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Relação entre habilidade de tempo-compartilhado
e tipos de temperamento de praticantes de futebol
Maria Cristina Chimelo Paim y Jefferson Thadeu Canfield

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 48 - Mayo de 2002

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    Quanto aos resultado obtidos no teste de Tempo-Compartilhado Motor, podemos observar que os sujeitos apresentaram níveis de Tempo-compartilhado Motor mais elevados (84%), quando comparados a média dos sujeitos obtidas na Técnica da Escuta Dicotômica (30%). Assim pode-se afirmar que neste estudo, os praticantes de futebol apresentam um bom nível de compartilhamento do tempo em tarefas motoras complexas, conseqüentemente produzindo respostas motoras adequadas aos problemas apresentados. Segundo Magill (1993), um aspecto essencial do processo de produzir uma resposta motora é a seleção da informação (atenção seletiva) do ambiente na qual a resposta pode estar baseada. As diferentes complexidades das simulações de jogo apresentadas no teste de

    Tempo-Compartilhado Motor, ilustra a capacidade de dar atenção à informação específica no meio de muitas informações e decisões a serem tomadas.

    Sabemos que uma tarefa motora tem, além dos componentes neuro-motores, os componentes ambientais que lhe darão o significado (contextualização), portanto este bombardeio de informações ambientais devem ser gerenciadas internamente pelo indivíduo, na busca da melhor resposta (Canfield, 1995).

    A leitura do meio ambiente, a atenção seletiva ao aspecto mais importante da tarefa e a escolha da resposta mais adequada ao gesto motor, são fatores que apontam para a presença de um nível elevado da Habilidade de Tempo-Compartilhado.

    As situações simuladas de jogo a que foram submetidos os sujeitos, se caracterizam como tarefas que exigem níveis elevados de Tempo-Compartilhado Motor.

Relação entre habilidade de Tempo-Compartilhado Motor e Tipos de Temperamento

    Analisando os resultados na Tabela 4 pode-se observar que os sujeitos com Temperamento Melancólico (sistema nervoso baixo) , foram os que apresentaram os menores índices em FPE e no TCM. Sabe-se (Kalinine, 1999) que sujeitos com temperamento do tipo Melancólico são muito ansiosos, o que acaba perturbando suas decisões, principalmente em situações abertas e com instabilidade do meio, como no caso das simulações de jogo (TCM). Esta falta de confiança em seu potencial, pode acarretar instabilidade em seu desempenho. Os baixos resultados destes sujeitos no TCM parecem estar coerentes com esta caracterização.

    Quando analisados os resultados obtidos pelos sujeitos com Temperamento Sangüíneo, Colérico e Fleumático (sistema nervoso alto), observa-se que apresentaram índices de FPE e TCM mais elevados que os sujeitos com sistema nervoso baixo. Entre os três tipos, os sujeitos com Temperamento Sangüíneo e Colérico apresentaram os índices mais elevados nas variáveis citadas. Esses resultados podem estar associados ao fato de que sujeitos com Temperamento do tipo Sangüíneo dão preferência para modalidades esportivas ligadas com alto nível de Mobilidade do sistema nervoso, que lhes exigem decisões rápidas e precisas, como é o caso das situações de jogo do TCM. Segundo Kalinine (1999), estes atletas facilmente alternam entre tipos de tarefas diferentes. Os Sangüíneos não gostam do trabalho monótono e metódico. O que nos permite supor que pelas suas características biológicas de gostarem de estímulos externos em constante mudanças, apresentaram no TCM , juntamente com os sujeitos Coléricos os melhores níveis de tempo-compartilhado. Seus resultados esportivos são estáveis e, como regra, nas competições seus desempenhos são mais altos do que nos treinos. Pouco antes de competir, os atletas Sangüíneos , estão em estado de “prontidão para o combate”.

    Segundo Kalinine (1999), o atleta Colérico prefere as modalidades esportivas com movimentos intensos e rápidos (basquete, handebol). Estes achados de Kalinine vão ao encontro dos resultados encontrados neste estudo, onde os sujeitos com Temperamento Colérico e Sangüíneo, foram os que apresentaram maiores níveis de Tempo-Compartilhado nas tarefas apresentadas. Eles executam a contragosto o trabalho do treino prolongado, do desenvolvimento de força e resistência, mas são capazes de repetir muitas vezes o exercício perigoso e difícil, se este desperta seu interesse. Os sujeitos com Temperamento Colérico precisam constantemente de estímulos novos, pois possuem características biológicas que os fazem preferir atividades que estão em constante mudança, como são as situações de TCM.

    Analisando os resultados obtidos pelos sujeitos com Temperamento do tipo Fleumático, pode-se observar que, entre os sujeitos com sistema nervoso alto, foram os que apresentaram os menores índices em FPE e TCM. Esses resultados, podem relacionar-se ao fato de que sujeitos com Temperamento do tipo Fleumático, segundo Kalinine (1999), apresentam reações lentas, demonstrando dificuldades em passar de um tipo de atividade para outra, indicando um sistema nervoso do tipo inerte, com índices médios de Mobilidade, o que dificulta ou atrasa seu Tempo-Compartilhado Motor na tomada de decisões para os problemas apresentados. O ensino-aprendizagem de ações motoras no atleta Fleumático, acontecem lentamente. Os Fleumáticos possuem alto nível de capacidade de trabalho e alto nível de estabilidade em relação aos estímulos externos. Eles preferem as modalidades esportivas com movimentos calmos e uniformes. Estes afirmações de Kalinine são corroboradas pelos resultados encontrados neste estudo, onde os sujeitos com temperamento Fleumático, foram os que apresentaram níveis médios de Tempo-Compartilhado nas tarefas realizadas.

    Com base nesses resultados, pode-se sugerir que os profissionais da área da Educação Física invistam no conhecimento da diferenças individuais de seus “atletas/alunos”. Com o conhecimento e entendimento dos índices das Peculiaridades Tipológicas do sistema nervoso e níveis de Tempo-Compartilhado, os professores, técnicos e profissionais da área de Educação Física poderão propor alternativas de aprendizagem mais eficientes, atendendo, com metodologias de ensino adequadas, as diferenças individuais de seus alunos/atletas. A partir desses índices, podem também predizer o tipo de função (posição) mais adequada para o atleta, bem como metodologias de trabalho mais adequadas ao tipo de Temperamento, tornando a aprendizagem e o ensino mais eficazes.


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