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Caracterização do esforço em dois jovens jogadores de futebol
de alto nível durante o treino de conjunto e jogos oficiais o treino

   
ISMAI, Sports Medicine Center
Sporting Clube de Braga - Maia, Porto
 
 
Micael Martins Sequeira
micaelsequeira@hotmail.com
(Portugal)
 

 

 

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 49 - Junio de 2002

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I. Introdução

    O jogo de futebol é caracterizado por um conjunto de condicionantes físicas, técnicas, tácticas e psicológicas que exprimem o nível de capacidade dos seus executantes. Assim, no futebol actual, torna-se necessário determinar as diferentes condicionantes que traduzem o rendimento dos atletas.

     Hoje em dia os modelos de jogo e os seus sistemas tácticos exigem cada vez mais capacidades aos atletas. Capacidades essas necessárias para responder com eficácia a todas as vicissitudes inerentes ao jogo, tais como as constantes mudanças de intensidade de deslocamento que se verificam em todos os momentos do jogo.

    Deste modo, a direcção do processo de treino jamais poderá resultar de um empirismo ou de improvisação, necessitando o treinador de dominar os factores inerentes à complexa estrutura da forma desportiva.

    O conhecimento das exigências de um determinado esforço assume-se como um factor fundamental para a determinação das cargas, métodos e meios de treino.

    Pretendemos com este trabalho estudar as alterações fisiológicas e técnicas induzidas por um jogo de futebol e pelo treino de conjunto, em dois atletas do escalão juvenil do Sporting Clube de Braga. Recorreu-se à caracterização das tarefas motoras específicas, respostas fisiológicas e ao conhecimento do perfil fisiológico dos atletas. Iremos conhecer através de investigação no terreno reacções fisiológicas dos dois futebolistas, durante o jogo oficial e o treino de conjunto.

    Como o treino de conjunto é o mais aproximado da competição e talvez o mais utilizado ao longo de uma época desportiva, vamos observar até que ponto esse treino poderá contribuir para o desenvolvimento das capacidades do atleta.

    O principal problema que levou à realização deste estudo foi investigar se as intensidades do treino de conjunto correspondem às intensidades do jogo. Procuraremos saber também se o posicionamento táctico-funcional tem influência na caracterização do esforço do atleta.


II. Metodologia geral de investigação

2.1. Amostra

    A amostra deste estudo foi constituída por dois atletas da equipa de futebol do escalão “Juvenil” do Sporting Clube de Braga. Esta equipa participa no campeonato nacional de juvenis, da série A.

    O Sporting Clube de Braga joga num sistema táctico de cinco defesas (três centrais), quatro médios e um ponta-de-lança.

    Os dois atletas observados ao longo deste estudo ocupam as seguintes posições:

    O atleta A joga a Lateral Esquerdo, enquanto que o atleta B ocupa a posição de Médio Centro. As movimentações em campo estão representadas na figura n.º1.

    É possível constatar através da figura n.º1 que o L.E. participa bastante no ataque devido à utilização dos três centrais. O médio centro movimenta-se mais na sua zona intermediária. Verifica-se que os atletas têm em primeiro lugar uma preocupação defensiva, no entanto, sempre que a equipa estava na posse da bola, ambos os jogadores apoiam o ataque. Esta acção ocorre com maior frequência no Lateral Esquerdo.

    Na fase inicial deste estudo ambos os atletas representavam a Selecção Nacional de Sub-16, no entanto, durante este estudo o atleta A (Lateral esquerdo) deixou de fazer parte dos jogadores eleitos para integrar os trabalhos da Selecção Nacional.

2.1.1. Procedimentos

    Os dois atletas constituintes da amostra foram submetidos a testes de avaliação durante dez treinos de conjunto e o jogos oficiais.

    A observação do treino de conjunto coincidia com a semana do jogo.

    Ambos os jogos e treinos foram realizados à mesma hora e com o terreno em estado semelhante.

    A recolha de dados foi realizada no final de cada actividade, quer se tratasse de um treino de conjunto ou de um jogo oficial.

2.1.2. Categorias de observação

    Para caracterizar os atletas recorremos a três tipos de categorias de observação:

  • Tipos de deslocamentos.

