efdeportes.com
A psicologia do desporto pelo mundo

   
* Escola Superior de Desporto de Rio Maior
** Escola Superior de Educação da Guarda
(Portugal)
 
 
José Augusto Alves*
jalves@esdrm.pt
António José Lourenço**
luis.cid@ipg.pt
Luís Filipe Cid**
ajlourenco@ipg.pt
 

 

 

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 55 - Diciembre de 2002

1 / 2

Introdução

    Definir o conceito de «psicologia do desporto» não é tarefa fácil. Talvez porque as definições que “são habitualmente apresentadas reflictam a coexistência de múltiplas concepções teóricas e metodológicas” (Riera, 1985: 30). Porém, parece-nos importante apresentar aqui um dos possíveis entendimentos deste conceito. Todavia, começaremos no entanto, por referir que “Psicologia é o ramo da ciência que estuda os fenómenos da vida consciente, na sua origem, desenvolvimento e manifestações” (Brito, 1994b: 173). Ainda segundo este autor, é usual que de acordo com os indivíduos e as actividades que são estudadas, dividir a psicologia em várias “ramos” (psicologia clínica, animal, da criança, etc.). Por outro lado, é ainda vulgar considerarem-se a existência de “áreas, divisões, escolas, teorias ou tendências” da psicologia, conforme a metodologia ou a perspectiva filosófica.

    É pois nesta perspectiva que entendemos a psicologia do desporto, isto é, uma área da psicologia, estabelecida em função de uma actividade que, segundo Brito (1994b; 1996b) e Alves, Brito e Serpa (1996), vai estudar o comportamento dos indivíduos em situação de prática desportiva bem como todos os fenómenos da vida consciente que a ela se podem associar.

    Uma outra questão que nos parece importante e que segundo Brito (1996a: 168) é “um problema que ainda hoje se discute” é a que diz respeito à pertinência da existência de uma psicologia do desporto como ciência e ramo independente da psicologia geral. Relembremos que os autores pioneiros desta nova temática, estabeleceram fortes ligações com outras áreas científicas, em especial com a psicofisiologia, a medicina psicossomática, a psicologia clínica e a psicopedagogia (Brito, 1996a) e que a diminuta clarificação da sua identidade, gerou uma certa dificuldade de afirmação no que se refere ao seu objecto de estudo. Todavia, como disse Gueron (1977, cit. por Brito, 1996a: 67) “nenhuma ciência definiu logo à nascença o seu objecto. A história do pensamento científico prova que as ciências se separam pouco a pouco umas das outras, nascendo no seio de outras ciências”. A psicologia do desporto não é excepção.

    Assim, seguindo o raciocínio apresentado por Brito (1996a), e porque o desporto é, por si só, dotado de características particulares, específicas, como o são as regras, os espaços de prática, o vestuário, as motivações, os dirigentes, os juízes, o público, a imprensa e outras, “o estudo da vida consciente e do comportamento dos seus participantes e de todas os que nele participam justificam a existência de uma área específica da psicologia” (Brito, 1996b: 69).

    Em suma, concordamos que a psicologia do desporto seja “um ramo independente da psicologia porque os elementos psicológicos do desporto são específicos e se distinguem radicalmente dos observados noutros domínios da actividade humana” (Brito 1996a: 69), caracterizando-se este novo ramo da psicologia, como a ciência que se dedica ao estudo dos efeitos dos factores psicológicos (afectivos, cognitivos, motivacionais, sensório-motores e outros), no comportamento do ser humano em situação de prática desportiva, bem como, os efeitos que essa participação, em actividades físicas competitivas e recreativas, poderão ter nos seus praticantes. O seu objecto de estudo é o próprio desporto e os seus intervenientes mais directos (Brito, 1990, 1994b, 1996a e 1996b; Singer, 1993; Weinberg e Gould, 1995; Alves, Brito e Serpa, 1996; Cruz, 1996).


