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O treinamento físico na criança e no adolescente
The physical trainning for children and teennagers

   
Colégio São Judas Tadeu
Porto Alegre - RS
 
 
Prof. Ricardo Valente
ricvalen@terra.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
    O objetivo deste estudo é analisar os aspectos mais importantes para o planejamento do treino físico, indicado para crianças e adolescentes, considerando as características fisiológicas de cada etapa do desenvolvimento.
 
    The purpose of this study is analyse the most important aspects for the planning of physical trainning, indicated for children and teenagers, considering the phisiologic characteristics of each phase of development.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 54 - Noviembre de 2002

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A criança não é uma miniatura do adulto,
e sua mentalidade não é só qualitativa,
mas também quantitativamente diferente da do adulto,
de modo que a criança não é só menor,
mas também diferente.

Claparède, 1937.

    A citação acima nos reporta a realidade, onde o treinamento direcionado à criança e ao adolescente, deve ser diferente do treinamento realizado pelo adulto, pois segundo Weineck (1991) isso deve-se ao fato de crianças e adolescentes, estão em desenvolvimento contínuo, sofrendo inúmeras transformações físicas, psíquicas e sociais, tendo conseqüências que influenciam nas atividades corporais, bem como na capacidade de suportar carga. O treinamento, deve ser planejado considerando-se as etapas de desenvolvimento fisiológico natural do indivíduo, que são: idade pré escolar, primeira infância escolar, primeira fase puberal ou pubersência, segunda fase puberal ou adolescência.(Weineck,1991). Nestas fases, segundo Pini & Carazzatto (1983) ocorrem alterações significativas no organismo da criança, e o exercício físico assume papel importante no desenvolvimento morfofuncional.

    O treinamento específico das qualidades físicas, não deve ser oportunizado, através da redução de cargas prescritas para adultos, cada faixa etária tem suas tarefas conforme características peculiares ao seu desenvolvimento, como no caso da pubersência onde a ênfase qualitativa de movimentos e capacidades coordenativas deva ser privilegiada.(Weineck,1991)

    Bar-Or apud Weineck (1991), relaciona a maior atividade física da criança com a dominância de impulsos cerebrais e pela menor percepção do esforço, que no adulto é mais evidente. Esta maior movimentação leva a uma melhor condição física, segundo Massicote (1985), evidenciada nos estudos realizados por Shephard e Levallée, onde crianças que foram submetidas a um programa especial de Educação Física, com cinco sessões de uma hora, por semana, possuíam uma capacidade de trabalho superior, do que as inscritas no programa regular de quarenta minutos, uma vez por semana.

    O início deste processo evolutivo de desenvolvimento se dá, na sua grande parte dentro da escola, então o estímulo ao desenvolvimento das potencialidades e o aprimoramento orgânico do homem, é fruto da atuação efetiva de programas de Educação Física, (Marcondes apud Dinoá & de Assis, 1990), que segundo Weineck (1991), é ineficiente nos moldes adotados ( duas vezes por semana ) não suprindo a carência motora, mas pode intervir através da informação adequada das atividades de desempenho orgânico funcional, mais saudáveis.


Crianças e adolescentes: características gerais de desnvolvimento

    Segundo Pini & Carazzatto (1983) a relação entre peso e a altura, do nascimento a fase adulta, se faz de forma alternada, bem como a função orgânica, assim entre as etapas de desenvolvimento encontra-se diferenças significativas, de tamanho dos órgãos e das estruturas que os comportam.

    A velocidade de crescimento, se dá em etapas atingindo uma certa estabilidade na idade pré - escolar, voltando a acelerar na puberdade, isso é fator determinante para estabelecer-se parâmetros de treinamento com carga, pois não há equivalência com a fase adulta, segundo Weineck (1991), pois a alteração de metabolismo, que em crianças é de 20 - 30 % (basal) maior que nos adultos (Demeter,1981 apud Weineck,1991), é item de preocupação durante os treinamentos de carga corporal ou específica, devendo prevalecer períodos suficientes de descanso e recuperação. Estes dados levam a incerteza, na escolha da fase de início do treinamento, sem que este resulte em perturbações no desenvolvimento (Pini & Carazzatto,1983). Weineck (1991) situa como faixa de segurança e indica os estímulos submáximos de carga, utilizando mecanismos variados.

