efdeportes.com

Educação Física em cursos pré-vestibulares: uma proposta
Priscila Carneiro Valim e Gustavo Puggina Rogatto

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 53 - Octubre de 2002

2 / 2


    POSTIC (1995) afirma que na escola o aluno constrói o seu futuro pessoal em função das limitações impostas pelo funcionamento social (seleção escolar, orientação para a profissão) e existe o risco de um corte entre o universo escolar e o universo social e profissional. O mesmo autor diz que “O meio escolar pode proporcionar a ocasião de experiências sociais que dão um significado à ação desenvolvida, que geram satisfações e que suscitam a vontade de vencer no mundo do trabalho” (pg.85). O professor de Educação Física, juntamente com os demais professores, não apenas “dar a matéria” e “cumprir com o programa”, mas participar de um processo educacional que poderá ajudar a preparar o jovem para enfrentar a vida.


A Proposta

    Partindo dos objetivos e conteúdos já propostos para o ensino médio e superior, tentaremos colocar a proposta de Educação Física para cursinhos pré-vestibular associando o que pode ser adequado para os estudantes vestibulandos.

    De acordo com BETTI (1996) os objetivos específicos a serem alcançados no ensino médio são: aprendizagem e aperfeiçoamento de habilidades técnicas específicas do esporte e da dança; participação em práticas corporais como lazer e bem-estar; aprendizagem de conceitos teóricos da cultura corporal do movimento. Os conteúdos seriam esporte, ginástica, dança e conceitos básicos de fisiologia do exercício e teoria do treinamento. O mesmo autor afirma que no ensino médio existem dois grupos de alunos: os que se identificam com o esforço metódico e intenso da prática esportiva formal e os que se dirigem para o caminho do lazer e bem-estar.

    Para o ensino superior encontram-se os seguintes objetivos: a Educação Física desportiva e recreativa escolar deve prosseguir à iniciada nos graus precedentes; deve ser de natureza desportiva - as que conduzem à manutenção e ao aprimoramento da aptidão física, à conservação da saúde, a integração do aluno no campus universitário, à consolidação do sentimento comunitário e de nacionalidade (conforme o decreto no. 69.450 da regulamentação de 1971) (GREVE, 1988). GEBARA (1988) coloca que a universidade tem representado para a Educação Física e os esportes um espaço pouco utilizado além da mera reprodução de propostas nas quais prática acaba processada sem a teoria e a teoria pelo acaso.

    Os objetivos da Educação Física em cursinhos pré-vestibulares deverão ser alcançados em situações múltiplas e complexas no que diz respeito a vários objetivos e não separadamente um a um (PERRENOUD, 2000).


Os objetivos a serem alcançados são:

  • Proporcionar aos alunos um contato com atividades físicas variadas, agradáveis e adequadas ao seu contexto;

  • Inspirar a vontade de prosseguir as atividades desenvolvidas em aula em outros locais, fazendo com que a prática de um exercício físico regular se torne um hábito;

  • Incentivar a socialização

  • Fazer com que os alunos identifiquem as diversas finalidades da Educação Física destinada ao jovem como sua importância para o bem-estar físico e psicológico do indivíduo.

    Conteúdos são propostos, mas nada impede que outros possam ser acrescentados respeitando a opinião dos alunos. A idéia é agrupar e desenvolver conteúdos escolhidos em conjunto com os alunos, através de questionários ou discussões sobre conteúdos preferidos ou possíveis de serem trabalhados.


Os conteúdos sugeridos são:

  • Ginásticas (exercícios de alongamento, ginástica localizada);

  • Danças (dança de salão, danças populares e de estilos atuais);

  • Atividades expressivas e lúdicas;

  • Esportes (não só os praticados respeitando regras oficiais, mas também jogos adaptados para o espaço disponível ou até inventado pelos próprios alunos);

  • Conceitos essenciais relacionados aos conhecimentos sobre fisiologia do exercício, treinamento, entre outros (pelo menos o mínimo de informação para que os alunos possam ter uma certa autonomia ao praticar um exercício físico) como, por exemplo, verificar a freqüência cardíaca, habituar-se à respiração e postura corretas, conhecer a importância do aquecimento antes dos exercícios e do controle da intensidade do exercício de acordo com o nível de aptidão do indivíduo;

  • Contextualização teórica dos conteúdos anteriores bem como os demais sugeridos pelos alunos.

    PERRENOUD (2000) afirma que é importante ter uma seqüência didática na qual cada situação é uma etapa em uma progressão, para ele a construção do conhecimento é uma trajetória coletiva que o professor orienta, criando situações e dando auxílio, sem ser o especialista que transmite o saber, ou que propõe soluções para o problema.

    No caso das atividades propostas, consideramos que devam ser realizadas no mesmo período das demais disciplinas oferecidas e a duração poderia ser de 30 minutos (ou mais) executadas de 2 a 3 vezes por semana.