  • Acções individuais de jogo (defensivas e ofensivas)

  • Frequência Cardíaca


III. Hipóteses

    O objectivo geral e o problema colocado geram o seguinte conjunto de hipóteses:

H0 - Durante a competição os atletas atingem intensidades de esforço superiores às obtidas no treino de conjunto.

H1 - O estatuto posicional no terreno de jogo influencia a caracterização do esforço.


IV. Apresentação e discussão dos resultados

    As distâncias totais obtidas dos jogadores foram superiores durante a competição e isto poderá dever-se a factores motivacionais, embora não suficientemente fortes para atingir significado estatístico ou devido a um grande empenho durante os jogos de treino.


    Eles obtiveram maiores distâncias durante a 1ª parte dos jogos e isto está certamente relacionado com a fadiga, mas o resultado poderá ter alguma influência em certas circunstâncias .A distância obtida pelo Médio Centro foi sempre superior, o que está de acordo com os resultados de outros investigadores.

    A razão para isto é a táctica, uma vez que o Médio tem que estar sempre em movimento, ou a atacar ou a defender. Por outro lado, o Lateral Esquerdo está envolvido numa actividade mais intensa, isto é, desloca-se com maior intensidade para a frente para atacar e para trás para defender a sua zona de influência.

    Os nossos resultados mostram que este jogador esteve envolvido numa actividade mais intensa nos deslocamentos de média e intensidade máxima, especialmente durante a competição. Os resultados seriam diferentes se ele apenas tivesse que defender o resultado ou fosse incapaz de atacar.

Figura n.º4/5 - Valores médios da FC, registados em cada minuto de jogo,
durante a competição e o treino de conjunto (Lateral Esquerdo e Médio Centro).


    Tem que se tirar uma lição deste trabalho.

    Nenhum jogador pode ser treinado da mesma maneira; o Médio Centro tem que ter uma boa capacidade aeróbia para poder correr a maior parte do tempo. No entanto, o Lateral Esquerdo tem que ter uma boa capacidade anaeróbia e força para correr rapidamente, mas também uma boa capacidade aeróbia para correr vários Kms durante o jogo e para recuperar do esforço anaeróbio.

    Constata-se no lateral esquerdo uma maior irregularidade no perfil da FC fruto das constantes subidas e descidas dos seus valores.


    No entanto, verifica-se que o percurso da frequência cardíaca ao longo do jogo é mais constante no médio centro. Segundo Bangsbo (1994), este facto deve-se às movimentações tácticas do jogador e consequentemente à maior frequência de deslocamentos de baixa intensidade.

    Verifica-se, ainda, que o jogo é disputado sempre acima das 150 bpm, assim a FC mantém-se a um nível bastante elevado devido aos curtos períodos de recuperação.

    O cansaço provável na 2ª parte tem que ser considerado. Fazer uma boa dieta, rica em hidratos de carbono irá certamente melhorar o glicogénio muscular e permitir cada vez mais deslocamentos.


V. Conclusão

    Sobre os problemas inventariados e das hipóteses formuladas parece-nos legítimo retirar as seguintes conclusões:

  1. A distância total percorrida durante a competição é superior à do treino de conjunto, no entanto, não se verificaram diferenças significativas entre as médias em ambos os atletas.

  2. Não houve diferenças significativas nos valores médios da distância percorrida entre 1ª e a 2ª parte do jogo ou treino de conjunto. No entanto, a média da distância total percorrida na 2ª parte de um treino de conjunto ou jogo oficial é menor do que a percorrida na 1ª parte.

  3. No lateral esquerdo existem diferenças significativas na exercitação de deslocamentos de baixa, média e máxima intensidade entre o treino de conjunto e a competição.

  4. Os valores médios e máximos de frequência cardíaca obtidos na 2ª parte são inferiores aos obtidos na 1ª parte, no treino de conjunto e no jogo oficial.

  5. A FC, como indicador da intensidade do esforço, leva-nos a sugerir que o esforço a que os atletas estão submetidos durante a competição é superior ao do treino de conjunto.

  6. O lateral esquerdo apresenta diferenças significativas nos valores médios e máximos da FC registados na 1ª parte entre o treino de conjunto e competição.

  7. Em ambos os jogadores, durante o treino de conjunto e jogo oficial, os valores médios da FC são superiores aos 150 bpm.

  8. Nenhum jogador pode ser treinado da mesma maneira.


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