    Um dos indicativos de rendimento físico, o consumo de oxigênio (VO2 máx.) e bem como a treinabilidade absoluta, crescem parabolicamente atingindo seu ápice entre 18 - 22 anos nos homens e 16 - 20 anos nas mulheres (Mellerowicz & Meller, 1979).


Alterações fisiológicas durante o exercício

    Durante o exercício algumas alterações ocorrem no organismo da criança e do adolescente, estas alterações são resposta ao esforço, pois o organismo tende a adaptar-se, ocorrendo diferenças na comparação com adultos.

    A capacidade aeróbia máxima, por exemplo, aumenta proporcionalmente à altura e à freqüência cardíaca. A capacidade funciona, segundo Duarte (1993), medido através do protocolo de Bruce, aumenta até 17-18 anos, tendendo a partir daí a diminuir.

    O débito cardíaco, em relação ao adulto, segue a mesma projeção tendo influencia direta através da freqüência cardíaca (FC) contribuindo para seu aumento durante o exercício, isso devido ao fato de que o volume sistólico atinge seu valor máximo antes da FC (Duarte,1993).

    E o ritmo cardíaco, sofre alterações durante o exercício, sem que signifique alguma anomalia cardíaca (Duarte, 1993).

    Segundo Massicotte, 1985 a FC máxima é mais elevada nas crianças do que nos adultos, sendo por volta dos 10 anos as freqüências mais altas, diminuindo gradativamente até por volta dos 25 anos (Andersen apud Massicotte,1985). As variações individuais, bem como o esforço influencia diretamente na FC máxima.

    Conforme estudos de Duarte, a pressão arterial aumenta devido ao aumento da PA sistólica, e a variação da PA diastólica é mínima, tendo reduções consideráveis em adolescentes homens.


Etapas do desenvolvimento fisiológico e o treinamento

    O treinamento direcionado à criança e ao adolescente deve privilegiar interesses relacionados a cada faixa etária do desenvolvimento fisiológico, respeitando as peculiaridades inerentes a cada fase.(Weineck, 1991)

    Na idade pré - escolar (3-7 anos), segundo Pini e Carazzatto (1983) a criança deve participar de atividades naturais como andar, saltar, correr, estando habilitado para realização de uma diversa gama de exercícios elementares, pois encontra-se com disposição e maturação suficientes.(Weineck, 1991).

    Já na 1ª infância escolar (6/7-10 anos), Weineck (1991), com a altura e peso aumentando paralelamente, as crianças apresentam boas condições corporais, sendo esta fase propícia para aprendizagem de novas habilidades motoras, que devem ser repetidas até sua assimilação.(Demeter apud Weineck, 1991)

    A pubersência é considerada, a fase da desproporcionalidade, que segundo Weineck,1991 é gerado pelo aumento de testosterona (nos meninos) e de outros hormÔnios, causando um aumento de massa muscular, atingindo diretamente a capacidade coordenativa. Nesta fase o treinamento deve conter estímulos prazerosos, pois com esta série de modificações ocorrendo ao mesmo tempo (bio - psico - sociais) o jovem tende a desmotivar-se com facilidade. (Weineck,1991)

    Alcançando a adolescência, o jovem tem um aumento de força e uma melhoria nas ações coordenativas, bem como do aparelho locomotor, Weineck salienta, que aumenta cosideravelmente, a capacidade de suportar carga, e a condição geral de assimilar intensa carga corporal-esportiva, sendo o momento propício para o treinamento de técnicas específicas das modalidades esportivas.

    Se faz necessário o entendimento desta fase de transição (6-7-10 / 11-14 /15 - 20), pois é a fase onde ocorrem as alterações funcionais da idade infantil, até chegarmos a maturação e assim a idade adulta.(Pini & Carazzatto, 1983).


O treinamento das valências físicas na criança e adolescente


Resistência

    A criança e o adolescente, se adaptam com facilidade aos diversos tipos de treinamento, principalmente aos aeróbicos (Weineck,1991).

