. Esse estilos são basicamente dividido em dois eixos: o eixo amor versus hostilidade e o eixo autonomia versus controle. A partir desses eixos conjugados entre eles, pode haver a possibilidade da formação de outros estilos educativos. Outro fato citado pelo autor, é a exigência dos pais versus resposta dos filho, o que acontece a maioria dos conflitos, pois, quando um exige um certo nível de cobrança o outro responde abaixo do esperado; podendo assim haver uma interpretação errônea da situação gerando um conflito que pode ter conseqüências não esperadas no que tange o relacionamento não só entre eles mas, com os demais.


O filho - atleta e sua relação com a torcida familiar

    Se pararmos para observar, poderemos indagar se a criança quando nasce já não está inserida em uma competição, a competição da vida, e com o decorrer só há o acúmulo de mais competições. Segundo DE ROSE (1992), competir não é uma coisa negativa como alguns pensam, sempre que há competição, constrói - se a imagem da vitória para uns e derrota para outros e o derrotado fica, geralmente, arrasado, mas, o autor afirma que o objetivo da competição é atingir o seu melhor resultado e nem sempre esse melhor resultado significa a vitória.. Os pais podem ter uma importância muito grande na qualidade das experiências competitivas de seu filho (BARBANTI 1992), essa qualidade está ligada ao tratamento que o pai confere ao seu filho quando ele ganha ou quando ele perde. Baseado em COZAC (2001) podemos dizer que o filho, em muitos casos, é uma "extensão narcísica" dos pais e este fato pode gerar muitas desavenças dentro de casa como comparações entre um e outro, tanto no caso do sucesso como no caso do fracasso.

    LA TORRE (2001) sugere que pressões impostas a crianças, seja ela por qualquer motivo, pode dar origem ao chamado "burnout", que é a desistência da vida esportiva pelo atleta-criança.

    Porém, se falamos da pressão que os pais exercem sobre os filhos, podemos imaginar que esse rendimento pode ser afetado por essa possível pressão dos pais. Para analisarmos melhor esse problema da falta de incentivo e o problema da possível pressão dos pais podemos citar LATORRE (2001) que aponta algumas classificações de pais e suas características em relação a vida competitiva dos filhos:

  • Os desinteressados - pais que costumam se ausentar das competições do filho ou por desinteresse ou porque tem algo "mais importante" para fazer.

  • Os pais "úteis" - incentivam a participação dos filhos nas competições de forma positiva .

  • Os excessivamente críticos - sempre criticam o filho nunca estando satisfeito com seu desempenho.

  • Os vociferantes - ficam alterados durante as competições, gritam, gesticulam e chegam as vezes a ficar agressivos.

  • Os "técnicos" - têm a impressão de serem os donos do time dão instruções aos atletas passando até por cima das instruções do técnico.

  • Os superprotetores - têm medo de ver seus filhos em competições por inúmeras razões e insegurança, isso pode ser transmitido para os filhos.

    Como afirmou BARBANTI (1992), para esses pais críticos, vociferantes e técnicos; as crianças são vistas como adultos em miniatura, pois, a pressão sofrida pela criança é equivalente a de um adulto. Segundo MEDINA (2000), essa cobrança de resultados nada mais é do que um reflexo da cobrança exercida na categoria principal onde os atletas já são adultos.

    MACHADO (1997), afirma que segundo pesquisas feitas por ele entre pais e filhos- atletas, foi constatado que um atleta pode sentir-se incomodado com a presença dos pais na torcida. Ele ainda coloca que esse incomodo gerado, tem algumas explicações na literatura como; as atitudes exageradas dos pais na torcida; a relação entre eles, pais e filhos, ser conturbada dentro de casa por algum motivo não necessariamente ligado ao fato da criança ser atleta; algum trauma de infância que seja projetado no pai ou na mãe e o próprio silêncio dos pais durante a competição.

    OLIVEIRA (1994), constata uma conseqüência citada anteriormente por MACHADO (1997): o silêncio dos pais. Esse silêncio pode demonstrar desinteresse dos pais sobre o filho e sua atividade.

    A idade da criança também interfere quando se fala de influência dos pais. Em alguns países, a idade para iniciação de uma criança à competição chega a ser de três anos (nos Estados Unidos) dependendo da modalidade. Na maior parte dos países industrializados essa idade é entre seis e sete anos. Entretanto há estudos dizendo que a criança até doze ou treze anos é um reflexo do meio em que está inserido (PHILIPPI, 1992), e o meio de maior influência nessa idade é o meio familiar onde o alicerce são os pais. Portanto, os pais podem exercer uma influência mais forte sobre a criança e quem sabe inserir na criança o pensamento que abordamos anteriormente sobre o melhor resultado nem sempre ser a vitória ou aquela política de resultados e vitórias.

    Ao pensarmos na auto-estima da criança com relação á vitória ou derrota, podemos ver o que decorre BECKER (2001) vencer um adversário demasiadamente fraco não aumenta a auto-estima do vencedor, porém, o perdedor fica humilhado e sua auto-estima é reduzida.

    Um estudo realizado por SIMÕES et al (1999), faz uma correlação sobre uma outra variável nessa relação pais e filho - atleta: o sexo do filho. A mãe não exerce influência significativa sobre o filho ou a filha; em compensação o pai exerce grande influência sobre o filho e muito menos sobre a filha, mas mantém um grau de exigência de moderado para alto.

    Sempre que falamos dessas relações pais e filhos-atletas, não podemos esquecer de fazermos pontes com as transformações que houveram na família, a evolução dessa relação intrafamiliar, a formação cultural dessa família e outros pontos que são influenciadores diretos no rendimento e comportamento do pequeno atleta diante da pressão imposta de uma forma ou de outra pelos pais.


Conclusão

    Como pudemos observar nesse estudo, a família passou por transformações que causaram mudanças em seu relacionamento intrafamiliar e consequentemente alteraram as relações dos pais com os filhos sendo essa relação pais-filhos de suma importância para o rendimento do atleta-criança.

    As várias condutas nos diferentes tipos de relacionamentos entre pais e filhos vão definir se essa relação é benéfica ou maléfica para o desempenho da criança dentro de uma competição. São muitos os fatores que podem exercer influência sobre a criança e no seu rendimento, mas especificamente a influência dos pais é bem significante principalmente quando o filho está iniciando-se no desporto. A idéia de que a competição tem como objetivo atingir seu melhor resultado que nem sempre é a vitória (DE ROSE, 1992), deve ser analisado como uma possível influência positiva que os pais podem passar para a criança.

    Espero poder ajudar alguns pais e profissionais da área de treinamento, refletir sobre suas atitudes no relacionamento com as crianças, no que tange à vida desportiva da mesma para que ela possa atingir o objetivo dela.


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