Perspectiva global da evolução da psicologia do desporto

    O início da história da psicologia do desporto caracteriza-se pela, já anteriormente referida, coexistência de inúmeras concepções filosóficas, escolas, teorias, etc. Se por isto é complicado definir o seu conceito, já o dissemos, também é, pelas mesmas razões, estabelecer uma data concreta em que a psicologia do desporto nasce e surge como área independente da Psicologia (Brito, 1990). No entanto, é frequente situar-se a sua criação no ano de 1965, aquando da realização do I Congresso Internacional de Psicologia do Desporto (Brito, 1996a). Todavia, podemos considerar que o interesse pelo estudo desta temática surgiu muito antes, impulsionado por diversos investigadores de diversas áreas científicas (Brito, 1991 e 1996 e Serpa, 1995). Como diz Cruz (1996: 22), “para se compreender a origem desta nova disciplina científica e actividade profissional, teremos de recuar aos finais do século passado”, referindo-se, como é óbvio, aos finais do séc. XIX.

    De facto, os primeiros trabalhos conhecidos e realizados nesta área datam do final do séc. XIX, Fitz em 1895 nos EUA, Schultze em 1897 na Alemanha e Tripllet em 1898, também nos EUA, conquistaram o seu lugar na história ao realizar as primeiras investigações na área da psicologia do desporto (Brito, 1990; Weinberg e Gould, 1995; Alves, Brito e Serpa, 1996; Cruz, 1996 e Fonseca, 2001). Se bem que o grande e o verdadeiro impulsionador deste novo domínio do conhecimento, de acordo com os mesmos autores, tenha sido Pierre de Coubertin, ao lançar “no mundo do desporto, a primeira chamada de atenção para este tema” (Brito, 1990: 5), patrocinando e promovendo um Congresso Internacional de Psicologia e Fisiologia Desportivas, em 1913.

    Por volta dos anos 20 e 30 os trabalhos intensificaram-se um pouco por todo o mundo, nomeadamente nos EUA, na URSS, na Alemanha, no Japão e na Checoslováquia. Foi também por esta altura criado o primeiro laboratório do mundo de psicologia do desporto, designado de “motor learning laboratorie” em 1925, na Universidade do Illinois, nos EUA, pela mão de Coleman Griffith. Outros acontecimentos marcantes sucederam-se, como a introdução de cadeiras de psicologia do desporto em várias Universidades dos EUA e da URSS (Brito, 1990, 1994b e 1996b e Alves, Brito e Serpa, 1996).

    Existe um certo consenso, que foi após a 2ª Grande Guerra que começou o «boom» generalizado em torno da psicologia do desporto. Na realidade, o desenvolvimento do desporto como ciência bem como da metodologia do treino, originados em grande parte, pela “oposição entre os blocos capitalistas e comunistas” (Alves, Brito e Serpa, 1996: 8), que intensificaram a “luta pelas medalhas” (Brito, 1990: 6), vieram contribuir para esta expansão.

    Segundo Brito (1990), foi de facto a partir da 2ª Grande Guerra que o interesse na área da psicologia do desporto se desenvolveu. Esta fase, que viria a ser conhecida por “Primeiro período” (Feige, 1977, cit. por Alves, Brito e Serpa, 1996: 8), caracterizou-se pelas várias investigações realizadas a título individual.

    A psicologia do desporto foi pois, a partir deste momento “alargando-se a praticamente todas as modalidades e múltiplas situações” (Brito, 1990: 6) e foi também nesta época (de 1966 a 1977) que se tornou num ramo autónomo da Psicologia Geral (Raposo, 1996).

    Se numa fase inicial da vida da psicologia do desporto as pesquisas que se realizavam eram pouco divulgadas ou mesmo mantidas em segredo (Brito, 1990 e 1991), com o crescente reconhecimento da importância desta área, o número de trabalhos cresceu sendo já “impressionante” (Brito, 1990: 14). Felizmente, esta crescente produção científica é acompanhada, na opinião de Brito (1996a) por um incremento de qualidade, que é também referido por Fonseca (2001).