    Robinson citado por Massicote (1985), foi um dos pioneiros nos estudos fisiológicos através do teste de esforço em crianças e adolescentes, onde encontrou diferenças na adaptação realizadas pela criança/adolescente e o adulto. Massicote (1985), ainda ressalta, que testes executados em bicicleta ergométrica, mostram que peso, altura e sexo interferem pouco no rendimento mecânico pois os resultados foram equivalentes ao dos adultos. Já Duarte (1993), considera o aumento da capacidade aeróbica, relativa ao crescimento (altura) e freqüência cardíaca, tornando-se medida clássica de aptidão física, este aspecto foi constatado em estudos realizados por Godfrey (1972), citados por Massicote (1985), onde crianças de 5-16 anos tem VO2 diferenciados, aos 5 anos é de aproximadamente 1 litro/min. E por volta dos 16 ultrapassa os 3 litros/min, em todos os testes e grupos etários os meninos apresentam valores mais elevados do que as meninas, isso devido ao aumento de massa muscular evidenciado nos meninos, eqüivalendo no final da puberdade ao resultado de um adulto jovem (Duarte,1993). Meller & Mellerzowick (1979) consideram o aumento de VO2 máx. relativo ao crescimento, e alcançando seu nível máximo aproximadamente aos 22 anos de idade.

    Massicote (1985) cita os estudos feitos por Macek (1977) Cassel & Morse (1962), que detectaram a utilização de energia proveniente do metabolismo aeróbico durante o exercício, antes em crianças, do que nos adultos, atingindo índices aproximados por volta dos 17 anos.

    A resistência segundo Weineck (1991), deve ser introduzida como treinamento, desde a idade pré-escolar, principalmente quando este treinamento for baseado na resistência aeróbica, com índices submáximos e de maneira contínua, não excedendo o limite fisiológico da criança, e considerando as distâncias não deve ultrapassar 500-600 m., nesta faixa etária. Aliado a isto Weineck (1991) indica a pubescência e a adolescência como fases de início do treinamento específico, com índices máximos, pois o contexto do desenvolvimento muscular cardíaco e do aparelho respiratório atinge níveis altamente treináveis , e uma maior capacidade de suportar carga, e o planejamento deve privilegiar a resistência aeróbica e resistência anaeróbica aláctica (intervalado), que se sobrepõe ao treinamento de repetição, com distâncias que utilizem energia através do consumo de glicólise aeróbica. Estudos realizados em Moscou, com atletas adolescentes corredores (800m,1500m e 3000m) , na faixa etária de 14-15 anos, demonstrou um aprimoramento sistemático quando utilizado como treinamento a base aeróbica, misto (aeróbica-aneróbica) e anaeróbica, alternando diferentes tipos de corrida (Bondarchuk,1987). Uma amostragem feita com universitário, em Campinas levou os pesquisadores a concluírem, existem variáveis que influenciam no rendimento como hora do dia, e dia da semana em que o trabalho está sendo realizado, considerando uma rotina normal de aula, em universitários, através do teste de Cooper (Moreira & Pellegrinotti, 1986).

    A Medicina Pediátrica utiliza hoje freqüentemente o Teste de Esforço (TE) em crianças e adolescentes, sendo um aliado importantíssimo na detecção de anomalias relacionadas ao desenvolvimento sadio do coração, o teste prevê a utilização de um circloergÔmetro ou esteira, levando-se em consideração as variáveis físicas da criança, peso e altura (Duarte,1993)


Velocidade

    Israel apud Weineck (1991), identifica a obtenção da velocidade máxima, em limites geneticamente estreitos, sendo indicado a velocidade de reação e a capacidade de aceleração e coordenação, como treinamento até a pubersência, utilizando estímulos variados, aumentando gradativamente o treinamento de corrida de velocidade (Weineck,1991). Isso deve-se ao fato de que neste período, idade pré - escolar / pubescência, melhoram as relações de alavanca e processos nervosos ligados a mobilidade (Koinzer,1978 apud Weineck,1991).


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