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Metodologia de ensino-aprendizagem para pessoas idosas
Soyane Vargas

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 39 - Agosto de 2001

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    No caso da educação física, o conhecimento que será privilegiado é o da cultura corporal, sendo apropriado pelo homem "... dispondo sua intencionalidade para o lúdico, o artístico, o agonístico, o estético ou outros, que são representações, idéias, conceitos produzidos pela consciência social..." (COLETIVO DE AUTORES, op.cit., p. 62). Configurados na forma de atividades corporais, como por exemplo o jogo, o esporte, a ginástica, a dança, a luta, entre outras.

    Estando pautada na 'pedagogia crítica superadora' (ibid., p. 63), preconiza-se a relação de interdependência da cultura corporal com as questões sóciopolíticas que inclui, entre outras coisas: saúde pública, preconceito racial, velhice, distribuição de renda, etc.

    O tempo pedagogicamente necessário para o processo de assimilação do conhecimento refere-se a distribuição do conteúdo em níveis. Deve-se respeitar as progressões pedagógicas e, principalmente, as características particulares e anseios de cada grupo ou pessoa que se pretende mediar o processo educativo.

    Os procedimentos didático-metodológicos não devem estabelecer princípios com normas rígidas e sim apresentar-se "... como elementos balizadores para reflexão de prática em aula" (COLETIVO DE AUTORES, op. cit., p. 87). Preferencialmente o método deve ser "...o incremento da atividade criadora e de um sistema de relações sociais entre os homens" (idem).

    Defende-se a adoção de esquemas de aulas pedagogicamente estabelecidas, sobretudo flexíveis o suficiente para atender às potencialidades e limitações das pessoas ou dos grupos trabalhados, com diretrizes didáticas seguras, inibindo possíveis riscos (FARIA JUNIOR, FARIA In FARIA JUNIOR, et al. 1999).


O ensino das atividades físicas

    No ensino das atividades físicas, ressalta-se o projeto 'Idosos em Movimento Mantendo a Autonomia' (IMMA). Este projeto que foi iniciado na década de 90, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), ramificou-se na ONG 'Centro de Estudos do Projeto IMMA' (CEPrIMMA) e em outros pólos além da Universidade.

    Oferecendo atividades físicas para pessoas com 60 anos ou mais, este projeto preconiza o ideário da 'promoção da saúde1' - em especial, a questão da autonomia - baseado em alguns parâmetros das transformações motoras (marcha, equilíbrio, força, flexibilidade e tempo de reação) da população idosa.

    No esquema de aula do projeto IMMA, os idosos apropriam-se do saber didático-pedagógico, conscientizando-se da importância de enfrentar as conseqüências relacionadas às mudanças trazidas pelo processo do envelhecimento. Principalmente, fazer com que o idoso seja capaz de tomar iniciativa em relação à prática das atividades físicas para o envelhecimento.

    Essa metodologia inclui a monitorização das curvas de esforço, da intensidade da aula, da socialização, do interesse e da motivação dos alunos. O esquema divide-se em 6 partes: aquecimento, flexibilidade, trabalho muscular geral, equilíbrio, movimentos de coordenação e imitação, movimentos de deslocamento no espaço e relaxamento (FARIA JUNIOR, et al. , 1999a apud FARIA JUNIOR et al. 1999b).

    Outra preocupação importante dos procedimentos didático-metodológicos diz respeito à linguagem didática, que pode servir aos interesses particulares, entre outras práticas sociais. A comunicação oral pode ser usado para explorar, dominar, subjugar, mistificar, etc. (ibid.).

    Por outro lado, ela é importante para identificar aspectos positivamente educativos, especialmente, no caso dos idosos pretende-se manter a norma culta, clareza e evitar a infantilização.

    Edmundo Alves Junior (1995 apud FARIA JUNIOR, 1999b) aferiu em sua pesquisa que muitos professores falavam com as pessoas idosas como se fossem crianças ("Levante o bracinho, agora a perninha... " ).

    A linguagem articulada, enfática feita com a voz clara e audível, contribui para melhor assimilação do conhecimento, principalmente para os idosos portadores de deficiência auditiva.

    Além disto, ela não deve ser incentivadora de preconceitos e estereótipos (religiosos, racistas, etc.). Muitos idosos são migrantes ou descendentes deles, portanto deve-se evitar piadas que envolvam pejorativamente outras nacionalidades.

    Jüngens Habermas defende que o interesse emancipatório do processo educativo deve estar subjacente no discurso. Valorizando uma situação ideal do discurso, que deve ser compreensível, verdadeiro, sincero e correto (apud FARIA JÚNIOR, 1999b).

    A demonstração didática pode ser direta, quando apresentada pelo próprio professor e/ou substitutiva ou indireta, realizada por um ou mais alunos com auxílio do professor. A questão da segurança durante as aulas, bem como a preocupação com o ambiente físico e com os materiais utilizados são cuidadosamente tratados na metodologia IMMA.


Conclusão

    Em síntese é importante ressaltar que toda ação educativa deve estar pautada na reflexão crítica do professor, juntamente com seus alunos. O cuidado com os procedimentos didático-metodológicos, nos programas educacionais para idosos, são importantes para auxiliar na conquista autonomia destas pessoas. A 'pedagogia crítica superadora' sugere o tratamento das técnicas de ensino/aprendizagem, sem desvincular das questões sociais para transformá-las. Por isto é importante pensar nos objetivos que se deseja atingir, na elaboração de uma metodologia na educação, em geral, e na educação de pessoas idosas, em particular.

    Acredita-se que a realidade atual dos idosos no Brasil, possua uma relação entre os fatores genéticos - pensando que as adaptações ocorridas no organismo podem ser passadas às futuras gerações -, fisiológicos, psicológicos e sociais com o status de saúde, com a condição econômica e com o nível de escolaridade - pensando como a possibilidade de acesso à informação e, principalmente, na aquisição da capacidade de compreensão da realidade -. As ações educativas e suas propostas metodológicas devem buscar a melhoria do situação atual.


Notas

  1. Definido por Faria Junior (ibid.) como uma "...idéia de que a sociedade, ou qualquer sistema social opera de maneira semelhante a um organismo biológico. Em outras palavras, há uma forte tendência para qualquer sistema social manter-se em um estado de equilíbrio de modo a continuar a operar eficientemente. Quando algo desregula este equilíbrio, os funcionalistas definem como disfuncional. Por outro lado, quando as coisas contribuem para a manutenção da ordem social, são definidas como funcionais" (p. 31).

  2. Esse termo pode ser definido como : "processo de construção de uma autonomia que permita às pessoas [...] controlar sua saúde" (WHO, 1984, p.2 apud FARIA JUNIOR, 1999a, p.14). A promoção da saúde tem como princípios básicos: "o reconhecimento da natureza multifatorial da saúde, a idéia de desmedicalização, a ênfase no envolvimento comunitário e a incorporação da idéia de educação para a saúde." (idem)


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