    Como já referimos anteriormente, foi nos anos 60, nomeadamente em 1965, que o Mundo foi alertado para a importância da definição de uma nova área da psicologia. A realização nesse ano, do I Congresso Mundial de Psicologia do Desporto, em Roma, organizado por iniciativa da Federação Italiana de Medicina Desportiva, sob a orientação de Antonelli, possibilitou a apresentação de valiosos contributos para o desenvolvimento deste domínio, que levaram a situar, em 1965, a criação da Psicologia do Desporto, ”por uma questão formal, ou simples comodidade” (Brito, 1996a: 67). Quase em simultâneo, era criada a Sociedade Internacional de Psicologia do Desporto (ISSP) e várias sociedades nacionais. Assistiu-se então, a um período de grande desenvolvimento, marcado por uma enorme cooperação internacional e que se exprime nos posteriores Congressos Mundiais, realizados de 4 em 4 anos (Washington 1969, Madrid 1973, Praga 1977, Otava 1981, Copenhaga 1985, Singapura 1989, Lisboa 1993, Israel 1997 e Atenas 2001 - o próximo será realizado em 2005 na cidade de Sidney), sendo toda a informação veiculada através de revistas da especialidade em todo o mundo, entre as quais o International Journal of Sport Psychology, criado pela ISSP em 1970 (Brito, 1990 e 1991, Alves, Brito e Serpa, 1991 e Cruz, 1996). Das várias publicações existentes, dedicadas exclusivamente à Psicologia do Desporto, Fonseca (2001) destaca ainda: The Sport Psychologist, criada em 1987; Journal of Sport & Exercise Psychology (1988) e considerada a mais importante pelo autor; Sport Psychologie (1987); Journal of Applied Sport Psychology (1989); Revista de Psicologia del Deporte (1992); Psychology of Sport and Exercise (1997).

    Para além dos congressos mundiais que registaram um grande interesse por parte das instituições de ensino superior, atraindo psicólogos, professores de educação física, treinadores e técnicos desportivos, motivando assim, a inclusão de psicólogos desportivos na preparação dos atletas a vários níveis, é de salientar ainda, a inclusão da disciplina de psicologia do desporto em várias universidades, tanto de ciências do desporto como de psicologia.

    Em matéria de investigação, segundo Brito (1990) apoiado em dados de Antonelli (1977), o número de trabalhos publicados anualmente nesta área, no final da década de 60 e durante a de 70, foram cerca de 500. Na década de 80 esse número disparou para 2000, devido em grande parte à realização dos congressos e publicações de revistas, sendo os temas mais desenvolvidos os seguintes: stress, ansiedade, controlo emocional, treino mental, motivação, processos cognitivos e tomada de decisão. Actualmente este número pecará certamente por defeito (Fonseca, 2001) devido à elevada quantidade de revistas existentes e livros editados, bem como à informação veiculada através das várias jornadas, conferências e congressos que se realizam todos os anos. Na última década, segundo o mesmo autor, os temas/áreas mais abordadas foram: motivação; exercício, saúde e bem-estar; stress; treino mental; ansiedade; liderança; personalidade; processamento da informação e tomada de decisão; avaliação e metodologia; emoções.


A história da psicologia do desporto em períodos

    A respeito da evolução da psicologia do desporto a nível internacional, Brito (1996a) apresenta-nos nove períodos marcantes. Apesar desta divisão poder suscitar a ideia de estanquicidade, tal não corresponde à verdade pois todos os períodos foram estabelecidos em função das principais publicações tendo-se sucedido uns aos outros de forma mais ou menos fluida.


Lecturas: Educación Física y Deportes · http://www.efdeportes.com · Año 8 · Nº 55   sigue Ü