    Nos cursos pré-vestibulares acreditamos que a implementação da Educação Física não seja problemática pelo fato de que não será obrigatória, como qualquer outra disciplina do curso. Temos conhecimento que não existe nota para aprovação no curso e sim o interesse dos alunos em serem aprovados no vestibular. O desafio, portanto, é convencer os alunos dos benefícios da educação física inserida na grade de disciplinas do cursinho nesta situação.


Metodologia e estratégias das aulas:

    Na opinião de BETTI (1996) é difícil delimitar conteúdos de estratégias pelo fato deles se confundirem. Algumas estratégias de ensino podem ser utilizadas como exercícios em grupos, aulas com música, jogos alternativos, expressão corporal, mímica entre outros. Podemos citar também alguns exemplos de aulas possíveis como: aulas de alongamento - através da qual pode-se fazer com que os alunos tomem consciência de pontos de tensão muscular muito comuns nesta população e orientá-los como relaxar; aulas de dança de salão - que através do contato com diferentes ritmos e com o movimento prazeroso proporcionado fazer com que os alunos sejam levados à distração e a esquecerem as preocupações; além de levá-los ao divertimento e a socialização através de aulas com jogos alternativos que favorecem a criatividade e o raciocínio rápido do aluno quando este soluciona “problemas” destes jogos ou propõe novos jogos.

    Princípios metodológicos devem ser respeitados na escolha de estratégias e conteúdos como a inclusão de todos; diversificação dos conteúdos; aumento da complexidade no decorrer dos anos escolares tanto no aspecto motor quanto cognitivo; e adequação levando-se em consideração as características, capacidades e interesses do aluno (BETTI, 1996).


Conclusão

    Concluímos deixando bem claro que qualquer atividade física não é necessariamente “Educação Física”, como ciência aplicada que enfoca o corpo humano em movimento como seu objeto de estudo. A atividade física só se torna Educação Física quando tem fundamentação e um sentido de ser aplicada e a Educação Física para vestibulando tem seu devido sentido.

    Qualquer crítica ou sugestão é bem vinda, e se nada disso um dia se tornar realidade, pelo menos fazemos a nossa parte: tentando e ousando, pois como disseram ADORNO e HONKHEIMER (1985) “O corpo é paralisado pelo ferimento físico, o espírito pelo medo1(p.239).


Nota

  1. Estes autores apresentam a inteligência simbolizada pela antena do caracol “com visão tateante”. Os animais mais evoluídos devem o que são a sua maior liberdade, suas antenas foram dirigidas em novas direções e não foram retiradas. A repressão das possibilidades atrofia os órgãos pelo medo. Ousar é enfrentar o medo e prosseguir com o processo de desenvolvimento e aprendizagem.


Referências bibliográficas

  • ADORNO, T.W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

  • BAÑUELOS, F.S. La actividad física orientada hacia la salud. Madrid: Editora Biblioteca Nueva, 1999.

  • BETTI, I.C.R. O prazer em aulas de Educação Física Escolar: a perspectiva discente. (Dissertação de Mestrado). Campinas - FEF/UNICAMP, 1992.

  • BETTI, I.C.R. Educação Física e o ensino médio: analisando um processo de aprendizagem profissional. (Tese de Doutorado). São Carlos - UFSCar, 1998.

  • BETTI, M. Valores e finalidades da Educação Física Escolar: uma concepção sistêmica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.16, n.1, p.14-21, 1996.

  • GEBARA, A. Educação Física e Esporte no 3º grau. In: PASSOS, S.C.E. Educação Física e Esportes na Universidade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Física e Desportos, 1988.

  • GREVE, M. Educação Física e Esporte no 3º grau: em busca de um referencial teórico. In: PASSOS, S.C.E. Educação Física e Esportes na Universidade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Física e Desportos, 1988.

  • MACHADO, A.A. Psicologia do esporte: temas emergentes. Jundiaí: Ápice, 1997.

  • OLIVEIRA, J.G.M.O. Educação Física e o esporte no ensino superior. In: PASSOS, S.C.E. Educação Física e Esportes na Universidade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Física e Desportos, 1988.

  • PERRENOUD, P. Organizar e dirigir situações de aprendizagem. In: PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 2000.

  • POSTIC, M. Como preparar o jovem para se inserir na vida social e profissional. In: POSTIC, M. Para uma estratégia pedagógica do sucesso escolar. Porto: Porto Editora, 1995.

  • ZAGURY, T. O adolescente por ele mesmo. Rio de Janeiro: Imago, 1996.


| Inicio |

Outro artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
http://www.efdeportes.com/ · FreeFind
   

revista digital · Año 8 · N° 53 | Buenos Aires, Octubre 2002  
© 1997-2002 Derechos reservados