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Relação entre área muscular da coxa e nível de força máxima dos
músculos extensores do joelho de atletas de natação e voleibol

   
*Doutorando em Ciências da Motricidade (Biodinâmica da Motricidade Humana)
**Mestranda em Ciências da Motricidade (Pedagogia da Motricidade Humana)
Universidade Estadual Paulista - UNESP - Rio Claro - SP
 
 
Gustavo Puggina Rogatto*
Priscila Carneiro Valim**

grogatto@hotmail.com
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    O objetivo do atual estudo foi avaliar os níveis de força voluntária máxima dos músculos extensores do joelho, de atletas de natação e voleibol, relacionando tal aspecto com a quantidade muscular absoluta e relativa. Atletas de natação (n=10) e voleibol (n=10) foram submetidas a testes para a determinação da força máxima (1RM) durante o movimento de extensão de joelho, e às avaliações da circunferência (Ccx) e dobra cutânea da coxa (DCcx). A partir de Ccx e DCcx calculou-se: 1) circunferência magra (CMcx) [CMcx=Ccx-(DCcx/10)]; 2) área total (ATcx) [ATcx=p(Ccx/2p)2]; e 3) área muscular da coxa (AMcx) [AMcx=Ccx-p (DCcx/10)]. As medidas de força absoluta e relativa foram calculadas por 1RM/ATcx e 1RM/AMcx, respectivamente. Os resultados indicam que as atletas de voleibol apresentam níveis de 1RM significativamente superiores aos das nadadoras. Os valores de CMcx, ATcx e AMcx, bem como as medidas relativas de força muscular (1RM/ATcx e 1RM/AMcx) foram maiores no grupo praticante de voleibol. Estes resultados sugerem que a ocorrência de maiores níveis 1RM, no grupo de atletas de voleibol, pode estar relacionada, tanto com maiores níveis de massa muscular quanto por maior atividade neural.
    Unitermos: Antropometria. Natação. Voleibol.

Abstract:
    The aim of this study was to evaluate maximal voluntary strength of knee extensors muscles of swimming and volleyball athletes, relating this aspect with absolute and relative muscular contents. Swimming (n=10) and volleyball (n=10) athletes were submitted to 1 maximal repetition test (1RM) during the movement of knee extension, and to the evaluations of thigh circumference (Ccx) and skinfold (DCcx). Ccx and DCcx values were used to calculate: 1) thigh lean circumference (CMcx) [CMcx=Ccx-(DCcx/10)]; 2) total area (ATcx) [ATcx=p(Ccx/2p)2]; and 3) muscular area (AMcx) [AMcx=Ccx-(pDCcx/10)]. Absolute and relative strength measures were calculated by 1RM/ATcx and 1RM/AMcx, respectively. The results indicate that volleyball athletes present 1RM levels significantly higher than swimmers. CMcx, ATcx and AMcx values, as well as, relative measures of muscular strength (1RM/ATcx and 1RM/AMcx) were higher in the volleyball group. These results suggest that the fact of volleyball athletes' group presents higher 1RM values can be related to improve of muscle mass or to a favoring of neural activity.
    Keywords: Anthropometry. Swimming. Volleyball.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 48 - Mayo de 2002

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Introdução

    A prática regular de atividades físicas tem sido apontada como promotora de bem estar e saúde aos seus praticantes, resultando em inúmeras adaptações em diferentes órgãos e sistemas (McARDLE, KATCH & KATCH, 1992; SHARKEY, 1998).

    O aumento dos níveis de força muscular é um tipo de adaptação funcional positiva constantemente observada em indivíduos treinados (FLECK & KRAEMER, 1999). Tal adaptação pode influenciar o desempenho atlético na realização da atividade desportiva, contribuindo com o sucesso durante as competições.

    As causas deste favorecimento da capacidade de gerar maior tensão contra-resistência, observada no sistema muscular de atletas, pode ser decorrente de um aumento da atividade neural durante o mecanismo de contração muscular, resultante da ativação de um maior número de unidade motoras. Neste caso, o incremento dos níveis de força muscular pode não estar relacionado com alterações do conteúdo muscular do grupamento exercitado cronicamente. Contudo, a prática constante de atividade motora pode resultar em modificações morfométricas na musculatura, gerando aumento do tamanho ou do número das fibras musculares. Esta resposta hipertrófica e/ou hiperplásica do músculo-esquelético, à realização do exercício físico, pode ou não ocorrer, sendo dependente principalmente da intensidade do exercício, do tempo de treinamento e das características da atividade física desempenhada.

    Atletas de voleibol e natação são submetidos a diferentes tipos de exigências em suas rotinas de treinamento. Tais diferenças na preparação física destes desportistas se fazem necessárias, já que a natação (atividade cíclica) apresenta características distintas do voleibol (acíclica), o que pode resultar em diferentes repostas quanto ao aumento da massa muscular ou favorecimento da atividade muscular avaliada pelos níveis de força voluntária máxima.

    Desta forma, o objetivo do atual trabalho foi avaliar os níveis de força voluntária máxima dos músculos extensores do joelho e as áreas musculares da coxa, analisando as relações entre estas medidas funcionais e antropométricas em atletas de natação e voleibol.


Material e método

    A amostra foi composta por 20 atletas de natação e voleibol, do sexo feminino, freqüentadoras do Instituto de Biociências - Universidade Estadual Paulista, Campus de Rio Claro/SP. Todos as atletas foram esclarecidas sobre os objetivos e os procedimentos utilizados durante a realização do estudo antes de concordarem em participar da pesquisa. Os critérios para a inclusão dos sujeitos no estudo foram:

  1. tempo de treinamento na modalidade específica igual ou superior a 1 ano;

  2. ausência de doenças que aumentassem a probabilidade de risco para a saúde do participante no estudo, notadamente de origem cardiovascular (hipertensão arterial) ou articular (artrite ou artrose nas articulações dos membros inferiores).

    As atletas foram submetidas a avaliações do peso, estatura, índice de massa corporal (IMC), circunferência e dobra cutânea da coxa. O peso foi aferido por balança do tipo plataforma (marca Filizolla), com precisão de 100g. A medida da estatura corporal deu-se por comparação com fita milimetrada (precisão: 0,5cm) fixada a uma parede perpendicular ao solo. O índice de massa corporal (IMC) foi calculado pela equação: IMC (m/kg2) = P/A2, onde P = peso corporal, e A = estatura. Na tabela 1 estão apresentadas as características físicas das participantes do estudo.

Tabela 1: Características descritivas de peso, estatura e IMC das participantes do estudo.
Resultados expressos como média + desvio padrão. (* p<0,001; ** p<0,0001).

    A medida da dobra cutânea da coxa (DCcx) foi feita utilizando um compasso de dobras cutâneas Lange (Beta Technology Inc. - Cambridge, MD), com precisão de 1mm e pressão constante de 10g/mm2. O local de coleta da dobra (tomada longitudinalmente na face anterior da coxa) foi o ponto médio entre a articulação do quadril e a borda superior da patela. A avaliação da circunferência da coxa (Ccx) ocorreu no mesmo ponto da dobra cutânea da coxa, pelo uso de fita milimetrada flexível. Os valores de dobra cutânea (expressos em milímetros, mm) e circunferência (em cm) foram utilizados para o cálculo da circunferência magra da coxa (CMcx), área total da coxa (ATcx) e área muscular da coxa (AMcx) de acordo com os seguintes propostas:

    A força voluntária máxima dos músculos extensores do joelho (quadríceps) foi aferida pelo teste de 1 repetição máxima (1RM), realizado a partir do exercício “cadeira romana” ou mesa extensora, de acordo com indicações de ROGATTO (1998). Os valores de 1RM são expressos em quilogramas (Kg) e foram analisados de forma absoluta e em relação a ATcx e AMcx, ambas expressas em Kg/cm2.

    A análise estatística foi feita por teste t de Student para amostras independentes com nível de significância de 5%.


Resultados e discussão

    As atletas de voleibol apresentaram valores de peso corporal significativamente maiores (p<0,001) que as nadadoras avaliadas. Entretanto, não foram observadas diferenças entre a estatura corporal de ambos os grupos, o que refletiu em maiores níveis de IMC nas jogadoras de voleibol.

    Os resultados de 1RM, Ccx, DCcx e CMcx estão apresentados na tabela 2. Os valores de área total (ATcx) e muscular da coxa (AMcx) estão apresentados na figura 1. As medidas absolutas (1RM/ATcx) e relativas (1RM/AMcx) de força muscular dos atletas de natação e voleibol durante a realização da extensão do joelho estão ilustradas na figura 2.

Tabela 2: Aspectos funcionais e antropométricas das atletas de
natação e voleibol participantes do estudo. (*p<0,0001).

    Quando avaliamos os níveis máximos de força voluntária dos músculos extensores do joelho observamos que as voleibolistas apresentam índices de 1RM significativamente superiores aos das atletas de natação. Tal fato está relacionado com maiores medidas de circunferência magra (CMcx), e áreas total (ATcx) e muscular (AMcx) da coxa, já que estas três variáveis foram maiores no grupo de voleibol. Esta relação entre força voluntária máxima e conteúdo muscular tem sido freqüentemente observada em vários estudos. Contudo, o conteúdo muscular não pode ser visto como único fator responsável pela geração de força muscular (FLECK & KRAEMER, 1999).

Figura 1. Área total (ATcx) e muscular (AMcx) da coxa de atletas de natação e voleibol.

Figura 2. Carga máxima absoluta (1RM/ATcx) e relativa (1RM/AMcx) dos músculos extensores do joelho de atletas de natação e voleibol.

    O favorecimento da atividade neural pode ser outro importante agente gerador de maior tensão muscular contra-resistência durante a realização do esforço físico. Tal adaptação está relacionada com o aumento da ativação das unidades neuro-motoras na realização da ação muscular. Assim, em nosso estudo, podemos sugerir que o grupo de atletas de voleibol pode apresentar maior atividade neural durante a realização do movimento contra-resistido, já que medidas relativas como 1RM/ATcx e 1RM/AMcx foram significativamente maiores neste grupo.


Conclusões

    Os resultados encontrados pelo atual estudo sugerem que atletas de voleibol apresentam maiores níveis de força voluntária máxima dos músculos extensores do joelho quando comparadas com nadadoras. Este fato parece estar relacionado tanto com maiores níveis de massa muscular quanto por maior atividade neural. A observação de tais adaptações possivelmente esta relacionada com diferenças nos regimes de treinamento de ambas as modalidades desportivas.


Referências bibliográficas

  • FLECK, S.J.; KRAEMER, W.J. Adaptações ao treinamento de força. In: _______: Fundamentos do treinamento de força. 2.Ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. pp.124-153.

  • McARDLE, W.D.; KATCH, F.L.; KATCH, V. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 3ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992. 510p.

  • ROGATTO, G.P. Implicações antropométricas (hipertrofia) e funcionais (nível de força) do treinamento de força nos músculos flexores do cotovelo em idosos. 1998. 83f. Monografia (Bacharelado em Educação Física) - Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1998.

  • SHARKEY, B.J. Condicionamento físico e saúde. 4.ed. Porto Alegre: ArtMed, 1998. 397p.

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